Irmãos

Na manhã seguinte, Miku estava na cozinha preparando o café da manhã quando decidiu tentar algo para aproximar os dois irmãos. Após a refeição, ela se aproximou de Ken e Sho, que estavam sentados à mesa em silêncio.

— Ken, Sho, pensei que vocês poderiam sair juntos hoje. Aqui está um pouco de dinheiro para vocês irem tomar sorvete. Que tal?

Ken quase saltou da cadeira, animado.

— Sério, mãe? Que ideia ótima!

Sho, por outro lado, ergueu uma sobrancelha, claramente menos entusiasmado.

— Sorvete? — Ele disse com indiferença.

— Sim, Sho. É uma boa oportunidade para vocês passarem um tempo juntos — insistiu Miku, sorrindo gentilmente.

Ken olhou para Sho com um brilho de esperança nos olhos.

— Vamos lá, Sho. Vai ser divertido.

Sho suspirou, percebendo que não tinha escolha.

— Tudo bem.

No caminho para a sorveteria...

Ken caminhava à frente, apontando as direções enquanto falava sobre os sabores de sorvete que mais gostava. Sho seguia atrás, calado, observando o ambiente com seu olhar analítico de sempre.

— E você, Sho? Qual sabor de sorvete você gosta? — perguntou Ken, olhando por cima do ombro.

— Não tenho preferência — respondeu Sho sem emoção.

Ken riu sem jeito, mas continuou falando para preencher o silêncio.

Quando estavam perto da sorveteria, Sho notou um grupo de garotos do outro lado da rua. Eles eram barulhentos, rindo alto e apontando na direção de Ken. Sho franziu o cenho, concentrando-se nos gestos e nas expressões deles.

Um dos garotos sussurrou algo para os outros, que começaram a rir ainda mais alto. As palavras que Sho conseguiu captar eram ofensivas, referindo-se aos olhos vermelhos de Ken e à sua timidez.

Ken, que também notara os garotos, abaixou a cabeça e apressou o passo.

— Vamos entrar logo — disse ele, a voz tremendo levemente.

Sho permaneceu onde estava por um momento, observando os garotos com um olhar frio e penetrante. Ele entendeu imediatamente o que estava acontecendo: aqueles eram os típicos valentões que se aproveitavam da bondade e da timidez de alguém como Ken.

— Sho! — chamou Ken, já na porta da sorveteria.

Sho ignorou os garotos e entrou na sorveteria atrás do irmão.

Ken já estava na fila, tentando disfarçar sua preocupação. Sho se aproximou dele e ficou ao lado, em silêncio.

— Eles... Eles não vão entrar aqui, então estamos bem — disse Ken, como se tentasse se convencer disso.

Sho olhou para o irmão de canto de olho.

— Eles fazem isso com frequência?

Ken congelou, fingindo não entender a pergunta.

— O quê?

Sho cruzou os braços, mantendo seu tom direto e firme.

— Aqueles garotos. Eles fazem isso com você com frequência?

Ken hesitou, desviando o olhar.

— Não é nada demais. Eles só... fazem umas piadinhas às vezes. Eu estou acostumado.

— Não deveria estar.

Ken ficou surpreso com o tom de Sho. Ele parecia quase irritado, mas não com Ken, e sim com a situação.

— Não precisa se preocupar com isso, Sho. Eu lido com eles sozinho.

Sho o encarou por um momento, os olhos azuis brilhando com algo que Ken não conseguia decifrar.

— Não é assim que uma família funciona.

Ken sentiu um calor no peito ao ouvir aquelas palavras, mas antes que pudesse responder, chegou a vez deles na fila.

— Que sabores vocês vão querer? — perguntou o atendente, com um sorriso amigável.

Ken rapidamente pediu chocolate com baunilha, enquanto Sho olhava para os sabores sem muito interesse.

— Só baunilha — disse ele, direto.

Os dois pegaram os sorvetes e se sentaram em uma mesa próxima à janela. Ken tentou puxar assunto, falando sobre como aquele lugar era um dos seus favoritos, mas Sho parecia distraído, olhando pela janela.

Do lado de fora, os garotos que zombavam de Ken estavam passando, ainda rindo e fazendo gestos na direção da sorveteria. Sho fixou o olhar neles por alguns segundos antes de voltar sua atenção para Ken.

— Se eles aparecerem de novo, você me avisa — disse Sho, sua voz firme, quase como uma ordem.

Ken olhou para ele, surpreso.

— Sho, você não precisa se envolver nisso. Eu não quero que você tenha problemas por minha causa.

Sho estreitou os olhos, mordendo um pedaço de sua casquinha de sorvete antes de responder.

— Não são problemas. Eu cuido disso se precisar.

Ken ficou em silêncio, encarando o irmão. Havia algo no jeito de Sho que era assustador, mas, ao mesmo tempo, reconfortante. Pela primeira vez, ele sentiu que tinha alguém ao seu lado, disposto a protegê-lo.

Embora Sho ainda fosse frio e distante, aquele momento mostrou a Ken que, no fundo, havia um laço entre eles que estava a começar a se formar.

Depois de terminarem os sorvetes, Sho se levantou, dizendo de forma casual:

— Vou ao banheiro. Não demoro.

Ken assentiu, terminando de lamber a casquinha do sorvete, enquanto Sho caminhava em direção ao banheiro da sorveteria. Ele ficou sozinho na mesa, mexendo no celular, tentando se distrair, quando ouviu risadas familiares vindas da entrada. Ao levantar o olhar, sentiu seu coração afundar.

Os mesmos garotos que estavam do lado de fora haviam entrado, e um deles, o líder, um rapaz alto de cabelos bagunçados chamado Takashi, sorriu de forma debochada ao ver Ken.

— Olha só quem está aqui! O nosso amiguinho de olhos esquisitos — zombou Takashi, com os outros rindo atrás dele.

Ken imediatamente desviou o olhar, tentando parecer invisível.

— Ei, Ken. Não vai nos cumprimentar? Que falta de educação! — provocou outro garoto, empurrando levemente a mesa onde Ken estava sentado.

Ken tentou responder, mas sua voz falhou. Ele estava paralisado, como sempre acontecia quando aqueles garotos apareciam.

— Vamos dar uma volta, Ken? — disse Takashi, puxando o braço de Ken, que tentou resistir.

— Eu... eu não quero... — murmurou Ken, mas sua timidez e medo tornavam sua voz quase inaudível.

— Não foi uma pergunta — respondeu Takashi, com um sorriso cruel.

Antes que Ken pudesse reagir, eles o levantaram à força e o arrastaram para fora da sorveteria.

Os garotos levaram Ken até um terreno vazio e cercado por muros baixos, a poucos quarteirões da sorveteria. O lugar estava sujo, com restos de entulho espalhados pelo chão. Eles o empurraram para o centro, e Ken tropeçou, caindo de joelhos.

— E aí, Ken, quem era aquele contigo na sorveteria? — perguntou Takashi, inclinando-se com as mãos nos bolsos.

Ken ficou em silêncio, apertando os punhos enquanto olhava para o chão.

— Vamos, responde, esquisitão. Era seu namorado? — provocou outro garoto, arrancando risadas dos demais.

— Aposto que era. Branca de Neve e o príncipe encantado, que fofo! — gritou um deles, empurrando Ken de leve com o pé.

Ken tentou se levantar, mas Takashi o empurrou de novo, fazendo-o cair de costas no chão.

— Qual é o problema, Ken? Não vai defender o namoradinho? — disse Takashi, agora mais agressivo.

Ken estava tremendo. Ele já havia passado por isso antes, mas sempre na escola, onde os professores fingiam não ver, e seus colegas apenas olhavam de longe, sem nunca ajudar. Ele sempre teve medo de contar para sua mãe. Não queria preocupá-la e, no fundo, temia que isso piorasse sua situação.

— Por que você sempre fica quieto? Não tem nada pra dizer, Ken? — continuou Takashi, chutando levemente a lateral de Ken, que gemeu baixo.

As risadas ecoavam pelo terreno, enquanto os garotos se aproximavam mais, formando um círculo ao redor de Ken. Ele sentia as lágrimas se acumulando nos olhos, mas não queria chorar. Não na frente deles.

— Talvez devêssemos ensinar uma lição a ele. Assim ele aprende a nos respeitar de verdade — sugeriu um dos garotos.

— Boa ideia. Afinal, ele nunca aprende, né? — Takashi deu um sorriso cruel, levantando o punho como se fosse começar algo pior.

Ken fechou os olhos, esperando o pior, o medo tomando conta de todo o seu corpo. Ele se sentia completamente sozinho.

Enquanto Ken estava no chão, ainda tremendo e prestes a ser atacado, uma voz fria e firme ecoou pelo terreno:

— Se encostarem um dedo nele, eu vou espancar cada um de vocês.

Ken abriu os olhos, virando a cabeça em direção à entrada do terreno. Sho estava ali, parado, com as mãos nos bolsos e um olhar tão frio quanto o gelo. Ele avançava lentamente em direção ao círculo que os garotos formavam ao redor de Ken. Seu corpo atlético e sua altura de 1,80m faziam com que os garotos parecessem ainda menores.

Os valentões se entreolharam, claramente desconfortáveis, mas não dispostos a demonstrar medo. Takashi, o líder, forçou uma risada e disse:

— Olha só, o "príncipe encantado" apareceu pra salvar a aberração. Que cena de filme.

Outro garoto riu e apontou para Sho.

— E quem é você, hein? Esse cabelo branco e esses olhos azuis... Você parece mais bizarro do que o Ken. Será que a aberração veio acompanhado de um palhaço?

Sho não reagiu de imediato. Ele apenas continuou andando, seus passos ecoando no terreno, parando alguns metros na frente deles. Então, respondeu com uma voz seca e cortante:

— A mãe de vocês não achou tão bizarro ontem à noite.

A provocação foi o suficiente para que a tensão no ar explodisse. Os garotos ficaram vermelhos de raiva, especialmente Takashi, que deu um passo à frente, cerrando os punhos.

— O que você disse? — rosnou Takashi.

Sho não recuou. Pelo contrário, ele deu um meio sorriso provocador, inclinando a cabeça levemente.

— Vocês ouviram. Agora, por que não saem do meu caminho antes que eu tenha que ensinar umas boas maneiras?

Os garotos, já irritados e agora tentando salvar o próprio orgulho, não recuaram. Takashi gritou:

— Vamos pegar ele!

Os garotos correram em direção a Sho, mas ele permaneceu parado, esperando. Quando o primeiro garoto tentou acertar um soco, Sho desviou facilmente e acertou um direto no estômago do agressor, que caiu no chão arfando. Outro tentou agarrá-lo por trás, mas Sho girou o corpo e desferiu um soco no rosto dele, derrubando-o com um único golpe.

Ken, ainda no chão, observava a cena com olhos arregalados. Sho era assustadoramente habilidoso. Sua postura, precisão e força não eram nada naturais para alguém de sua idade.

Os valentões restantes hesitaram, mas Takashi gritou:

— Não parem, idiotas! Ele não é invencível!

Os garotos tentaram cercar Sho, mas ele continuou a enfrentá-los com calma e eficiência. A cada movimento, ele derrubava um após o outro, como se fosse um jogo. Quando o último caiu, gemendo de dor, Takashi tentou fugir, mas Sho foi mais rápido.

Ele agarrou Takashi pela gola da camisa, levantando-o do chão como se fosse um brinquedo, e o derrubou com força no chão, subindo sobre ele. Takashi tentou lutar, mas Sho segurou seus braços com uma das mãos e começou a desferir socos fortes e precisos em seu rosto com a outra.

— Gostou de brincar com meu irmão? — perguntou Sho, a cada palavra acompanhada de um soco.

Os garotos que ainda estavam conscientes observavam a cena, apavorados. A violência de Sho era fria, metódica, e assustadoramente eficiente. Ken, ainda no chão, assistia à cena sem saber o que fazer. Seu coração estava acelerado, mas não era apenas medo. Era uma mistura de choque e preocupação.

Ele se perguntava o que Sho havia vivido para ser assim. Que tipo de vida ele teve com o pai, William, para desenvolver uma brutalidade tão impiedosa?

Takashi gritou algumas vezes, tentando implorar para que Sho parasse, mas seus gritos se tornaram fracos até cessarem completamente. Quando Sho finalmente parou, Takashi estava desmaiado, o rosto coberto de sangue e inchaços.

Sho levantou-se, limpando o sangue de seus punhos na própria camisa, e olhou para os outros garotos.

— Se eu vir algum de vocês perto do meu irmão de novo, eu não vou ser tão "gentil".

Os garotos assentiram rapidamente, ajudando uns aos outros a se levantarem e fugindo o mais rápido que puderam.

Sho então virou-se para Ken, que ainda estava sentado no chão, tremendo. Ele estendeu a mão para o irmão.

— Vamos embora.

Ken hesitou por um momento, olhando para o rosto inexpressivo de Sho, antes de pegar sua mão. Quando se levantou, Sho olhou para ele com uma expressão que parecia ser um misto de frustração e preocupação.

— Por que você deixa eles fazerem isso com você?

Ken desviou o olhar, segurando as lágrimas.

— Eu... eu não sei.

Sho suspirou, passando a mão pelos cabelos brancos.

— Não importa. Da próxima vez, me avise antes que chegue a esse ponto.

Eles começaram a caminhar de volta para casa em silêncio, mas Ken não conseguia tirar da cabeça o que havia acabado de acontecer. Algo dentro dele dizia que Sho havia vivido coisas terríveis, e isso o preocupava ainda mais.

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Comments

Noxinfinity

Noxinfinity

a violência não é uma resposta e sim uma pergunta e a resposta é sempre sim 😈

2025-01-19

2

Nix

Nix

tô gostando o livro é mo legal🤠👍🏻

2024-12-15

2

Ver todos

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