No intervalo, a sala ficou vazia com os alunos correndo para fora, ansiosos para conversar ou se divertir no pátio. A sala, agora tranquila, ficou com apenas dois ocupantes: Sho e Ken. Eles estavam sentados um ao lado do outro, cada um com sua marmita, saboreando o almoço que sua mãe, Miku, preparou com tanto carinho. Sho comia em silêncio, a atenção voltada para o próprio prato, enquanto Ken parecia mais animado e falava de vez em quando sobre a aula ou o que havia acontecido no dia. Para Ken, aquele momento estava sendo bastante tranquilo e agradável, especialmente porque sentia o apoio de Sho ao seu lado.
Após alguns minutos, a porta da sala se abriu lentamente e uma figura entrou. Era uma garota que chamou a atenção de imediato. Ela tinha longos cabelos castanhos que, ao fundo, misturavam-se com mechas rosa, e seus olhos claros transmitiam uma suavidade que contrastava com sua postura confiante. Ela usava algumas pulseiras de couro e prata, o que dava um toque casual ao seu visual. Ela parecia madura para a idade, como se tivesse uma presença que refletia mais experiência do que a maioria dos alunos.
Ela entrou na sala com uma expressão amigável e, após lançar um olhar curioso a Sho e Ken, cumprimentou-os com um sorriso.
— Oi, pessoal! — ela disse de forma descontraída, mas com um toque de entusiasmo. — Não me incomodo de interromper a refeição de vocês, né?
Ken, ao ouvir a voz, olhou para a entrada e logo se animou ao reconhecer quem estava ali. Ele sorriu imediatamente, seus olhos brilhando com um toque de nostalgia.
— Anya! — exclamou ele, levantando-se um pouco de sua cadeira. — Faz tempo que não nos vemos!
Anya, com um sorriso simpático, se aproximou de Ken e, sem hesitar, se sentou na mesa com eles, inclinando-se um pouco em direção a Ken.
— Pois é, faz tempo mesmo. A gente tem que arranjar mais tempo para conversar, né? — disse ela, e então ela olhou para Sho, que estava quieto, mas com os olhos observando a cena. — E esse aqui é o seu irmão, né? — perguntou com um sorriso, reconhecendo Sho de vista, já que Ken já havia mencionado sobre o irmão por mensagem.
Ken ficou um pouco nervoso, mas ainda sorrindo, respondeu rapidamente:
— Ah, sim! Este é o Sho. Sho, essa é a Anya, minha amiga de infância. Nós estudamos juntos quando éramos mais novos. — disse Ken, apresentando os dois, mas sua voz tremia um pouco pela timidez.
Anya sorriu para Sho e acenou com a cabeça, mostrando que ele já era bem conhecido por ela, mas se dirigiu novamente a Ken com um toque de familiaridade.
— Eu ouvi dizer que você estava se destacando na escola, Ken. Fiquei sabendo que você arrasou na aula de artes, hein? — ela disse com um sorriso travesso, e Ken corou um pouco, mas se sentiu lisonjeado.
Sho, que estava ouvindo atentamente, observou as interações com um certo distanciamento, mas sem perder o foco em Ken. Ele percebeu a ligação entre os dois e, por um momento, pensou em como Ken parecia ser alguém importante para Anya.
A conversa continuou de maneira leve, com Anya trocando algumas piadas e lembranças com Ken. Ela parecia completamente à vontade, o que contrastava com a postura mais reservada de Sho. No entanto, o mais interessante era o jeito como ela parecia cuidar de Ken, a forma amigável e atenciosa com que conversava com ele.
Ken estava completamente imerso na conversa, mas também se sentia um pouco desconfortável com a presença de Sho ao seu lado, especialmente porque ele sabia que Sho não estava tão acostumado com essas interações sociais. Mas para Ken, aquele momento estava sendo uma oportunidade de se reconectar com alguém que era importante para ele, alguém que conhecia sua história antes de toda a mudança de vida que havia ocorrido com sua família.
Anya, com seu olhar curioso, não demorou muito a se dirigir novamente a Sho.
— Então, Sho, você também está se adaptando bem à escola? — ela perguntou, tentando puxar conversa com ele. Sua abordagem foi direta, mas sem ser forçada, mostrando que ela não era do tipo que evitava fazer perguntas por medo de incomodar.
Sho olhou para ela por um momento antes de responder, seu tom sério contrastando com a forma amigável de Anya.
— Estou me adaptando. — ele disse simplesmente, mas não parecia ter muito mais a dizer naquele momento. No fundo, ele estava tentando avaliar como se portar com ela, já que era uma das primeiras pessoas que mostrava interesse nele, além de sua mãe e Ken.
Ken observou com um sorriso leve, sentindo um calor no peito ao perceber que Sho estava começando a interagir mais com os outros, ainda que fosse de maneira cuidadosa e reservada. Ele sabia que, com o tempo, Sho se abriria mais, assim como ele estava fazendo aos poucos.
O tempo de intervalo passava rápido e, enquanto a conversa fluía naturalmente, o trio compartilhava risos e lembranças antigas, criando uma nova camada para o relacionamento deles. Para Ken, ver Sho interagindo com alguém que parecia genuinamente se importar com ele era um alívio, e ele não conseguia deixar de sentir que, apesar das dificuldades, a sua vida estava começando a melhorar.
Sho, após algum tempo de conversa com Anya e Ken, decidiu que precisava de um pouco de espaço. O ambiente estava descontraído, mas ele não conseguia evitar a sensação de estar à margem, observando as interações entre as pessoas ao seu redor. Com um suspiro baixo, ele se levantou discretamente e saiu da sala, indo em direção ao terraço da escola. Lá, o ar fresco o envolveu, e ele ficou por um momento observando a vista, buscando clarear a mente.
No entanto, o silêncio foi interrompido por vozes que chegaram até seus ouvidos. Sho não estava completamente sozinho no terraço; alguns meninos, um pouco mais velhos que ele, estavam ao lado, rindo e se divertindo com algo. Ao se aproximar um pouco mais, ele percebeu que os meninos estavam cercando uma menina pequena, aparentemente mais nova que ele.
A menina tinha cabelos curtos e ruivos, com algumas sardas salpicadas pelo rosto e olhos azuis tão claros quanto os de Sho. Ela parecia nervosa e, ao olhar melhor, ele percebeu que ela estava segurando sua marmita com as mãos tremendo, claramente tentando se afastar dos meninos mais velhos.
"Ei, devolve a marmita!" um dos meninos gritou, rindo sarcasticamente, enquanto pegava a marmita da menina com desdém. Os outros garotos riram junto, zombando dela.
A menina tentou, sem sucesso, pegar a marmita de volta, mas um dos meninos a afastou com uma risada zombeteira. Sho observava de longe, sua expressão severa e fria, mas algo dentro dele se mexeu ao ver a fragilidade da garota. Normalmente, ele não se importaria com estranhos, mas a maneira como ela parecia tão pequena e indefesa o tocou. Algo nela o fazia sentir uma urgência, um impulso de proteger.
Sem pensar muito, Sho se aproximou silenciosamente, a raiva começando a se formar em seu peito ao ouvir mais risadas dos meninos. Ele se aproximou rapidamente, fazendo os garotos o notarem. Eles imediatamente pararam de rir e olharam para ele, um tanto desconcertados.
"Ei, qual é a sua, garoto?" um dos meninos perguntou, tentando intimidá-lo. Sho não se moveu e respondeu apenas com um olhar gélido.
"Devolvam a marmita dela." Sua voz era baixa, mas carregada de firmeza, algo que fazia qualquer um parar e prestar atenção. A sua postura, seu olhar direto e calmo, fez com que os meninos recuassem ligeiramente, como se sentissem algo perigoso por trás de sua presença.
Os meninos, por um momento, hesitaram. Eles estavam acostumados a intimidar os mais fracos, mas Sho não parecia ser alguém fácil de desafiar. Eles, então, deram um passo atrás, rindo, tentando disfarçar o desconforto.
"Tá, tá, aí está. Toma a marmita, garota." Um dos meninos jogou a marmita de volta para a menina, ainda zombando, mas sem a coragem de desafiar Sho.
A garota, aliviada, rapidamente pegou sua marmita de volta e olhou para Sho com um olhar tímido, mas grato. Ela deu um sorriso nervoso, mas seu rosto estava cheio de gratidão.
"Obrigada..." ela disse baixinho, ainda um pouco assustada com a situação.
Sho não respondeu de imediato. Ele apenas a observou por um momento, sentindo algo dentro de si se acender. O impulso de protegê-la ainda estava lá, e ele se sentiu um pouco estranho por não ter feito nada até então. Sua expressão, normalmente fechada e distante, suavizou por um instante. Ele sentiu uma estranha conexão, algo que não poderia explicar muito bem. Ela, tão pequena e frágil, lembrava algo nele mesmo – a sensação de ser vulnerável, de precisar de alguém que se importasse.
"Você está bem?" ele perguntou, com um tom mais suave, algo que raramente usava com estranhos.
Ela acenou rapidamente, ainda mantendo a marmita contra o peito. "Sim... Eu só... não queria que eles fizessem isso. Não sabia o que fazer." Ela parecia mais calma agora, a tensão começando a se dissipar.
Sho observou a menina mais um momento, se perguntando como poderia ser tão vulnerável, mas ao mesmo tempo, ele sabia que ele tinha seu próprio lado frágil, algo que tentava esconder o tempo todo. Ele não era uma pessoa de muita empatia, mas aquele momento parecia diferente.
"Cuide-se melhor da próxima vez." Ele disse de forma curta, mas de alguma forma, com um tom que soava mais protetor do que ele imaginava.
A menina deu um sorriso mais aberto, embora ainda tímido. "Obrigada de novo. Meu nome é Hana."
Sho acenou com a cabeça. "Sho." Foi tudo o que disse antes de se virar para ir embora, voltando ao interior da escola. Porém, ao caminhar, ele não pôde deixar de pensar nela, na fragilidade que ela demonstrava, e no quanto ele não podia ignorar o instinto de protegê-la, de fazer algo para que ela nunca mais fosse intimidada assim.
E de uma forma que ele não entendia completamente, Sho se sentiu mais humano naquele momento, como se fosse mais do que apenas alguém com um passado pesado e um futuro incerto. Algo dentro dele, embora pequeno, estava começando a mudar.
Hana, com os olhos ainda um pouco marejados, sentiu uma urgência em seu peito. Ela queria agradecer a Sho, mas as palavras não pareciam suficientes para expressar sua gratidão. Ela observou os garotos ainda lá em cima, tentando disfarçar o desconforto com a situação, e então decidiu que precisava falar com ele.
Sem mais hesitação, ela correu pelas escadas em direção a Sho, seus passos rápidos ecoando pelos corredores da escola. Quando o viu virando uma esquina, ela não conseguiu evitar e, com um impulso, agarrou a parte de trás da blusa de Sho. Ele imediatamente se virou, surpreso, mas ao ver a expressão no rosto dela, ele percebeu o que estava acontecendo.
Hana estava ofegante, mas seus olhos eram intensos e cheios de gratidão. "Sho... eu... eu queria te agradecer, de verdade," ela começou, as palavras saindo atropeladas, como se a pressão de falar tudo de uma vez estivesse a consumindo.
Sho olhou para ela com uma expressão séria, mas sua postura relaxou um pouco ao perceber a sinceridade em seus olhos. Ele não estava acostumado a ser elogiado ou a receber gratidão de pessoas que não conhecia bem. Mas algo na maneira como Hana falava, sem rodeios, e a forma como ela parecia genuinamente agradecida, fez com que uma parte dele se sentisse... tocado.
"Você não precisa me agradecer," Sho respondeu com sua voz fria, mas sua expressão não era mais tão distante quanto antes. Ele havia ajudado sem pensar muito sobre isso, mas ao ver Hana tão desesperada por mostrar sua gratidão, ele sentiu uma leve mudança em si. "Não é grande coisa."
Hana balançou a cabeça com firmeza. "Não é grande coisa para você, mas foi tudo para mim. Você não sabe o quanto você me ajudou, eu estava tão assustada. E você... você não pensou duas vezes. Eu não sei como expressar, mas, muito obrigada."
Sho observou a sinceridade em seus olhos, e por um momento, a dureza de sua personalidade parecia suavizar. Ele não sabia como lidar com esse tipo de situação. Agradecimento, carinho... eram coisas que ele não estava acostumado a receber, nem mesmo a dar. Mas a expressão de Hana, sua voz trêmula e cheia de gratidão, fez algo dentro dele mudar.
"Você não precisa se preocupar com isso," ele disse, seu tom mais suave do que antes, embora ainda com o semblante sério. "Cuidado da próxima vez, tá?" Ele não estava dizendo isso com impaciência, mas como se realmente quisesse que ela ficasse bem.
Hana sorriu, aliviada, e soltou lentamente a parte de trás da blusa dele, embora ainda estivesse um pouco próxima. "Eu vou. Prometo. E, Sho... você tem um bom coração, mesmo que não perceba."
Sho olhou para ela por um momento, um olhar curioso em seus olhos, antes de começar a andar para longe. Ele não sabia o que ela queria dizer com aquilo, mas uma parte de si mesma sentiu que, talvez, ela tivesse razão. Ele nunca se via dessa forma, mas algo, talvez um pequeno fragmento de algo bom, começou a nascer dentro de si. Ele não entendia ainda o que isso significava, mas a sensação estava ali.
"Cuide-se, Hana," ele disse por cima do ombro, em um tom de despedida, antes de desaparecer pelos corredores da escola, deixando-a para trás, mas com a sensação de que algo havia mudado.
Hana ficou ali por alguns segundos, observando-o se afastar. Mesmo que ele fosse frio e distante, ela sentia que Sho, de alguma maneira, começava a se abrir para o que ela acreditava ser a verdadeira força: cuidar dos outros.
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Atualizado até capítulo 57
Comments
Noxinfinity
mas que bagulho é esse ?
tô lendo uma novela de romance 😊?
2025-01-19
2
Nix
futuro casal???
2024-12-15
2