Primeiro dia de aula

Miku observou Sho por alguns segundos antes de se aproximar. Seu coração doía ao ver como ele parecia carregar o peso do mundo em seus ombros, mesmo tão jovem. Sem dizer nada, ela o envolveu em um abraço caloroso, envolvendo-o com os braços de maneira protetora e carinhosa.

Sho ficou imóvel no início, surpreso pelo gesto inesperado. Aquele calor humano, tão gentil e sincero, era algo que ele desconhecia. Ele hesitou por um momento, mas lentamente ergueu os braços, retribuindo o abraço de maneira quase desesperada. Ele a abraçou com força, como se temesse que aquele momento fosse apenas um sonho que poderia desaparecer a qualquer instante.

Foi então que as lágrimas começaram a escorrer por seu rosto. Silenciosas e constantes, elas carregavam anos de repressão, de dor e de uma solidão que ele nunca soube como expressar. Miku percebeu as gotas molhando seu ombro, mas não disse nada. Ela apenas continuou ali, segurando seu filho como se pudesse protegê-lo de tudo o que já havia o machucado.

Sho apertou os olhos, tentando conter as lágrimas, mas não conseguiu.

— Mãe... — murmurou, sua voz trêmula e baixa, quase inaudível.

Miku afagou seus cabelos com cuidado, sua voz suave como uma brisa.

— Está tudo bem, Sho. Você não precisa dizer nada.

Eles permaneceram assim por alguns minutos, apenas no conforto do abraço, o tempo parecendo parar. Finalmente, Miku se afastou levemente, apenas o suficiente para olhar para o rosto dele. Ela notou o rastro das lágrimas, mas não comentou sobre elas. Em vez disso, sorriu suavemente, passando os dedos pelos cabelos bagunçados de Sho.

— Está tarde, querido. Por que não vai descansar? Amanhã será o seu primeiro dia de aula.

Sho limpou as lágrimas rapidamente com o braço, tentando recuperar a compostura. Ele assentiu lentamente, sem dizer nada.

— Está bem.

Miku acariciou seu rosto antes de se levantar, pegando as xícaras vazias da mesa.

— Boa noite, Sho.

— Boa noite, mãe.

Enquanto Sho subia as escadas em direção ao quarto, uma sensação estranha e nova preenchia seu peito. Era algo que ele não sabia como descrever: calor, segurança, algo que ele nunca pensou que pudesse sentir. Ele entrou no quarto, fechou a porta e se sentou na cama, olhando para o desenho de Ken que ainda estava sobre a mesa de cabeceira.

— Talvez... isso seja o que chamam de lar — murmurou para si mesmo, antes de deitar, permitindo-se finalmente fechar os olhos e descansar.

Sho acordou cedo na manhã seguinte, o sol mal tinha surgido no horizonte. Ele foi direto ao banheiro, onde tomou um banho rápido e arrumou o cabelo com precisão. Seu reflexo no espelho mostrava um jovem de aparência madura e cativante, com traços marcantes herdados do pai, mas suavizados pela aura reservada que ele carregava. Vestiu o uniforme escolar com cuidado, ajustando cada detalhe para garantir que estivesse impecável.

Ao sair do quarto, ouviu passos arrastados no corredor. Ele olhou para o lado e viu Ken, ainda meio sonolento, descendo as escadas. O uniforme de Ken estava bagunçado, com a gravata torta e a camisa parcialmente para fora da calça.

Sho soltou um suspiro breve, mas não de irritação; havia algo quase divertido na desordem do irmão.

— Ken — chamou, atraindo a atenção do mais novo.

Ken se virou, piscando algumas vezes para afastar o sono.

— Hm?

Sho caminhou até ele e começou a arrumar o uniforme. Com movimentos precisos, endireitou a gravata, ajeitou a camisa e alisou o blazer. Ken ficou parado, surpreso, mas deixou Sho terminar.

— Você precisa se arrumar melhor. Não quer parecer um zumbi na escola, quer? — Sho comentou, sua voz calma, mas com um toque de provocação.

Ken deu um sorriso tímido, coçando a nuca.

— Eu sempre fico assim de manhã. Sou péssimo em acordar cedo.

Sho balançou a cabeça, mas não disse mais nada. Quando terminou, deu um passo para trás e avaliou o irmão.

— Agora está melhor. Vamos descer.

Ken assentiu, ainda com um sorriso, e seguiu Sho até a cozinha.

Miku já estava lá, colocando a mesa para o café da manhã. Ao ver os dois, ela sorriu calorosamente.

— Bom dia, meninos! Vocês estão tão bonitos de uniforme.

Ken corou um pouco, mexendo nos cabelos.

— Sho que arrumou o meu...

Miku olhou para Sho, que desviou o olhar, fingindo indiferença enquanto pegava uma torrada.

— Foi nada demais.

Miku colocou uma mão no ombro dele, seu sorriso ficando ainda mais carinhoso.

— Obrigada, Sho. Isso é muito gentil da sua parte.

Ken se sentou à mesa, ainda meio sonolento, mas o aroma do café fresco e das panquecas ajudava a despertá-lo. Sho, sempre atento, percebeu como a mãe fazia questão de cuidar de cada detalhe para eles. Aquela cena tranquila e calorosa era algo novo para ele, e, por mais que não demonstrasse abertamente, sentia-se grato por isso.

Enquanto comiam, Miku olhou para os dois e comentou com um tom animado:

— Espero que vocês tenham um ótimo primeiro dia de aula juntos. E lembrem-se: sejam pacientes um com o outro, certo?

Ken sorriu, assentindo animado.

— Eu vou cuidar do Sho!

Sho ergueu uma sobrancelha, cruzando os braços.

— Acho que sou eu que vou acabar cuidando de você.

Os três riram, e pela primeira vez, Sho sentiu um pouco da leveza que vinha a acompanhar aquela nova fase da sua vida. Era um começo simples, mas, para ele, parecia o início de algo muito maior.

Ao chegarem à escola, Sho e Ken caminharam lado a lado pelo corredor principal. Sho mantinha seu habitual ar de indiferença, enquanto Ken olhava ao redor, curioso, tentando ignorar a ansiedade de ser o centro das atenções ao lado de seu irmão imponente.

No meio do caminho, eles cruzaram com dois dos garotos que haviam sido espancados por Sho no dia anterior. Assim que os viram, os garotos baixaram a cabeça imediatamente, evitando qualquer contato visual. Sho percebeu e soltou um suspiro sutil, enquanto Ken tentava não parecer desconfortável.

— Parece que entenderam o recado — Sho murmurou, sem sequer olhar para eles.

Ken engoliu em seco, mas não comentou nada. Ambos continuaram andando até encontrarem sua sala. Ao entrarem, Ken ficou aliviado ao ver que eles estudariam na mesma turma.

— Que sorte, Sho! Vamos ser colegas de classe! — Ken exclamou, com um pequeno sorriso.

Sho deu de ombros, mas havia um leve brilho em seus olhos que indicava que ele também estava satisfeito com aquilo, embora jamais admitisse.

— É... Acho que sim.

Escolheram dois lugares no fundo da sala e se sentaram lado a lado. Conforme os alunos iam chegando, Sho e Ken começaram a atrair olhares.

As meninas cochichavam entre si, divididas entre a fofura tímida de Ken e o charme mais maduro e intimidador de Sho.

— Quem são eles? — uma garota sussurrou para sua amiga.

— Acho que são irmãos. Eles se parecem um pouco... Mas o de cabelos brancos é tão... adulto!

— E o outro é tão adorável! Parece uma versão mais nova e fofa dele.

Ken ouviu alguns comentários e ficou visivelmente desconfortável, escondendo o rosto atrás de um livro que havia trazido.

— Eles estão nos encarando... — ele murmurou para Sho.

Sho olhou em volta, encarando as garotas com um olhar frio e direto. Imediatamente, elas desviaram os olhos, fingindo estar ocupadas com seus materiais.

— Resolvido — Sho disse, cruzando os braços.

Ken deu uma risadinha nervosa.

— Você é mesmo direto, hein?

Sho arqueou uma sobrancelha, encarando o irmão.

— E você devia ser menos tímido. Não dói responder a alguém de vez em quando.

Ken coçou a nuca, envergonhado.

— É mais fácil falar com você...

Sho deu um pequeno sorriso de canto de boca.

— Isso porque você me conhece. Dá tempo ao tempo.

Ken assentiu, animado com o que parecia ser uma conversa casual e amigável entre eles. Aos poucos, ele começava a perceber que, por trás da seriedade e frieza de Sho, havia alguém que genuinamente se importava com ele.

A professora logo entrou na sala, começando a aula, e os dois irmãos concentraram-se nos seus cadernos. Mesmo em silêncio, a presença um do outro parecia criar um ambiente confortável para ambos.

A professora começou a aula, explicando o conteúdo da semana, que envolvia história e geografia. Ela passou a fazer algumas perguntas para a turma, e os alunos responderam com uma mistura de hesitação e confiança. Quando ela se voltou para Sho, que estava calado e observando a lousa, ela o chamou.

— Arata Sho, você poderia nos ajudar com esta questão sobre o Japão feudal? — ela perguntou, com um sorriso.

Sho levantou a cabeça lentamente, seu olhar frio e impassível se voltando para a professora. Ele parecia relaxado, como se a pergunta não fosse um desafio, e começou a responder sem hesitar:

— O Japão feudal era uma estrutura hierárquica em que os samurais serviam aos senhores feudais, conhecidos como daimyo. A sociedade estava organizada em camadas, com os imperadores no topo, seguidos pelos shoguns, que controlavam o exército e governavam as províncias, e depois os vassalos, como os samurais, que tinham a missão de proteger a terra. Os camponeses, artesãos e comerciantes estavam na base da pirâmide.

Ele terminou a explicação com a mesma serenidade com que começou. Na sala, um silêncio pairou, e os olhares dos colegas se voltaram para Sho. Todos estavam visivelmente impressionados. Mesmo a professora parecia surpresa, pois Sho não apenas respondeu corretamente, mas de forma precisa e detalhada, como se estivesse falando sobre um assunto que dominava completamente.

A professora, após um breve momento de surpresa, sorriu largamente e elogiou Sho.

— Excelente, Sho! Sua resposta foi brilhante. Muito bem detalhada, você tem um grande conhecimento sobre o assunto. Isso é muito impressionante para um aluno do seu nível. — ela disse, com um brilho nos olhos.

Ken olhou para seu irmão com os olhos arregalados, visivelmente surpreso. Ele nunca imaginara que Sho, com seu comportamento calado e intimidador, fosse tão inteligente. Não era que ele tivesse duvidado de Sho, mas aquele conhecimento parecia vir de um lugar profundo, como se ele já tivesse vivido muito para aprender tantas coisas.

Ken, ainda boquiaberto, sussurrou para Sho:

— Uau... Eu não sabia que você sabia tanto sobre isso!

Sho olhou para Ken, sem perder a compostura, mas um leve sorriso de canto apareceu em seu rosto.

— Não sou apenas bom em lutar, Ken. — ele respondeu de forma tranquila, sem se gabar. — Eu aprendi muito no passado. E, às vezes, saber as coisas é a chave para sobreviver.

Ken sorriu timidamente, admirando ainda mais seu irmão. Enquanto isso, alguns alunos começaram a cochichar entre si, claramente surpresos com a inteligência de Sho. A professora, então, começou a fazer mais perguntas para a classe, mas Ken, embora estivesse ansioso para tentar, não pôde deixar de se sentir um pouco intimidado. Sho parecia sempre estar no controle da situação, fosse em uma luta ou em uma sala de aula.

A professora continuou a aula, mas, ao fundo, os olhos de Ken estavam fixos em Sho. Ele não sabia o que o futuro traria para eles, mas naquele momento, ele sentia que, não importa o que acontecesse, Sho seria alguém com quem ele poderia contar.

Na aula de Artes, o clima era completamente diferente da aula anterior. O ambiente estava mais descontraído, com os alunos se sentindo à vontade para expressar sua criatividade. A professora distribuiu materiais de desenho para a turma e começou a explicar a atividade do dia: criar um desenho que refletisse a própria visão do mundo, algo pessoal e único. Todos se acomodaram, pegando seus lápis e tintas, prontos para colocar suas ideias no papel.

Sho, com seu jeito calmo e focado, desenhou algo simples, uma pequena espada com detalhes técnicos que demonstravam habilidade, mas não havia muita emoção ou personalidade no desenho. Era bom, mas nada excepcional. Ele olhou para o desenho, satisfeitos com o resultado, e recostou-se na cadeira, observando os outros.

Ken, por outro lado, estava completamente imerso em sua arte. Seus olhos estavam concentrados no papel, suas mãos se movendo habilidosamente enquanto ele desenhava com uma precisão impressionante. Ele traçou linhas delicadas, mas cheias de vida, criando um retrato impressionante de um campo de flores sob um céu estrelado, o desenho transbordava de sentimentos, e havia uma suavidade que capturava a essência de algo etéreo. O uso das sombras, os detalhes nas pétalas das flores, a maneira como a luz parecia brilhar nas estrelas, tudo parecia mágico.

À medida que o tempo passava e os alunos terminavam seus desenhos, a professora circulava pela sala, observando os trabalhos com atenção. Quando ela chegou até o desenho de Ken, seus olhos brilharam.

— Ken, isso é simplesmente maravilhoso! Você tem um talento incrível para capturar beleza nas coisas simples. Esse desenho é cheio de vida, de sentimentos. Eu realmente fico impressionada com sua habilidade. — a professora disse com um sorriso genuíno, fazendo todos ao redor pararem para olhar.

Ken, surpreso com o elogio, olhou para o desenho e corou ligeiramente. Ele não sabia que tinha chamado tanto a atenção. Ele tentou sorrir timidamente, mas suas mãos tremiam um pouco de nervosismo.

— Obrigado... — ele murmurou, tentando esconder seu sorriso tímido.

Sho observava a cena à distância. Ele não estava surpreso com o talento de Ken, mas sentiu um pequeno aperto no peito. Por mais que tivesse um grande respeito por seu irmão, ele não conseguia evitar sentir-se um pouco distante, como se nunca pudesse alcançar algo tão delicado e bonito como o talento de Ken. No fundo, ele sabia que seu caminho tinha sido muito diferente.

Os outros alunos, que até então não tinham se impressionado com os desenhos, começaram a comentar sobre o de Ken.

— Cara, isso está incrível! — um dos colegas de classe disse.

— Eu nunca conseguiria desenhar assim... É quase como se fosse uma pintura. — outro comentou.

A professora, ao ver o impacto do trabalho de Ken, não pôde deixar de destacar ainda mais.

— Todos, prestem atenção no desenho de Ken. Isso é arte no seu melhor, pessoal. Ele não apenas desenhou algo bonito, mas conseguiu transmitir uma história, uma emoção através das cores e formas. — ela afirmou, claramente orgulhosa de seu aluno.

Ken olhou para Sho, e seus olhos brilharam com um sentimento de realização, mas ao mesmo tempo havia uma pitada de ansiedade. Ele queria que Sho visse o valor em seu talento também, mas não sabia como expressar isso.

Sho, por sua vez, apenas observou o elogio de longe. Ele sentia um misto de emoções, principalmente uma sensação de admiração e, ao mesmo tempo, um pouco de confusão. Ele nunca foi bom em expressar emoções de uma forma tão... genuína. Mas ver o irmão sendo elogiado daquela forma, sendo reconhecido por seu talento, fez algo dentro dele se mexer.

Ken, embora um pouco envergonhado com toda a atenção, se sentiu feliz. Ele sempre amou desenhar e estava contente por ser reconhecido. Ele queria que Sho visse o quanto ele se importava com o que fazia, e talvez isso pudesse aproximá-los ainda mais.

A aula seguiu, e enquanto Ken se via imerso em conversas animadas sobre seu desenho, Sho apenas permaneceu em silêncio, observando o movimento ao redor dele, ainda com aquele olhar um tanto distante. Mas, no fundo, ele sabia que a presença de Ken, e a maneira como seu irmão se destacava com tanta facilidade, fazia sua própria jornada parecer mais difícil.

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Comments

Noxinfinity

Noxinfinity

pô tá querendo fazer eu chorar? 🫠

2025-01-19

0

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