sombras jas montanhas

A noite caiu lentamente sobre o campo enquanto o grupo avançava, o baú recém-adquirido amarrado com segurança ao lado de Ardyn. O vento frio soprava pelas colinas, trazendo consigo o som distante de corujas e o farfalhar suave das árvores. Lyana puxou sua capa para mais perto do corpo, sentindo o frio penetrar, enquanto Sanshoukuin permanecia calmo, seus passos firmes e regulares.

Rhaedrin liderava o caminho, seus olhos fixos no horizonte, mas sua mente estava longe. O medalhão e os mapas dentro do baú não eram apenas pistas — eram provas de que Alastair estava se movendo mais rápido do que haviam imaginado. Ele sabia que o tempo estava se esgotando, e cada decisão precisava ser precisa.

— Está tudo bem? — perguntou Lyana, aproximando-se dele com um tom de preocupação.

— Estou pensando, — respondeu ele, sem tirar os olhos da estrada.

Sanshoukuin, caminhando alguns passos atrás, observava os dois em silêncio. Ele não era de interferir em momentos como aquele, mas algo no ambiente o deixava em alerta. O instinto que o havia mantido vivo tantas vezes antes agora sussurrava que algo estava prestes a acontecer.

— Devemos parar em breve, — disse Sanshoukuin finalmente, sua voz calma, mas firme. — Estamos ficando expostos.

Rhaedrin assentiu lentamente, concordando.

— Há uma clareira adiante. Vamos descansar lá por algumas horas antes de continuar.

---

A clareira era pequena, cercada por árvores altas que bloqueavam a maior parte do vento. Rhaedrin rapidamente organizou o acampamento, enquanto Lyana cuidava dos cavalos e Sanshoukuin vasculhava os arredores em busca de sinais de perigo. O silêncio entre eles era confortável, como se cada um soubesse exatamente o que precisava fazer.

Quando a fogueira finalmente estava acesa, Lyana retirou seu violão, sentando-se ao lado das chamas. Seus dedos começaram a deslizar pelas cordas, produzindo uma melodia suave que preenchia o ar com uma sensação de calma. Rhaedrin, sentado perto, olhou para ela com uma leve curiosidade.

— Você sempre toca à noite, — comentou ele, sua voz carregada de cansaço, mas também de interesse genuíno.

— É uma forma de relaxar, — respondeu ela com um sorriso, sem parar de tocar. — Além disso, gosto de pensar que ajuda a afastar as sombras.

Sanshoukuin voltou à clareira, sua expressão neutra enquanto se sentava do outro lado da fogueira. Ele tirou sua espada da bainha e começou a limpá-la, os movimentos metódicos refletindo sua personalidade disciplinada.

— Você já tocou para outras pessoas antes disso? — perguntou ele, olhando para Lyana.

Ela parou por um momento, surpresa pela pergunta.

— Não muitas vezes. Era algo que fazia sozinha, antes de... tudo isso.

— Você toca bem, — comentou Sanshoukuin, com sinceridade.

Rhaedrin lançou um olhar rápido para ele, mas não disse nada. Havia algo nos modos de Sanshoukuin que, lentamente, começava a ganhar sua aceitação, embora ele ainda não estivesse completamente à vontade com a presença do novo membro.

---

Quando a música terminou, o grupo se acomodou para descansar. Lyana ficou acordada por mais alguns minutos, observando as chamas dançarem enquanto sua mente vagava para o que encontrariam no dia seguinte. As peças do quebra-cabeça que estavam reunindo ainda pareciam desconexas, mas ela sabia que o confronto com Alastair estava se aproximando.

Sanshoukuin permaneceu acordado, sentado próximo à fogueira, sua espada descansando em seu colo. Ele olhou para Lyana, que parecia perdida em pensamentos, e depois para Rhaedrin, que já estava dormindo, sua espada ao alcance das mãos.

— Você acha que estamos prontos para o que está por vir? — perguntou Lyana, quebrando o silêncio.

Sanshoukuin ponderou por um momento antes de responder.

— Não há como estar totalmente preparado para algo assim. Mas estamos fazendo o que podemos, e isso é o que importa.

Ela assentiu, um leve sorriso surgindo em seus lábios.

— Obrigada por ser direto.

Ele deu um leve sorriso de volta, mas não disse mais nada.

---

A madrugada chegou trazendo consigo um nevoeiro espesso que envolvia a clareira. Rhaedrin foi o primeiro a acordar, seus sentidos imediatamente alertas ao notar a mudança no ambiente. Ele levantou-se silenciosamente, despertando Lyana e Sanshoukuin com um leve toque no ombro.

— Algo está errado, — murmurou ele, enquanto apontava para a floresta ao redor.

Sanshoukuin pegou sua espada, posicionando-se automaticamente ao lado de Rhaedrin, enquanto Lyana segurava suas adagas, mantendo-se próxima. O silêncio era absoluto, mas carregado de uma tensão quase palpável.

O ataque veio sem aviso. Uma flecha cruzou o ar, acertando o tronco de uma árvore próxima. Em seguida, figuras emergiram do nevoeiro, seus passos rápidos e coordenados. Eles estavam encapuzados e armados, claramente parte das forças de Alastair.

Rhaedrin avançou primeiro, sua espada cortando o ar em um movimento fluido que derrubou o primeiro inimigo antes que ele pudesse reagir. Lyana movia-se com agilidade, desviando de ataques e usando suas adagas para contra-atacar. Sanshoukuin enfrentava dois inimigos ao mesmo tempo, seus golpes precisos mantendo-os à distância.

— Cuidado com o flanco esquerdo! — gritou Sanshoukuin, enquanto bloqueava uma espada que vinha em sua direção.

Lyana girou, abatendo um inimigo que tentava atacá-la pelas costas.

— Estão tentando nos cercar!

— Não deixe que consigam! — ordenou Rhaedrin, sua voz firme enquanto derrubava outro adversário.

A batalha foi intensa, mas o grupo manteve sua formação, trabalhando em conjunto para neutralizar os inimigos. Quando o último atacante caiu, o silêncio voltou à clareira.

Rhaedrin limpou a espada, olhando para os corpos no chão.

— Isso foi um aviso. Ele sabe exatamente onde estamos.

Lyana respirava com dificuldade, mas manteve a compostura.

— O que faremos agora?

Sanshoukuin guardou sua espada, seus olhos fixos em Rhaedrin.

— Seguimos em frente. Quanto mais esperarmos, mais difícil será enfrentá-lo.

Rhaedrin assentiu, sua expressão séria. Ele sabia que Sanshoukuin estava certo. O tempo estava se esgotando, e cada momento perdido era uma vantagem para Alastair.

Enquanto o grupo se preparava para partir, o nevoeiro começava a se dissipar, revelando o caminho à frente. A batalha havia sido apenas mais um obstáculo, mas também um lembrete do que estava em jogo.

A clareira estava mais silenciosa do que nunca. O som do vento, que antes parecia trazer um alívio momentâneo, agora era pesado, como se carregasse o eco da batalha recém-terminada. Os corpos dos atacantes estavam espalhados pelo chão, e o cheiro metálico de sangue misturava-se ao da terra úmida.

Rhaedrin caminhou lentamente entre os corpos, seus olhos analisando cada detalhe. Ele encontrou um emblema gravado em uma das armaduras, um símbolo que não reconheceu imediatamente. Retirando-o com cuidado, ele o segurou à luz fraca da manhã.

— Alguma coisa? — perguntou Lyana, aproximando-se com as adagas ainda em mãos.

— Este símbolo, — respondeu ele, entregando o emblema para ela. — Pode ser de um dos grupos que Alastair está recrutando. Precisamos entender quem são esses homens.

Lyana observou o emblema, uma marca estilizada em forma de elipse com traços que lembravam um olho fechado. Algo naquele desenho a deixou inquieta, mas ela não conseguiu dizer o porquê.

Sanshoukuin, que havia se mantido em silêncio, aproximou-se, limpando a lâmina de sua espada em um pedaço de pano. Seus olhos fixaram-se no emblema, e ele franziu a testa.

— Já vi isso antes. No norte, em uma cidade esquecida. Eles são seguidores de um antigo culto.

— Culto? — perguntou Lyana, intrigada.

— Um grupo que acredita em libertar o mundo através do caos, — explicou Sanshoukuin. — Sempre pensei que fossem apenas rumores.

Rhaedrin olhou para o horizonte, sua mente trabalhando rapidamente.

— Alastair não está apenas recrutando homens. Ele está reunindo facções que compartilham de sua visão distorcida. Isso torna tudo ainda mais perigoso.

Ele guardou o emblema no bolso e virou-se para os outros.

— Precisamos continuar. Há uma cidade a um dia de viagem daqui. Talvez possamos encontrar mais informações lá.

---

A viagem foi lenta e silenciosa, cada um imerso em seus próprios pensamentos. O ataque os havia deixado mais alertas, e o peso das descobertas começava a se fazer sentir. A floresta tornou-se menos densa à medida que se aproximavam da cidade, revelando colinas suaves e campos abertos.

Quando finalmente avistaram a cidade ao longe, Rhaedrin levantou a mão para sinalizar que parassem.

— Vamos entrar discretamente. Não sabemos o que nos espera lá.

Lyana assentiu, ajustando o violão em suas costas, enquanto Sanshoukuin verificava sua espada mais uma vez. O grupo seguiu pela estrada principal, mantendo-se atentos aos arredores.

---

A cidade era maior do que esperavam, com ruas movimentadas e um mercado vibrante. Mas, apesar da aparente normalidade, havia algo estranho no ar. Os olhares desconfiados dos aldeões e o silêncio incomum nas vielas indicavam que algo estava fora do lugar.

— Não gosto disso, — murmurou Lyana, enquanto passavam por um grupo de comerciantes que rapidamente desviaram os olhos.

— Concordo, — respondeu Sanshoukuin, mantendo-se próximo. — Isso não é medo comum.

Rhaedrin os guiou até uma taverna na parte mais afastada da cidade. O ambiente era escuro e esfumaçado, mas oferecia uma boa visão da entrada. Eles se sentaram em uma mesa no canto, de onde podiam observar o movimento.

— Precisamos de informações, — disse Rhaedrin, baixando a voz. — Lyana, veja se consegue falar com o taverneiro. Ele pode saber algo sobre os homens que enfrentamos.

Lyana assentiu e foi até o balcão, enquanto Sanshoukuin observava as pessoas ao redor. Havia um grupo de homens encapuzados em outra mesa, sussurrando entre si. Seus olhares furtivos eram suficientes para chamar a atenção de Sanshoukuin, que imediatamente alertou Rhaedrin com um leve gesto.

— Estamos sendo observados, — murmurou ele.

Rhaedrin seguiu o olhar de Sanshoukuin, fixando-se nos homens. Ele não demonstrou nenhuma reação, mas sua mão foi discretamente para o punho da espada.

Lyana voltou, sentando-se rapidamente.

— O taverneiro não sabe muito, mas mencionou que um grupo estranho passou por aqui há alguns dias. Eles foram vistos indo em direção às montanhas.

— Isso confirma o que suspeitávamos, — disse Rhaedrin, ainda observando os homens na outra mesa.

Antes que pudessem discutir mais, um dos encapuzados levantou-se e caminhou até eles. Ele parou ao lado da mesa, seu rosto escondido sob o capuz.

— Vocês não deveriam estar aqui, — disse ele, com uma voz grave e ameaçadora.

Sanshoukuin levantou-se lentamente, sua altura intimidando o homem.

— E quem vai nos impedir?

O homem deu um passo para trás, mas antes que pudesse reagir, Rhaedrin segurou-o pelo braço.

— Quem é você? E por que nos observava?

O encapuzado hesitou, mas o olhar gelado de Rhaedrin o fez ceder.

— Não sou ninguém, só um mensageiro. Mas aviso: saiam daqui antes que seja tarde.

Rhaedrin soltou o homem, que rapidamente saiu da taverna. O grupo trocou olhares, o silêncio entre eles carregado de entendimento mútuo.

— Não estamos seguros aqui, — disse Lyana, com a voz baixa.

— Nunca estivemos, — respondeu Rhaedrin, levantando-se. — Vamos descobrir mais sobre essas montanhas e nos preparar.

Sanshoukuin colocou a mão no ombro de Rhaedrin por um breve momento.

— Estamos prontos para o que vier.

Rhaedrin não respondeu, mas o leve aceno de sua cabeça mostrou que entendia. O caminho à frente era incerto, mas o grupo sabia que não podia recuar.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!