A Face Oculta do Eclipse

A cidade estava diferente naquela noite.

Mais sombria, mais hostil.

Valentina sentiu a mudança no ar enquanto o carro avançava pelas ruas do distrito financeiro, uma área de fachadas elegantes e luzes frias que contrastavam com a decadência das zonas periféricas.

Ali, o poder era transacionado de forma silenciosa, em jantares luxuosos e reuniões privadas que escondiam segredos capazes de derrubar impérios.

O nome Eclipse não era apenas uma pista – era uma lenda.

Um lugar tão secreto quanto poderoso, onde negócios obscuros eram selados e alianças perigosas eram feitas.

Descobrir sua localização não havia sido fácil, mas a conexão entre os Zanchetti e aquele codinome finalmente levou Valentina até ali: o prédio Aurora Prime, um dos mais altos da cidade, cujas janelas refletiam o céu noturno como espelhos inquebráveis.

No banco do passageiro, Nico lia o último relatório que tinham recebido.

– Temos confirmação. O Eclipse ocupa os últimos três andares do Aurora Prime. Dizem que é impossível entrar sem convite – comentou ele, fechando a pasta e olhando para Valentina. – Mas isso nunca nos impediu antes.

Ela deu um sorriso de canto, mas seus olhos estavam sombrios.

– Convites são para quem joga limpo. E nós não estamos aqui para isso.

O carro parou em frente ao prédio, onde homens bem-vestidos e mulheres em trajes elegantes entravam e saíam sem chamar atenção.

A fachada brilhante escondia o verdadeiro propósito do lugar – mas Valentina sentia a tensão. Algo naquela noite parecia mais arriscado que o normal.

– Qual é o plano? – perguntou Nico, enquanto saíam do veículo.

– Entramos, encontramos Lorenzo ou quem quer que esteja operando lá dentro, e fazemos o necessário para arrancar respostas – disse Valentina, enquanto ajeitava o longo casaco preto. Sob ele, sua pistola estava pronta, mas bem oculta. – Sem alarde, se possível. Mas preparados para o contrário.

O saguão do Aurora Prime era impressionante. Lustres modernos pendiam do teto de mármore branco, e os sons abafados de passos elegantes e conversas discretas preenchiam o ambiente.

Valentina e Nico se misturaram ao fluxo de pessoas, suas roupas elegantes os tornando indistinguíveis dos outros convidados.

No balcão principal, um recepcionista com um sorriso impecável os cumprimentou.

– Boa noite. Como posso ajudá-los? – perguntou ele, lançando um olhar avaliador.

Valentina deu um sorriso frio, deslizando um cartão preto sobre o balcão. O cartão era fruto do trabalho rápido de um de seus hackers, um clone de um acesso legítimo.

– Temos uma reunião no Eclipse – disse ela com naturalidade, os olhos fixos no recepcionista.

Ele examinou o cartão por um momento antes de entregar a eles dois crachás dourados.

– Últimos andares. Elevador à esquerda – indicou ele.

Valentina pegou os crachás, agradecendo com um leve aceno de cabeça, e seguiu em direção ao elevador com Nico logo atrás.

– Fácil demais – murmurou Nico, enquanto as portas do elevador se fechavam.

– Eu sei – respondeu Valentina, apertando o botão do último andar. – E isso é exatamente o que me preocupa.

Quando as portas do elevador se abriram, Valentina sentiu a mudança imediata.

O ambiente do Eclipse era uma combinação de luxo e sigilo absoluto. O espaço era decorado com móveis contemporâneos, cores sóbrias e iluminação suave.

Homens e mulheres conversavam em pequenos grupos, trocando sorrisos que não alcançavam os olhos.

Havia um bar elegante em um canto, onde garrafas de bebidas raras brilhavam sob a luz dourada.

No centro, uma escada em espiral de vidro levava ao andar superior. Valentina e Nico seguiram adiante, seus passos ecoando suavemente no chão polido. Ela sabia que estavam sendo observados, mesmo que não conseguisse identificar os olhos que os vigiavam.

– Eles sabem que estamos aqui – sussurrou Nico.

– Claro que sabem. Agora é uma questão de tempo até alguém vir até nós – respondeu Valentina, ajustando o crachá no casaco.

Como previsto, não demorou muito.

Um homem alto e de aparência austera aproximou-se. Ele vestia um terno perfeitamente ajustado e tinha o tipo de postura que sugeria tanto poder quanto perigo.

– Senhores – disse ele, com um leve sorriso. – Não me lembro de ter visto vocês antes. Primeira vez no Eclipse?

Valentina retribuiu o sorriso com uma serenidade que mascarava sua tensão.

– Sim. Fomos convidados por um amigo. Ele disse que seria um lugar interessante para fazer... conexões.

O homem inclinou a cabeça, avaliando-a com olhos afiados.

– Conexões são nossa especialidade. Por favor, sigam-me.

Ele os conduziu até um pequeno salão privado, onde os sons do andar principal se dissiparam. Lá dentro, havia apenas uma mesa de madeira escura e um conjunto de cadeiras.

Assim que entraram, a porta foi fechada atrás deles, e dois guardas apareceram, posicionando-se nos cantos da sala.

Valentina sentou-se, cruzando as pernas com confiança. Nico permaneceu de pé, alerta.

– Então – começou Valentina. – Quem está no comando aqui? Quero falar com Lorenzo.

O homem sorriu levemente, mas não respondeu imediatamente. Ele caminhou até a mesa, apoiando-se nela com as mãos.

– Lorenzo. Um nome que poucos ousam mencionar. Você tem coragem, eu admito.

– Coragem é a única moeda que importa nesse jogo – respondeu Valentina. – E eu trouxe o bastante para lidar com quem quer que esteja tentando cruzar o meu caminho.

O homem riu suavemente.

– Não sei se você entende no que está se metendo. Lorenzo é apenas uma sombra, mas as ações dele reverberam em toda a cidade. Ele prefere operar nas margens, mas talvez... talvez você seja interessante o suficiente para merecer uma audiência.

Ele se endireitou e fez um sinal para os guardas.

– Esperem aqui. Vou ver o que posso fazer.

Assim que ele saiu, Nico se aproximou, a expressão séria.

– Estamos andando na corda bamba, Val. Isso pode ser uma armadilha.

– Pode – admitiu ela. – Mas ficar sem respostas é mais perigoso do que qualquer armadilha.

Quando o homem voltou, ele trouxe consigo uma figura inesperada: uma mulher de cabelos loiros curtos, vestindo um blazer branco impecável. Sua presença era marcante, quase magnética.

– Meu nome é Clara – disse ela, sentando-se diante de Valentina. – Represento os interesses de Lorenzo. Ele prefere observar à distância, mas confio que posso responder às suas... inquietações.

Valentina estreitou os olhos, avaliando Clara.

– Então vamos direto ao ponto. Lorenzo está interferindo nos meus negócios. Quero saber por quê.

Clara sorriu, mas seus olhos permaneceram frios.

– Interferir? Não diria isso. Lorenzo enxerga potencial em você, Valentina. Ele quer oferecer... oportunidades.

– Não trabalho para ninguém – cortou Valentina. – E não pretendo começar agora.

Clara inclinou-se para frente, o tom de voz ficando mais baixo.

– Talvez você devesse reconsiderar. Há forças maiores do que você imagina operando nessa cidade. Resistir pode ser... custoso.

Valentina manteve a calma, mas por dentro sentia a raiva crescendo.

– Se Lorenzo acha que pode me intimidar, está cometendo um erro.

Clara riu levemente e recostou-se na cadeira.

– Considere isso um aviso, Valentina. A próxima vez que nos encontrarmos, pode não ser tão amigável.

A tensão na sala era palpável.

Mas antes que Valentina pudesse responder, Clara levantou-se, indicando que a conversa havia terminado. Ela saiu sem olhar para trás, deixando Valentina e Nico sozinhos.

De volta ao carro, Valentina refletia sobre tudo o que havia acontecido. Lorenzo não era apenas um jogador, mas alguém que claramente acreditava ter controle absoluto.

Clara, embora apenas uma intermediária, havia deixado claro que aquele era apenas o começo de algo muito maior.

– E agora? – perguntou Nico.

Valentina olhou para ele, os olhos brilhando com determinação.

– Agora, vamos descobrir quem realmente está no comando. E quando encontrarmos Lorenzo... ele vai aprender o que significa cruzar o meu caminho.

O jogo estava apenas começando, e Valentina estava pronta para jogar.

...

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