CAPÍTULO 3

A lua estava alta quando os senti pela primeira vez. O ar da noite ficou pesado, carregado com o cheiro de peles molhadas e sangue seco. Os lobos guardiões. Eu não sabia como tinham me encontrado tão rápido, mas era óbvio que eles estavam ali por um motivo: caça.

Ronan estava ao meu lado, carregando uma sacola de ervas que havíamos colhido ao longo do dia. A proximidade dele já era algo que eu tentava ignorar, mas, naquele momento, meu instinto de sobrevivência sobrepôs qualquer distração.

— Algo não está certo — murmurei, parando no meio do caminho.

Ronan franziu o cenho. — O que você...

O uivo cortou a noite antes que ele terminasse a frase. Era baixo, ameaçador, e fez os pelos da minha nuca se arrepiarem.

— Lobos guardiões — sibilei.

— Como você sabe?

— Eu sei. E você deveria correr.

Eu puxei minha faca do cinto e olhei ao redor, tentando localizar a origem do som. O vilarejo estava longe demais para pedir ajuda naquele momento. E, honestamente, eu duvidava que os aldeões tivessem chance contra o que estava vindo.

— Não vou deixar você sozinha, Kaela.

Eu me virei para encará-lo. — Você não tem escolha, Ronan. Isso não é a sua batalha.

— Talvez não seja, mas também não é só sua.

Antes que eu pudesse responder, um enorme lobo cinzento emergiu das sombras, seguido por outros dois. Seus corpos musculosos pareciam feitos de pedra, e os olhos brilhavam em um vermelho cruel. Presas brancas reluziam à luz da lua, e o ar parecia vibrar com o poder de suas presenças. Não eram lobos comuns; eram transformados. Guardiões de elite, moldados pela magia e crueldade do Lycan King.

— Você aí! — A voz gutural do líder rasgou o silêncio, enquanto ele se transformava em sua forma humana. Alto e largo, ele exibia cicatrizes que pareciam um mapa de guerras passadas. — Devolva o que é nosso.

Meu coração batia como um tambor, mas minha voz não vacilou.

— Não tenho ideia do que você está falando.

— Não minta para mim, garota. O rei tem olhos em toda parte.

O lobo ao lado dele rosnou baixo, como se já pudesse provar o gosto do meu sangue.

Ronan deu um passo à frente, colocando-se entre mim e os guardiões.

— Não vai acontecer.

O líder riu, um som áspero que parecia arrancado de um poço de desprezo.

— Ah, temos um herói?

— Não sou herói — Ronan respondeu, sua voz firme. — Mas também não sou covarde.

O líder o avaliou por um momento, como se estivesse decidindo a melhor forma de esmagá-lo. Então, estalou os dedos, e os dois lobos avançaram com um rugido selvagem.

O primeiro lobo foi direto para Ronan. Ele se moveu como um raio, puxando uma lâmina curta de seu cinto e bloqueando o ataque com um estalo metálico. O impacto quase o derrubou, mas ele girou, usando a força da criatura contra ela e enterrando a lâmina no flanco do animal.

O segundo veio para mim. Suas garras cortaram o ar, buscando minha garganta. Rolei para o lado, mas ele era rápido. Rápido demais. Suas garras rasparam meu ombro, e uma onda de dor queimou pela minha pele. Mesmo assim, eu não hesitei. Puxei minha faca e enfiei-a na lateral do pescoço do lobo com toda a força que tinha.

O som de ossos se partindo e carne rasgando encheu meus ouvidos. Sangue quente espirrou sobre mim, e o lobo soltou um ganido estrangulado antes de cair ao chão.

Mas não houve tempo para celebrar.

Um borrão de movimento, e o líder estava sobre mim. Ele era um borrão de força e velocidade, me empurrando para o chão com um golpe que tirou o ar dos meus pulmões. Minha faca caiu longe, e sua mão enorme agarrou meu pescoço, pressionando com força suficiente para que pontos pretos começassem a dançar diante dos meus olhos.

— Você acha que pode fugir do rei para sempre? — ele rosnou, a voz um sussurro áspero contra meu rosto.

Eu lutei, chutando e arranhando, mas ele era como uma parede de aço.

Então, uma flecha cortou o ar e cravou-se no ombro do líder, arrancando um grito de dor. Ele soltou meu pescoço e girou, procurando a origem do ataque.

Ronan estava a alguns metros de distância, segurando um arco improvisado com outra flecha já posicionada.

— De onde veio isso? — perguntei, minha voz rouca enquanto me levantava, ofegante.

— Sou cheio de surpresas — respondeu ele, disparando outra flecha.

A segunda flecha atingiu o líder no joelho, forçando-o a cair de lado. Mas ele ainda não estava vencido. Rugindo de raiva, ele se transformou novamente, voltando à sua forma lupina. Enorme e monstruoso, ele avançou na direção de Ronan com as garras estendidas.

Eu corri, ignorando a dor no meu ombro, e peguei minha faca do chão.

Ronan desviou do ataque, movendo-se com uma agilidade que não combinava com a calma habitual dele. Ele pegou sua lâmina curta novamente e girou para enfrentar o líder. Mas o lobo era maior, mais forte. Em um único golpe, ele arrancou o arco das mãos de Ronan, quebrando-o em dois.

— Ronan! — gritei, jogando minha faca para ele.

Ele a pegou no ar, e eu me lancei contra o líder ao mesmo tempo. Enquanto ele se concentrava em Ronan, cravei minhas unhas transformadas em sua pata traseira, arrancando carne e forçando-o a se virar para mim.

— Você vai ter que fazer melhor que isso! — eu zombei, mesmo com meu corpo gritando de dor.

Ronan aproveitou a abertura. Com um grito, ele cravou a faca profundamente no peito do líder, forçando-a até o cabo. O lobo urrou, um som que misturava raiva, dor e derrota, antes de cair de joelhos.

Ronan e eu nos afastamos, observando enquanto o líder respirava com dificuldade, sua forma colossal tremendo antes de finalmente colapsar no chão.

Os dois lobos restantes, vendo seu líder derrotado, recuaram com um rosnado baixo, desaparecendo na escuridão da floresta.

Por um momento, tudo ficou em silêncio. Apenas nossas respirações ofegantes preenchiam o ar.

— Você está bem? — Ronan perguntou, aproximando-se de mim.

Eu balancei a cabeça, tentando ignorar o latejar no meu ombro. — Estou bem. E você?

— Vivo. — Ele sorriu, aquele sorriso tranquilo que parecia deslocado após a brutalidade da luta.

Eu ri, um som rouco que saiu mais como um arquejo.

Então, ele deu um passo mais perto, e algo em seu olhar me fez congelar. Havia uma intensidade ali, uma preocupação genuína que eu não estava acostumada a receber.

— Você é mais do que pensa ser, Kaela.

— E você é cheio de segredos.

Ele riu suavemente, mas não negou.

Deixei que ele ajudasse a enfaixar meu ombro enquanto a lua iluminava o sangue que manchava o chão ao nosso redor. Uma batalha havia terminado, mas o verdadeiro desastre estava apenas começando

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Comments

Adriana Martins da Silva

Adriana Martins da Silva

tô gostando muito

2025-02-05

0

Gretchen Silva

Gretchen Silva

até aqui está história tá perfeita

2024-12-13

1

Lena Lima Lima

Lena Lima Lima

Amando a história. Parabéns autora ❤️❤️

2024-11-27

2

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