Capítulo 2: Destino e Obsessão
Liam não entende. Ele não vê o que vejo. Não sente o que sinto.
Enquanto me afasto do quarto, onde o deixei trancado, minha mente está inquieta, mas meu coração está tranquilo. Ele pode gritar, lutar, até me odiar. Isso não importa. Porque amanhã, ele será meu, da forma como sempre foi destinado a ser.
Caminho pelos corredores da mansão com passos firmes, ignorando os olhares furtivos dos empregados. Eles sabem que não devem se meter. Sabem que Liam é intocável, que qualquer um que ousar intervir será tratado como uma afronta pessoal.
— Dante.
A voz de meu pai ecoa pelo salão principal, cortante e fria como uma lâmina. Eu paro, respiro fundo, e me viro. Ele está lá, sentado em sua poltrona de couro, com o mesmo olhar impenetrável que moldou minha infância. Giovanni De Luca. O homem que construiu um império com mãos de ferro e uma mente implacável.
— Pai. — Meu tom é respeitoso, mas firme. Não vou abaixar a cabeça, mesmo que ele seja o único homem que já me fez questionar minhas escolhas.
Ele gesticula para que eu me aproxime. Faço isso, mantendo minha postura ereta, minha determinação clara.
— Sente-se, Dante. Precisamos conversar.
Eu obedeço, sentando-me na cadeira à sua frente. Ele me encara por um longo momento, como se estivesse tentando medir minha alma.
— Sobre Liam? — pergunto, direto.
Ele assente lentamente, inclinando-se para frente.
— Você está prestes a cometer o maior erro da sua vida.
Eu rio baixo, sem humor.
— Não vejo como.
— Não seja tolo. — Sua voz carrega o peso da autoridade que moldou toda a minha vida. — Você é o sucessor desta família. Tudo o que fiz foi para garantir que os De Luca continuassem no topo. E agora, você quer jogar isso fora por causa de um ômega sem recursos, sem conexões, sem valor político.
Minha mandíbula se contrai, mas eu mantenho meu tom controlado.
— Liam tem valor.
— O valor que você atribuiu a ele. — Ele bate com a palma da mão na mesa entre nós, a madeira ecoando com o impacto. — Isso não é sobre amor ou destino, Dante. É sobre poder. Um casamento estratégico com outra família fortaleceria nossa posição. Mas você prefere seguir essa obsessão, como se fosse um garoto apaixonado e não o líder que eu criei para ser.
Eu me inclino para frente, enfrentando seu olhar.
— Não é uma obsessão, pai. É convicção. Desde o momento em que vi Liam pela primeira vez, eu soube que ele seria meu. Não importa se ele nasceu em uma família vassala ou se o mundo acha que ele não tem valor. Ele tem valor para mim.
Meu pai me observa por um longo tempo, seus olhos analisando cada palavra minha. Finalmente, ele se recosta na cadeira, soltando um suspiro pesado.
— Eu deveria forçar você a desistir disso. — Sua voz está mais baixa, quase cansada. — Mas sei que não adiantaria. Você é meu filho, afinal. Quando decide algo, não há quem o faça mudar de ideia.
— Exatamente.
Ele balança a cabeça, resignado.
— Muito bem, Dante. Faça o que quiser. Case-se com ele. Mas saiba que isso terá um preço. Outras famílias nos verão como fracos, seus aliados questionarão sua liderança.
Eu me levanto, meu olhar firme.
— Se alguém questionar minha liderança, eu os farei lembrar por que os De Luca estão no topo.
Meu pai sorri levemente, aquele sorriso frio e calculista que tantas vezes vi em situações de vitória.
— Espero que você esteja certo, meu filho. Pelo bem de todos nós.
Saio do salão, deixando meu pai para trás. Ele não entende, assim como Liam. Mas ele verá, assim como todos os outros.
Porque amanhã não é apenas o dia do meu casamento. É o dia em que eu finalmente reivindicarei o que sempre foi meu. E ninguém — nem meu pai, nem o mundo — vai me impedir.
Subi as escadas em silêncio, meus passos ecoando levemente pelos corredores vazios. As luzes estavam baixas, lançando sombras pelas paredes e pelos detalhes dourados das molduras. A mansão estava quieta, mas minha mente não.
Quando cheguei à porta do quarto de Liam, hesitei por um momento, algo que raramente fazia. Pousei a mão na maçaneta e a girei devagar, abrindo a porta apenas o suficiente para espiar para dentro.
Liam estava deitado na cama, a cabeça virada para o lado, seu corpo encolhido em uma posição que parecia quase defensiva. A luz da lua entrava pela janela aberta, iluminando seu rosto.
E foi então que eu vi.
Seus olhos estavam inchados, as pálpebras pesadas de quem havia chorado até o sono chegar. As lágrimas ainda brilhavam em suas bochechas, rastros silenciosos de sua dor.
Meu peito apertou de uma maneira que eu não sabia descrever. Era desconfortável, quase irritante, como se algo dentro de mim estivesse tentando resistir a um sentimento que eu não queria nomear. Ele era tão pequeno, tão frágil naquela cama imensa, que parecia um pássaro preso em uma gaiola dourada.
Eu me aproximei devagar, sem fazer barulho, e parei ao lado da cama. Por um momento, apenas observei. Suas sobrancelhas ainda estavam franzidas, mesmo dormindo, como se estivesse preso em um pesadelo do qual não conseguia escapar.
— Você não entende, Liam — murmurei baixinho, minha voz quase um sussurro. — Tudo isso é para você. Para nós.
Minha mão se levantou, hesitante, antes de pousar levemente em sua cabeça. Eu deslizei os dedos pelos seus cabelos negros, tão macios quanto me lembrava. Ele se mexeu levemente, mas não acordou.
— Desde o dia em que te vi naquele jardim, você se tornou meu mundo. — Minha voz saiu mais rouca, carregada de um peso que nem eu sabia que carregava. — E eu sei que você me odeia agora, mas isso vai mudar. Eu vou fazer você entender.
Fiquei ali por mais alguns minutos, apenas olhando para ele, a sensação de controle absoluto misturada com algo que parecia... vulnerabilidade. Liam mexia com algo em mim, algo que eu não queria admitir, mas que estava lá, enterrado sob camadas de orgulho e obsessão.
Finalmente, me endireitei e dei um passo para trás. Eu não podia deixá-lo perceber que eu tinha estado ali. Ele não estava pronto para isso. Não ainda.
Saí do quarto, fechando a porta com cuidado. Amanhã era o dia que eu esperei minha vida inteira. E, mesmo que ele chorasse agora, eu sabia que com o tempo, ele entenderia.
Liam era meu. Sempre foi. E, amanhã, o mundo todo saberia disso.
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Comments
Clesiane Paulino
eu sei que é cruel forçar alguém... mas o amor de Dante por Liam é algo surreal🥹🥹🥹
2025-01-30
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