A estrada se estendia diante deles como uma fita de terra batida, cercada por colinas suaves cobertas de grama. A manhã estava fresca, e a luz do sol dançava sobre o orvalho acumulado nas folhas das árvores, enquanto o som constante dos cascos dos cavalos preenchia o silêncio.
Lyana sentia o movimento rítmico do cavalo sob ela, uma sensação que ainda estava se ajustando. A pelagem castanha do animal brilhava sob o sol, e ela percebeu que seus olhos eram de um tom amarelado suave, quase dourado. Uma conexão silenciosa parecia crescer entre eles enquanto cavalgavam.
— Eles precisam de nomes, — disse ela de repente, quebrando o silêncio que os acompanhava desde que saíram da base.
Rhaedrin olhou de relance para ela, o rosto impassível como sempre.
— Nomes?
— Sim. Não posso chamá-lo de “cavalo” para sempre, — respondeu ela, acariciando levemente o pescoço do animal. — Ele merece algo melhor.
Rhaedrin não respondeu de imediato. Ele observou o próprio cavalo, um animal de pelagem negra com olhos intensos e movimentos poderosos. Depois de um momento, ele deu um leve aceno.
— Diga o que tem em mente.
Lyana sorriu, sentindo-se animada.
— Para ele, — começou ela, indicando o cavalo castanho, — acho que “Ardyn” combina. É forte, mas tem algo de elegante.
O cavalo relinchou suavemente, como se aprovasse, e Lyana riu.
— Viu? Ele gostou.
Rhaedrin apenas balançou a cabeça, mas seus olhos tinham um brilho quase imperceptível de aprovação.
— E o meu?
Ela olhou para o cavalo negro, estudando cada detalhe. Ele tinha uma presença imponente, mas sua maneira de se mover era silenciosa, quase furtiva.
— “Noctis”, — disse ela, finalmente. — Ele é como a noite. Forte e silencioso.
Rhaedrin assentiu.
— Servirá.
Conforme o dia avançava, a estrada os levou para dentro de uma floresta densa. As árvores altas bloqueavam grande parte da luz do sol, criando um ambiente fresco e úmido. O cheiro de folhas e madeira misturava-se ao som de pássaros e pequenos animais se movendo entre os arbustos.
Ardyn parecia relaxado, mas Noctis mantinha as orelhas em alerta, sempre atento ao menor ruído. Lyana notou como Rhaedrin montava o cavalo com uma naturalidade impressionante, como se fossem uma extensão um do outro.
— Você já teve outros cavalos? — perguntou ela, curiosa.
— Alguns, — respondeu ele, sem desviar o olhar do caminho. — Mas eles são como armas. Ferramentas para o que fazemos.
Ela franziu o cenho.
— Não acho que eles sejam apenas ferramentas. Eles nos carregam, confiam em nós. Merecem respeito.
Ele a olhou de relance, uma sombra de algo diferente passando por seus olhos.
— Talvez você tenha razão.
O silêncio se instalou novamente, mas desta vez era mais confortável. Lyana sentia que, mesmo em pequenas coisas como essa, estava aprendendo mais sobre ele.
Quando o sol começou a se pôr, eles encontraram uma clareira próxima a um pequeno riacho, o lugar perfeito para acampar. O som suave da água correndo adicionava uma tranquilidade ao ambiente, enquanto o céu mudava para tons de laranja e rosa.
Rhaedrin desmontou de Noctis com facilidade, verificando os alforjes antes de amarrá-lo a uma árvore próxima. Lyana fez o mesmo com Ardyn, mas passou mais tempo acariciando o animal, murmurando palavras tranquilas enquanto ele relinchava baixinho.
— Está falando com ele? — perguntou Rhaedrin, com um leve tom de ironia.
— Por que não? — respondeu ela, sorrindo. — Ele merece saber que está fazendo um bom trabalho.
Ele balançou a cabeça, mas não respondeu.
Enquanto Lyana montava a fogueira, Rhaedrin foi até o riacho para encher os cantis. O som da água corrente misturava-se ao crepitar do fogo quando ele voltou, colocando os cantis ao lado das mochilas.
— O que teremos para o jantar? — perguntou Lyana, olhando para os alforjes.
— Carne seca e pão, — respondeu ele, começando a tirar os itens.
Ela suspirou, mas não reclamou. Era simples, mas ainda assim reconfortante. Enquanto comiam, o silêncio era preenchido apenas pelos sons da floresta e do fogo.
— Sabe, — começou Lyana, olhando para as chamas. — Acho que estou começando a entender como é viver assim. Sempre em movimento, sempre pronta para o próximo desafio.
Rhaedrin a observou, sua expressão indecifrável.
— E isso é bom ou ruim?
Ela sorriu.
— Acho que é bom. Desde que você esteja aqui para me guiar.
Ele não respondeu, mas um leve aceno foi suficiente para ela entender que ele aceitava a responsabilidade.
Quando a noite caiu completamente, Lyana deitou-se perto da fogueira, com Ardyn descansando não muito longe. Noctis estava em pé, atento, como se montasse guarda mesmo enquanto os dois descansavam.
Rhaedrin permaneceu sentado, a espada ao alcance, os olhos fixos na escuridão. Ele sabia que o caminho à frente seria perigoso, mas, pela primeira vez em muito tempo, sentia que não estava completamente sozinho.
O ar da madrugada estava denso e frio, carregando uma umidade que fazia a grama brilhar sob a luz da lua. O silêncio ao redor da clareira era quase absoluto, quebrado apenas pelo som suave da respiração dos cavalos e o ocasional estalar da fogueira que diminuía. Rhaedrin estava sentado contra uma árvore, com a espada repousando em suas pernas, enquanto seus olhos observavam a escuridão.
Lyana, deitada em um cobertor próximo à fogueira, acordou com um sobressalto. Algo parecia errado. Não era um som específico, mas um instinto, um arrepio que subia pela espinha. Ela virou-se para Rhaedrin, percebendo que ele já estava alerta.
— Algo está vindo, — disse ele, baixinho, os olhos fixos na borda da floresta.
Lyana pegou suas adagas, suas mãos instintivamente ajustando-se aos cabos familiares. Ela engoliu em seco, sentindo a adrenalina começar a fluir.
O primeiro som foi de folhas sendo esmagadas, seguido por um movimento rápido entre as árvores. Algo grande estava se aproximando, mas os passos eram calculados, como se a criatura soubesse exatamente onde estava pisando.
Rhaedrin levantou-se lentamente, puxando a espada com um movimento silencioso.
— Fique perto de mim, — disse ele, sua voz calma, mas carregada de autoridade.
Lyana assentiu, posicionando-se ao lado dele, suas adagas prontas. Ela respirou fundo, tentando controlar o ritmo do coração. Este era o momento que ela havia esperado — provar que estava aprendendo, que não era apenas um peso.
Quando a criatura emergiu das sombras, Lyana conteve um engasgo. Era uma figura grotesca, alta e encurvada, com garras longas que brilhavam à luz da lua. Os olhos eram vermelhos e brilhavam como brasas, fixando-se diretamente neles.
— Você sabe o que fazer, — disse Rhaedrin, dando um passo à frente para atrair a atenção da criatura.
A besta soltou um grito gutural antes de avançar, rápida como um borrão. Rhaedrin bloqueou o primeiro golpe com a espada, o impacto forte o suficiente para fazer a lâmina vibrar em suas mãos. Ele girou, desviando e contra-atacando com precisão, enquanto Lyana se movia ao redor da criatura, procurando uma abertura.
— Vá para as pernas, — gritou Rhaedrin, desviando mais um ataque.
Lyana não hesitou. Ela avançou com agilidade, suas adagas cortando o ar em um arco baixo. O golpe encontrou a perna traseira da criatura, e um rugido de dor ecoou pela clareira.
A criatura virou-se para ela, mas Rhaedrin foi mais rápido. Ele desferiu um golpe que atingiu o ombro da besta, forçando-a a recuar.
— Continue pressionando, — ordenou ele, o tom firme, mas não duro.
Lyana se reposicionou, seus movimentos agora mais rápidos e calculados. Ela desviava com facilidade, cada golpe que ela desferia parecia mais natural. Rhaedrin observava de relance, notando o progresso que ela havia feito.
A luta continuou por alguns minutos que pareceram horas. A criatura, embora feroz, estava claramente em desvantagem contra os dois. Finalmente, Rhaedrin viu a abertura que precisava e desferiu o golpe final. A espada atravessou o peito da criatura, e ela caiu com um grito abafado antes de se dissolver em uma névoa escura que se dissipou no ar.
Lyana ofegava, mas estava de pé, suas adagas ainda firmes em suas mãos. Ela olhou para Rhaedrin, um sorriso cansado, mas vitorioso surgindo em seu rosto.
— Consegui, — disse ela, quase sem acreditar.
— Você fez bem, — respondeu ele, guardando a espada.
Ela riu, abaixando as armas e passando a mão pelo rosto para limpar o suor.
— Isso foi... intenso.
Rhaedrin assentiu, olhando ao redor para garantir que o perigo havia passado.
— Lembre-se disso. Não é apenas a luta. É estar pronta para o que vem depois.
Ela o observou, sentindo uma mistura de alívio e orgulho. Pela primeira vez, não se sentia completamente dependente dele. Sabia que ainda havia muito a aprender, mas aquele momento era um marco.
Enquanto arrumavam a clareira, Rhaedrin colocou a mão no ombro dela por um breve momento, algo raro vindo dele.
— Você está no caminho certo.
Lyana sorriu, sentindo o peso da aprovação dele. Enquanto voltavam para o acampamento, a clareira parecia menos opressiva, e ela sentia que, pela primeira vez, estava realmente se tornando parte daquele mundo.
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Atualizado até capítulo 20
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