Capítulo 16

P.o.v -Luriel

— Não estou achando justo isso — declarei, encarando João enquanto ele se preparava para sair.

Ele franziu a testa, confuso.

— O quê?

— Você vai almoçar com alguém que vive dando em cima de você. Só vai dar falsas esperanças pra ele — expliquei, tentando não demonstrar muito meu incômodo.

João sorriu levemente, talvez achando graça do meu ciúme.

— Vamos almoçar juntos, eu e você então...

Fiquei surpreso, mas aceitei rapidamente.

— Vamos. Qual vai ser o restaurante?

— O mesmo que fomos da última vez.

— Aquele dia eu comi o mesmo que você. Agora quero comer sushi.

João riu.

— Tá... você pode comer o que quiser.

Eu cruzei os braços, observando-o.

— O que você vai falar pro Júlio?

— Que não vou poder ir com ele hoje... — Ele fez uma pausa e olhou para mim. — Enfim, vai na frente, prepara os outros e o carro. Vou pegar minha carteira e o cartão de membro do restaurante.

João foi até sua mesa e abriu a gaveta. Enquanto isso, saí da sala e caminhei até o local onde o carro particular de João estava estacionado. No caminho, pensamentos sobre minha mãe Ana invadiram minha mente.

"Queria falar umas verdades na cara daquela mulher", pensei, com o coração pesado.

Antes que pudesse me perder nesses pensamentos, senti um toque no braço. Me virei e lá estava Ana, com uma expressão que misturava preocupação e surpresa.

— Luriel? — perguntou, sua voz suave, mas firme.

— O que foi? — respondi, tentando manter a seriedade.

— O que faz aqui, filho?

A palavra "filho" me atingiu como uma lâmina. Minha voz endureceu.

— Filho? Como tem coragem de me chamar de filho depois de 12 anos sem aparecer?

Ana tentou esconder o desconforto.

— Você não pode ficar aqui...

Eu a interrompi, minha voz carregada de mágoa.

— Você nunca esteve presente na minha vida. Sua opinião é insignificante para mim, igual a você.

Ela respirou fundo, tentando manter a calma.

— Luriel, esse lugar não é pra você.

Eu não conseguia segurar minha raiva.

— Ana, faça o mesmo que fez há 12 anos: tome conta da sua vida.

Ela me olhou, seu semblante endurecido.

— Estou tentando... Mas o que você faz aqui? Quer estragar nossas vidas?

— Eu não quero estragar a vida de ninguém. A senhora estragou a minha infância, me abandonou e foi morar com o pai do João porque ele era rico. E agora você tem outro filho que nem é seu de verdade.

Antes que pudesse reagir, senti o tapa no rosto. O som ecoou pelo estacionamento.

— Como ousa falar isso pra sua mãe, seu moleque?! Está dizendo que sou uma puta?! — gritou ela, furiosa.

Eu fechei o punho, me segurando para não revidar, e a olhei com um olhar furioso.

— Você é igual ao que meu pai falava... Quando falamos a verdade, quer estar certa e fica agressiva.

Ela tremia de raiva.

— Você é uma criança ingrata! Não sabe o que fala! Se eu soubesse que você seria igual ao seu pai, nunca teria estragado minha vida com você!

Eu quase não acreditava nas palavras dela.

— Pelo menos ele cuidou de mim e não saiu de casa, deixando seu filho para trás.

Ela me fitou com frieza.

— Você não era das melhores crianças, né? O João, pelo contrário, era uma criança boa... O que você veio fazer aqui tão perto dele? Machucar ele porque ele conseguiu algo que você nunca teve? Uma mãe?

As palavras dela me atingiram profundamente, mas tentei não demonstrar.

— Vim trabalhar para cuidar do meu pai, que está com câncer.

Ana não mostrou compaixão, sua voz era gélida.

— Espero que aquele idiota morra.

Ela se virou e saiu andando dali, me deixando sozinho com meus pensamentos tumultuados.

Pouco depois, João apareceu. Ele me viu trêmulo, os olhos cheios de lágrimas.

— Luriel? O que foi? — perguntou, a preocupação evidente em sua voz.

Eu olhei para ele, depois para o lugar onde Ana havia desaparecido.

— Não é nada... Vamos?

João se aproximou, tentando entender.

— O que houve?

Eu respirei fundo, tentando me recompor.

— Não foi nada... Vamos almoçar.

Mesmo tentando parecer calmo, minhas mãos tremiam. João notou.

— O que foi isso? Te bateram? Quem? — Ele tocou meu rosto suavemente, percebendo o rubor.

Antes que pudesse responder, as lágrimas começaram a cair. A dor das palavras de Ana era insuportável.

João me abraçou, acariciando minha cabeça.

— O que fizeram com você?

Eu retribuí o abraço, chorando ainda mais.

João se afastou um pouco, abriu a porta do carro e nos acomodamos no banco de trás. Ele segurou meu rosto e limpou minhas lágrimas delicadamente.

— Não sei o que fizeram, mas não deixa isso te abalar.

Eu o olhei, ainda em conflito.

— Eu... Acho... Que não fui um bom... Filho.

João me fitou, tentando entender.

— Por que pensa assim?

Minha voz falhou.

— Nunca... Tive uma... Mãe... Que pudesse me apoiar.

João se aproximou mais, acariciando meu rosto.

— Se ela foi embora, o problema é dela. Ela não merecia ser sua mãe...

Eu baixei os olhos, sentindo-me culpado.

— Desculpa atrapalhar seu almoço com isso...

João me abraçou novamente.

— Não tem problema... — Ele me deu um selinho e acariciou minha cabeça. — Sua mãe não sabe o que ela perdeu.

Eu segurei sua mão, retribuindo o selinho.

— Obrigado, João.

Ele sorriu para mim, e naquele momento, senti que não estava tão sozinho.

Foi quando vi Júlio, parado à distância, nos observando. Ele não podia ouvir, mas a expressão em seu rosto deixava claro que havia visto mais do que deveria.

— Vamos almoçar. Não vou deixar isso estragar seu almoço — disse a João, tentando retomar a normalidade.

— Tudo bem — ele concordou.

Fiz sinal para outro segurança dirigir, e logo estávamos a caminho do restaurante. No carro, me senti mais leve ao lado de João.

— Eu não sei o que falar por ter você comigo — confessei.

João me olhou curioso.

— Como assim?

— Seus abraços me deixaram mais calmo — admiti, abraçando-o de novo.

Ele retribuiu, sorrindo.

— Que bom que eu consigo te ajudar.

***Mais tarde***

Já de volta ao clube com João, entramos.

— O almoço hoje estava muito bom — comentei, enquanto o acompanhava até uma sala de descanso.

— Sim, verdade — ele concordou, pegando um copo de água e tomando um gole.

Eu me sentei, sentindo o cansaço finalmente me atingir.

— Depois desse almoço, preciso de um abraço quentinho pra tirar um cochilo — disse, olhando para João com um sorriso.

Ele se aproximou, rindo.

— Você quer dormir um pouco?

Eu brinquei, provocando.

— Posso deixar sua tarde um pouco quente, se quiser.

João virou de costas para mim, sentando-se comigo, encostando no meu peito e pegando minhas mãos para que o abraçasse.

— Vamos ver, né? — ele respondeu, sorrindo.

Eu dei um sorriso safado.

— Tem certeza que quer ver?

João, ainda rindo, perguntou:

— O quê?

Eu apenas sorri, aproveitando aquele momento de tranquilidade.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!