Capítulo 7

...Aylme...

A chuva fina tamborilava na janela, misturando-se ao som abafado da cidade lá fora. Meu apartamento parecia ainda menor com todas as palavras de Isaac Castellani ecoando na minha cabeça. Ele havia vindo até aqui, me encarado com aquele olhar frio e calculado, e me pedido uma resposta.

— Preciso que você confie em mim, Aylme. Isso é apenas um acordo, que vai nos beneficiar.

Mas era só isso, não era? Um acordo. Um contrato. Não havia espaço para confiança ou sentimentos ali. Ele precisava de uma esposa para cumprir a pressão absurda que o avô colocou sobre ele, e me escolheu porque eu era a opção mais conveniente.

Eu não podia culpá-lo por ser tão direto. Ele não fingiu ser algo que não era. Isaac foi claro desde o início: um casamento de fachada, um acordo financeiro generoso, e, em troca, ele conseguiria o controle do setor imobiliário da Castellani Enterprises, e eu estaria onde eu queria estar.

Ele havia explicado tudo, de forma quase impessoal, como se fosse uma reunião de negócios. Seu avô, Lorenzo Castellani, era obcecado pela ideia de continuidade, de família. E Isaac, embora um homem completamente dedicado ao trabalho, era arrastado por essa tradição sufocante. O velho queria netos, queria casamentos tradicionais, queria que o mundo acreditasse que os Castellani eram uma família perfeita.

Isaac, por outro lado, queria o setor imobiliário. Para ele, era só isso. Um jogo de poder e controle.

Passei as mãos pelo rosto, sentindo o peso daquela proposta. Eu entendia sua urgência, sua pressão. Mas, e eu? O que isso significava para mim?

Se eu aceitasse, poderia salvar o legado da minha avó. O Casa de Alma não era apenas um restaurante; era uma parte de quem eu sou. Quando fechei as portas, senti como se estivesse perdendo uma parte de mim mesma. Com o dinheiro que Isaac oferecia, eu poderia reabrir o restaurante, reformá-lo, torná-lo um negócio sustentável e honrar minha avó da forma que ela merecia.

Mas tudo isso vinha com um preço.

Me levantei e fui até a cozinha, onde a cafeteira ainda estava ligada. Peguei uma caneca e fiquei olhando o vapor subir, sem beber. Minha mente vagava para tudo isso. Isaac não era exatamente o tipo de homem que você ignorava. Não apenas devido a sua presença física—embora fosse impossível esquecer as capas de revista onde ele aparecia, usando quase nada e exibindo aquele corpo esculpido. Mas, porque ele tinha uma presença magnética, que fazia com que cada palavra soasse como uma ordem.

Mas será que era isso que eu queria? Passar um ano ao lado de um homem tão controlador, fingindo um casamento para enganar o mundo? Eu mal o conhecia. Tudo o que sabia era o que ele escolheu compartilhar comigo: um empresário poderoso, um neto sob pressão, um homem disposto a fazer qualquer coisa para alcançar seus objetivos.

Meu celular vibrou na mesa, e eu peguei para conferir a notificação. Era uma mensagem de Vanessa, uma colega dos tempos de faculdade.

“Você está saindo com Isaac Castellani? Vi uma foto de vocês juntos. Por favor, me conta tudo! Como você sendo quem é, conseguiu fisgar um garanhão daqueles.

Meu coração disparou. Foto? De quê?

Abri o link que ela enviou e, para minha surpresa, lá estava eu, ao lado de Isaac, na entrada do meu apartamento. A imagem estava um pouco desfocada, mas era óbvio que éramos nós dois. A legenda dizia:

“Isaac Castellani visto com mulher misteriosa. Romance no ar?”

Fechei o link e coloquei o celular na mesa com mais força do que o necessário. Claro que ele planejou isso. Isaac era metódico, estratégico. Ele sabia exatamente como criar a narrativa que precisava.

Parte de mim estava furiosa. Ele tinha me manipulado, usado aquele encontro para plantar uma ideia na mídia antes mesmo de eu aceitar sua proposta. Mas outra parte de mim sabia que ele estava certo. No jogo em que Isaac Castellani estava envolvido, cada movimento precisava ser calculado com antecedência.

Respirei fundo, tentando controlar a frustração.

Eu sabia que dizer sim significava entrar nesse mundo. Um mundo onde nada era o que parecia, onde as pessoas eram julgadas por aparências e manchetes. Mas, ao mesmo tempo, dizer não significava fechar a única porta que eu tinha para salvar o que restava da minha vida.

Isaac colocou o jogo em movimento, e agora eu precisava decidir se queria jogar ou desistir.

Peguei o celular novamente e digitei uma mensagem rápida para ele:

“Podemos conversar?

Enviei antes que pudesse me arrepender.

Enquanto a chuva continuava a cair do lado de fora, voltei para o sofá e olhei para a pequena foto da minha avó na estante. Ela sempre dizia que, às vezes, as escolhas mais difíceis eram as que definiriam quem você realmente era.

E, de alguma forma, eu sabia que minha vida nunca mais seria a mesma. Não depois de tudo isso.

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