Pegadinha

Enquanto Sho e Hana conversavam no quintal, um barulho de passos apressados ecoou pela casa. Antes que Sho pudesse reagir, Ken surgiu correndo pela porta de trás. Seus olhos estavam cheios de alívio e felicidade, e ele praticamente se jogou em cima de Sho, envolvendo-o em um abraço apertado.

"SHO!" Ken gritou, quase derrubando o irmão do banco. "Você está bem! Eu estava tão preocupado!"

Sho tentou se equilibrar, claramente surpreso com o ataque repentino. Ele olhou para o irmão mais novo, que estava apertando-o como se nunca mais quisesse soltá-lo, e suspirou com um pequeno sorriso.

"Ken... calma, eu estou bem," disse Sho, colocando a mão na cabeça do irmão e bagunçando o cabelo dele de leve. "Foi só um corte. Nada demais."

"Não foi nada! Você desmaiou na nossa frente, e havia tanto sangue!" Ken retrucou, os olhos ainda brilhando com lágrimas. "Eu achei que você..." Ele parou, sem querer terminar a frase.

Sho suavizou sua expressão, algo raro para ele, e colocou a mão no ombro de Ken. "Ei, olha pra mim. Estou aqui, certo? Não precisa se preocupar tanto. Eu não vou a lugar nenhum."

Ken fungou e limpou os olhos, mas não soltou o irmão. Hana, que estava sentada ao lado, assistia à cena com um sorriso pequeno, sentindo o calor daquele vínculo entre irmãos.

"Você deveria ter visto o quanto ele chorou," Hana comentou, rindo suavemente. "Ken estava inconsolável no hospital."

"Não é verdade!" Ken protestou, corando, mas sua expressão traía o embaraço. "Eu só... estava preocupado. Só isso."

Sho olhou para Hana, ligeiramente surpreso. "Ele chorou?"

"Chorou sim," Hana confirmou com um aceno de cabeça, provocando mais embaraço em Ken.

"Ei!" Ken resmungou, afastando-se finalmente, mas ainda com o rosto vermelho. "Não precisa falar disso!"

Sho deu uma risada curta e baixa. Era raro vê-lo rindo, mas era um som agradável. "Obrigado, Ken," ele disse, com sinceridade na voz.

Ken olhou para ele, confuso. "Por quê?"

"Por se preocupar tanto. Mesmo que você seja irritante às vezes," Sho respondeu, bagunçando o cabelo do irmão novamente.

Ken fez uma careta, mas seu sorriso era inegável. Ele sentou-se ao lado de Sho no banco, enquanto Hana observava os dois com uma sensação de paz.

Enquanto os três conversavam no quintal, Miku apareceu na porta, com um sorriso um pouco hesitante no rosto. Sho e Ken olharam para ela, percebendo que havia algo diferente em sua expressão.

"Tenho uma notícia pra dar," ela começou, caminhando até eles. Sua voz era gentil, mas havia um tom sério por trás.

"Notícia?" Ken perguntou, inclinando a cabeça, já parecendo preocupado.

"Sim," Miku confirmou, sentando-se no banco ao lado de Ken. "Eu recebi uma oportunidade de trabalho... mas isso significa que vou precisar viajar por alguns meses."

Ken arregalou os olhos, visivelmente assustado. "O quê? E nós? Vamos ficar sozinhos?!"

Sho, por outro lado, permaneceu calmo, apenas deu de ombros. "Não é grande coisa. Podemos cuidar de nós mesmos."

Ken olhou para Sho como se ele fosse louco. "Não é grande coisa? Sho, a Mamãe vai embora! Quem vai fazer comida? Quem vai cuidar de tudo?!"

Hana, que estava ao lado de Sho, riu da reação exagerada de Ken. "Você age como se fossem crianças pequenas," ela comentou, tentando conter o riso. "Acho que vocês dois conseguem se virar."

Miku sorriu ao ver as reações opostas dos irmãos e então olhou para Hana. "Na verdade, Hana, eu queria pedir um favor a você."

Hana piscou, surpresa. "A mim?"

"Sim. Sei que é pedir muito, mas gostaria que você ajudasse a cuidar dos dois enquanto estou fora. Eles são independentes em muitas coisas, mas... às vezes, é bom ter alguém por perto para manter tudo nos eixos. Você se importaria?"

Hana ficou em silêncio por um momento, processando o pedido. Então, ela sorriu suavemente e assentiu. "Claro, Miku. Não me importo. Sho e Ken são legais. E, honestamente, sua casa já parece um pouco minha também."

"Essa é a ideia," Miku respondeu, sorrindo com gratidão. "Quero que você saiba que minha casa é sua casa, Hana. Você é sempre bem-vinda aqui."

Ken ainda parecia inseguro, mas o alívio era visível em seu rosto. "Então... você vai ficar aqui com a gente, Hana?"

"Sim," ela confirmou, dando um sorriso para ele. "Vou ficar de olho em vocês dois. Alguém tem que garantir que você coma seus vegetais, Ken."

"Ei!" Ken resmungou, cruzando os braços, enquanto Sho dava um leve sorriso, algo raro.

Miku suspirou, sentindo-se mais tranquila. "Sho, Ken, prometam que vão se comportar e fazer o possível para ajudar Hana enquanto eu estiver fora."

"Tá bom, tá bom," Sho respondeu, despreocupado.

"Eu prometo!" Ken disse com determinação, apesar de ainda parecer um pouco inseguro.

Com isso, Miku sentiu que estava deixando as coisas em boas mãos. Mesmo sabendo que seria difícil ficar longe, ver o vínculo que estava se formando entre eles fazia com que ela tivesse confiança de que tudo ficaria bem.

Ken olhou para Miku com uma expressão determinada. "Mãe, já que Hana vai nos ajudar, posso chamar a Anya também? Ela é ótima em coisas de casa, tipo compras e organização."

Miku sorriu, percebendo o entusiasmo dele. "Claro, Ken. Não vejo problema algum. Se ela estiver disposta, será ótimo ter mais uma pessoa para ajudar."

O rosto de Ken iluminou-se. "Sério? Vou mandar uma mensagem pra ela agora!" Ele correu para dentro da casa, já pegando o celular.

Hana riu da energia dele. "Ken parece animado demais para organizar compras e tarefas de casa."

"Ele só quer ter companhia," Sho comentou, sem muita emoção, mas sua fala fez Hana sorrir.

Nesse momento, Hana se virou para Miku. "Já que vou passar mais tempo aqui, acho que é melhor avisar minha irmã sobre isso. Ela gosta de saber onde estou."

"Claro, Hana," Miku respondeu com um sorriso caloroso. "Tenho certeza de que ela vai entender."

Sho, que estava ouvindo em silêncio, se levantou. "Eu te acompanho," disse de forma direta.

Hana o encarou surpresa. "Você? Tem certeza? É só um recado rápido."

Sho deu de ombros. "Não tenho nada melhor pra fazer."

Miku, observando a cena, começou a rir levemente. "Vocês são adoráveis," comentou, balançando a cabeça.

"Não é nada disso!" Hana protestou, corando ligeiramente.

"Se você diz," Miku respondeu com um tom brincalhão.

Enquanto os dois se preparavam para sair, Miku sentiu um calor no peito ao ver como Sho, que sempre foi tão fechado, estava começando a se abrir para novas conexões. Hana parecia ter uma boa influência nele, e isso a deixava tranquila para sua viagem.

Sho e Hana caminharam tranquilamente até a casa dela, o clima entre os dois era confortável, mas levemente carregado de um nervosismo discreto. Hana falava sobre sua rotina com a irmã e o quanto ela se preocupava, enquanto Sho ouvia mais do que falava, soltando comentários ocasionais.

Quando chegaram, Hana abriu a porta e chamou: "Anna! Cheguei!"

De dentro, uma voz animada respondeu: "Hanaaa! Até que enfim, pensei que tinha se mudado pra casa do tal Sho!"

Hana ficou vermelha instantaneamente, olhando para Sho, que apenas arqueou uma sobrancelha.

Anna surgiu na entrada da sala com um sorriso largo. Ela era visivelmente mais velha, tinha cabelos castanhos com mechas loiras, presos em um coque bagunçado. Seus olhos brilhavam de diversão ao notar Sho. "Ah, então você é o famoso Sho. Nada mal, Hana, você tem bom gosto."

"Anna!" Hana gritou, claramente embaraçada.

"Estou brincando, calma," Anna disse, rindo enquanto dava um leve empurrão no ombro da irmã. Ela então virou-se para Sho, estendendo a mão. "Sou Anna, a irmã mais velha e completamente irritante, segundo Hana. Prazer em conhecer o herói do momento."

Sho apertou a mão dela, sua expressão neutra. "Sho. Prazer."

Anna o observou com um olhar brincalhão. "Então você é o tipo quieto e misterioso, hein? Acho que já entendi por que minha irmã gosta tanto de você."

Hana ficou ainda mais vermelha, praticamente explodindo. "Anna! Ele só veio me acompanhar, nada disso!"

Anna riu, claramente se divertindo com a situação. "Relaxa, Hana, só estou brincando." Ela então gesticulou para Sho. "Já que está aqui, entra um pouco. Não vou morder, prometo."

Sho hesitou por um momento, mas ao perceber que Hana parecia querer que ele entrasse, acabou concordando. "Tudo bem."

Ele entrou na casa, que era pequena, mas aconchegante, com móveis simples e bem cuidados. Na mesa da sala, havia alguns desenhos de Hana espalhados, algo que chamou a atenção de Sho.

"Não repara na bagunça," Anna disse, fechando a porta atrás deles. "A gente não tem muito tempo pra arrumar tudo. Ah, quer alguma coisa? Água? Suco? Ou talvez um interrogatório?"

"Água está bom," Sho respondeu, sentando-se no sofá enquanto Hana corria para juntar seus desenhos da mesa, visivelmente nervosa.

Anna trouxe um copo d'água para ele e se sentou em uma cadeira à frente, apoiando o queixo nas mãos enquanto o observava. "Então, Sho, como foi salvar a donzela em perigo ontem? Hana me contou que você enfrentou um verdadeiro monstro."

"Não foi nada demais," ele respondeu com naturalidade, mas seu olhar discreto para Hana deixou claro que ele estava minimizando os fatos.

"Ah, modesto também. Que combinação perigosa," Anna comentou com um sorriso.

"Anna, por favor, pare," Hana pediu, quase implorando.

"Tá bom, tá bom," Anna disse, rindo. "Mas sério, Sho, obrigada por cuidar da minha irmã. Ela pode ser teimosa, mas é especial pra mim. Saber que tem alguém como você por perto me deixa mais tranquila."

Sho apenas acenou com a cabeça, mas suas palavras vieram carregadas de seriedade. "Eu vou protegê-la. Sempre que ela precisar."

Anna piscou, um pouco surpresa pela intensidade. "Bom, nesse caso, seja bem-vindo à nossa casa sempre que quiser."

Hana olhou para o chão, completamente vermelha, enquanto Anna ria de leve. O ambiente ficou mais leve, e eles continuaram conversando por um tempo, com Anna soltando piadas ocasionais que arrancavam sorrisos discretos de Sho, algo que Hana notou com surpresa.

Hana decidiu ir se banhar antes deles voltarem para a casa de Sho, mas Anna não deixaria essa oportunidade passar sem fazer uma pegadinha que na mente dela poderia ajudar a irmã dela com Sho.

A situação ficou tensa quando Hana saiu do quarto vestindo apenas uma toalha, e se dirigiu ao banheiro. Anna, sabendo exatamente o que estava fazendo, observou com um sorriso travesso, quase se contendo para não rir. Ela tomou um gole de cerveja enquanto falava com Sho, tentando manter a conversa fluindo.

"Então, Sho, como tem sido viver por aqui? Sei que deve ser estranho para você, mas espero que se sinta confortável," Anna perguntou, casualmente.

Sho respondeu com a mesma naturalidade de sempre. "Está tudo bem. Obrigado por tudo."

Sem avisá-lo, Anna de forma calculada derrubou a cerveja no ombro de Sho. A bebida escorreu pela camiseta dele, deixando-o um pouco desconfortável.

"Oh, desculpa, Sho! Acho que sou um pouco desastrada," Anna disse com uma falsa expressão de arrependimento, enquanto ainda mantinha o olhar travesso. "Por que não vai tomar um banho? O banheiro de hóspedes está livre."

Sho levantou uma sobrancelha, meio confuso, mas sem fazer perguntas, aceitou a sugestão e se dirigiu ao banheiro de hóspedes, acreditando que seria um lugar confortável para ele se limpar.

Enquanto isso, Hana, inconsciente do que estava prestes a acontecer, estava se preparando para tomar banho. Ela pegou suas roupas e se dirigiu ao banheiro, tranquila, sem saber que Sho estava lá. Ela se sentia um pouco nervosa, mas a sensação de conforto e segurança por estar em casa a acalmava.

Ela estava a caminho do banheiro quando ouviu o som da água correndo e, com um pequeno sorriso, pensou que Sho já estivesse se acomodando na cozinha. "Ele está se ajeitando, que bom", ela murmurou para si mesma.

Ela abriu a porta do banheiro e entrou, sem se dar conta de que Sho estava lá. Quando ela levantou os olhos e o viu debaixo do chuveiro, seus olhos se arregalaram e o corpo ficou instantaneamente rígido.

Sho também a viu no mesmo instante. Ele se congelou, com a água escorrendo pelo corpo, e seu rosto se transformou em um tom de vermelho que Hana nunca tinha visto. "Hana?!" Ele gaguejou, um tanto atordoado e claramente surpreso.

O choque e a vergonha tomaram conta dos dois. Hana tentou se virar rapidamente para sair, mas o som de um "clic" de uma fechadura ecoou na porta, e ela percebeu que estava trancada.

"O que... O que está acontecendo?" Hana perguntou, sentindo uma onda de calor subir pelo seu rosto. Ela tentou abrir a porta, mas estava trancada. "Anna!" ela gritou, pânico tomando conta de sua voz.

Do outro lado da porta, Anna riu baixinho, escondida, e sussurrou: "Boa sorte, meus queridos." Ela sabia que a situação iria ficar extremamente desconfortável para ambos.

Dentro do banheiro, Sho e Hana estavam paralisados, sem saber o que fazer. Sho, ainda sem saber o que aconteceu, olhou para Hana, seu rosto vermelho de vergonha. Ele estava tentando manter a compostura, mas a situação era simplesmente impossível.

Hana, ainda de costas para ele, estava tentando controlar sua respiração. "Sho... Eu não sabia que você estava aqui. Não devia ter entrado!"

"Eu... não sabia que... você... ia entrar também," Sho respondeu, gaguejando de novo, tentando não olhar para ela.

Ambos estavam em uma posição extremamente embaraçosa, e o silêncio se estendeu por um tempo, apenas interrompido pelo som da água batendo na parede do chuveiro. Hana não sabia o que fazer. Seu coração batia acelerado, e ela não conseguia parar de pensar na proximidade de Sho. Ela se sentia completamente exposta, a vergonha dominando todo o seu ser.

"Sho, você... poderia sair?" Hana disse finalmente, tentando manter a calma, mas a vergonha ainda estava estampada em seu rosto. "Eu... eu vou esperar você sair para tomar meu banho."

Sho, ainda com a expressão vermelha, tentou sair do chuveiro, mas ao mover-se para fazer isso, ele tropeçou em uma toalha jogada no chão e quase caiu. "A-ah, desculpa!" ele disse, agora em um tom quase desesperado, tentando sair rapidamente sem encará-la.

O som de risos abafados do lado de fora da porta indicava que Anna estava assistindo a situação de longe, se divertindo com o caos que ela havia causado.

Por fim, os dois conseguiram encontrar uma maneira de se afastar um do outro, mas a tensão no ar ainda era palpável. A única coisa que eles podiam fazer era esperar até que a porta fosse destrancada e tentarem sair o mais rápido possível para evitar mais constrangimento.

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