Capítulo 13

Aylme

Eu deveria me sentir aliviada. Afinal, após semanas sendo jogada de um compromisso para outro, o grande dia havia finalmente chegado. O casamento. A cerimônia que marcaria o início oficial desse acordo estranho com Isaac Castellani. Mas no meio de tudo isso, ele cumpriu com sua parte do acordo. Minha conta estava recheada com o dinheiro total que daria para pagar todas as minhas dívidas, e ainda fazer o restaurante funcionar por muito anos.

Me arrumei com ajuda de uma equipe especializada, mandada por Isaac. Assim que estava pronta, entrei na limousine exagerada que ele também mandou e seguimos para a cerimônia. Chegamos lá em poucos minutos, a cerimônia será no enorme salão da empresa. É aquele lugar que Isaac quer conseguir com o nosso contrato falso de casamento.

Olhando ao redor do salão luxuoso, com suas enormes cortinas de veludo e lustres brilhando como constelações, tudo o que sentia era uma mistura de vazio e frustração.

Não era um casamento. Não realmente.

As poucas pessoas presentes estavam ali não para celebrar amor ou união, mas para observar, julgar e, provavelmente, fofocar sobre cada detalhe. Eram executivos importantes, alguns membros da família de Isaac, e jornalistas bem-conectados. Eu era uma figurante em um teatro caro, e, ao mesmo tempo, o centro da atenção.

O vestido era lindo, é claro. Um tom creme, ajustado ao corpo, com rendas delicadas que pareciam ter sido tecidas à mão por algum artista. O véu era longo e pesado, como se fosse feito para alguém mais importante do que eu.

Isaac, como sempre, estava impecável em seu terno preto. Ele parecia completamente à vontade, sorrindo educadamente para os convidados, mas nunca de verdade. O sorriso dele era apenas mais uma ferramenta de trabalho.

Canalha

Quando cheguei, a cerimônia começou.

Enquanto a cerimônia seguia, minha mente vagava para o que eu estava realmente fazendo ali. Eu havia assinado um contrato, basicamente vendendo minha liberdade, minha privacidade, minha vida. Tudo por dinheiro. E, por mais que detestasse admitir, eu sabia que não tinha escolha. O dinheiro que ele ofereceu salvaria o que a minha avó construiu. Salvava não apenas o espaço físico, mas as memórias que aquele lugar guardava. Afinal, tudo isso era apenas por um ano. Então, eu me convenci a aguentar.

Quando os votos foram trocados, Isaac me olhou diretamente nos olhos. Era como se estivesse tentando me lembrar, sem palavras, de que isso era só um papel que ambos estávamos desempenhando.

“Você consegue,” eu me disse.

Mas isso não significava que eu ia facilitar as coisas para ele.

Depois do que ele disse sobre meu beijo no estúdio—sobre meu hálito, de todas as coisas—eu sabia que precisava dar o troco. Não sou do tipo que deixa essas coisas passarem.

Quando o celebrante finalmente chegou à parte do “você pode beijar a noiva,” senti todos os olhos no salão voltarem para nós. Era como se o mundo inteiro estivesse segurando a respiração, esperando pelo grande momento.

Isaac se virou para mim, e eu vi o leve arqueamento de suas sobrancelhas, como se quisesse me lembrar de que aquilo era parte do acordo. Ele não parecia nervoso, claro que não. Ele era sempre impecável, controlado, e sabia que a mídia estava registrando cada movimento nosso.

Eu, por outro lado, estava furiosa. O comentário que ele fez no estúdio ainda me queimava na memória. “Beijo sem graça”, “chiclete de menta”. A audácia dele. E agora, ele queria que eu o beijasse como se nada tivesse acontecido?

Não. Eu não ia facilitar.

Ele se inclinou, fechando a distância entre nós, mas, antes que pudesse chegar perto o suficiente, virei ligeiramente o rosto e passei os braços ao redor dele, apertando-o em um abraço rápido. Foi um movimento tão natural que, por um segundo, vi a confusão em seus olhos.

— Aylme, eles estão esperando o beijo — murmurou, baixo o suficiente para que só eu ouvisse, a voz quase uma advertência.

Ignorei. Apoiei minha cabeça no ombro dele e sussurrei com um tom doce e ácido ao mesmo tempo:

— Melhor um abraço sincero do que um beijo sem graça e fedorento, não acha?

Ele ficou rígido por um instante, mas, em seguida, relaxou e acompanhou o gesto, talvez percebendo que não tinha escolha.

Aplausos ecoaram pelo salão, e algumas risadas nervosas vieram da plateia. Isaac também mostrou um sorriso sem graça.

Quando me afastei, mantive o sorriso falso no rosto e vi a faísca de irritação nos olhos dele. Eu sabia que o tinha provocado, mas, para mim, aquilo foi uma pequena vitória.

Fomos para a festa. No início da recepção, enquanto os garçons serviam champanhe, encontrei mais uma oportunidade. Isaac estava ocupado conversando com um grupo de empresários, e aproveitei para pegar um dos pratos do bufê.

Escolhi algo específico: salmão com alho e ervas. Peguei um pedaço pequeno, mas caprichei no alho, bastante alho.

— Vamos ver como você gosta disso, senhor perfeccionista — murmurei, pegando um guardanapo para não sujar o vestido.

Após comer, peguei uma taça de champanhe e fui em direção a ele, com meu melhor sorriso falso.

— Isaac, querido, você parece ocupado — falei, com uma voz doce o suficiente para ser irritante.

Ele olhou para mim, um pouco surpreso com minha abordagem repentina.

— Apenas negócios. Algo que você não precisa se preocupar, querida.

Meu sorriso se ampliou.

— Claro. Mas acho que está na hora de cumprirmos com a tradição, não acha?

Ele franziu o cenho.

— Que tradição?

Inclinei-me um pouco mais perto, o suficiente para ele sentir o aroma do alho que ainda estava fresco na minha boca.

— A de conversar com os convidados como um casal feliz, é claro — respondi, piscando. — Querido. — falei entre dentes.

Ele recuou ligeiramente, mas tentou não demonstrar.

— Você comeu alho? — perguntou, baixo o suficiente para que só eu ouvisse.

— Talvez. — Dei um sorriso inocente. — Algum problema? Agora você quer me beijar, amor?

Ele me lançou um olhar que poderia congelar fogo, mas antes que pudesse responder, o anúncio do mestre de cerimônias ecoou pelo salão.

— E agora, senhoras e senhores, é hora da primeira dança dos noivos!

— Vamos.

Isaac me ofereceu o braço, o rosto inexpressivo. Ele parecia decidido a não reagir ao meu pequeno truque.

— Não quer um beijo?

— Você é insuportável, sabia? — ele murmurou enquanto caminhávamos para o centro do salão. — Já estou arrependido de ter casado.

— Você mereceu.

Ele soltou um suspiro, mas não disse mais nada.

A música começou, lenta e suave, preenchendo o salão com um ar de expectativa. Os convidados observavam em silêncio, suas taças de champanhe em mãos, enquanto Isaac colocava uma mão na minha cintura e segurava minha outra mão firmemente.

Seus movimentos eram precisos, controlados. Ele me guiava com facilidade, cada passo perfeitamente sincronizado com a música. Era irritante como ele conseguia ser tão bom em tudo, até mesmo em dançar.

— Você vai tentar estragar isso também? — perguntou ele, a voz baixa e cortante.

— Não. Deixarei você se exibir.

— Gentil da sua parte. Só peço que evite abrir esse vulcão que você chama de boca, em cima da minha cara. Parece uma criança fazendo arte. Onde já viu, comer alho.

— Palhaço. — Rosnei, queria bater nele.

Ele me girou suavemente, e, por um momento, esqueci onde estava. Havia algo nos movimentos dele—o jeito que sua mão pressionava minha cintura, a força controlada em seus passos—que era impossível ignorar.

Quando nossos olhares se encontraram, senti algo estranho. Não raiva, nem frustração, mas algo que me fez perder o fôlego por um segundo.

— Fique olhando assim, e eu posso pensar que você gosta de mim — ele disse, um sorriso de canto surgindo em seus lábios.

— Você sabe que não gosto de você nenhum pouco, ao contrário, eu odeio. — resmunguei entre dentes.

Ele riu baixo, um som tão raro e inesperado que quase me fez sorrir.

No final da música, ele me rodopiou no centro do salão, fazendo com que a saia do meu vestido, se abrisse como uma flor. Quando finalmente parei, ele me segurou firmemente, nossos rostos mais próximos do que deveriam estar.

— Pode me odiar à vontade, Aylme, mas lembre-se de que estamos nisso junto.

Seu tom era sério, mas havia algo mais ali. Algo que não consegui decifrar.

Quando a música terminou e os aplausos encheram o salão, me afastei, tentando ignorar o calor que ainda sentia onde ele havia me tocado.

Isaac Castellani podia ser insuportável, mas também era impossível de ignorar, isso eu não posso negar.

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Comments

Raimunda Neves

Raimunda Neves

A estória está simplesmente maravilhosa, cada melhor que outro, e estou ansiosa para a convivência dos dois em casa ,como vai ser kkkkkkkkk

2025-03-16

0

Joy Savage

Joy Savage

Obrigada autora, ela deu o troco e eu ri tanto que cheguei a sentir dor na barriga, estamos quites 😂😂😂

2025-03-24

0

Cleidilene Silva

Cleidilene Silva

eu já rir muito desse dóis, homens se acha esperto , mais mulher e bicho vingativo kkk

2025-03-13

0

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