Capítulo 20

P.o.v -Luriel

Voltei para o quarto do meu pai, fechei a porta e travei. Precisávamos ter uma conversa séria. Encostei-me na parede e respirei fundo antes de começar:

— Escuta aqui, o senhor está quase morrendo, e eu estou fazendo o que posso para evitar isso. E ainda vem tratar o João dessa forma por causa de uma vagabunda que te deixou?!

Ele não demorou a responder, o olhar duro e cheio de ressentimento:

— Esse moleque tem que sofrer o que você sofreu.

Aquela afirmação me atingiu como um soco no estômago, mas mantive a calma, ou pelo menos tentei.

— Ele não tem culpa de nada. Quem tem que sofrer é ela — retruquei.

Meu pai cruzou os braços, obstinado.

— Eu não aceito que você tenha contato com um filho de mafioso!

— O senhor queria o quê? Ou era isso ou nada — respondi, tentando mostrar o óbvio.

— Eu não pedi nada de você! — disse ele, sua voz carregada de amargura.

Suspirei, cansado dessa guerra inútil.

— Tá bom, então vou começar a fazer como um monte de filhos fazem com os pais: te jogar em uma casa de repouso e te visitar uma vez a cada dois anos.

Ele revirou os olhos, como se estivesse lidando com um adolescente rebelde.

— Tá, Luriel, vai embora logo!

A última gota de paciência se esvaiu.

— O senhor é muito cabeça dura... Deve ser por causa disso que Ana te deixou.

Destranquei a porta, saí do quarto e fui direto para o carro no estacionamento. Encontrei João encostado no carro, de costas para mim, fumando. Não pude evitar a surpresa.

— Não sabia que você fumava.

Ele me olhou, tranquilo.

— Eu não costumo fazer muito — disse, jogando o cigarro fora e pegando um pequeno recipiente de álcool para passar nas mãos antes de guardá-lo.

Observei o gesto e comentei:

— Não sou muito de passar álcool na mão, eu prefiro beber.

João riu, um som leve que aliviou a tensão do meu corpo.

— Não é surpresa isso... Hoje não vamos mais sair do clube, e você pode ir beber.

Sorri, mas o que eu queria era outra coisa.

— Não quero beber hoje. Quero uma massagem especial.

Ele me lançou um olhar divertido.

— Massagem? Eu sou o patrão aqui. Quem me deve isso é você.

Ri, lembrando da massagem que ele tinha feito mais cedo.

— Aquela massagem que você fez mais cedo.

Ele sorriu, e nós entramos no carro, seguindo para o clube.

— Esse sorriso não me engana. Você quer fazer de novo, mas tem vergonha.

Ele ficou um pouco sem jeito, tentando mudar de assunto.

— Para de falar essas coisas... Seu pai, pelo visto, não me recebeu muito bem, né?

Suspirei, lembrando da discussão.

— Ele acha que todo mundo tem culpa pelo que aconteceu no passado.

João assentiu, compreensivo.

— Entendo...

Olhei para ele, preocupado.

— Como você está se sentindo?

— Estou bem, relaxa...

— Certeza?

— Sim...

Ele olhou o celular e suspirou ao ver as mensagens.

— Quem é que está te perturbando?

— O Júlio não desiste... Está chamando para beber hoje no bar do clube — respondeu, olhando a estrada enquanto eu dirigia.

— Eu posso fazer ele desistir — ofereci.

Ele me olhou, curioso.

— Como assim?

— Eu vou precisar de você para isso dar certo, mas ele nunca mais vai querer você.

João sorriu, debochado.

— Melhor deixar ele... Talvez um dia eu saia com ele, né?

— Esse dia nunca vai acontecer — afirmei, sério.

— Sente ciúmes? — Ele me olhou, sorrindo.

— Eu, com ciúmes? Nunca. Só não quero ninguém te perturbando.

Ele passou o dedo indicador delicadamente pelo meu pescoço.

— Você fica engraçado com ciúmes — disse, sorrindo.

— Não estou com ciúmes... Podemos mudar de assunto.

Ele riu, divertido.

— Tá bom...

Voltamos a olhar para a estrada.

— Para na barraca de frutas... Preciso de morangos.

Estacionei na barraca e desci do carro, abrindo a porta para ele.

— Obrigado — disse ele, sorrindo, antes de ir até a parte dos morangos.

Acompanhei-o, observando algumas frutas.

— Estou afim de um abacaxi para adoçar o leite — falei, rindo.

— Nossa, cala a boca — ele riu, dando-me um leve empurrão.

Surpreso, sorri.

— Mas pelo seu rosto, parecia que não gostou.

Ele pegou os pacotes de morango e me entregou para segurar.

— Será que é o suficiente?

— Pelo jeito que você gosta de morango, acho que não é o suficiente.

Ele colocou mais alguns em minhas mãos.

— Pronto...

— Não seria mais fácil você comprar um carregamento de morangos e colocar nas geladeiras do clube?

— Não, morango estraga rápido... E esses ficam na geladeira do meu quarto — explicou, antes de pagar.

Voltamos ao carro, e um dos capangas abriu o porta-malas para eu colocar os morangos lá dentro. Coloquei os pacotes dentro de uma caixa térmica e fechei o porta-malas. Depois, fui até João e abri a porta para ele entrar.

— Obrigado — disse ele, entrando no carro com um sorriso.

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