Capítulo 4: Correntes Invisíveis
(Liam)
A recepção está lotada. O salão é opulento, com lustres de cristal pendendo do teto alto e mesas adornadas com flores brancas e douradas. Cada detalhe grita riqueza e poder, um lembrete constante de onde eu estou preso agora.
As pessoas falam, riem e brindam em celebração, mas para mim, cada som é como um grilhão apertando mais minha liberdade. Dante está ao meu lado, como sempre, sua presença sufocante. Ele não se afasta nem por um segundo, como se temesse que eu pudesse desaparecer no ar.
— Sorria, Liam — ele murmura enquanto segura minha cintura, puxando-me para mais perto. — Todos estão nos observando.
Minha mandíbula se aperta, mas faço o que ele diz. É um sorriso falso, vazio, mas parece ser o suficiente para ele.
— Bom garoto — ele diz, a voz grave carregada de algo que faz minha pele arrepiar, e não de uma forma boa.
Os convidados vêm até nós, um após o outro, oferecendo seus cumprimentos e elogios. Falam sobre como somos "um belo casal" e como essa união é "estratégica". Mal consigo responder; Dante cuida de tudo, sua voz autoritária e carismática dominando a conversa.
Minha mãe passa por nós, acompanhada do meu pai. Seus olhos encontram os meus por um breve momento, mas ela desvia rapidamente, como se não pudesse suportar o que vê. Meu pai, por outro lado, parece satisfeito, conversando animadamente com outros membros da família De Luca.
Sinto minha garganta apertar.
— Vamos sair daqui — Dante diz de repente, puxando-me pela mão.
— O quê? — pergunto, minha voz mais alta do que pretendia.
Ele me lança um olhar, e a intensidade em seus olhos me cala imediatamente. Sem outra palavra, ele me guia para fora do salão, atravessando portas duplas que levam a um terraço.
O ar noturno é fresco, mas não traz o alívio que eu esperava. Dante me solta, mas permanece próximo, seu olhar nunca saindo de mim.
— O que você quer? — pergunto, cruzando os braços, tentando criar alguma distância entre nós.
Ele não responde imediatamente. Em vez disso, avança lentamente, como um predador aproximando-se de sua presa.
— Quero entender por que você ainda resiste a isso. — Sua voz é baixa, quase gentil, mas há uma firmeza subjacente que me deixa inquieto. — Você realmente acha que pode escapar de mim, Liam?
— Eu não sou algo que você pode possuir, Dante.
Ele ri, um som profundo e incrédulo.
— Não? Então me diga, o que você é? Um rebelde? Um sonhador? — Ele balança a cabeça, um sorriso frio nos lábios. — Você pode lutar contra isso o quanto quiser, mas no final, você é meu.
Minha raiva explode antes que eu possa me conter.
— Eu nunca serei seu. Você pode ter me arrastado até esse altar, mas nunca terá meu coração, nunca terá...
Ele interrompe, segurando meu rosto com uma mão firme, mas cuidadosa.
— Isso não é sobre o que você quer, Liam. É sobre o que nós somos. Você pode negar tudo o que quiser, mas não pode escapar do que está entre nós.
Seus olhos me prendem, e por um momento, sinto uma mistura confusa de emoções — raiva, medo, e algo que me recuso a reconhecer.
Ele me solta, mas o peso de suas palavras permanece.
— Vá para o nosso quarto quando estiver pronto. A noite ainda não acabou.
Ele se vira e entra no salão, deixando-me sozinho no terraço.
Sozinho, mas ainda preso.
Abracei o corrimão do terraço com força, o vento frio batendo contra meu rosto. A liberdade parecia tão perto e, ao mesmo tempo, tão impossível.
Eu preciso encontrar um jeito. Antes que seja tarde demais.
Fiquei no terraço por mais tempo do que deveria, permitindo que o vento frio aliviasse o calor da raiva e do desespero que queimava dentro de mim. Lá dentro, eu sabia que Dante estava esperando. Não importava o que eu quisesse, o que eu sentisse, ele sempre estaria lá, com seus olhos predadores e sua presença sufocante.
Quando finalmente entrei novamente no salão, a recepção já havia começado a se esvaziar. Alguns convidados ainda circulavam, mas o foco havia mudado. Eu era agora o assunto sussurrado nos cantos, o ômega que ousava resistir ao poderoso Dante De Luca.
Fui direto para o quarto designado para mim — nosso quarto, como Dante havia chamado. A ideia me fazia encolher por dentro.
Fechei a porta atrás de mim e olhei ao redor. O quarto era luxuoso, decorado com tons quentes de dourado e marrom. A cama enorme parecia um trono, coberta com lençóis de seda e almofadas bordadas. Mas, para mim, era uma cela.
Sentei-me na beira da cama, o silêncio me envolvendo como um cobertor pesado. As lágrimas começaram a escorrer antes que eu pudesse contê-las. Meu corpo tremia enquanto os soluços escapavam, baixos e cheios de angústia.
Eu não queria estar ali. Eu não queria isso. Tudo em mim gritava para sair, fugir, mas cada porta estava trancada, não com chaves físicas, mas com o peso de Dante, de sua influência, de sua obsessão.
A porta do quarto se abriu, e eu sabia quem era antes mesmo de olhar.
Dante entrou, fechando a porta atrás de si com cuidado. Ele parecia mais relaxado, sem o peso do público ao redor, mas sua presença ainda era esmagadora. Ele me encontrou ali, na cama, com o rosto molhado de lágrimas.
Ele parou, seus olhos escurecendo enquanto me observava.
— Você está chorando? — Sua voz era baixa, quase um sussurro, mas carregava um tom de incredulidade que cortou o ar como uma faca.
Desviei o olhar, tentando limpar meu rosto, mas era inútil. As lágrimas continuavam caindo.
— Me deixe em paz, Dante. Por favor...
Por um momento, ele não disse nada. Apenas me observou. Eu podia sentir a luta dentro dele, a tensão entre seu desejo de me dominar e algo mais que ele provavelmente não queria reconhecer.
Então, inesperadamente, ele deu um passo para trás.
— Eu não quero te machucar, Liam. — Sua voz tinha uma suavidade que eu não esperava, mas ainda assim, sua presença me mantinha em alerta. — Eu pensei que isso fosse difícil para você, mas não... assim.
Eu o encarei, confuso. Ele parecia diferente, quase humano por um instante.
— Se for para te ver assim, não vale a pena.
Ele suspirou, passando uma mão pelo cabelo, um gesto que parecia mais exasperação do que qualquer outra coisa.
— Eu não vou te forçar a nada. Não hoje.
Dante deu meia-volta, caminhando em direção à porta. Antes de sair, ele parou e olhou para mim por cima do ombro.
— Mas saiba de uma coisa, Liam. Você é meu. E vou provar isso para você de uma forma que você nunca possa negar.
Ele saiu, fechando a porta com cuidado atrás de si.
Sozinho novamente, soltei um suspiro trêmulo, minha mente girando com o que ele havia dito.
Eu ainda estava preso, mas, por uma noite, pelo menos, a batalha estava adiada. O alívio que senti foi breve, ofuscado pela certeza de que isso não era o fim. Apenas o começo.
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Comments
Clesiane Paulino
difícil quando não podemos ter escolhas 😥
2025-01-30
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