CAPÍTULO 2

A pequena aldeia parecia surgir do nada, como um sussurro no meio da floresta. Eu a encontrei por acaso, seguindo rastros de fumaça que subiam entre as árvores e um cheiro reconfortante de pão recém-assado. Não era grande — meia dúzia de casas de madeira espalhadas ao redor de uma praça central coberta de grama amarelada. Tudo estava silencioso, exceto por algumas vozes distantes e o som de uma roda d'água ao longe.

Meu lobo estava inquieto. Vilarejos como este eram raros, normalmente ocupados por licantropos que desejavam escapar da tirania do Lycan King ou de matilhas hostis. A questão era: eles aceitariam uma estranha como eu, ou me expulsariam com garras e dentes?

Eu precisava de descanso, e o filhote precisava de cuidados. Seu corpo frágil balançava em meus braços, e sua respiração era superficial, mas constante. Ele estava vivo, e isso era um milagre considerando o que havia passado.

Enquanto atravessava a entrada da aldeia, senti os olhares cravados em mim. Mulheres com cestos de lenha pararam para me observar. Crianças, escondidas atrás das pernas dos pais, espiavam com curiosidade. Um grupo de homens reunidos em torno de um barril de água cessou sua conversa, seus olhos avaliando minha presença.

Eu mantive a cabeça erguida, minha postura desafiadora. Não importava que eu estivesse coberta de lama, com uma faca presa à cintura e um lobo ferido nos braços. Eu não mostraria fraqueza.

Um homem mais velho, com cabelos grisalhos e uma expressão cansada, foi o primeiro a se aproximar. Seu cheiro o denunciava como um beta, mas havia algo na sua postura que indicava liderança.

— Você está longe de casa, forasteira. — Sua voz era firme, mas não hostil.

— Não tenho casa — respondi.

Os murmúrios começaram ao meu redor, mas ele ergueu a mão, silenciando-os.

— E o filhote? — perguntou, seus olhos fixos no pequeno lobo em meus braços.

— Ele foi atacado. Não tem ninguém. Assim como eu.

O homem me observou por um momento, avaliando cada palavra que eu dizia. Finalmente, ele suspirou.

— Sou Eirik, o líder deste vilarejo. Pode ficar... por enquanto. Mas não cause problemas.

Eu não respondi, apenas assenti. Ele sinalizou para uma jovem de cabelos trançados que estava por perto.

— Lena, leve-a até Ronan. Ele sabe o que fazer.

Ronan. O nome não me dizia nada, mas eu segui a jovem sem questionar. Ela me lançou um olhar desconfiado, mas não disse uma palavra enquanto me guiava por um caminho de terra batida até uma pequena cabana perto da borda do vilarejo.

— Ele está aí dentro. Bate antes de entrar.

Antes que eu pudesse responder, Lena girou nos calcanhares e desapareceu.

Eu bati.

A porta se abriu quase imediatamente, revelando um homem de cabelos castanho-claros desgrenhados, que caíam sobre seus olhos castanhos calorosos. Ele era alto, mas não intimidador, e seus traços tinham uma gentileza que parecia deslocada em um mundo tão cruel quanto o nosso.

— Você deve ser Kaela, certo? — Ele sorriu de lado, a voz baixa e tranquila.

— Como sabe meu nome?

— Lena me contou. Eirik avisa rápido quando temos visitas inesperadas. Entre.

Hesitei por um momento, mas o filhote em meus braços gemeu de dor, me forçando a agir. Passei pela porta, e ele fechou atrás de mim.

O interior da cabana era aconchegante, com ervas penduradas no teto e o cheiro de algo doce no ar. Uma mesa de madeira rústica estava coberta de frascos e tigelas, como se ele estivesse no meio de uma experiência ou... um ritual.

— Coloque-o aqui. — Ronan apontou para uma cama baixa de palha no canto.

Deitei o filhote cuidadosamente, e Ronan imediatamente começou a examiná-lo. Ele trabalhava com mãos experientes, misturando ervas e limpando as feridas com uma precisão que eu não esperava de um beta.

— Você sabe o que está fazendo? — perguntei, cruzando os braços e estreitando os olhos.

Ele ergueu o olhar e sorriu, mas não de forma arrogante.

— Eu sei. Você só precisa confiar em mim.

— Confiar não é meu ponto forte.

— Percebi. — Ele voltou sua atenção para o filhote. — Mas, pelo que vejo, você não tem muita escolha.

Eu o observei enquanto ele trabalhava. Havia algo em Ronan que me incomodava, mas não de um jeito ruim. Era como se ele escondesse algo, mas usasse uma máscara de calma para afastar suspeitas.

— Por que está ajudando? — perguntei.

— Porque ele precisa. — Ronan olhou para mim, seus olhos fixos nos meus. — Assim como você.

Senti uma pontada de irritação.

— Eu não preciso de ninguém.

Ele sorriu de novo, aquele sorriso tranquilo que parecia carregar uma verdade que eu não queria ouvir.

— Claro que não.

Enquanto o filhote descansava, Ronan insistiu para que eu me sentasse e comesse algo. Relutante, aceitei o pão que ele ofereceu, sentindo o sabor simples e reconfortante invadir minha boca.

— Este lugar... parece pacífico demais — comentei, quebrando o silêncio.

— Às vezes, é. Mas todo vilarejo tem seus segredos.

Eu franzi a testa.

— Que tipo de segredos?

Ronan hesitou, e algo mudou em sua expressão. A tranquilidade deu lugar a um vislumbre de incerteza.

— O suficiente para manter os curiosos longe.

Antes que eu pudesse pressioná-lo, ouvi um gemido fraco vindo do filhote. Corri até ele, meu coração disparado. Seus olhos estavam abertos, pequenos pontos dourados que brilhavam à luz do fogo.

— Ele vai ficar bem — disse Ronan, ao meu lado. — Mas precisa de tempo.

Olhei para o filhote e então para Ronan. Pela primeira vez em muito tempo, senti algo estranho: gratidão.

— Obrigada — murmurei, as palavras saindo de forma hesitante.

Ronan inclinou a cabeça, aceitando o agradecimento sem cerimônia.

— Se precisar de algo, estarei por perto.

Naquela noite, enquanto o filhote dormia ao meu lado na pequena cama improvisada, minha mente vagava. Eu sabia que não poderia ficar ali por muito tempo. Não importava o quão pacífico o vilarejo parecesse ou o quanto Ronan fosse gentil. Meu passado era uma sombra que me seguia, e lugares como aquele tinham o hábito de atrair problemas.

Ainda assim, havia algo em Ronan. Algo que eu não conseguia definir. Ele era um beta, mas sua presença tinha uma força sutil que o diferenciava dos outros.

E havia aquela hesitação em suas palavras, como se estivesse escondendo algo.

Eu não confiava nele. Não confiava em ninguém.

Mas talvez, apenas talvez, ele fosse diferente.

Eu estava no lugar certo ou cometendo um erro fatal? Ronan era a chave para algo maior ou apenas mais uma peça de um jogo que eu não queria jogar? A resposta viria mais rápido do que eu esperava.

...RONAN...

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Comments

Maria De Fatima Gomes De Freitas

Maria De Fatima Gomes De Freitas

parece ser Boa começando em 2 12 2024

2024-12-04

1

Valdileia Silva Castro

Valdileia Silva Castro

eita que essa história é boa

2025-04-02

0

Valdileia Silva Castro

Valdileia Silva Castro

até aqui estou amando

2025-04-02

0

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