P.o.v -Luriel
Voltei para o quarto do meu pai, fechei a porta e travei. Precisávamos ter uma conversa séria. Encostei-me na parede e respirei fundo antes de começar:
— Escuta aqui, o senhor está quase morrendo, e eu estou fazendo o que posso para evitar isso. E ainda vem tratar o João dessa forma por causa de uma vagabunda que te deixou?!
Ele não demorou a responder, o olhar duro e cheio de ressentimento:
— Esse moleque tem que sofrer o que você sofreu.
Aquela afirmação me atingiu como um soco no estômago, mas mantive a calma, ou pelo menos tentei.
— Ele não tem culpa de nada. Quem tem que sofrer é ela — retruquei.
Meu pai cruzou os braços, obstinado.
— Eu não aceito que você tenha contato com um filho de mafioso!
— O senhor queria o quê? Ou era isso ou nada — respondi, tentando mostrar o óbvio.
— Eu não pedi nada de você! — disse ele, sua voz carregada de amargura.
Suspirei, cansado dessa guerra inútil.
— Tá bom, então vou começar a fazer como um monte de filhos fazem com os pais: te jogar em uma casa de repouso e te visitar uma vez a cada dois anos.
Ele revirou os olhos, como se estivesse lidando com um adolescente rebelde.
— Tá, Luriel, vai embora logo!
A última gota de paciência se esvaiu.
— O senhor é muito cabeça dura... Deve ser por causa disso que Ana te deixou.
Destranquei a porta, saí do quarto e fui direto para o carro no estacionamento. Encontrei João encostado no carro, de costas para mim, fumando. Não pude evitar a surpresa.
— Não sabia que você fumava.
Ele me olhou, tranquilo.
— Eu não costumo fazer muito — disse, jogando o cigarro fora e pegando um pequeno recipiente de álcool para passar nas mãos antes de guardá-lo.
Observei o gesto e comentei:
— Não sou muito de passar álcool na mão, eu prefiro beber.
João riu, um som leve que aliviou a tensão do meu corpo.
— Não é surpresa isso... Hoje não vamos mais sair do clube, e você pode ir beber.
Sorri, mas o que eu queria era outra coisa.
— Não quero beber hoje. Quero uma massagem especial.
Ele me lançou um olhar divertido.
— Massagem? Eu sou o patrão aqui. Quem me deve isso é você.
Ri, lembrando da massagem que ele tinha feito mais cedo.
— Aquela massagem que você fez mais cedo.
Ele sorriu, e nós entramos no carro, seguindo para o clube.
— Esse sorriso não me engana. Você quer fazer de novo, mas tem vergonha.
Ele ficou um pouco sem jeito, tentando mudar de assunto.
— Para de falar essas coisas... Seu pai, pelo visto, não me recebeu muito bem, né?
Suspirei, lembrando da discussão.
— Ele acha que todo mundo tem culpa pelo que aconteceu no passado.
João assentiu, compreensivo.
— Entendo...
Olhei para ele, preocupado.
— Como você está se sentindo?
— Estou bem, relaxa...
— Certeza?
— Sim...
Ele olhou o celular e suspirou ao ver as mensagens.
— Quem é que está te perturbando?
— O Júlio não desiste... Está chamando para beber hoje no bar do clube — respondeu, olhando a estrada enquanto eu dirigia.
— Eu posso fazer ele desistir — ofereci.
Ele me olhou, curioso.
— Como assim?
— Eu vou precisar de você para isso dar certo, mas ele nunca mais vai querer você.
João sorriu, debochado.
— Melhor deixar ele... Talvez um dia eu saia com ele, né?
— Esse dia nunca vai acontecer — afirmei, sério.
— Sente ciúmes? — Ele me olhou, sorrindo.
— Eu, com ciúmes? Nunca. Só não quero ninguém te perturbando.
Ele passou o dedo indicador delicadamente pelo meu pescoço.
— Você fica engraçado com ciúmes — disse, sorrindo.
— Não estou com ciúmes... Podemos mudar de assunto.
Ele riu, divertido.
— Tá bom...
Voltamos a olhar para a estrada.
— Para na barraca de frutas... Preciso de morangos.
Estacionei na barraca e desci do carro, abrindo a porta para ele.
— Obrigado — disse ele, sorrindo, antes de ir até a parte dos morangos.
Acompanhei-o, observando algumas frutas.
— Estou afim de um abacaxi para adoçar o leite — falei, rindo.
— Nossa, cala a boca — ele riu, dando-me um leve empurrão.
Surpreso, sorri.
— Mas pelo seu rosto, parecia que não gostou.
Ele pegou os pacotes de morango e me entregou para segurar.
— Será que é o suficiente?
— Pelo jeito que você gosta de morango, acho que não é o suficiente.
Ele colocou mais alguns em minhas mãos.
— Pronto...
— Não seria mais fácil você comprar um carregamento de morangos e colocar nas geladeiras do clube?
— Não, morango estraga rápido... E esses ficam na geladeira do meu quarto — explicou, antes de pagar.
Voltamos ao carro, e um dos capangas abriu o porta-malas para eu colocar os morangos lá dentro. Coloquei os pacotes dentro de uma caixa térmica e fechei o porta-malas. Depois, fui até João e abri a porta para ele entrar.
— Obrigado — disse ele, entrando no carro com um sorriso.
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Atualizado até capítulo 41
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