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O ar estava frio quando o grupo deixou a taverna. A cidade parecia ainda mais silenciosa à noite, com apenas a luz das tochas iluminando as ruas desertas. As palavras do mensageiro ainda ecoavam na mente de Rhaedrin. "Sair antes que seja tarde" não era uma ameaça vazia — era um aviso carregado de algo mais sombrio.
— Precisamos descansar antes de decidir nosso próximo passo, — disse Rhaedrin, com a voz firme, mas controlada. — Vamos encontrar um lugar seguro.
Sanshoukuin, sempre alerta, observava as sombras que pareciam crescer nas esquinas.
— O mensageiro sabia mais do que disse. Alguém ou algo está controlando este lugar.
Lyana, ajustando o violão em suas costas, olhou para os dois com uma expressão inquieta.
— E você acha que isso tem ligação com Alastair?
— Tudo tem, — respondeu Rhaedrin, enquanto caminhava.
Eles encontraram uma pequena hospedaria afastada da praça principal. O lugar era simples, mas limpo, e a proprietária, uma mulher idosa, parecia não querer fazer perguntas. Ela entregou-lhes uma chave, apontando para um quarto no andar de cima.
— Não incomodem ninguém e ninguém incomodará vocês, — disse ela antes de desaparecer em um corredor.
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O quarto era apertado, mas suficiente. Uma cama de madeira, uma mesa pequena e uma janela que dava para os telhados escuros da cidade. Rhaedrin acendeu uma lamparina, iluminando o ambiente com uma luz suave.
— Amanhã partimos para as montanhas, — disse ele, enquanto organizava os itens do baú sobre a mesa.
Lyana sentou-se na beira da cama, observando os mapas e documentos que ele examinava.
— Você acha que o que encontramos é suficiente para enfrentar Alastair?
Rhaedrin não respondeu imediatamente. Seus olhos percorriam um mapa detalhado das montanhas ao norte, onde marcas e símbolos indicavam possíveis esconderijos ou pontos de interesse.
— Isso é apenas uma parte. Precisamos saber mais antes de enfrentá-lo diretamente.
Sanshoukuin, que estava encostado na parede, cruzou os braços.
— Se as montanhas são o próximo passo, precisamos estar preparados para o pior.
— Sempre estamos, — respondeu Rhaedrin, com um leve sorriso.
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A madrugada trouxe um silêncio incomum. Lyana dormia, o violão repousando ao seu lado, enquanto Sanshoukuin permanecia acordado, observando a janela. Ele tinha o hábito de dormir pouco, preferindo vigiar o grupo enquanto os outros descansavam.
No entanto, algo o incomodava naquela noite. Um som distante, quase imperceptível, chegou até ele — um assobio baixo que parecia vir de fora. Ele se levantou silenciosamente, aproximando-se da janela para olhar. A rua estava vazia, mas havia um movimento estranho nas sombras.
— Algo está acontecendo, — disse ele, baixinho, mas o suficiente para acordar Rhaedrin.
Rhaedrin levantou-se rapidamente, pegando sua espada enquanto se aproximava de Sanshoukuin.
— O que foi?
— Há alguém lá fora, observando, — respondeu Sanshoukuin, sem tirar os olhos da rua.
Rhaedrin olhou pela janela, mas não viu nada além das sombras que dançavam sob a luz das tochas.
— Acorde Lyana. Vamos sair daqui.
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O grupo desceu as escadas da hospedaria em silêncio, movendo-se como fantasmas pelo corredor. Quando chegaram à porta, a mesma mulher idosa que os havia recebido estava parada no final do corredor, segurando uma vela.
— Vocês não vão sobreviver se forem agora, — disse ela, sua voz baixa, mas cheia de convicção.
Rhaedrin parou, encarando-a com atenção.
— O que você sabe sobre o que está acontecendo aqui?
A mulher suspirou, seus olhos fixos na chama trêmula da vela.
— Eles estão sempre aqui. Não importa quem venha ou vá, as montanhas sempre os trazem de volta.
— Quem são "eles"? — perguntou Lyana, com a voz trêmula.
— Aqueles que não pertencem a este lugar, — respondeu a mulher, antes de apagar a vela e desaparecer no corredor.
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Do lado de fora, o vento havia ficado mais forte, carregando o som de algo que parecia um lamento distante. O grupo avançava pelas ruas desertas, suas sombras projetadas pelas tochas que tremulavam nas paredes.
— Isso está ficando pior, — murmurou Lyana, ajustando as adagas em seu cinto.
Rhaedrin parou abruptamente, levantando a mão para que os outros ficassem em silêncio. Ele ouviu com atenção, seus olhos fixos na escuridão à frente.
— Estamos sendo seguidos, — disse ele finalmente.
Sanshoukuin virou-se lentamente, segurando sua espada com firmeza.
— Não por muito tempo.
As sombras ao redor pareciam se mover, e o som de passos ecoou pelo ar. Uma figura emergiu da escuridão, seguida por outras três, todas encapuzadas e armadas.
— Eles estão aqui, — disse um deles, com uma voz baixa e carregada de intenção.
Rhaedrin deu um passo à frente, sua postura firme e confiante.
— Se estão atrás de nós, não saíram vivos.
A batalha começou antes que qualquer palavra adicional fosse dita. As figuras atacaram com rapidez e coordenação, mas o grupo estava pronto. Rhaedrin bloqueava cada golpe com precisão, sua espada girando em movimentos calculados. Lyana movia-se com agilidade, suas adagas encontrando alvos nos flancos dos inimigos. Sanshoukuin, como de costume, era uma força implacável, sua espada abatendo os adversários com força e eficiência.
O confronto foi intenso, mas breve. Quando o último dos encapuzados caiu, o grupo ficou em silêncio, recuperando o fôlego.
— Isso está ficando mais perigoso a cada momento, — disse Lyana, ofegante.
Rhaedrin limpou sua espada, olhando para os corpos no chão.
— Estamos mais perto do que imaginamos. Precisamos continuar.
Sanshoukuin olhou para os corpos com um olhar frio antes de guardar sua espada.
— Se é isso que nos espera, estamos preparados.
Rhaedrin assentiu, mas havia algo em seus olhos que mostrava preocupação. Ele sabia que o verdadeiro desafio ainda estava por vir, e que cada passo os levava mais fundo ao território de Alastair.
A madrugada avançava enquanto o grupo deixava as ruas desertas da cidade para trás. A tensão ainda pairava no ar, como se os eventos da noite anterior fossem apenas um prenúncio do que estava por vir. A floresta ao redor da trilha que levava às montanhas parecia viva, mas não de uma forma acolhedora — os galhos se moviam ao menor sopro do vento, e sombras dançavam entre as árvores, criando formas que pareciam observá-los.
Lyana, ajustando o violão em suas costas, mantinha-se próxima de Rhaedrin, enquanto Sanshoukuin caminhava à frente, suas botas esmagando galhos secos e folhas caídas. Ele estava em alerta máximo, seus olhos percorrendo cada canto da escuridão.
— Você acha que eles ainda estão nos seguindo? — perguntou Lyana em um sussurro, sua voz carregada de cautela.
Rhaedrin não respondeu de imediato. Ele apertou o punho de sua espada, os olhos fixos na trilha à frente.
— Não sei, mas não podemos nos dar ao luxo de baixar a guarda.
Sanshoukuin parou abruptamente, levantando a mão para sinalizar silêncio. Ele inclinou a cabeça levemente, como se escutasse algo que os outros não podiam ouvir. O grupo congelou, cada um tentando identificar o que havia captado a atenção dele.
Então veio o som: um farfalhar baixo, seguido por um leve estalo, como se algo pesado estivesse se movendo entre as árvores. Rhaedrin avançou silenciosamente, suas botas mal fazendo barulho enquanto ele gesticulava para que Lyana e Sanshoukuin se posicionassem.
— Fiquem juntos, — disse ele, sua voz um sussurro firme. — Isso não é um animal comum.
Lyana puxou suas adagas, os dedos firmes no cabo enquanto seu coração batia rápido. Sanshoukuin, sempre calmo, preparou sua espada, movendo-se para uma posição defensiva.
A figura emergiu das sombras, lenta e calculada. Não era humana, mas também não era uma criatura irracional. Era algo no limiar entre os dois: uma figura alta, coberta por uma armadura de placas escuras que refletia levemente a luz da lua. Sua cabeça estava envolta em um elmo grotesco, e suas mãos seguravam uma lança longa, ornamentada com runas que brilhavam em tons de azul.
— Um guardião, — murmurou Sanshoukuin, sua voz carregada de reconhecimento.
— Guardião? — perguntou Lyana, os olhos fixos na criatura.
— Criaturas criadas para proteger algo ou alguém, — explicou ele. — Elas não atacam sem motivo. Isso significa que estamos perto de algo importante.
Rhaedrin deu um passo à frente, sua espada erguida.
— Se for um guardião, ele não nos deixará passar sem luta. Preparem-se.
A criatura moveu-se com uma rapidez surpreendente, atacando com sua lança em um golpe descendente que Rhaedrin mal conseguiu bloquear. O impacto reverberou pelo braço dele, mas ele permaneceu firme, contra-atacando com um golpe que a criatura desviou com um giro elegante.
Sanshoukuin avançou, sua espada buscando o flanco da criatura. O guardião girou a lança, bloqueando o golpe com precisão, antes de desferir uma investida que forçou Sanshoukuin a recuar.
Lyana aproveitou a distração, movendo-se como uma sombra pelas laterais. Suas adagas encontraram uma abertura na armadura do guardião, mas a criatura parecia não sentir dor. Ela desviou rapidamente quando o guardião girou a lança em sua direção, o vento do golpe quase a derrubando.
— Ele é mais resistente do que parece, — disse ela, ofegante.
— E também mais inteligente, — respondeu Rhaedrin, observando os movimentos calculados da criatura. — Precisamos coordenar nossos ataques.
Sanshoukuin assentiu, avançando novamente, mas desta vez com golpes que visavam distrair o guardião. Enquanto ele ocupava a criatura, Rhaedrin aproveitou para desferir um golpe direto no joelho esquerdo, fazendo a criatura cambalear levemente.
Lyana, vendo a oportunidade, lançou uma de suas adagas com precisão. A lâmina cravou-se entre as placas da armadura no ombro do guardião, forçando-o a recuar.
O guardião rugiu, o som ecoando pela floresta, mas sua postura estava menos firme. Ele girou a lança novamente, tentando afastar os três, mas Sanshoukuin bloqueou o golpe com um movimento poderoso, enquanto Rhaedrin avançava para o golpe final.
A espada de Rhaedrin encontrou a junção entre o elmo e o peito do guardião, perfurando profundamente. A criatura congelou, suas mãos relaxando enquanto a lança caía no chão. Um brilho azul emanou de suas runas antes de desaparecer, e o corpo do guardião desabou com um som pesado.
O silêncio retornou, interrompido apenas pelas respirações pesadas do grupo.
— Isso foi... intenso, — disse Lyana, limpando o suor da testa.
Sanshoukuin abaixou sua espada, olhando para o corpo do guardião.
— Se ele estava aqui, significa que estamos mais perto do objetivo.
Rhaedrin limpou sua lâmina, ainda observando o corpo da criatura.
— Vamos descansar por alguns minutos e depois continuar. Não podemos perder tempo.
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Enquanto o grupo se recuperava, Lyana sentou-se ao lado da lança caída, analisando as runas.
— Isso parece... familiar, — murmurou ela, traçando os dedos sobre os símbolos.
Rhaedrin aproximou-se, observando os detalhes.
— Essas runas são semelhantes às do medalhão que encontramos no baú. Isso confirma que estamos no caminho certo.
Sanshoukuin permaneceu em silêncio, mas seus olhos estavam fixos na escuridão além da clareira. Ele sabia que, se um guardião estava ali, mais perigos os aguardavam.
Quando o grupo retomou a caminhada, o ar parecia mais pesado, como se a floresta os observasse. Cada passo os aproximava das montanhas e, com elas, do confronto final com Alastair.
Mas eles sabiam que as provações estavam apenas começando.
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Atualizado até capítulo 20
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