O céu cinzento parecia mais baixo naquela noite, como se o peso do mundo desabasse lentamente sobre os ombros de Raven. Ela apertou os dedos contra o cabo de sua adaga, observando de longe o imenso complexo de metal e concreto do Império Tecnocrata. Lanternas varriam a escuridão, acompanhadas pelo som incessante de máquinas e vozes de guardas patrulhando.
— Duas horas até a troca de turno, murmurou Lina ao seu lado, quase como um sussurro carregado pelo vento. — Se perdermos a janela, não teremos outra chance.
Raven assentiu, o olhar fixo no prédio. A cientista estava lá dentro. Dr. Elise Carter. A mulher com a cura.
— Tem certeza de que ela está viva? — A voz de Raven saiu seca, mas carregada de esperança disfarçada.
Lina, vestida como uma das soldadas do Império, ajustou o capacete roubado antes de responder:
— Estava ontem. Eles a mudaram para o bloco central depois que descobriram o que ela sabe.
— Então é agora ou nunca.
O grupo da Resistência avançava pelas sombras como espectros. Eram apenas cinco soldados liderados por Raven e auxiliados por Lina. Enquanto Raven e os outros se esgueiravam entre contêineres abandonados e pilhas de sucata tecnológica, Lina seguia na frente, caminhando como se pertencesse àquele lugar.
No bloco central, Elise estava sentada no canto de uma cela metálica, os braços envolvendo as pernas. Seu jaleco, já sujo e rasgado, mal lembrava o símbolo da ciência e esperança que ela fora outrora. A única luz vinha de uma lâmpada piscando sobre sua cabeça. Ela ouviu passos. Por instinto, se encolheu, esperando mais perguntas, mais gritos.
— Dr. Elise Carter? — Uma voz baixa ecoou pela cela. Elise levantou o rosto de súbito. Uma jovem com o uniforme do Império a encarava. Lina tirou o capacete e revelou o rosto. — Vim tirá-la daqui.
— Quem é você? — A voz de Elise tremeu, arranhada pelo medo e pela falta de uso.
— Sua única chance de sair viva. Agora ande.
Elise se levantou com dificuldade, o coração disparado. A porta da cela rangeu baixo quando Lina a destrancou. O olhar de Elise vasculhou o corredor, esperando uma emboscada. Mas Lina fez um gesto impaciente.
— Temos dois minutos. Se não confiar em mim, morre aqui. Escolha.
Elise não respondeu. Apenas seguiu Lina pelo corredor.
Lá fora, Raven observava o complexo com olhos treinados. Lina ainda não voltara, e o tempo estava acabando. Ela sentiu um tremor na mão, algo que odiava admitir que sentia: nervosismo.
— Raven, sussurrou um dos soldados atrás dela. Movimento no portão leste.
Ela girou o rosto, os olhos captando um grupo de guardas caminhando em direção à saída principal. Sua mandíbula se retesou. Não temos tempo.
— Preparem-se para o plano B.
— Plano B? — Um soldado murmurou, mas Raven já havia se movido.
Raven sacou uma pequena granada de fumaça improvisada e avançou como um raio em direção ao portão. Ela jogou o dispositivo no meio dos guardas, que gritaram enquanto a fumaça densa e cinza engolia o ar. Antes que pudessem reagir, Raven já estava entre eles, um vulto afiado. Sua adaga encontrou gargantas e costelas, cada movimento certeiro, brutal e silencioso.
— Lina! — Raven sussurrou pelo rádio. Estou entrando.
A resposta veio em um chiado breve:
— Portão secundário, venha rápido!
Raven fez um sinal para seus homens seguirem e correu pelo complexo. Os alarmes começaram a soar. Luzes vermelhas varreram os corredores. O plano estava indo por água abaixo, mas Raven não se importava. Elise Carter não morreria naquele lugar.
Lina e Elise já haviam chegado ao portão secundário quando os tiros começaram a ressoar no pátio principal. Elise se encolheu ao ouvir o barulho, os olhos arregalados de pavor.
— Eles vão nos pegar. Estamos mortos!
— Não se preocupe. Ela está vindo.
— Quem está vindo?
Foi quando uma figura emergiu da fumaça e das sombras. Raven, coberta de poeira e manchas de sangue, corria em direção às duas, os cabelos presos desordenadamente. Seus olhos cravaram nos de Elise por um breve instante.
— Você deve ser a doutora. Ande.
Elise não conseguiu responder. Aquela mulher diante dela parecia ter saído de um mito: tão feroz quanto o mundo em que viviam. Lina segurou o braço de Elise e puxou-a em frente.
Os três correram para fora do complexo, onde o restante da equipe já esperava com um veículo improvisado, uma caminhonete velha adaptada para resistir ao fogo inimigo.
— Subam! — Raven gritou, pulando no banco do motorista. Lina e Elise se jogaram na carroceria enquanto balas ricocheteavam ao redor. O motor rugiu, levando-as para longe.
A poeira do deserto os envolveu assim que deixaram o complexo. Os tiros foram ficando para trás, até que o silêncio tomou conta. Elise estava sentada na carroceria, o corpo tremendo incontrolavelmente. Lina ajeitou-se ao lado dela, respirando fundo.
Raven manteve os olhos fixos na estrada, as mãos firmes no volante. Mesmo com o coração ainda batendo forte no peito, ela finalmente sentiu o peso do sucesso.
— Você está segura agora, Raven disse sem olhar para trás.
Elise finalmente falou, a voz rouca:
— Quem... quem são vocês?
Lina sorriu de canto, enxugando o suor do rosto.
— As Últimas loucas que ainda acreditam em salvar o mundo.
Raven, pela primeira vez em muito tempo, permitiu-se sorrir. Apenas um pouco.
A luta estava apenas começando.
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Atualizado até capítulo 49
Comments
Joelma Oliveira
oau!! otimo começo! beber agua, acalmar o coração pro que vem pela frente 😍
2025-01-02
1
StarryOwO
Incrível história 😍
2024-12-22
1