A Ômega Rebelde
“Eu, Kellan, te rejeito como minha companheira."
Essas palavras me atingiram como garras atravessando minha carne. Meu lobo uivava em agonia, tentando compreender o que acabara de acontecer. A dor queimava, como se minha alma estivesse sendo arrancada do peito. Mas o olhar de Kellan, frio e resoluto, era ainda pior.
O alfa que o Conselho havia escolhido como meu companheiro tinha uma postura impecável e uma expressão cruelmente desinteressada. Ele não demonstrava arrependimento, sequer emoção. Para ele, eu não era boa o suficiente. Uma ômega rebelde não era digna de um alfa de sua estirpe.
Mas ele não sabia quem eu era.
Engoli a dor que ameaçava me consumir e me levantei, mesmo quando minha visão parecia turva. Os outros membros da minha matilha assistiam em silêncio, chocados demais para interferir.
— Você me rejeita? — perguntei, minha voz fria como gelo.
Kellan ergueu o queixo, a arrogância transbordando. — Sim. Você não serve para mim.
O silêncio no círculo era absoluto. Até mesmo o vento parecia ter parado, esperando o que aconteceria a seguir.
Eu me aproximei dele, cada passo carregado de desafio. Sentia a dor no fundo da alma, mas algo dentro de mim estava prestes a explodir. Quando fiquei cara a cara com ele, falei com uma clareza que fez minha voz ecoar na noite:
— Você me rejeita? Não. Eu te rejeito.
E antes que ele pudesse reagir, cuspi no rosto dele.
O ar pareceu se quebrar com murmúrios abafados. Kellan recuou, chocado, limpando o rosto com as costas da mão. Seus olhos estavam cheios de raiva, mas ele não disse nada.
Eu não esperei que ele respondesse. Virei as costas para ele e para a minha matilha, ignorando o burburinho ao meu redor. Eu podia sentir os olhares cravados em mim, mas não me importava. Minha decisão estava tomada. Eu iria embora.
***
Essa lembrança assombrava meus pensamentos enquanto eu lavava as mãos sujas de sangue no riacho gelado. Por mais que tentasse afastá-la, a cena sempre voltava, uma mistura de orgulho e dor. Cada passo que dei como nômade, cada batalha para sobreviver, tinha suas raízes naquele momento.
Eu não pertencia a ninguém.
E isso me definia.
O coelho que matei estava pendurado na minha mochila improvisada, mas eu sabia que ele não seria suficiente. Minha vida era uma sequência de dias sobrevivendo no limite, movida por uma determinação cega de provar que não precisava de alfas, companheiros ou matilhas. A liberdade tinha seu preço, e eu pagava cada moeda com cicatrizes.
Foi nesse momento, agachada perto do riacho, que os senti. O cheiro metálico de sangue, o aroma azedo da adrenalina.
Outro grupo de licantropos.
Três deles — dois alfas e um beta. Suas vozes eram baixas, mas eu conseguia captar algumas palavras. Estavam rastreando algo. Ou alguém.
"Pegamos o cheiro dela perto daqui," disse o maior. Sua cicatriz na mandíbula indicava que ele era veterano de muitas batalhas. "O Lycan King pagará bem por essa."
Meu estômago revirou. O rei. O nome dele corria como veneno pelas terras. Um alfa tirano que governava todas as matilhas com medo e violência.
Eu não sabia quem eles estavam caçando, mas sabia o suficiente para manter distância.
Sem fazer barulho, movi-me para longe, usando a água para mascarar meu cheiro. Mas o silêncio traiçoeiro da floresta foi quebrado pelo som de um galho estalando sob meu pé.
"Ei! O que foi isso?"
Meu coração disparou. Eu corri.
Podia ouvir os passos deles atrás de mim, a força de suas transformações ecoando pela floresta enquanto assumiam suas formas lupinas. Minha mochila batia contra minhas costas, pesada demais para uma fuga rápida. Com um grunhido, joguei o coelho longe.
"Por aqui!"
A floresta parecia fechar-se ao meu redor enquanto os galhos me arranhavam, mas eu continuei, minha respiração pesada misturando-se ao ritmo frenético do meu coração. Avistei uma abertura à frente: uma árvore caída formando uma passagem estreita. Sem pensar, me joguei por baixo dela, raspando os cotovelos na terra. Eles passaram direto, os uivos se distanciando.
"De novo não," murmurei para mim mesma, ofegante. Essa era a terceira vez em dois meses que quase fui pega. Talvez fosse hora de deixar essa região para trás.
***
Naquela noite, enquanto afiava minha faca no pequeno abrigo natural que encontrei, a dor familiar da rejeição voltou à mente. Parte de mim sempre se perguntava se Kellan algum dia se arrependeu. Se ele descobrira que, no fundo, sua rejeição havia sido a faísca para a minha libertação.
Eu não tinha respostas, mas sabia que não podia voltar atrás.
Então, ouvi um som. Um movimento sutil na entrada do abrigo.
Peguei a faca, o lobo dentro de mim rosnando em alerta.
— Saia — disse, minha voz baixa, mas firme.
A figura que apareceu era pequena e cambaleante. Um lobo filhote, mal conseguindo andar, com um dos lados coberto de sangue seco. Ele me olhou com olhos grandes e assustados antes de desabar.
Deixei a faca cair e corri até ele.
— Diabos... o que aconteceu com você?
Examinei suas feridas, percebendo que ele estava fraco, mas ainda respirava. Tinha marcas de mordida — sinais de que havia sido atacado por outros lobos.
— Você e eu temos mais em comum do que eu esperava, hein? — murmurei, enquanto rasgava minha camisa para fazer uma bandagem improvisada.
Eu não deveria me importar. Levar o filhote comigo seria um risco enorme. Mas algo nele me fez parar. Talvez fossem aqueles olhos, tão semelhantes aos de Taren, meu irmão mais velho, antes de morrer na guerra.
Naquela noite, enquanto o filhote dormia ao meu lado, percebi que algo estava mudando. Pela primeira vez em anos, havia algo — ou alguém — dependendo de mim.
E isso era assustador.
Mais assustador do que qualquer alfa que eu já tivesse enfrentado.
Eu achava que estava fugindo do meu passado, mas o destino é uma besta persistente. O que começou com um filhote ensanguentado marcaria o início de algo maior. Algo que eu ainda não estava pronta para encarar.
...KAELA...
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Atualizado até capítulo 23
Comments
Kerollen🌺
Kaela parece mais uma elfa do que uma loba.
2024-11-25
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