CAPÍTULO 10

O som da cidade estava mais vibrante do que o normal. O ar estava impregnado com o cheiro de alimentos exóticos e a mistura de risos e música. O festival estava em pleno auge, e todos pareciam estar em um estado de euforia, como se as estrelas tivessem descido para se misturar entre os mortais. Entre as barracas e os estandes iluminados, uma curiosidade maior havia se espalhado: os Astromantes. Falavam-se muitas coisas sobre eles, algumas até aterrorizantes, mas o que mais chamava a atenção eram os sussurros sobre suas habilidades. Diziam que eles podiam ver o futuro, que liam o destino nas estrelas, que entendiam os segredos do cosmos.

Ronan estava mais apreensivo do que o normal. Ele sempre ficava assim quando as coisas saíam de sua zona de controle. Mas eu não podia deixá-lo me deter. A verdade era que nós dois precisávamos daquele dinheiro. E, além disso, os Astromantes… Havia algo ali, algo que despertava uma curiosidade. Eu não acreditava em oráculos, mas a energia no ar naquela noite era palpável, algo incomum. Talvez fosse uma oportunidade para fazer algo mais do que apenas vender poções.

— Não se esqueça de que é só uma venda rápida, Kaela. Você não precisa ficar se metendo em mais encrenca do que o necessário. — Ronan olhou para a multidão, com a preocupação estampada no rosto, mas eu sabia que ele me entendia. Eu não ia ficar longe de toda aquela agitação. Não com tantas possibilidades.

Ele não gostava de expor a nossa loja de poções assim, no meio de tanta gente, mas eu sabia que havia pouco tempo. Precisávamos dessa exposição. Precisávamos de dinheiro.

Caminhei com confiança pelo festival, usando meu capuz, tentando me esconder o máximo possível. Afinal, se o Lycan King ou alguém do seu reino me visse, seria um desastre. Mas, por enquanto, estava segura, cercada pela multidão de curiosos e festeiros.

Fui passando pelas barracas coloridas, vendendo algumas poções rápidas, falando pouco, apenas o suficiente para fazer a troca. O brilho das lanternas e o cheiro das especiarias me envolviam, mas algo mais me puxava em direção a uma área mais afastada, uma tenda cujas paredes de tecido cintilavam com um brilho peculiar. Ali, sob uma luz que parecia quase mística, estavam os Astromantes.

Minha curiosidade me fez parar. A tenda estava lotada de pessoas, mas havia algo de estranho e fascinante nela. Eu já havia ouvido sobre esses seres, mas vê-los pessoalmente era outra história. Havia algo quase sobrenatural na maneira como o tecido da tenda se movia, como se fosse tocado por uma força invisível. O vento parecia girar ao redor dela, apesar de não haver vento algum.

Eu hesitei. O que eu faria ali? Mas, antes que pudesse pensar em recuar, um homem saiu da tenda. Ele tinha a pele de um tom pálido, quase etéreo, e estava vestido com um manto que parecia ser feito de estrelas em movimento. O tecido fluía como se estivesse vivo, se retorcendo com padrões astrais, cintilando como se refletisse o próprio céu noturno.

Ele me olhou por um momento, seus olhos tão escuros quanto o universo, e um sorriso enigmático se formou em seus lábios.

— Você, uma alma perdida, vem procurar respostas ou apenas respostas para o que já sabe? — Sua voz era suave, como o som distante de uma estrela cadente.

Eu não sabia como responder, mas sua presença me fazia sentir algo profundo, algo que não conseguia explicar. Ele parecia saber mais sobre mim do que eu gostaria de admitir. Mesmo assim, a curiosidade falou mais alto.

— O que você pode me dizer sobre as estrelas? — perguntei, tentando esconder a inquietação que ele me causava.

Ele se aproximou lentamente, como se a gravidade da própria tenda estivesse em sintonia com seus passos. Seu olhar era penetrante, e eu sentia como se ele estivesse lendo meus pensamentos, tocando as partes mais profundas de minha alma.

— As estrelas não mentem, mas o que elas mostram não é sempre o que se quer ver. — Ele se inclinou um pouco, mais perto de mim agora. — Você busca algo que talvez não esteja preparada para encontrar. Ou, talvez, já saiba o que está em seu destino, Kaela. Mas você não consegue aceitar.