Damien me apresentou como Lyria de Varynn, uma nobre de um clã fictício cuja reputação, segundo ele, era impecável, mas há muito esquecida na vastidão dos territórios Lycans. Eu odiava aquele nome. Não soava como eu, não combinava com minha essência rebelde, mas era parte do jogo que agora jogávamos juntos.
O vestido que ele havia escolhido para mim, um tecido vermelho profundo, ajustado à cintura e de ombros descobertos, parecia mais uma armadilha do que uma roupa. Cada passo que eu dava com aquilo me fazia sentir exposta, vulnerável, e, para piorar, o tecido abraçava meu corpo de uma forma que atraía olhares. Olhares que eu queria evitar.
O salão do castelo era imenso, adornado com tapeçarias antigas e tochas que dançavam sob o vento fraco. Cada canto parecia uma lembrança da história de ferro e sangue dos Lycans. Eu me sentia um peixe fora d’água naquele lugar.
Damien caminhava ao meu lado, a postura firme e arrogante. Ele parecia pertencer ali — um alfa no seu ambiente natural. Ao contrário de mim, que era como uma presa no meio de predadores.
— Sua Majestade, o Rei Lycan — anunciou um servo ao fundo.
O salão inteiro ficou em silêncio enquanto todos se curvavam em deferência. Incluindo Damien. Eu, no entanto, permaneci de pé, tensa, os braços cruzados.
— Lyria — sussurrou Damien, de forma que apenas eu ouvisse. — Curvem-se ou será o seu pescoço.
Com relutância, cedi. Não queria dar mais motivos para aqueles Lycans desconfiarem de mim.
Quando levantei o olhar, o rei já estava diante de mim. Ulfric, o Rei Lycan, era um homem imponente. Seus olhos dourados brilhavam com uma intensidade predatória, e sua barba grossa lhe conferia um ar mais selvagem do que eu imaginava para um monarca. Ele me analisava como um lobo que avaliava sua próxima refeição.
— E quem é essa… figura curiosa que você trouxe até meu salão, Damien?
— Esta é Lady Lyria de Varynn — Damien começou, sua voz envolta em uma cortesia ensaiada. — Uma aliada valiosa para nossa causa, com habilidades que merecem sua atenção.
Alric arqueou uma sobrancelha, o interesse cintilando em seus olhos. Ele deu um passo à frente, o cheiro de madeira e ferro vindo de sua pele. Eu sabia que ele podia me sentir. Não importava o disfarce que Damien inventasse, o Rei Lycan com certeza conseguia captar meu cheiro — e isso significava que ele sabia que eu era uma ômega.
— Interessante — Alric murmurou, inclinando-se ligeiramente. — Uma ômega, Damien? E você acha que ela pode ser valiosa?
A tensão no ar era palpável. Não ousei desviar o olhar, mesmo quando minha garganta apertou.
— Não subestime minha escolha, Majestade — Damien respondeu, com a confiança que sempre o acompanhava. — Lyria é muito mais do que aparenta. E sua presença será recorrente neste castelo, caso o senhor precise de algum tempo para se acostumar.
O rei riu, um som grave que ecoou pelo salão.
— Você sempre teve um gosto peculiar, Damien.
Ele se aproximou mais, agora falando diretamente comigo.
— E você, Lyria, sabe o que significa estar entre nós? Sabe o que fazemos com os fracos que se infiltram em nossas fileiras?
Minhas mãos estavam fechadas em punhos sob o vestido, mas mantive a postura firme.
— Não sou fraca, Vossa Majestade — respondi. — E não sou uma presa fácil, caso isso seja o que procura.
Por um momento, pensei ter ido longe demais. O rei estreitou os olhos, mas sorriu, revelando dentes afiados.
— Gosto dela — ele declarou, voltando-se para Damien. — Mas espero que tenha certeza absoluta de que ela não será um problema. Porque, se for, você sabe o que acontecerá.
Damien fez uma leve reverência, mas eu podia sentir a tensão em seu corpo.
Assim que o rei se afastou, Damien me guiou para fora do salão, para longe dos olhos curiosos da corte. Estávamos sozinhos em um corredor escuro, onde as tochas iluminavam fracamente as paredes de pedra.
— Por que você me trouxe aqui, Damien? — perguntei, cruzando os braços. — Sabe muito bem que minha presença só vai atrair atenção.
Ele me olhou, os olhos brilhando no escuro, um sorriso cansado no rosto.
— Precisamente por isso, minha pequena ômega — ele disse, a voz suave, mas carregada de um tom misterioso. — Eles precisam se acostumar com você. A sua presença aqui será importante nos próximos passos.
— Importante como?
Damien se aproximou, seus dedos tocando meu rosto de leve, mas eu me afastei rapidamente.
— Você é parte do plano — ele disse, sem se importar com minha resistência. — O Lycan King precisa de uma distração, algo para mantê-lo ocupado enquanto o resto se desenrola. E você é perfeita para isso.
— E por que exatamente eu sou "perfeita"? — perguntei, minhas palavras carregadas de sarcasmo.
Damien hesitou por um momento, mas então sorriu. Um sorriso cheio de segredos que eu ainda não havia desvendado.
— Porque, Kaela, o rei será envenenado.
Meu coração acelerou, e por um instante, fiquei sem palavras.
— Envenenado? — repeti.
— Lycans não são invencíveis — ele explicou, inclinando-se para perto, como se estivesse compartilhando um segredo proibido. — O veneno certo pode desacelerar suas habilidades de cura, torná-los fracos, vulneráveis. Isso nos dá tempo.
— Tempo para o quê?
Damien se afastou, os olhos fixos em mim como se avaliasse minha reação.
— Tempo para derrubar um rei.
Eu o encarei, meu peito subindo e descendo enquanto eu lutava para processar o que ele havia acabado de revelar.
— E onde eu entro nisso? — perguntei.
Ele deu um passo à frente, mais perto do que eu gostaria, sua presença dominando o espaço ao meu redor.
— Você estará na corte, Kaela. Sempre à vista. Sempre desafiando as expectativas. E enquanto eles estiverem ocupados tentando entender você, o resto do plano se desenrola nas sombras.
Por um momento, não soube o que responder. Não sabia se o odiava mais por me colocar nessa situação ou por achar que eu seria tão previsível.
— Você me trouxe aqui para ser uma distração — murmurei, mais para mim mesma do que para ele.
Damien inclinou a cabeça, como se quisesse corrigir minhas palavras.
— Não apenas uma distração — ele disse, com um brilho nos olhos. — Você é o início do caos que precisamos para vencer.
Eu o encarei, o coração pesado com as implicações. Mas algo na forma como ele me olhava — confiante, calculista, mas, de algum modo, protetor — me fez hesitar.
— Isso é um jogo perigoso, Damien — sussurrei.
Ele sorriu, aquele sorriso de quem sempre sabe o próximo passo.
— É, sim — ele disse. — E é por isso que você está ao meu lado.
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Atualizado até capítulo 52
Comments
Rosimayre
Aí minha santa periquita e agora o que vai acontecer/Scream/
2024-12-03
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