O Som do Vento e as Palavras Não Ditadas

O dia amanhecia com dificuldade, a luz pálida do sol mal conseguindo atravessar a espessa camada de nuvens que cobria o céu. A floresta estava silenciosa, com apenas o som suave do vento balançando as folhas e o ocasional farfalhar de pequenos animais se movendo entre os arbustos.

Rhaedrin, Lyana e Sanshoukuin haviam montado acampamento próximo a um riacho. A água cristalina fluía suavemente sobre as pedras, criando um som relaxante que preenchia o espaço entre eles. Era um momento raro de calma, mas cada um estava absorvido em seus próprios pensamentos.

Rhaedrin estava sentado em um tronco caído, verificando cuidadosamente sua espada. Seus movimentos eram metódicos, quase rituais. O brilho da lâmina refletia a luz fraca do dia, e ele passava os dedos pelas marcas na arma, como se relembrasse cada batalha.

Sanshoukuin estava mais afastado, perto da margem do riacho. Ele estava de pé, com os olhos fixos na água, mas sua postura não era de relaxamento. Havia uma tensão sutil em seus ombros, como se estivesse sempre pronto para reagir.

Lyana, por sua vez, estava sentada sobre um pedaço de pano próximo à fogueira apagada. Em seu colo repousava o violão, e seus dedos moviam-se lentamente pelas cordas, tocando uma melodia suave e melancólica. O som era baixo, mas preenchia o ar com uma serenidade que contrastava com a tensão latente do grupo.

— Você sempre toca isso, — comentou Sanshoukuin, sem desviar o olhar da água.

Lyana sorriu, mas não levantou os olhos do violão.

— É uma das primeiras músicas que compus. Não sei... me faz sentir conectada a algo maior.

— Algo maior? — perguntou Rhaedrin, sem erguer a cabeça de sua espada.

Lyana deu de ombros, continuando a tocar.

— Talvez a mim mesma. Ou ao que eu era antes de tudo isso.

O silêncio voltou a se instalar, mas desta vez era mais confortável. O som do violão se misturava ao burburinho do riacho, criando uma atmosfera que parecia quase intocada pelos perigos que os cercavam.

---

Depois de uma rápida refeição, composta por pão seco e frutas que haviam recolhido em suas viagens, o grupo começou a se preparar para seguir em frente. Rhaedrin montava Noctis, observando os arredores com atenção, enquanto Lyana ajustava os alforjes de Ardyn.

Sanshoukuin, como de costume, não demonstrava qualquer interesse em montar o cavalo que agora fazia parte do grupo. Ele verificava sua espada e os mantimentos, garantindo que tudo estivesse em ordem antes de partirem.

— Você realmente não gosta de cavalos, não é? — perguntou Lyana, olhando para ele com um sorriso curioso.

Sanshoukuin deu uma leve risada, um som raro vindo dele.

— Não é questão de gostar ou não. Apenas me sinto mais conectado ao chão.

Rhaedrin observou a interação de longe, mas não comentou. Havia algo nos modos de Sanshoukuin que começava a ganhar seu respeito, embora ele ainda não estivesse pronto para admiti-lo.

---

A trilha os levou a um terreno mais elevado, onde as árvores começavam a diminuir, dando lugar a campos abertos e montanhas à distância. O vento ali era mais forte, trazendo consigo o cheiro de grama úmida e terra fresca.

— Vamos parar lá em cima, — disse Rhaedrin, apontando para um afloramento rochoso que oferecia uma boa visão do vale abaixo.

Quando chegaram, desmontaram e tomaram seus lugares ao redor de uma pequena fogueira improvisada. Rhaedrin puxou um mapa de um dos alforjes e começou a analisá-lo, traçando possíveis rotas para os próximos dias.

— Estamos nos aproximando do território de Alastair, — disse ele, sem levantar os olhos.

Sanshoukuin cruzou os braços, inclinando-se ligeiramente para olhar o mapa.

— Ele está se preparando para algo grande. Os grupos que enfrentamos antes eram apenas uma distração.

— Concordo, — respondeu Rhaedrin. — Mas ainda não sabemos o que ele realmente quer.

Lyana, que estava sentada mais afastada, olhou para os dois com preocupação.

— Talvez devêssemos... tentar descobrir mais antes de enfrentá-lo diretamente.

Rhaedrin assentiu lentamente, mas não respondeu. Ele sabia que Lyana estava certa, mas também sabia que tempo era um luxo que não tinham.

---

O silêncio foi interrompido por um som distante — algo entre um rugido e um uivo que ecoou pelo vale. Todos os três ficaram tensos, suas mãos indo instintivamente para suas armas.

— Isso foi... perto, — murmurou Lyana, seus olhos arregalados.

Rhaedrin levantou-se, colocando a mão no cabo da espada.

— Preparem-se. Seja o que for, está vindo para cá.

Sanshoukuin sacou sua espada, seus olhos fixos no horizonte.

— Parece que teremos companhia.

A tensão no ar era quase palpável, e o grupo sabia que o confronto que estava por vir não seria como os outros. Mas, apesar do perigo, havia uma calma determinada em cada um deles — uma confiança silenciosa que vinha de suas experiências e da força que encontravam uns nos outros.

O vento continuava a soprar, carregando consigo os sons da aproximação. E, enquanto eles se posicionavam, era como se o mundo ao redor estivesse prendendo a respiração, aguardando o momento em que o silêncio seria quebrado pelo choque das lâminas e o rugido da batalha.

Os sons dos passos pesados aproximavam-se cada vez mais, trazendo consigo uma sensação de tensão crescente. A clareira, iluminada apenas pela luz tênue que escapava pelas árvores, tornava-se o palco de algo iminente. O grupo se posicionava em formação, atentos a cada movimento ao redor.

Rhaedrin firmou sua postura, segurando a espada com confiança, o olhar fixo no ambiente ao redor.

— Lyana, mantenha-se atenta. Sanshoukuin, cubra o flanco esquerdo.

Lyana assentiu, movendo-se com agilidade para o lado, as adagas prontas em suas mãos. Sanshoukuin, com sua espada descansando no ombro, tomou posição mais à frente, pronto para reagir.

A primeira criatura surgiu das sombras, movendo-se com rapidez. Era alta, com garras afiadas e olhos brilhantes que pareciam perfurar o escuro. Ela avançou contra Rhaedrin, que desviou para o lado com precisão, desferindo um golpe que acertou o flanco da criatura. O grito ecoou, mas não a deteve completamente.

Lyana observava cada movimento com cuidado, desviando de outro ataque que vinha em sua direção. Com uma habilidade que começava a demonstrar seu treinamento, ela girou o corpo, atacando a lateral da criatura com suas adagas. A fera cambaleou, mas continuou a se mover, como se não pudesse sentir dor.

Sanshoukuin enfrentava duas criaturas que tentavam cercá-lo. Com passos firmes e golpes precisos, ele mantinha ambas afastadas. Uma avançou em um salto, mas ele desviou com rapidez, usando o peso de sua espada para atacar de cima, forçando a criatura a recuar.

— Elas são organizadas, — comentou Sanshoukuin, enquanto mantinha o ritmo de seus ataques. — Não estão agindo apenas por instinto.

— Isso confirma que não estamos lidando apenas com monstros, — respondeu Rhaedrin, bloqueando mais um ataque com um movimento fluido.

A luta continuou, cada membro do grupo enfrentando os inimigos com precisão. Rhaedrin, com sua força e estratégia, abatia cada adversário que cruzava seu caminho. Lyana movia-se com leveza, suas adagas encontrando pontos vulneráveis nas criaturas. Sanshoukuin, com sua presença imponente, controlava o ritmo da batalha, impedindo que as criaturas conseguissem se reorganizar.

Quando a última criatura caiu, o silêncio tomou conta da clareira. Rhaedrin respirava profundamente, limpando a espada com calma antes de guardá-la. Lyana olhou ao redor, observando os corpos no chão, e então voltou-se para os dois.

— Isso foi... mais intenso do que eu esperava, — disse ela, ainda segurando as adagas.

Sanshoukuin limpou a lâmina, olhando para o horizonte com seriedade.

— Elas não eram comuns. Algo está guiando seus movimentos.

Rhaedrin assentiu, sua expressão tensa enquanto olhava para o caminho à frente.

— Alastair. Ele está testando nossas capacidades.

O grupo trocou olhares, cada um processando o que havia acontecido. Lyana ajustou o violão em suas costas, enquanto Sanshoukuin retomava sua posição com a mesma calma de sempre.

— Precisamos continuar, — disse Rhaedrin, sua voz firme, mas controlada. — Não temos tempo a perder.

A floresta ao redor permanecia silenciosa, como se segurasse seu fôlego após o confronto. O grupo avançava novamente, cada passo carregado de determinação. O destino à frente ainda era incerto, mas a confiança em suas habilidades permanecia intacta. A luta contra Alastair estava apenas começando, mas eles sabiam que estariam prontos para o que viesse.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!