P.o.v -Luriel
—Certo, eu vou morar aqui. Mais alguma coisa? — perguntei, cruzando os braços.
João deu de ombros.
— Por enquanto, não.
— Hummm, depois não quero surpresa — murmurei, desconfiado.
— Certo. Vou resolver uns assuntos na minha sala e, depois, quero os dados do hospital para fazer o pagamento — disse ele, levantando-se e saindo, me deixando sozinho com meus pensamentos.
Fiquei ali, o barulho ao redor parecia distante, como se eu estivesse isolado em uma bolha de preocupação.
Mirela chegou, sentando ao meu lado com aquele sorriso que tentava sempre trazer leveza.
— Oi, gato. Qual a boa? — perguntou, me observando de perto. — Pela sua cara, não parece muito bem. O que rolou?
Suspirei, já cansado de repetir a história.
— Meu pai está pior do câncer dele.
— Eita, sério? E agora? — Mirela parecia genuinamente preocupada.
— Não sei o que vou fazer, mas tive uma proposta — respondi, evitando seus olhos.
— Como assim, proposta?
— O João falou que pode me ajudar... Mas nem tudo é de graça e nem flores.
— Ele vai te ajudar? — Mirela perguntou, surpresa.
Fiquei mais tenso, o nervosismo transparecendo em minha voz.
— Sim, mas pra isso, eu vou ter que ser dele... E... eu nunca fiquei com homem.
Ela arregalou os olhos.
— Ele quer que você durma com ele?
Assenti, o incômodo evidente.
— Sim... Mas eu não sei como fazer isso... porque só fiquei com mulheres.
Mirela balançou a cabeça, indignada.
— Como ele teve coragem de usar isso? Que cara idiota...
— E eu vou ter que me mudar pra cá. Agora eu não sei o que eu faço — desabafei.
— Mudar? E você vai aceitar?
— E eu tenho outra escolha? — perguntei, exasperado.
Mirela suspirou.
— Ah, é... seu pai, né.
— Mas eu acho que é só meter, né? — tentei aliviar o peso da conversa com um tom irônico.
— Eu não sei... Tenta, ué — sugeriu, hesitante.
— Me ajudou muito em — respondi, a ironia carregada na voz.
***
***Horas mais tarde***
Entrei no quarto que haviam separado para mim. Era luxuoso, maior do que a minha própria casa. Eu estava começando a me sentir mais confortável, quando ouvi uma voz atrás de mim.
— Gostou desse quarto? — João estava encostado na porta, me observando.
Me assustei ao vê-lo.
— Gostei sim. Ele é maior que a minha casa.
João sorriu.
— Realmente, é um quarto bonito... Mas enfim, você não me mandou os dados bancários ou o pix para eu fazer o pagamento do valor. Mudou de ideia?
Neguei com a cabeça.
— Meu pix é meu número.
Ele pegou o celular e, após alguns instantes, disse:
— Feito — e mostrou o comprovante.
Olhei o comprovante, sentindo um alívio misturado com apreensão.
— Vou já mandar pro hospital. Obrigado.
João se aproximou, ajeitando meu cabelo com uma leveza surpreendente.
— Seu pai vai ficar bem... Não se preocupe.
— Estou fazendo o que posso para ele melhorar — murmurei, tentando esconder meu desconforto.
— Eu sei... — Ele se afastou, despedindo-se. — Até.
Depois que ele saiu, peguei meu celular e enviei o pix ao médico. Joguei-me na cama, pensativo:
"Como vou ser dele, sendo que eu só fiquei com mulheres até agora?"
***
***Três dias depois, no refeitório***
Estávamos almoçando, e a conversa fluía naturalmente até Júlio comentar:
— Não entendo por que o chefe sempre enrola para sair comigo.
Mirela riu.
— Talvez você não faça o tipo dele.
— Mas eu vou conseguir — disse Júlio, confiante, olhando para mim. — E você, Luriel, por que está tão quieto?
Levantei os olhos, sério.
— Porque eu não fico me perguntando por que o chefe não sai comigo.
Júlio franziu o cenho, confuso.
— Ué, como assim, cara? Qual seu problema?
— Gente, calma — Mirela tentou intervir.
— Ele que está se alterando por besteira! Só tava falando pra vocês o que eu quero fazer — Júlio resmungou.
Suspirei, sentindo o peso das últimas horas.
— Desculpa, Júlio, é que estou muito preocupado ultimamente.
Mirela colocou uma mão no meu ombro.
— Vamos entender. O Luriel está com problemas pessoais.
Nesse momento, João entrou no refeitório. Todos se levantaram, respeitosos, enquanto ele passava e se sentava com os outros líderes.
Fiquei no meu canto, com Mirela, sussurrando para ela:
— Preciso me distrair.
Ela se aproximou, sussurrando em meu ouvido:
— Posso ir no seu quarto hoje.
Percebi João nos observando e sussurrei de volta:
— Talvez...
O olhar de João, sério, seguia cada movimento nosso, como se estivesse decidindo algo importante.
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Atualizado até capítulo 41
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