Preparos para o Caminho

O som rítmico do martelo contra o metal ecoava pela forja iluminada pelo brilho intenso das brasas. Rhaedrin estava inclinado sobre a bancada, ajustando uma tira de couro grosso que serviria como reforço para a parte superior de sua armadura. Suas mãos hábeis trabalhavam com precisão, cortando, ajustando e prendendo cada peça com cuidado.

A armadura, composta por placas leves de metal negro, estava desgastada pelo uso constante, mas cada detalhe era funcional. Ele reforçava as partes mais vulneráveis com couro tratado, algo que permitiria maior mobilidade sem comprometer a proteção. A sala estava impregnada com o cheiro de couro novo e metal aquecido, criando um ambiente quase meditativo.

— Nunca pensei que você mesmo cuidasse disso, — comentou Lyana, encostada em uma das paredes da forja.

— Um Highlander nunca depende de outros para estar pronto, — respondeu ele, sem desviar os olhos do trabalho.

Ela observava enquanto ele colocava a última tira de couro no lugar, ajustando-a com firmeza antes de polir a lâmina que acompanhava o conjunto. Cada movimento era metódico, refletindo uma vida inteira de experiência.

— E você, — disse ele, levantando os olhos para ela. — Está na hora de você ter algo próprio.

Lyana franziu a testa, confusa.

— Algo próprio?

Ele apontou para uma mesa próxima, onde uma série de roupas e proteções estavam dispostas. Havia uma jaqueta de couro leve, reforçada nos ombros e cotovelos, calças ajustadas feitas de tecido resistente e botas altas que pareciam projetadas para velocidade. Ao lado, luvas e uma capa curta completavam o conjunto.

— Isso é para mim? — perguntou ela, os olhos arregalados.

— Você não pode treinar ou lutar usando roupas comuns, — respondeu ele. — Experimente.

Ela hesitou por um momento antes de pegar as peças. A jaqueta era leve, mas firme, ajustando-se ao corpo sem restringir os movimentos. As botas eram confortáveis, mas robustas, projetadas para terrenos irregulares. Quando terminou de vestir tudo, olhou para ele, esperando algum tipo de reação.

— Funciona, — disse ele simplesmente, voltando ao trabalho.

Lyana revirou os olhos, mas não pôde evitar um leve sorriso.

— Funciona? Isso é tudo o que você tem a dizer?

Ele levantou os olhos novamente, avaliando-a.

— Você parece pronta para começar. É o que importa.

 

Os dias de treinamento nas férias foram intensos. Rhaedrin levava Lyana para áreas isoladas nos arredores da base, onde podiam praticar longe dos olhos curiosos. Ele criava cenários reais, simulando emboscadas, lutas contra múltiplos oponentes e ataques surpresa.

— A chave não é só saber atacar, — dizia ele, enquanto desviava de um golpe que Lyana desferia com uma das adagas. — É prever o que vem a seguir.

Ela respirava pesadamente, o suor escorrendo pela testa enquanto tentava acompanhar os movimentos dele. Cada passo, cada golpe parecia parte de uma coreografia perfeita, e ela sabia que ainda estava longe de alcançar aquele nível.

— De novo, — ordenou ele, apontando para uma posição inicial.

Ela não reclamava. Apenas ajustava a postura e avançava novamente, suas adagas cortando o ar em um padrão que ele havia ensinado. Aos poucos, seus movimentos se tornavam mais rápidos, mais fluidos, e Rhaedrin começava a recuar menos durante os exercícios.

 

Nas noites, ao redor de uma fogueira, os dois discutiam os avanços do dia. Lyana segurava suas adagas, girando-as lentamente entre os dedos enquanto refletia sobre os erros cometidos.

— Você aprende rápido, — disse ele, quebrando o silêncio.

Ela ergueu os olhos, surpresa.

— Isso foi um elogio?

— Um fato, — corrigiu ele, com um leve sorriso.

Lyana riu baixinho, sentindo o cansaço do corpo, mas uma estranha satisfação no coração.

— Sabe... mesmo sendo exaustivo, acho que nunca me senti tão... viva.

Rhaedrin não respondeu de imediato. Ele olhou para o fogo, o brilho das chamas refletindo em seus olhos cinzentos. Finalmente, disse:

— Isso é bom. Significa que você está entendendo o que significa sobreviver.

 

Quando as férias terminaram, Rhaedrin estava no pátio da base, ajustando a armadura agora completamente renovada. As placas negras brilhavam sob a luz do sol, reforçadas pelo couro tratado que ele havia adicionado. Ao lado, Lyana vestia seu novo conjunto, as adagas presas em cintos estrategicamente posicionados.

Um mensageiro aproximou-se, entregando um pergaminho lacrado a Rhaedrin. Ele leu em silêncio, franzindo levemente a testa antes de guardar o documento.

— O que diz? — perguntou Lyana, curiosa.

— Temos uma nova missão, — respondeu ele. — É hora de voltar ao trabalho.

Ela assentiu, ajustando as luvas. Apesar da ansiedade, sentia-se mais preparada do que nunca. E, enquanto seguiam para o portão principal, sabia que cada passo a levava para mais perto de se tornar algo mais do que uma aprendiz.

Rhaedrin olhou para ela de relance, percebendo a determinação em seus olhos. Pela primeira vez, ele não via apenas alguém que precisava de proteção, mas alguém que poderia caminhar ao lado dele, enfrentando o mesmo destino.

Ainda no pátio, enquanto Rhaedrin ajustava o último detalhe de sua armadura e Lyana verificava as adagas presas à cintura, uma figura conhecida se aproximou. Era Kaelar, o Highlander alto e robusto que Rhaedrin havia cumprimentado na chegada à base. Ele carregava um pequeno saco de pano em uma das mãos e um sorriso tranquilo no rosto.

— Então, vocês estão mesmo partindo? — perguntou Kaelar, parando a poucos passos de Rhaedrin.

Rhaedrin ergueu os olhos, acenando levemente.

— Sim. A missão já foi designada.

Kaelar balançou a cabeça em aprovação, mas seu sorriso se alargou.

— A organização tem prestado atenção ao que você tem feito, Rhaedrin. Suas missões não passaram despercebidas.

Ele jogou o pequeno saco para Rhaedrin, que o pegou com facilidade. O som metálico deixou claro o conteúdo antes mesmo de ele abrir. Ouro. Não uma fortuna, mas o suficiente para mostrar reconhecimento.

— Um bônus? — perguntou Rhaedrin, arqueando uma sobrancelha.

Kaelar deu de ombros.

— Chamemos de recompensa merecida. E tem mais.

Com um gesto, ele indicou a direção do portão principal. Dois cavalos estavam ali, um de pelagem negra e musculosa, claramente treinado para combates e viagens difíceis, e outro menor, mas ágil, com uma pelagem castanha. Ambos estavam equipados com selas reforçadas e alforjes já abastecidos.

Lyana abriu um sorriso ao ver os animais.

— Isso... é incrível.

Kaelar olhou para ela, rindo.

— Vocês terão um longo caminho pela frente. Mantimentos e transporte adequado fazem toda a diferença.

Rhaedrin aproximou-se dos cavalos, passando a mão pelo pescoço do maior. O animal parecia reconhecer sua autoridade, permanecendo imóvel enquanto ele inspecionava a sela e os alforjes.

— Mantimentos para duas semanas, — explicou Kaelar. — E suprimentos básicos de primeiros socorros. Vocês devem encontrar o resto no caminho.

Rhaedrin assentiu, apertando levemente a mão de Kaelar.

— Agradeço.

Kaelar sorriu, mas sua expressão ficou mais séria por um momento.

— Cuide-se, Rhaedrin. E... cuide dela. — Ele olhou para Lyana. — Você tem algo especial em mãos agora.

Rhaedrin não respondeu de imediato, mas o leve aceno de sua cabeça foi suficiente. Kaelar deu um último olhar para os dois antes de virar-se e voltar para a base, deixando-os sozinhos com os cavalos.

Lyana aproximou-se do cavalo menor, passando a mão pela pelagem macia com um sorriso no rosto.

— Ele é perfeito.

— Cuidar de um cavalo é responsabilidade sua, — disse Rhaedrin, montando no seu com facilidade. — E ele vai esperar o mesmo esforço que você dá ao treino.

Ela revirou os olhos, mas riu.

— Sim, senhor.

Depois de ajustar as selas e verificar os mantimentos nos alforjes, os dois partiram, deixando o pátio da base para trás. O som dos cascos dos cavalos ecoava suavemente na estrada de terra, e a luz do sol filtrava-se pelas árvores ao longo do caminho.

Lyana olhou para Rhaedrin enquanto eles cavalgavam, sua expressão refletindo algo entre admiração e curiosidade. Ele parecia tão à vontade, mesmo depois de semanas de treinamento intenso e da pressão constante das missões.

— Você acha que vai demorar muito até que eu esteja pronta para... realmente lutar? — perguntou ela, quebrando o silêncio.

— Você está aprendendo rápido, — respondeu ele, sem desviar os olhos do caminho. — Mas o verdadeiro teste é lá fora, nas missões.

Ela assentiu, o som dos cavalos preenchendo o espaço entre eles. E, enquanto avançavam, Lyana percebeu que, apesar de todas as incertezas e perigos, ela finalmente sentia que estava no caminho certo.

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