P.o.v -Luriel
Dias depois, a rotina entre João e eu parecia mais tranquila, embora eu soubesse que, em algum momento, precisaríamos ter uma conversa séria sobre tudo o que estava acontecendo.
Mirela estava no meu quarto, como de costume, e sua presença já estava me incomodando um pouco, não era mais como antes. Ela me encarou com um sorriso malicioso e disse:
— Fiquei sabendo que o João te deu liberdade para tomar decisões na máfia.
Eu a olhei com indiferença, já acostumado com suas provocações.
— Sim, realmente ele me deu essa liberdade. Agora sou tipo um braço direito.
— Que bom... — disse ela, com um sorriso ainda mais astuto. — E quando pensa em matá-lo?
Suspirei e cruzei os braços, tentando manter a calma.
— Não podemos ir com muita sede ao pote. Ele já anda muito desconfiado.
Ela se aproximou um pouco mais, olhando-me fixamente.
— É só matá-lo logo. Do que você tem medo? Quando matá-lo, teremos a máfia só para nós.
Balancei a cabeça, impaciente.
— Não está na hora de fazer isso.
— Não me diga que está gostando dele — provocou ela, com um tom desafiador.
— A minha vida não é do seu interesse. Tenho outro assunto para resolver antes de tudo.
Mirela riu, sentando-se na beira da cama.
— Se demorar muito, eu mesma vou fazer.
— Se você encostar nele, quem vai morrer aqui vai ser você — falei sério, sem desviar o olhar.
Mirela levantou uma sobrancelha, surpresa, e cruzou as pernas.
— Eu estava certa. Você está gostando do moleque que roubou sua mãe. Se agora gosta dele, por que veio para a cama comigo? E se ele souber?
Sorri de canto, um sorriso frio.
— Quem disse que ele não sabe? E eu não gosto dele. Só não quero que você encoste nele.
Ela deu de ombros, parecendo não se importar.
— Sei.
***
Na manhã seguinte, fui ao refeitório e me sentei de frente para João. Ele estava com seu abafador de ruídos e parecia alheio a tudo.
— Bom dia, João — disse eu, tentando puxar assunto.
Ele tirou o abafador e me olhou com uma expressão impassível.
— Bom dia...
— Aconteceu alguma coisa? — perguntei, preocupado.
— Não...
Fiz sinal para ele me contar, mas ele apenas balançou a cabeça.
Júlio chegou com Mirela e se sentaram perto de nós.
— Bom dia, gente — disse Júlio, animado.
— Oi, gente. Bom dia — respondeu Mirela, sorrindo.
— Bom dia — disse João, ainda distante.
— Podemos conversar depois, João? — perguntei, tentando mais uma vez.
— Tá...
Mirela se inclinou para mim e disse em voz baixa, mas o suficiente para João ouvir:
— Hoje cedo o João me viu aqui. Ele perguntou o que eu fazia tão cedo aqui e falei para ele que dormi com você, Luriel.
Júlio riu.
— Até eu estranharia você tão cedo aqui, Mirela. Sempre vem só à noite.
Olhei para João, que parecia ainda mais distante.
— Não sei para que mentir... Sendo que nem de vadia eu gosto, ainda mais quando é rodada — disse eu, sem paciência.
Mirela levantou-se rapidamente e me deu um tapa.
— Me respeita, seu idiota!
Júlio tentou acalmar a situação.
— Pegou pesado, Luriel. Não precisa disso.
Sorri de maneira maldosa.
— Falei a verdade. Eu sei que a verdade machuca.
Ela deu outro tapa, mas antes que pudesse continuar, levantei-me e assobiei, chamando os seguranças.
— Você vai parar com isso ou vai sair do refeitório?
Mirela recuou, mas seu olhar prometia vingança.
João, por outro lado, estava trêmulo e derrubou um copo de água. Fui até ele, peguei um copo de água e tentei ajudá-lo, mas ele recusou.
— Não — disse ele, com firmeza.
— Vai ficar fazendo birra? Estou te ajudando... Mas sei por que você está assim. É difícil gostar de alguém quando tem outras pessoas querendo estragar.
— Birra? Não fala assim comigo! — respondeu ele, levantando-se e saindo em direção à sua sala.
Fui atrás dele.
— Desculpa...
— Está se desculpando por quê? — perguntou ele, parando no corredor.
— Pelo que eu falei pra você... Quero saber, o que você tem?
— Nada...
Ele entrou na sala e, antes que pudesse chegar à mesa, puxei-o para mim, deixando nossos corpos juntos.
— O que você quer? — perguntou ele, surpreso.
Aproximei meu rosto do dele e o beijei. Ele retribuiu por um momento, mas logo me afastou.
— Chega.
— O que foi? Está se fazendo de difícil?
— Para de falar essas coisas... Eu fico com você só quando eu quero... É para isso que eu te pago — disse ele, se afastando.
— Eu não sou nenhum objeto que você pega, usa e depois deixa de lado.
— Você aceitou o dinheiro para isso.
— Não aceitei o dinheiro para isso. Aceitei por causa do meu pai... Mas se você pensa que sou seu objeto, pode ter outros.
— Você aceitou e eu cumpri com minha palavra. Agora falta você.
— De eu ser só seu? Vou fazer, pode ter certeza.
— Você pode sair da minha sala agora.
— Vou sair porque eu quero — disse, saindo e indo até a garagem.
Mirela apareceu, encostando-se ao carro.
— Está bravinho?
— O que faz aqui? — perguntei, sem olhá-la.
— Relaxa... Não fica chateadinho. Ele nem se importou.
— Vou relaxar como, com você aqui? Só está estragando as coisas.
— Isso é porque você não quer matá-lo logo! Você tem que fazer isso o mais rápido possível para a máfia ser sua logo!
Antes que eu pudesse responder, percebi João parado ali nos olhando. Naquele momento, soube que ele ouvira tudo o que ela disse.
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Atualizado até capítulo 41
Comments
Mika_Scorpious
Nossa /Hammer/
o moreno tá ignorante /Doubt/
2025-03-09
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