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Capítulo 1:

Nos primeiros dias, pensei que seria apenas uma fuga temporária, uma distração da minha realidade pesada e sufocante. Não sabia que, ao entrar naquela biblioteca velha e empoeirada, encontraria algo mais do que apenas livros e solidão. Quando vi Jonas pela primeira vez, ele parecia apenas uma presença desconhecida, mas, à medida que os dias passavam, ele se tornou algo mais. Alguém a quem eu me agarrava para escapar da minha vida controlada, uma vida em que eu não tinha escolhas.

Eu voltei àquela biblioteca no dia seguinte. E no outro também. Era o único lugar onde eu me sentia livre, mesmo que fosse apenas por algumas horas. Jonas nunca me julgava, nunca me olhava com os mesmos olhos temerosos que todos os outros tinham. Para ele, eu era apenas Liam, e não o ômega que estava preso a Dante De Luca. Ele não sabia de nada. E essa ignorância era a minha fuga.

Nos primeiros dias, as conversas foram curtas, superficiais. Começamos a falar sobre os livros que ele estava lendo e os que eu costumava gostar. Eu disse a ele que adorava histórias de mistério, mas logo percebi que ele tinha um gosto diferente. Ele gostava de ficção científica, filosofia e até poesia. Era estranho, mas ao mesmo tempo fascinante. Eu nunca tinha conversado sobre nada disso com ninguém. Eu sempre estive ocupado demais tentando lidar com o que Dante esperava de mim, com as pressões de ser a peça de um jogo muito maior do que eu mesmo.

Eu me sentava ao seu lado, ouvindo-o falar sobre os mundos que ele via nos livros, sobre as ideias que ele discutia com seus próprios pensamentos. E eu... eu ouvia. Às vezes, parecia que o resto do mundo desaparecia enquanto estávamos ali, entre as estantes empoeiradas, onde o tempo se arrastava mais lentamente, como se não houvesse pressa para nada.

Jonas me fazia esquecer, por breves momentos, que meu destino já estava selado. Que Dante me tinha como seu e não havia mais nada que eu pudesse fazer para mudar isso. Durante o tempo que passei com Jonas, comecei a perceber algo. Ele era diferente. Talvez, mais do que eu imaginava, ele era uma fuga de mim mesmo. Algo que me fazia questionar o que eu queria para minha vida.

No quarto dia, Jonas fez uma pergunta que me pegou de surpresa.

— Por que você vem aqui todos os dias? — ele perguntou com um sorriso curioso, os olhos dele observando minha expressão. Eu estava lendo um livro que ele me recomendara, e ele estava sentado na mesma cadeira velha de sempre, os pés descalços tocando o chão frio.

Fiquei em silêncio por um momento, tentando encontrar uma resposta que não soasse como uma mentira. Mas, para minha surpresa, eu não conseguia mais esconder a verdade de mim mesmo. Eu vinha aqui todos os dias porque, por algum motivo, ele me fazia sentir... normal.

— Para fugir de tudo — eu disse finalmente, olhando para o livro em minhas mãos, embora não estivesse realmente lendo. Eu apenas precisava dizer aquilo em voz alta, para que ficasse claro para mim também. Eu fugia de Dante, das obrigações, da vida que estava me sendo imposta.

Jonas olhou para mim por um momento, seu sorriso suave, mas seus olhos estavam mais atentos, mais sérios agora. Ele parecia entender, mas não fez muitas perguntas. Ele apenas disse:

— Todos precisamos de um lugar para fugir, às vezes.

Eu sorri, sentindo-me mais leve. Ele não estava me pressionando para contar mais. Ele não queria saber mais do que eu estava disposto a dizer. E naquele momento, foi tudo o que eu precisei.

No quinto dia, comecei a relaxar mais. Quando entrei na biblioteca, vi que Jonas já estava lá, sentado em um canto, mas desta vez, ele não estava com um livro nas mãos. Ele estava apenas olhando pela janela, como se estivesse perdido em seus próprios pensamentos. Eu me aproximei dele, e ele me deu um sorriso tímido quando percebeu minha presença.

— O que está fazendo? — perguntei, curioso.

Ele deu de ombros, ainda com aquele olhar distante.

— Pensando. Às vezes é mais fácil pensar em silêncio, você sabe?

Eu me sentei ao seu lado, confortável, sem pressa de conversar, apenas aproveitando a companhia. O tempo passava devagar, como sempre fazia ali. Eu me sentia mais em paz do que em qualquer outro lugar da mansão. Durante aquele momento, eu não era apenas o ômega de Dante. Eu era Liam, um nome simples, que não carregava todo o peso do mundo.

No décimo dia, as conversas começaram a se aprofundar. Eu estava começando a confiar mais em Jonas, embora nunca tivesse dito a ele quem eu realmente era. Nunca revelei a verdade sobre meu casamento, sobre minha vida com Dante. Eu não queria que ele visse a mim da mesma forma que todos os outros, como uma peça em um jogo sujo de poder e controle.

— Você nunca falou sobre sua vida — Jonas disse certa vez, enquanto folheava um livro que estava na minha mesa. Ele parecia genuinamente interessado, como se realmente quisesse saber mais sobre mim.

Eu hesitei. Não sabia o que responder. A verdade era simples: minha vida era uma mentira. Eu não tinha escolha. Mas, por algum motivo, eu não queria que ele soubesse disso. Não queria que ele me visse como vítima, como o ser quebrado que eu me sentia ser.

— Não há muito o que dizer — foi tudo o que eu disse.

Jonas me olhou com aqueles olhos que pareciam ver mais do que eu queria mostrar. Mas ele não forçou. Apenas sorriu novamente e voltou a ler seu livro.

Nos dias que se seguiram, a convivência com Jonas se tornou um alicerce para mim. Cada dia que eu passava na biblioteca, conversando com ele, sentia que ganhava um pouco de força para lidar com a realidade de minha vida. Mas também percebia que me apegava a ele de maneiras que eu não deveria. Eu sabia que não poderia continuar me escondendo para sempre, que havia uma vida, um futuro, esperando por mim lá fora, fora da biblioteca e fora do mundo tranquilo que Jonas oferecia.

Mas, por enquanto, isso não importava. Enquanto estivesse ali, com ele, eu poderia esquecer quem eu realmente era e o que estava prestes a acontecer com minha vida.

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