Valentina sentia o gosto amargo da derrota na boca.
O som dos passos ecoando pelas paredes da sala fria do Círculo Sombrio era o único ruído que preenchia o silêncio ameaçador.
Ela estava de joelhos, imobilizada, os braços presos atrás de costas por cordas finas, mas resistentes.
Os homens de Lorenzo a haviam capturado com rapidez e precisão, e agora ela estava ali, encarando o próprio diabo em forma humana.
O que mais a incomodava não era o fato de estar presa, mas a sensação de que havia sido manipulada. Lorenzo sempre soubera o que estava fazendo.
Ele a atraíra até ali, com precisão cirúrgica, como um caçador que coloca a isca na sua armadilha. A cada momento que passava, Valentina sentia que estava se afundando mais fundo em um buraco do qual talvez não pudesse sair.
Mas ela não era alguém que se entregava facilmente.
Mesmo com os pulsos sangrando pela pressão das cordas, ela sabia que ainda não estava derrotada.
Lorenzo observava de uma posição relaxada, sentado em uma cadeira de couro escura que contrastava com a frieza da sala. Ele parecia perfeitamente à vontade. O sorriso sutil em seus lábios indicava que ele sabia exatamente o que se passava na cabeça de Valentina.
– Eu me pergunto, Valentina... – disse Lorenzo, com a voz suave e calma, quase como se estivesse conversando sobre o tempo.
– Como você chegou até aqui? Como alguém com seu talento e ambição poderia cometer o erro de achar que poderia controlar algo maior do que você?
Valentina levantou o olhar, seus olhos queimando com raiva e determinação.
– Eu não sou você, Lorenzo. Eu não jogo com sombras e mentiras. Você vai pagar por isso. – sua voz estava baixa, mas cheia de intensidade.
Lorenzo riu suavemente, como se se divertisse com a provocação.
– Pagar? Você ainda não entendeu, Valentina. Eu sou a sombra. – Ele se levantou e deu alguns passos, aproximando-se dela. – Você pensa poder derrotar o que não pode ver? O que está além da sua compreensão?
Valentina mordeu o lábio, sentindo a tensão aumentar a cada palavra que Lorenzo dizia.
Ela sabia que ele estava tentando quebrá-la, fazer com que duvidasse de suas próprias forças.
Mas algo dentro dela dizia que não podia se deixar abater. Ele podia ter o controle sobre aquele lugar, sobre a situação, mas ainda não tinha controle sobre ela.
Lorenzo se aproximou mais, ficando a poucos centímetros de Valentina. Ele colocou a mão no queixo dela, forçando-a a olhá-lo nos olhos.
– Você é uma mulher interessante, Valentina. Seu espírito, sua força... Mas você não entende a verdadeira natureza do poder, não entende o quanto está prestes a perder. – Ele abaixou o tom de voz, quase sussurrando.
– Você e eu somos mais parecidos do que pensa, mas a diferença é que eu não tenho escrúpulos. E você... ainda acha poder controlar o que não consegue nem compreender.
Valentina sentiu a pressão de suas palavras, mas não se deixou afetar. Ela sabia que ele estava tentando manipulá-la, jogando com seus medos e inseguranças.
Ela sempre soubera que teria que ser mais astuta do que ele para sair dali.
– O que você quer de mim, Lorenzo? – ela perguntou, a voz controlada. – Por que todo esse jogo? Você não quer realmente guerra, quer? Quer apenas me fazer de peça.
Lorenzo sorriu, satisfeitos com a reação dela.
– Guerra é o que você tem agora, Valentina. O que eu quero de você é algo muito mais... valioso. – Ele fez uma pausa, observando a reação dela, depois continuou.
– Eu quero sua lealdade. A cidade pode ser minha, mas você... você tem algo que eu preciso. Algo que ninguém mais tem. Seu império.
Valentina não entendeu de imediato.
– Lealdade? – ela repetiu, rindo com amargura. – Você está pedindo algo que nunca terá de mim. Eu nunca serei sua.
Lorenzo inclinou-se para mais perto, quase tocando seu rosto, e seus olhos brilharam com uma intensidade assustadora.
– Não estou pedindo, Valentina. Estou oferecendo. Tudo o que você quer... poder, controle, mais do que pode imaginar... tudo será seu, se apenas se unir a mim. Mas se continuar lutando contra mim, então tudo o que você construiu, tudo o que você ama, será destruído.
Valentina sentiu o peso das palavras dele.
Ela sabia que Lorenzo tinha o poder de fazer o que dizia. Mas também sabia que não poderia ceder. Ela não poderia se deixar perder na teia dele, mesmo que ele estivesse oferecendo o mundo.
– Eu não sou sua marionete, Lorenzo. Você não tem esse controle sobre mim. Você subestima o que sou. Eu já estive em situações muito piores do que essa.
Lorenzo sorriu, agora com um sorriso mais cruel.
– Ah, Valentina, você não entende... – ele deu um passo atrás, fazendo um gesto amplo.
– Você não tem mais escolhas. Aqui, neste lugar, ninguém sai ileso. Você acha que pode escapar do que vem por aí? Eu tenho olhos em toda parte. E, por mais que você lute, meu controle já foi estabelecido.
Ele se virou para sair da sala, mas antes de fazer isso, lançou um olhar final sobre ela.
– Até mais tarde, Valentina. Não se preocupe, logo você verá o quanto sua resistência é fútil. Eu sempre soube que seria você a me desafiar. Agora, você é a última peça do meu quebra-cabeça. Não se preocupe, você logo entenderá o seu lugar.
Os minutos que se seguiram pareceram horas para Valentina.
Ela sabia que Lorenzo não estava mentindo sobre sua influência.
O que ele dizia fazia sentido: ele controlava tudo, cada movimento na cidade, cada linha de comunicação. Mas ela também sabia que ele havia cometido um erro.
Ele a subestimou.
Ele não sabia do fogo que ardia dentro dela, da vontade inquebrantável de não ser dominada.
A porta se abriu abruptamente, interrompendo seus pensamentos. Nico estava ali, acompanhado por mais dois de seus homens, com rostos tensos e olhos decididos.
A movimentação fora rápida, coordenada, silenciosa. A missão era clara: resgatar Valentina antes que fosse tarde demais.
– Valentina, temos que sair agora – disse Nico, sem perder tempo. Ele cortou as cordas que a prendiam com uma lâmina afiada, e logo ela estava de pé, ainda meio atordoada, mas ciente de que não tinha tempo a perder.
Eles correram pelos corredores escuros, passando pelas áreas de segurança com a precisão de quem já conhecia o lugar. Valentina estava mais do que pronta para acabar com aquele jogo.
Ela não estava mais apenas fugindo; ela estava indo em direção ao confronto final.
– Vamos terminar com isso, Nico – ela disse, a voz firme. – Quero Lorenzo. Eu vou acabar com ele.
Nico olhou para ela, ciente do que isso significava, mas não fez nenhuma objeção.
Ele sabia que, com Valentina, quando ela falava em acabar com algo, era um compromisso irrevogável.
Eles saíram do Círculo Sombrio em silêncio, e Valentina sentia uma raiva silenciosa queimando em suas veias. A batalha estava apenas começando.
Ela tinha falhado em uma parte do plano, mas não faria o mesmo novamente.
Não enquanto estivesse viva.
Lorenzo achava que controlava tudo.
Mas ele não sabia que Valentina ainda tinha uma carta na manga, e essa carta tinha o nome de destruição.
A guerra estava prestes a começar.
...
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Atualizado até capítulo 49
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