P.o.v -João
Minutos depois, já estávamos a caminho do hospital novamente. Olhei para Luriel enquanto ele dirigia, sua expressão concentrada na estrada.
Ele percebeu meu olhar e sorriu, quebrando o silêncio.
— O que foi? — perguntou, sem desviar os olhos da estrada.
— Nada. — Balancei a cabeça. Voltei a olhar para a estrada, mas a curiosidade me corroía por dentro.
— Tem certeza?
Eu hesitei por um momento antes de soltar a pergunta que martelava em minha mente.
— Como seu pai reagiria se soubesse que você tem ficado com um cara?
Luriel deu uma risada leve, como se a ideia não o preocupasse.
— Não sei, mas a opinião dele não importa.
Assenti, olhando para fora da janela.
— Meu pai nunca ligou muito.
Luriel lançou um olhar de canto para mim.
— Meio que o seu pai não tem que ligar pra nada, né? Todo mundo tem medo dele.
— Sim... — murmurei, sem muito ânimo. A conversa me deixava inquieto.
Logo chegamos ao hospital. Assim que estacionamos, os seguranças dos outros carros também desceram e nos acompanharam até a entrada. Entramos, e Luriel foi direto à recepção pegar o número do quarto de seu pai. Subimos juntos, o silêncio entre nós pesando cada vez mais.
Quando entramos no quarto, Paulo nos encarou com uma expressão mista de cansaço e irritação.
— Luriel, finalmente veio, né? — disse, sua voz carregada de desdém.
— E aí, pai? Como está o senhor? Está melhor? — Luriel tentou soar casual, mas havia um tom de preocupação em sua voz. — Trouxe uma pessoa muito especial pra mim pra te conhecer.
Olhei surpreso para Luriel, sem esperar aquela apresentação. Estendi a mão para cumprimentar Paulo, tentando esconder meu desconforto.
— Prazer, senhor, sou João.
Paulo me olhou estranho, ignorando minha mão estendida.
— Hum... Você me lembra alguém.
— Sério? — Perguntei, abaixando a mão, tentando esconder meu constrangimento.
Luriel franziu a testa.
— Quem é, pai?
— Gustavo, eu acredito.
Engoli em seco, o nervosismo crescendo.
— Ah... É que ele é o meu pai... — sorri sem jeito.
Paulo olhou para Luriel com uma expressão de desconfiança.
— Então são amigos?
— Mais ou menos, pai. Ele está me ajudando a pagar sua hospedagem aqui.
— Ajudando como?
— Ele é meu segurança, senhor — expliquei, tentando parecer calmo.
Paulo arqueou uma sobrancelha.
— Espera... Luriel, você entrou em uma máfia?
Luriel suspirou, cruzando os braços.
— Sim, eu preciso de dinheiro pra pagar seus remédios.
Paulo me olhou com desprezo, mas não disse nada. O silêncio era quase ensurdecedor.
Luriel percebeu o olhar de seu pai e se aproximou de mim.
— O senhor tem que agradecer ao João.
Tentei aliviar a tensão, olhando para o relógio.
— Vamos comer alguma coisa? Que tal? — sugeri, tentando soar simpático.
— Vamos, sim. Tem uma lanchonete aqui no hospital, e todo mundo fala que é boa — concordou Luriel.
— Ok... Vamos comprar... Licença, senhor — saio do quarto, aliviados por escapar daquela atmosfera pesada, Luriel saiu ao meu lado. No caminho para a lanchonete, ele comentou, tentando aliviar o peso da situação:
— Não liga pro meu pai.
Eu respirei fundo e respondi, tentando parecer tranquilo, mesmo que por dentro eu ainda estivesse abalado:
— Está tranquilo.
Logo chegamos à lanchonete, e eu me aproximei do balcão, tentando parecer mais calmo do que realmente estava. Olhei para a garçonete e pedi educadamente:
— Olá, pode me dar o cardápio, por favor?
Ela sorriu para mim, seus olhos brilhando de uma forma que me fez sentir um pouco desconfortável.
— Sim, claro, senhor... — respondeu, entregando-me o cardápio.
Peguei o cardápio e comecei a olhar as opções com atenção. Sentia os olhos dela em mim, analisando-me com um interesse evidente, o que só aumentava meu desconforto. Luriel percebeu o olhar dela e se aproximou de mim, como se quisesse marcar presença.
Mostrei o cardápio a ele e sugeri:
— Escolhe o que vocês gostam.
Ele olhou rapidamente e decidiu:
— Um x-tudo para mim e um x-salada para o meu pai.
A garçonete anotou os pedidos e informou:
— Daqui 15 minutos estará pronto, pois temos outros na frente.
— Ok, senhorita... — respondi educadamente.
Passei meu cartão para pagar, e, ao me devolver o comprovante, ela entregou discretamente um papelzinho com seu número. Surpreso, me afastei do balcão e voltei para o lado de Luriel, tentando não dar importância ao gesto.
Luriel, porém, pegou o papelzinho da minha mão e o rasgou sem hesitar.
— Número de rapariga, não, né... — disse ele, com um tom de reprovação.
Olhei para ele surpreso, mas preferi não me importar muito. Voltamos ao quarto, tentando deixar para trás o constrangimento da situação. Ao entrar, tentei ser cordial:
— Oi, senhor, voltamos...
Paulo ignorou nossa entrada, virando o rosto. Luriel bufou, irritado.
— Agora pronto, tenho uma criança barbada fazendo birra.
Paulo não se conteve.
— Fica quieto! — falou, irritado.
Luriel não se deixou abalar.
— O que você tem? Eu passo meses sem vir aqui e quando eu venho o senhor fica assim.
Paulo olhou para mim, seus olhos cheios de raiva.
— Ei, garoto... então foi com seu pai que a Ana ficou, né? E até abandonou o filho legítimo...
As palavras dele foram como um soco. Dei um passo para trás, surpreso. Luriel se colocou entre nós.
— Para de tratar o João dessa forma! Ele não tem culpa das coisas que a Ana e o Gustavo fizeram no passado.
Paulo explodiu.
— Ele é do mesmo sangue daquele merda!
Luriel perdeu a paciência.
— Fica na sua! Porque os seus remédios são muito caros e quem está pagando tudo é o João!
Ofegante e trêmulo, pedi desculpas.
— Desculpe, senhor...
Paulo ignorou minhas palavras.
— Desculpa não muda nada! — gritou.
Senti as lágrimas queimarem meus olhos e saí correndo do quarto, incapaz de aguentar mais.
Luriel me seguiu e me abraçou, puxando minha cabeça contra seu peito. Peguei sua roupa, apertando-a com força, as lágrimas finalmente escapando.
Ele me envolveu, falando baixinho.
— Vou conversar com ele e depois vou para o carro, tá?
Eu apenas concordei, afastando-me, saindo e indo para fora do hospital em direção ao carro, deixando Luriel lidar com o que quer que fosse necessário.
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Atualizado até capítulo 41
Comments
Mika_Scorpious
Vala minha nossa senhora, pra que tanta ignorância? /Grievance/
2025-03-09
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