Projeto 666: A Torre dos Mundos

Projeto 666: A Torre dos Mundos

Deus Rei: Azaroth Vermilion

A noite era inquietante no deserto do Saara. Sob a luz fria da lua cheia e o brilho etéreo da colossal torre que havia emergido, duas figuras estavam reunidas em uma tenda improvisada, montada sobre a areia dourada. Dentro, Harua e Seichiro Yamazaki observavam em silêncio a estrutura monumental. O ambiente estava carregado, tanto pela grandiosidade do que se erguia diante deles quanto pela incerteza do que viria a seguir.

Seichiro, de cabelos negros como a escuridão da noite, estava mais introspectivo do que de costume. Seus olhos, que carregavam uma tonalidade esverdeada esmeralda, pareciam perdidos, fixos na torre, mas, na realidade, observavam algo além. Harua, sempre sereno, mas jamais ingênuo, percebeu que algo estava errado. Ele conhecia o irmão como ninguém e sabia que aquele silêncio não era o comum.

— Seichiro — começou Harua, em sua voz grave e firme, mas com uma ponta de preocupação. — O que está acontecendo? Desde que essa torre surgiu, você não é mais o mesmo.

Seichiro permaneceu imóvel por alguns instantes, até que suspirou profundamente, ainda com os olhos presos na imensidão da torre. Então, ele falou, mas sua voz era diferente. Não era a de um simples homem, nem mesmo a de um Yamazaki. Ela carregava um tom ancestral, um peso que parecia atravessar eras.

— Harua… você acredita em vidas passadas? — perguntou ele, sua voz profunda ressoando pela tenda.

Harua arqueou uma sobrancelha, confuso.

— O que está querendo dizer? Seja claro.

Seichiro fechou os olhos por um momento, e quando os abriu, algo mudou. Seus olhos brilhavam intensamente em vermelho vibrante, como se uma antiga chama tivesse sido reacendida. Ele se virou para Harua, e, pela primeira vez, parecia verdadeiramente distante, como se não fosse mais o irmão que ele conhecia.

— Antes de ser Seichiro Yamazaki… eu fui alguém muito maior. Um rei. Não um rei humano ou mortal. Mas o Deus Rei dos vampiros, o primeiro de minha espécie. — Ele fez uma pausa, deixando suas palavras afundarem na mente de Harua. — Meu nome era Azaroth Vermilion.

Harua ficou imóvel, mas seus olhos endureceram. Ele não respondeu de imediato, esperando que Seichiro continuasse.

— Muito antes dos demônios tomarem a torre, ela era comandada por minha linhagem. Os vampiros. Nós éramos os guardiões supremos da torre e de seus segredos. Era um império inabalável, até que os demônios surgiram e nos destruíram. Eu fui traído, Harua. Morto por aqueles que eu considerava aliados. — Ele cerrou os punhos, sua voz carregada de rancor. — Mas, por algum motivo, renasci como Seichiro Yamazaki, e agora, diante dessa torre, todas as minhas memórias retornaram.

Harua cruzou os braços, seu rosto inexpressivo, mas seus olhos brilhavam com intensidade.

— E o que isso significa para nós, Seichiro? — perguntou, finalmente. — Para mim? Para Shigen? Para a nossa família?

Seichiro se aproximou, seus passos pesados como se a gravidade ao redor dele houvesse mudado. Ele colocou uma mão no ombro de Harua, seus olhos fixos nos dele.

— Eu amo vocês, Harua. Amo você, Shigen, e até mesmo Aki. Vocês são minha família agora, mas isso não muda quem eu sou. Antes de ser Seichiro Yamazaki, eu sou Azaroth Vermilion. E minha linhagem precisa ser restaurada. Eu preciso retomar o trono que é meu por direito.

— E como pretende fazer isso? — interrompeu Harua, sua voz firme, mas com um tom de advertência.

Seichiro hesitou por um momento, mas então disse:

— Eliminando ou subjugando todo e qualquer demônio e humano que esteja em meu caminho. Eu poderia transformar você à força, Harua, mas não quero isso. Quero que se junte a mim por vontade própria.

A tensão na tenda era palpável. Harua olhou fundo nos olhos de Seichiro, buscando qualquer traço de hesitação, mas não encontrou. Ele suspirou, fechando os olhos por um momento antes de falar.

— Então é isso? Se eu não me juntar a você, você me matará?

Seichiro inclinou levemente a cabeça, mas não desviou o olhar.

— Sim. Você sabe que não hesitaria. Você é forte, Harua, mas ninguém, nem mesmo você, pode ficar no meu caminho. Não agora que recuperei minhas memórias.

Harua abriu os olhos, e um pequeno sorriso cruzou seus lábios.

— Então vamos fazer um acordo. Um duelo. Se eu vencer, você abandonará essa ideia. Permanecerá como Seichiro Yamazaki, e esquecerá Azaroth Vermilion. Mas, se você vencer… permitirei que me transforme.

Seichiro ficou em silêncio, analisando as palavras do irmão. Ele sabia da força de Harua, o Demônio da Espada, mas agora ele era mais do que um simples Yamazaki. Ele era Azaroth Vermilion, e isso lhe dava uma confiança inabalável.

— Eu aceito. — disse ele, sua voz firme. — Mas saiba que, por mais que eu respeite sua força, Harua, você não tem chance contra mim.

Harua sorriu, dessa vez com mais intensidade.

— Veremos, irmão. Veremos.

A tensão crescia entre os dois enquanto a lua brilhava ainda mais intensamente no céu. Do lado de fora da tenda, o vento soprava, levantando a areia do deserto como se o próprio mundo pudesse sentir a gravidade daquele momento. Harua se levantou lentamente, ajustando a bainha de suas katanas, enquanto Seichiro — ou melhor, Azaroth — apenas o observava, seus olhos que outra hora verdes, agora com um brilho vermelho profundo.

O duelo não era apenas uma luta entre dois irmãos. Era uma batalha entre duas ideologias, entre passado e presente, entre família e legado. Harua sabia disso, e Seichiro também. E ambos estavam prontos para colocar tudo em jogo.

A areia do deserto parecia se mover sob os pés deles, como se o mundo reconhecesse que algo grandioso estava prestes a acontecer. Harua desembainhou suas duas espadas com um movimento elegante, as lâminas brilhando com uma aura dourada, como se o próprio sol houvesse sido canalizado para elas. A luz pulsava ao redor dele, iluminando a noite, enquanto Seichiro – ou Azaroth, como agora se reconhecia – permanecia imóvel, seu corpo irradiando uma presença sombria e avassaladora.

— Ainda pode desistir, irmão. — Harua disse, sua voz calma, mas carregada de determinação. — Não quero feri-lo, mas se insistir nesse caminho, não hesitarei.

Azaroth respondeu com um sorriso frio, seus olhos vermelhos brilhando como brasas no escuro.

— Já se esqueceu, Harua? Durante toda a nossa vida, você sempre foi o mais forte. Sempre venceu, sem esforço, me lembrando constantemente de minha fraqueza. Mas hoje, as coisas mudaram. Eu não sou mais Seichiro. Eu sou Azaroth Vermilion. E você verá o que isso significa.

Antes que Harua pudesse responder, Azaroth avançou, rápido como uma sombra. Seus movimentos eram tão fluidos que a distância entre eles desapareceu em um piscar de olhos. O primeiro golpe foi direto: um chute em arco, visando o torso de Harua. Ele desviou por pouco, girando elegantemente para trás enquanto suas espadas criavam um escudo de luz ao redor de si.

Azaroth não perdeu tempo. Ele seguiu com uma sequência brutal de socos e chutes, cada movimento carregado de força sobrenatural. Cada golpe que ele desferia parecia deslocar o ar, criando uma pressão esmagadora ao redor deles. Harua bloqueou os ataques com suas espadas, mas, pela primeira vez, sentiu o peso avassalador da força de seu irmão.

— Você nunca lutou assim antes! — Harua gritou, desviando de um soco que teria quebrado ossos. — O que aconteceu com o Seichiro que eu conhecia?

Azaroth riu, mas sua risada era fria, quase cruel.

— Ele morreu, Harua. Assim como você morrerá, se não aceitar o que está por vir.

Harua estreitou os olhos, impulsionando-se para trás e criando uma distância entre eles. Ele ergueu suas espadas, que brilharam ainda mais intensamente, emanando uma aura solar que queimava o ar ao redor.

— Se você acha que pode me vencer só porque recuperou algumas memórias, está enganado. Eu ainda sou o Demônio da Espada, e você terá que provar que é mais do que palavras vazias!

Azaroth avançou novamente, mas dessa vez Harua foi ao encontro dele. As espadas douradas cortaram o ar, suas lâminas emitindo ondas de energia que pareciam rasgar a própria realidade. Azaroth desviou do primeiro golpe, mas o segundo passou perto o suficiente para deixar uma marca em seu braço. Ele não parou. Girando o corpo, desferiu um chute que acertou o lado de Harua com força suficiente para lançá-lo alguns metros para trás.

Harua caiu de joelhos, tossindo, mas ainda segurando firmemente suas espadas. Ele olhou para Azaroth, sua expressão grave.

— Você está mais forte. Não posso negar. Mas força não é tudo.

Azaroth se aproximou lentamente, seus olhos vermelhos brilhando com uma intensidade quase insuportável.

— Você sempre foi arrogante, Harua. Sempre acreditou que sua habilidade era suficiente. Mas veja onde isso o levou agora. Você está no chão, enquanto eu mal comecei.

Harua sorriu levemente, limpando o sangue do canto da boca enquanto se levantava.

— Talvez. Mas isso só significa que preciso começar a levar isso a sério.

Ele ergueu suas espadas mais uma vez, e desta vez a luz ao seu redor explodiu em um espetáculo de energia dourada. A areia sob seus pés derreteu, transformando-se em vidro sob o calor intenso de sua aura. Azaroth não recuou. Pelo contrário, ele sorriu, como se estivesse ansioso pelo desafio.

Os dois avançaram ao mesmo tempo. O choque de seus ataques criou uma onda de energia que varreu o deserto, levantando uma nuvem de areia e calor. As espadas de Harua eram como o sol em movimento, rápidas, precisas, e impossivelmente quentes. Azaroth, no entanto, era implacável. Seus ataques eram brutais, cada movimento de seu muay thai calculado para causar o máximo de dano com o mínimo de esforço.

Os golpes de Harua cortaram o ar, cada um buscando um ponto vital, mas Azaroth os bloqueava com uma eficiência quase inumana, usando braços e pernas como se fossem escudos. Quando uma das espadas conseguiu atravessar sua defesa, cortando profundamente seu ombro, ele nem sequer hesitou. Aproveitando a proximidade, agarrou o braço de Harua e o lançou com força contra o chão.

Harua se levantou rapidamente, mas estava claro que ele começava a sentir o peso da batalha. Azaroth, por outro lado, parecia apenas mais confiante.

— Você está ficando lento, Harua. — Azaroth zombou, caminhando em direção a ele. — Talvez o Demônio da Espada não seja tão invencível quanto pensa.

Harua cerrou os dentes, seus olhos brilhando com determinação.

— Não é questão de invencibilidade, Azaroth. É questão de nunca desistir. — Ele ergueu uma de suas espadas, apontando diretamente para o coração de Azaroth. — E eu nunca desistirei de você, irmão.

Por um momento, Azaroth hesitou. As palavras de Harua perfuraram algo dentro dele, algo que ele achava ter enterrado. Mas ele rapidamente balançou a cabeça, afastando qualquer dúvida.

— O seu problema, Harua. É que você ainda é humano. Mas eu já superei isso. — Ele ergueu os punhos, sua aura sombria crescendo ao seu redor. — E é por isso que você perderá. Porque enquanto você se cansa, eu nem derramo suor, mas você entenderá o que é transcender a mortalidade.

A batalha recomeçou com ainda mais intensidade. Azaroth, movido pela brutalidade e eficiência de sua nova força, conseguiu dominar Harua, empurrando-o cada vez mais para a defensiva. Harua, por outro lado, lutava com tudo o que tinha, recusando-se a desistir, mesmo enquanto seu corpo começava a ceder.

Finalmente, em um movimento devastador, Azaroth conseguiu desarmar Harua, suas espadas sendo lançadas para longe. Ele agarrou o irmão pelo pescoço, erguendo-o no ar como se ele fosse uma criança.

— É o fim, Harua. — disse Azaroth, sua voz fria e definitiva. — Aceite isso.

Harua, mesmo sufocando, conseguiu sorrir.

— Se vai me matar, então faça. Mas saiba que pra me vencer terá de tirar minha vida…eu ainda acredito em você. Ainda acredito que meu irmão está aí, em algum lugar.

Azaroth ficou imóvel por um momento, seus olhos fixos nos de Harua. Algo dentro dele vacilou, uma dúvida que ele não conseguia ignorar. E, naquele momento, a batalha foi decidida.

O silêncio do deserto era interrompido apenas pela respiração pesada de Harua e pelo som do vento soprando sobre a areia. Azaroth segurava Harua pelo pescoço, seu olhar decidido, mas seus olhos vermelhos brilhavam com uma mistura de dor e determinação. O coração dele não parecia vacilar, e sua voz saiu firme, carregada por uma nova certeza.

— Harua… se para vencer eu precisar matá-lo, que assim seja. — Sua voz tinha um tom final, quase piedoso, mas sem hesitação.

Antes que Harua pudesse dizer qualquer outra palavra, Azaroth perfurou seu peito com uma mão, suas garras afiadas atravessando carne e osso com facilidade brutal. Harua arfou, seu corpo inteiro tremendo enquanto sentia a mão de Azaroth agarrar seu coração ainda pulsante. Seu sangue quente escorria pelos dedos do irmão.

— Você sempre foi o mais forte… — murmurou Azaroth, sua voz agora um sussurro carregado de uma tristeza contida. — Mas força não basta quando se está lutando contra o inevitável. Você não entende, mas precisa de mim. Precisa ser mais do que um humano para sobreviver ao que está por vir.

Harua tentou lutar, mas seu corpo já não obedecia. O calor de sua vida se esvaía, substituído por uma sensação fria e estranha. Azaroth, com suas garras ainda enfiadas no peito de Harua, inclinou-se mais perto, seus olhos ardendo como chamas enquanto começava a transferir seu sangue.

O líquido escuro e denso gotejou diretamente no coração de Harua, cada gota pulsando como um trovão em suas veias. Era um sangue diferente, carregado de poder ancestral e da essência do próprio Azaroth. Harua arquejou, seu corpo se contorcendo à medida que o sangue vampírico se espalhava por ele, reescrevendo sua própria existência.

Azaroth observava o processo com uma expressão séria, seus olhos nunca desviando. Ele falou enquanto continuava:

— Você ainda será o mesmo, Harua. O mesmo guerreiro, o mesmo irmão. Mas agora, será algo muito maior. Parte de mim viverá em você. Meus ideais, minha visão… você entenderá. Não haverá escolha. É a natureza da minha essência. Como Deus Rei dos vampiros, minha vontade é absoluta entre os meus.

O coração de Harua parou. Ele caiu nos braços de Azaroth, sua expressão serena, como se estivesse adormecido. Por um momento, o silêncio foi completo. Mas então, seus olhos se abriram. O azulado havia desaparecido, substituído por um vermelho profundo e incandescente. Seus dentes caninos cresceram, afiando-se em pontas letais. Ele parecia mais pálido, mas ao mesmo tempo mais imponente, como se uma nova aura o cercasse.

Harua se levantou lentamente, ainda segurando o peito onde a ferida havia se fechado quase instantaneamente. Ele olhou para Azaroth, sem dizer uma palavra, mas havia algo diferente. Uma lealdade instintiva o preenchia, uma conexão que ele nunca havia sentido antes. Ele não era mais apenas Harua Yamazaki; agora, ele era algo além disso.

Azaroth sorriu levemente, satisfeito, mas também cansado.

— Agora você entende, irmão. Não é apenas sobre força, é sobre destino. Juntos, reconstruiremos o que os demônios destruíram. Mas antes disso, precisamos nos preparar. — Ele fez uma pausa, olhando para a vastidão do deserto. — Ainda não sou forte o suficiente para enfrentar Aki ou Shigen. Eles são monstros por direito próprio, e enfrentá-los agora seria suicídio. Mas quando chegar a hora… — Ele voltou-se para Harua, seus olhos queimando com ambição. — Eu os quero ao nosso lado. Eles são Yamazakis, assim como você foi, e terão um papel neste novo mundo.

Harua assentiu lentamente. Ele não questionou, não debateu. A voz de Azaroth parecia ser uma lei gravada em sua alma, e ele simplesmente sabia que deveria seguir.

Azaroth colocou uma mão no ombro de Harua, como um gesto de aprovação e promessa.

— Vamos encontrar um lugar longe dos outros. Um lugar onde possamos crescer, nos fortalecer. Quando estivermos prontos, o mundo será nosso, irmão.

E assim, sob o brilho distante das estrelas e à sombra da torre, os dois vampiros partiram juntos, deixando para trás o deserto e suas antigas vidas. Um novo capítulo começava, e o destino do mundo estava prestes a mudar para sempre.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!