O real motivo

Após o término das aulas, nos reunimos no pátio da escola. Enquanto aguardávamos todos chegarem, meus pensamentos continuavam fixos no que havia acontecido entre mim e Kevin. A tensão do momento ainda pairava no ar, e eu tinha certeza de que ele também estava refletindo sobre aquilo.

Minha introspecção foi interrompida por Matt, que surgiu com uma ideia empolgada:

— O que acham de irmos à Boate Eclipse hoje? — sugeriu, com um sorriso travesso.

Meu coração disparou. Era lá perto que eu havia sido atacada no ano passado. Desde então, nunca mais voltei. Talvez fosse a oportunidade de encarar aquele lugar novamente.

— Péssima ideia — declarou Kevin, sem hesitar, seu tom carregado de firmeza.

— Eu discordo — retruquei, cruzando os braços e fazendo um leve biquinho. — Quero sair e me divertir. Prometi que esse ano seria diferente, lembra? E você prometeu que não seria um chato.

Kevin desviou o olhar, ponderando. Eu sabia que, no fundo, ele acabaria cedendo. Ele sempre cedia.

— Vamos lá, Kevin! Até a Ayara tá querendo ir. Não seja o estraga-prazeres da vez — incentivou Matt, dando um leve tapa no ombro dele.

Depois de alguns segundos de hesitação, Kevin finalmente me puxou para seus braços, apertando-me contra ele com um sorriso de rendição.

— Tudo bem, nós vamos. Mas só se você ficar assim comigo a noite toda — declarou com uma voz rouca, que soava mais como um desafio.

— Talvez... Vou pensar no caso — provoquei, tentando parecer indiferente.

Matt comemorou, enquanto Amanda mantinha-se impassível. Não parecia animada com a ideia, e eu sabia exatamente o porquê. Ela ainda estava chateada por eu tê-la evitado nos últimos dias. Mas isso não me incomodava. Ela merecia. Ninguém mandou tocar em assuntos tão delicados sem pensar nas consequências.

— Mas sério, gente... Vamos mesmo? — questionou Amanda, seu tom carregado de deboche.

Eu já esperava esse tipo de atitude. Antes que Kevin pudesse me impedir, levantei-me abruptamente.

— Se você for mencionar o que aconteceu no ano passado, é melhor ficar calada, Amanda. Ou juro que faço você se arrepender disso — avisei, minha voz firme, quase cortante.

Stacey tentou intervir, sua expressão aflita.

— Calma, pessoal... Não precisamos brigar.

Otávio, ao lado dela, a puxou para perto, indicando com o olhar que ela não deveria se meter. Pela primeira vez, ele estava certo.

Amanda levantou-se, encarando-me de frente, a voz carregada de provocação.

— Qual o problema, Ayara? Você tá se fazendo de vítima há meses. Ninguém mais aguenta isso. Qualquer assunto vira tabu perto de você, como se o mundo tivesse que girar ao seu redor!

Kevin se remexeu, claramente desconfortável, mas não interferiu. Ele sabia que eu precisava lidar com aquilo sozinha.

— Eu sei por que você insiste tanto em me provocar, Amanda. Mas não vou expor você aqui... a menos que insista. — Sorri de canto, encarando-a diretamente.

O silêncio caiu como um peso sobre o grupo. Amanda hesitou, mas não recuou.

— Tá se achando poderosa, Ayara? Então fala. Diz logo o que você acha que sabe — desafiou, sua postura rígida.

Eu me aproximei dela, um sorriso frio nos lábios. Antes que Kevin pudesse me segurar, empurrei Amanda levemente para trás.

— Eu sei o que você fez enquanto eu estava internada, lutando para me recuperar. Sei que você foi atrás do Kevin, dizendo que ele deveria me deixar, que ele não precisava sofrer comigo. — Minhas palavras saíram como dardos, cada uma atingindo seu alvo.

Todos ficaram imóveis, processando o que ouviram. Amanda cambaleou para trás, sem palavras. Kevin não parecia surpreso; ele havia me contado tudo, mas me fizera prometer não criar confusão.

— Isso é verdade? — perguntou Stacey, incrédula, olhando para Amanda como se a visse pela primeira vez.

Matt levantou-se sem dizer nada e saiu, deixando o ambiente ainda mais carregado. Otávio e Stacey não souberam o que fazer, enquanto Amanda permanecia no chão, sem reação.

Kevin, no entanto, tomou o controle da situação. Ele me segurou firme pelos braços e, sem pedir permissão, começou a me arrastar para fora.

— Já chega por hoje, Ayara — disse, sua voz baixa, mas autoritária.

Eu não resisti. Ainda tremia de raiva, mas sabia que ele estava certo. Havia limites que não deveriam ser cruzados, e eu já havia passado do meu.

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