Memórias

No caminho para o hospital, Sho abriu os olhos lentamente, embora estivesse visivelmente debilitado. Sua visão estava embaçada, mas ele conseguiu distinguir Ken e Hana ao seu lado.

Ken, ao perceber que Sho estava acordando, quase chorou de alívio. "Sho! Você está bem? Não se esforce, estamos quase no hospital!"

Sho forçou um sorriso fraco, sua voz saindo baixa e rouca. "Tá tudo bem... Não precisam se preocupar... Já passei por piores..."

Hana, sentada no canto da ambulância, parecia incapaz de conter as lágrimas. "Isso é minha culpa... Se eu não tivesse sido tão fraca, nada disso teria acontecido!"

Sho virou a cabeça lentamente na direção dela, o sorriso fraco ainda em seu rosto. "Não... Hana... Não é culpa sua... Você... só foi você mesma... E tá tudo bem assim..."

Essas palavras pareceram tocar algo dentro de Hana, que apertou as mãos contra o peito, ainda chorando, mas agora com um sentimento de conforto misturado à culpa.

Antes que Ken pudesse dizer mais alguma coisa, os olhos de Sho se fecharam novamente, e ele voltou a desmaiar. Ken, assustado, olhou para os paramédicos. "Ele vai ficar bem, certo? Por favor, digam que ele vai ficar bem!"

Um dos paramédicos respondeu com calma, enquanto ajustava os curativos na cabeça de Sho. "Ele está fora de perigo. A pancada foi forte, mas não atingiu nada crítico. Ele só precisa de descanso agora."

Ken suspirou aliviado, mas ainda segurava a mão de Sho com firmeza. "Obrigado... Obrigado mesmo..."

Hana, enxugando as lágrimas, olhou para Sho mais uma vez, sentindo-se um pouco mais aliviada pelas palavras dele. Mesmo naquela condição, ele havia se preocupado em reconfortá-la.

A ambulância continuou a caminho do hospital, com Ken e Hana em silêncio, mas agora com esperança renovada de que Sho ficaria bem.

A ambulância chegou ao hospital com pressa, os paramédicos abriram as portas rapidamente, retirando Sho em uma maca. Ken e Hana seguiram logo atrás, recusando-se a se afastar. Ken segurava a mão de Sho com força, enquanto Hana permanecia ao lado dele, o rosto ainda marcado pela preocupação e culpa.

Os médicos os informaram que Sho precisaria de exames para avaliar os danos, mas garantiram que ele estava estável. Ken insistiu em ficar próximo, e Hana, mesmo hesitante, também se manteve ao lado, como se sua presença pudesse ajudar.

Após algum tempo, enquanto Sho era examinado, Miku chegou correndo ao hospital, claramente desesperada. "Onde está o Sho? O que aconteceu com ele?"

Ken a encontrou na entrada e a guiou até o quarto onde Sho estava sendo monitorado. Miku entrou e parou ao ver Sho desacordado na cama, os curativos cobrindo parte de sua cabeça. Ela se aproximou rapidamente, segurando a mão dele com ternura. "Meu filho... O que fizeram com você?"

Ken e Hana explicaram o que aconteceu, embora com algumas omissões, para não alarmá-la ainda mais. Miku respirou fundo e, percebendo que a camisa de Sho estava rasgada e suja de sangue, decidiu trocá-la.

"Vamos limpá-lo e trocar essa camisa, não quero que ele fique desconfortável quando acordar," disse Miku, com uma calma que escondia sua profunda preocupação.

Ela começou a desabotoar a camisa de Sho, mas quando finalmente a removeu, a visão que tiveram os deixou sem palavras.

Os braços, o peito e as costas de Sho estavam cobertos de cicatrizes. Cortes profundos e antigos traçavam padrões caóticos, como se ele tivesse sido marcado inúmeras vezes. Algumas cicatrizes pareciam cortes precisos, outras eram mais irregulares, sinais de ferimentos mais violentos.

Miku deixou cair a camisa que segurava, e sua mão foi à boca, os olhos marejados. "Meu Deus... Sho... O que fizeram com você?"

Ken deu um passo para trás, incrédulo. "Eu... Eu não sabia... Ele nunca disse nada..."

Hana apenas ficou ali, paralisada, sentindo as lágrimas se acumularem novamente. A pequena garota tinha um nó na garganta; as cicatrizes eram uma prova silenciosa de uma vida cheia de sofrimento que ela não conseguia imaginar.

Miku se aproximou lentamente de Sho, passando a mão tremula sobre as cicatrizes em suas costas. "Por quanto tempo você passou por isso... E por que nunca me contou?"

Ken sentiu uma onda de culpa e tristeza. Ele começou a lembrar-se dos olhares distantes de Sho, de sua força que parecia inabalável e de como ele evitava se abrir sobre o passado.

Hana finalmente quebrou o silêncio. "Ele me salvou... E eu nunca percebi que ele precisava ser salvo também..."

Miku enxugou os olhos e olhou para os dois jovens. "Sho sempre carregou tanto sozinho... Talvez agora, com a gente ao lado dele, possamos ajudá-lo a se curar."

Ken assentiu, determinado. "Eu vou fazer o que puder, mãe. Não vou deixar Sho carregar tudo sozinho de novo."

Com cuidado, Miku colocou uma camisa limpa em Sho, mas a imagem das cicatrizes ficaria gravada nas mentes de todos naquele quarto. A determinação de proteger Sho e entender o que ele passou se tornou ainda mais forte para eles.

Miku terminou de ajustar a camisa limpa em Sho, ainda visivelmente abalada com o que havia visto. Ela se virou para Ken e Hana, tentando compor uma expressão mais calma.

"Ken, quem é essa garotinha? Ela estava com você e Sho o tempo todo?" perguntou Miku, sua voz gentil, mas com uma pontada de curiosidade.

Hana deu um passo à frente, ainda apertando o casaco contra o corpo, claramente nervosa. "Eu... sou Hana. Sho me ajudou hoje, e... bom, acho que é minha culpa ele estar aqui..."

Miku se ajoelhou, ficando na altura de Hana. "Querida, você não tem culpa. Sho é assim. Ele faria qualquer coisa para proteger alguém, especialmente alguém que ele viu precisando de ajuda. Obrigada por ficar ao lado dele."

Hana, tocada pela gentileza, apenas assentiu, tentando conter as lágrimas. "Eu só queria que ele soubesse o quanto sou grata... Mas agora vejo que ele precisa de mais do que isso."

Ken cruzou os braços e olhou para o chão, pensativo. "Mãe... eu acho que nunca fiz o suficiente por Sho. Ele sempre pareceu tão... distante. Forte, sabe? Como se ele não precisasse de ninguém."

Miku suspirou, passando a mão pelos cabelos de Ken. "Ele cresceu aprendendo que a força era sua única opção, Ken. Essas cicatrizes... elas contam uma história de dor que ele nunca compartilhou com a gente. Talvez ele não saiba como."

"Então o que a gente faz?" perguntou Ken, a voz carregada de preocupação.

Miku se levantou e olhou para os dois. "Nós precisamos ser pacientes. Mostrar a ele, todos os dias, que ele não precisa ser forte sozinho. Pequenos gestos. Estar ao lado dele, mesmo que ele não peça. Criar um ambiente onde ele sinta que pode se abrir, no tempo dele."

Hana, ainda segurando o casaco, se pronunciou timidamente. "Sho foi muito gentil comigo hoje, mesmo quando parecia que ele nunca tinha feito algo assim antes. Talvez... talvez ele só precise de pessoas ao redor dele que mostrem como é ser cuidado."

Miku sorriu para Hana, um sorriso cheio de ternura. "Você está absolutamente certa, Hana. E você já fez muito só por estar aqui. Obrigada."

Ken assentiu. "Eu vou tentar falar mais com ele. Passar mais tempo juntos. Fazer ele perceber que não precisa ser perfeito pra gente gostar dele."

Miku concordou. "E eu vou reforçar que ele não precisa ter medo de falhar. Que ele pode confiar na gente. Mas vai levar tempo. Ele passou anos carregando essa dor sozinho."

Hana apertou as mãos e olhou para Miku. "Posso... posso visitá-lo quando ele estiver melhor? Eu quero mostrar a ele que não importa o que aconteça, eu vou sempre ser grata por ele me proteger."

"Claro, Hana," respondeu Miku, colocando uma mão no ombro da garota. "Você será muito bem-vinda. Sho precisa de amigos como você."

O ambiente ficou mais leve, mas o peso das cicatrizes de Sho ainda pairava no ar. Ken se aproximou da cama, segurando a mão do irmão. "Sho, você vai acordar e ver que estamos aqui. Eu prometo."

Hana se aproximou também, seus olhos brilhando com determinação. "Eu também prometo. Você me salvou, agora é a minha vez de estar aqui por você."

Miku observou os dois, sentindo uma pontada de esperança. "Com amor, paciência e tempo, vamos ajudar Sho a perceber que ele não precisa enfrentar o mundo sozinho."

Sho estava mergulhado em um sono inquieto, onde a realidade se mesclava com memórias distorcidas. Ele se viu em pé, no meio de uma sala escura, o corpo rígido e tenso. A porta à sua frente se abriu com um rangido metálico, revelando seu pai. O homem, alto e imponente, com olhos frios como gelo, entrou segurando um chicote cujas pontas eram cravejadas com pequenos pedaços de ferro.

“Você falhou, Sho,” seu pai começou, a voz firme e cortante. “Atrasou-se. Um minuto de atraso é um fracasso completo.”

Sho tentou explicar, as palavras saindo em um tom desesperado. “Pai, por favor, foi só um minuto! Eu não quis—”

“Silêncio!” O grito ecoou pelas paredes, fazendo o jovem Sho recuar instintivamente. Seu pai deu um passo à frente, levantando o chicote. “Você acha que desculpas vão mudar o fato de que você não é especial? Cumprir as missões para as quais você foi treinado não é uma conquista, é o mínimo esperado de você!”

Antes que Sho pudesse dizer mais alguma coisa, o chicote desceu sobre suas costas, cortando a pele e abrindo feridas instantaneamente. Ele gritou de dor, suas pernas cedendo enquanto tentava proteger o corpo com os braços.

“Por favor, pai! Me perdoe! Eu prometo que vou melhorar!” Sho implorava, as lágrimas escorrendo de seu rosto.

O chicote veio novamente, dessa vez atingindo seu braço direito. As pontas de ferro rasgaram a pele, deixando cortes profundos. A dor era insuportável, mas Sho sabia que não podia resistir. Ele havia aprendido isso cedo demais.

“Você é fraco, Sho,” o pai continuou, a voz carregada de desprezo. “Você não tem permissão para falhar. Falhar é inaceitável. É uma mancha que você nunca apagará.”

A cada palavra, o chicote descia novamente. Seu peito agora tinha cortes profundos, o sangue escorrendo e manchando o chão branco. Sho se encolhia, o corpo tremendo, mas ainda tentando implorar por perdão.

“Eu sou inútil... eu sei... por favor, só me dê outra chance...” ele choramingou, sua voz se quebrando em soluços.

Finalmente, o pai parou, mas seu olhar não suavizou. “Volte para o quarto branco, Sho. Reflita sobre o que significa ser digno. Não sairá de lá até que eu veja uma mudança.”

Sho tentou se levantar, mas suas pernas não respondiam. Mesmo assim, ele arrastou o corpo pelo chão, em direção à porta que levava ao quarto branco. O lugar que ele odiava mais do que qualquer outro. Sem cor, sem vida, apenas quatro paredes opressivas que pareciam esmagá-lo.

Quando ele entrou, a porta se fechou atrás dele com um estalo ensurdecedor. Sho sentiu o vazio tomar conta novamente, um vazio que ele conhecia muito bem. Sentado no chão frio, ele encolheu-se, abraçando os joelhos, enquanto os ecos das palavras de seu pai continuavam a atormentá-lo: “Você não é especial. Apenas destinado.”

Sho sussurrou para si mesmo, a voz quase inaudível. “Eu vou ser melhor... Eu prometo...”

E no mundo real, uma lágrima solitária escorreu de seus olhos fechados, enquanto ele se mexia inquieto na cama do hospital.

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Comments

Noxinfinity

Noxinfinity

olha o que fizeram com o meu garoto,
ele está queimando por dentro 🥹

2025-01-19

2

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