Capítulo 17

P.o.v -Luriel

Dias depois, a rotina entre João e eu parecia mais tranquila, embora eu soubesse que, em algum momento, precisaríamos ter uma conversa séria sobre tudo o que estava acontecendo.

Mirela estava no meu quarto, como de costume, e sua presença já estava me incomodando um pouco, não era mais como antes. Ela me encarou com um sorriso malicioso e disse:

— Fiquei sabendo que o João te deu liberdade para tomar decisões na máfia.

Eu a olhei com indiferença, já acostumado com suas provocações.

— Sim, realmente ele me deu essa liberdade. Agora sou tipo um braço direito.

— Que bom... — disse ela, com um sorriso ainda mais astuto. — E quando pensa em matá-lo?

Suspirei e cruzei os braços, tentando manter a calma.

— Não podemos ir com muita sede ao pote. Ele já anda muito desconfiado.

Ela se aproximou um pouco mais, olhando-me fixamente.

— É só matá-lo logo. Do que você tem medo? Quando matá-lo, teremos a máfia só para nós.

Balancei a cabeça, impaciente.

— Não está na hora de fazer isso.

— Não me diga que está gostando dele — provocou ela, com um tom desafiador.

— A minha vida não é do seu interesse. Tenho outro assunto para resolver antes de tudo.

Mirela riu, sentando-se na beira da cama.

— Se demorar muito, eu mesma vou fazer.

— Se você encostar nele, quem vai morrer aqui vai ser você — falei sério, sem desviar o olhar.

Mirela levantou uma sobrancelha, surpresa, e cruzou as pernas.

— Eu estava certa. Você está gostando do moleque que roubou sua mãe. Se agora gosta dele, por que veio para a cama comigo? E se ele souber?

Sorri de canto, um sorriso frio.

— Quem disse que ele não sabe? E eu não gosto dele. Só não quero que você encoste nele.

Ela deu de ombros, parecendo não se importar.

— Sei.

***

Na manhã seguinte, fui ao refeitório e me sentei de frente para João. Ele estava com seu abafador de ruídos e parecia alheio a tudo.

— Bom dia, João — disse eu, tentando puxar assunto.

Ele tirou o abafador e me olhou com uma expressão impassível.

— Bom dia...

— Aconteceu alguma coisa? — perguntei, preocupado.

— Não...

Fiz sinal para ele me contar, mas ele apenas balançou a cabeça.

Júlio chegou com Mirela e se sentaram perto de nós.

— Bom dia, gente — disse Júlio, animado.

— Oi, gente. Bom dia — respondeu Mirela, sorrindo.

— Bom dia — disse João, ainda distante.

— Podemos conversar depois, João? — perguntei, tentando mais uma vez.

— Tá...

Mirela se inclinou para mim e disse em voz baixa, mas o suficiente para João ouvir:

— Hoje cedo o João me viu aqui. Ele perguntou o que eu fazia tão cedo aqui e falei para ele que dormi com você, Luriel.

Júlio riu.

— Até eu estranharia você tão cedo aqui, Mirela. Sempre vem só à noite.

Olhei para João, que parecia ainda mais distante.

— Não sei para que mentir... Sendo que nem de vadia eu gosto, ainda mais quando é rodada — disse eu, sem paciência.

Mirela levantou-se rapidamente e me deu um tapa.

— Me respeita, seu idiota!

Júlio tentou acalmar a situação.

— Pegou pesado, Luriel. Não precisa disso.

Sorri de maneira maldosa.

— Falei a verdade. Eu sei que a verdade machuca.

Ela deu outro tapa, mas antes que pudesse continuar, levantei-me e assobiei, chamando os seguranças.

— Você vai parar com isso ou vai sair do refeitório?

Mirela recuou, mas seu olhar prometia vingança.

João, por outro lado, estava trêmulo e derrubou um copo de água. Fui até ele, peguei um copo de água e tentei ajudá-lo, mas ele recusou.

— Não — disse ele, com firmeza.

— Vai ficar fazendo birra? Estou te ajudando... Mas sei por que você está assim. É difícil gostar de alguém quando tem outras pessoas querendo estragar.

— Birra? Não fala assim comigo! — respondeu ele, levantando-se e saindo em direção à sua sala.

Fui atrás dele.

— Desculpa...

— Está se desculpando por quê? — perguntou ele, parando no corredor.

— Pelo que eu falei pra você... Quero saber, o que você tem?

— Nada...

Ele entrou na sala e, antes que pudesse chegar à mesa, puxei-o para mim, deixando nossos corpos juntos.

— O que você quer? — perguntou ele, surpreso.

Aproximei meu rosto do dele e o beijei. Ele retribuiu por um momento, mas logo me afastou.

— Chega.

— O que foi? Está se fazendo de difícil?

— Para de falar essas coisas... Eu fico com você só quando eu quero... É para isso que eu te pago — disse ele, se afastando.

— Eu não sou nenhum objeto que você pega, usa e depois deixa de lado.

— Você aceitou o dinheiro para isso.

— Não aceitei o dinheiro para isso. Aceitei por causa do meu pai... Mas se você pensa que sou seu objeto, pode ter outros.

— Você aceitou e eu cumpri com minha palavra. Agora falta você.

— De eu ser só seu? Vou fazer, pode ter certeza.

— Você pode sair da minha sala agora.

— Vou sair porque eu quero — disse, saindo e indo até a garagem.

Mirela apareceu, encostando-se ao carro.

— Está bravinho?

— O que faz aqui? — perguntei, sem olhá-la.

— Relaxa... Não fica chateadinho. Ele nem se importou.

— Vou relaxar como, com você aqui? Só está estragando as coisas.

— Isso é porque você não quer matá-lo logo! Você tem que fazer isso o mais rápido possível para a máfia ser sua logo!

Antes que eu pudesse responder, percebi João parado ali nos olhando. Naquele momento, soube que ele ouvira tudo o que ela disse.

Mais populares

Comments

Mika_Scorpious

Mika_Scorpious

Nossa /Hammer/
o moreno tá ignorante /Doubt/

2025-03-09

1

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!