P.o.v -João
**Mais tarde**
A festa no clube estava cheia de líderes, música e risadas. Mas eu não tinha ânimo para me misturar. Preferi ficar no balcão, afastado, com um copo na mão. O barulho ao redor parecia distante, como se eu estivesse isolado em uma bolha de pensamentos.
Então, ouvi a voz familiar de Luriel.
— Tudo bem, chefe? — perguntou, enquanto colocava uma caixa sobre o balcão.
Olhei para ele, minha expressão séria.
— Tudo bem.
Ele inclinou a cabeça, observando-me.
— Estranhei ver o senhor aqui no balcão e não jogando com os outros.
— Eu não só jogo — respondi, tomando um gole do meu drink sem perceber o tom grosseiro na minha voz.
Luriel percebeu e, em vez de retrucar, apenas disse com um tom tranquilo:
— Não está mais aqui quem falou.
Suspirei, sentindo o peso da irritação que não tinha a ver com ele.
— Desculpa, não queria descontar em você.
Ele deu de ombros e sugeriu:
— Normalmente, quando estou com raiva, faço algo de que gosto.
Levantei a sobrancelha, curioso.
— E o que você gosta de fazer?
Luriel sorriu de lado.
— Gosto de fazer sexo, praticar luta ou ir atirar.
— Entendi... — murmurei, tentando manter a neutralidade, mas sua resposta despertou minha curiosidade.
— E o senhor? O que gosta de fazer? — perguntou, me encarando com um interesse genuíno.
Aproximei-me dele, inclinando-me para sussurrar perto de seu ouvido.
— Não seja tão curioso.
Ele afastou-se um pouco, mas com um sorriso que denunciava que não tinha se intimidado.
— Não sou curioso. Só gosto de estar informado.
Afastei-me também, sentindo que a conversa estava tomando um rumo desnecessário.
— Pode ir para casa. Você está liberado por hoje.
Luriel, no entanto, não se moveu.
— Não tenho nada para fazer em casa. Prefiro ficar aqui.
— Como quiser. — Dei de ombros e voltei a beber, tentando ignorar sua presença.
— Não vou para casa. Prefiro ficar por aqui, já que não posso deixar sua sala sem supervisão.
Olhei para ele, ponderando sua dedicação ou teimosia.
— Senta aí. Pode beber algo, se quiser.
— Que tal assistirmos uma Fórmula 1? Sei que pessoas ricas gostam de corrida.
Franzi a testa, confuso.
— Como assim?
— Vamos assistir algo para nos aproximarmos mais.
Sua sugestão me pegou de surpresa, mas decidi questionar.
— Por que deveríamos nos aproximar mais?
Luriel sorriu, mas dessa vez havia algo mais no seu olhar.
— Podemos fazer coisas além de chefe e segurança.
— Tipo? — perguntei, desconfiado.
— Tipo sair para comer.
Dei uma risada breve.
— Já saímos para comer.
Antes que ele pudesse responder, Júlio chegou até nós com um sorriso amistoso.
— Senhores, boa noite.
— Boa noite, Júlio — respondeu Luriel, com a mesma tranquilidade de sempre.
Júlio sentou-se ao meu lado, olhando para nós.
— O que estão fazendo?
— Só bebendo — respondi, simples.
— Bebendo e conversando sobre a vida — completou Luriel.
— Senhor João, o que acha de darmos uma volta qualquer dia? — sugeriu Júlio, casualmente.
Antes que eu pudesse responder, Luriel interveio:
— Melhor não, né, senhor João?
Júlio franziu a testa.
— Ué, por que não?
— A cidade está muito perigosa ultimamente — respondeu Luriel, com um tom firme.
— Para isso que tem seguranças — retrucou Júlio, com um sorriso brincalhão.
Luriel deu de ombros.
— Quem tem é o chefe. Nós não temos nada.
Interrompi a conversa, sentindo que o tema estava ficando cansativo.
— Vamos mudar de assunto. Vocês já...? É...
Luriel percebeu minha hesitação.
— Pode completar a pergunta, João. Não precisa ter vergonha.
— Deixa para lá... tô bêbado — desconversei.
— Nossa, chefe, nos deixando curiosos — brincou Júlio, rindo e tocando meu ombro.
Luriel olhou para ele com seriedade.
— Senhor João não gosta muito de toques, né?
— Fica na boa, Luriel. Nem todos querem me matar. — Sorri para ele, tentando aliviar o clima.
Nesse momento, Mirela apareceu, colocando a mão no ombro de Luriel.
— Oi, gente. — Ela deu um selinho nele e sorriu. — Oi, gato.
Luriel retribuiu o sorriso.
— Oi, Mirela. Parece feliz.
— Estou sempre feliz — respondeu ela, com um brilho nos olhos.
Observei os dois por um momento antes de comentar:
— Vocês formam um belo casal.
Luriel balançou a cabeça.
— Não somos um casal, apenas amigos.
— Mas realmente parecem um casal — insistiu Júlio, divertido.
— As aparências enganam — disse Luriel, sem perder o tom leve.
Voltei minha atenção para meu copo, deixando-os conversar.
— Ela combina com você, Júlio — sugeriu Luriel, mudando o foco.
— Eu não fico com muitas meninas — respondeu Júlio, rindo.
— Isso é novo. Não sabia — disse Luriel, curioso.
Olhei para Júlio com um sorriso irônico.
— Ele, pelo visto, dorme mais com homens.
Júlio confirmou sem hesitar.
— Isso é verdade, senhor.
Luriel arregalou os olhos, surpreso.
— Isso é interessante.
Olhei para ele, divertido.
— E você, Luriel? Tem cara de que só teve experiências com mulheres.
Ele deu um sorriso enigmático.
— Isso é verdade. Mas estou querendo uma experiência nova.
O clima ficou diferente. Mirela olhou para Luriel, claramente surpresa. Júlio riu, parecendo gostar da honestidade.
— É bom ser aberto a novas experiências, Luriel — incentivou Júlio.
— Mas ainda não tive oportunidade — respondeu ele, com um ar tranquilo.
— Um dia vai — disse Júlio, rindo.
Olhei para Luriel por um momento, tentando decifrá-lo. Ele sustentou meu olhar e sorriu. Retribui o sorriso, voltando a beber.
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Atualizado até capítulo 41
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