P.o.v -Luriel
— Não estou achando justo isso — declarei, encarando João enquanto ele se preparava para sair.
Ele franziu a testa, confuso.
— O quê?
— Você vai almoçar com alguém que vive dando em cima de você. Só vai dar falsas esperanças pra ele — expliquei, tentando não demonstrar muito meu incômodo.
João sorriu levemente, talvez achando graça do meu ciúme.
— Vamos almoçar juntos, eu e você então...
Fiquei surpreso, mas aceitei rapidamente.
— Vamos. Qual vai ser o restaurante?
— O mesmo que fomos da última vez.
— Aquele dia eu comi o mesmo que você. Agora quero comer sushi.
João riu.
— Tá... você pode comer o que quiser.
Eu cruzei os braços, observando-o.
— O que você vai falar pro Júlio?
— Que não vou poder ir com ele hoje... — Ele fez uma pausa e olhou para mim. — Enfim, vai na frente, prepara os outros e o carro. Vou pegar minha carteira e o cartão de membro do restaurante.
João foi até sua mesa e abriu a gaveta. Enquanto isso, saí da sala e caminhei até o local onde o carro particular de João estava estacionado. No caminho, pensamentos sobre minha mãe Ana invadiram minha mente.
"Queria falar umas verdades na cara daquela mulher", pensei, com o coração pesado.
Antes que pudesse me perder nesses pensamentos, senti um toque no braço. Me virei e lá estava Ana, com uma expressão que misturava preocupação e surpresa.
— Luriel? — perguntou, sua voz suave, mas firme.
— O que foi? — respondi, tentando manter a seriedade.
— O que faz aqui, filho?
A palavra "filho" me atingiu como uma lâmina. Minha voz endureceu.
— Filho? Como tem coragem de me chamar de filho depois de 12 anos sem aparecer?
Ana tentou esconder o desconforto.
— Você não pode ficar aqui...
Eu a interrompi, minha voz carregada de mágoa.
— Você nunca esteve presente na minha vida. Sua opinião é insignificante para mim, igual a você.
Ela respirou fundo, tentando manter a calma.
— Luriel, esse lugar não é pra você.
Eu não conseguia segurar minha raiva.
— Ana, faça o mesmo que fez há 12 anos: tome conta da sua vida.
Ela me olhou, seu semblante endurecido.
— Estou tentando... Mas o que você faz aqui? Quer estragar nossas vidas?
— Eu não quero estragar a vida de ninguém. A senhora estragou a minha infância, me abandonou e foi morar com o pai do João porque ele era rico. E agora você tem outro filho que nem é seu de verdade.
Antes que pudesse reagir, senti o tapa no rosto. O som ecoou pelo estacionamento.
— Como ousa falar isso pra sua mãe, seu moleque?! Está dizendo que sou uma puta?! — gritou ela, furiosa.
Eu fechei o punho, me segurando para não revidar, e a olhei com um olhar furioso.
— Você é igual ao que meu pai falava... Quando falamos a verdade, quer estar certa e fica agressiva.
Ela tremia de raiva.
— Você é uma criança ingrata! Não sabe o que fala! Se eu soubesse que você seria igual ao seu pai, nunca teria estragado minha vida com você!
Eu quase não acreditava nas palavras dela.
— Pelo menos ele cuidou de mim e não saiu de casa, deixando seu filho para trás.
Ela me fitou com frieza.
— Você não era das melhores crianças, né? O João, pelo contrário, era uma criança boa... O que você veio fazer aqui tão perto dele? Machucar ele porque ele conseguiu algo que você nunca teve? Uma mãe?
As palavras dela me atingiram profundamente, mas tentei não demonstrar.
— Vim trabalhar para cuidar do meu pai, que está com câncer.
Ana não mostrou compaixão, sua voz era gélida.
— Espero que aquele idiota morra.
Ela se virou e saiu andando dali, me deixando sozinho com meus pensamentos tumultuados.
Pouco depois, João apareceu. Ele me viu trêmulo, os olhos cheios de lágrimas.
— Luriel? O que foi? — perguntou, a preocupação evidente em sua voz.
Eu olhei para ele, depois para o lugar onde Ana havia desaparecido.
— Não é nada... Vamos?
João se aproximou, tentando entender.
— O que houve?
Eu respirei fundo, tentando me recompor.
— Não foi nada... Vamos almoçar.
Mesmo tentando parecer calmo, minhas mãos tremiam. João notou.
— O que foi isso? Te bateram? Quem? — Ele tocou meu rosto suavemente, percebendo o rubor.
Antes que pudesse responder, as lágrimas começaram a cair. A dor das palavras de Ana era insuportável.
João me abraçou, acariciando minha cabeça.
— O que fizeram com você?
Eu retribuí o abraço, chorando ainda mais.
João se afastou um pouco, abriu a porta do carro e nos acomodamos no banco de trás. Ele segurou meu rosto e limpou minhas lágrimas delicadamente.
— Não sei o que fizeram, mas não deixa isso te abalar.
Eu o olhei, ainda em conflito.
— Eu... Acho... Que não fui um bom... Filho.
João me fitou, tentando entender.
— Por que pensa assim?
Minha voz falhou.
— Nunca... Tive uma... Mãe... Que pudesse me apoiar.
João se aproximou mais, acariciando meu rosto.
— Se ela foi embora, o problema é dela. Ela não merecia ser sua mãe...
Eu baixei os olhos, sentindo-me culpado.
— Desculpa atrapalhar seu almoço com isso...
João me abraçou novamente.
— Não tem problema... — Ele me deu um selinho e acariciou minha cabeça. — Sua mãe não sabe o que ela perdeu.
Eu segurei sua mão, retribuindo o selinho.
— Obrigado, João.
Ele sorriu para mim, e naquele momento, senti que não estava tão sozinho.
Foi quando vi Júlio, parado à distância, nos observando. Ele não podia ouvir, mas a expressão em seu rosto deixava claro que havia visto mais do que deveria.
— Vamos almoçar. Não vou deixar isso estragar seu almoço — disse a João, tentando retomar a normalidade.
— Tudo bem — ele concordou.
Fiz sinal para outro segurança dirigir, e logo estávamos a caminho do restaurante. No carro, me senti mais leve ao lado de João.
— Eu não sei o que falar por ter você comigo — confessei.
João me olhou curioso.
— Como assim?
— Seus abraços me deixaram mais calmo — admiti, abraçando-o de novo.
Ele retribuiu, sorrindo.
— Que bom que eu consigo te ajudar.
***Mais tarde***
Já de volta ao clube com João, entramos.
— O almoço hoje estava muito bom — comentei, enquanto o acompanhava até uma sala de descanso.
— Sim, verdade — ele concordou, pegando um copo de água e tomando um gole.
Eu me sentei, sentindo o cansaço finalmente me atingir.
— Depois desse almoço, preciso de um abraço quentinho pra tirar um cochilo — disse, olhando para João com um sorriso.
Ele se aproximou, rindo.
— Você quer dormir um pouco?
Eu brinquei, provocando.
— Posso deixar sua tarde um pouco quente, se quiser.
João virou de costas para mim, sentando-se comigo, encostando no meu peito e pegando minhas mãos para que o abraçasse.
— Vamos ver, né? — ele respondeu, sorrindo.
Eu dei um sorriso safado.
— Tem certeza que quer ver?
João, ainda rindo, perguntou:
— O quê?
Eu apenas sorri, aproveitando aquele momento de tranquilidade.
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Atualizado até capítulo 41
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