Descanso e Treinamento

O som de espadas chocando-se preenchia o ar, uma sinfonia metálica que ecoava pelos corredores de pedra da base dos Highlanders. Jovens de diferentes idades treinavam em um pátio amplo, suas posturas rígidas e movimentos controlados demonstrando tanto esforço quanto inexperiência. Alguns usavam espadas longas, outros lâminas curvas menores, mas todos estavam imersos em seus exercícios.

O chão do pátio era de pedra lisa, marcado por incontáveis batalhas e treinos. Armas de diferentes formatos descansavam em suportes próximos às paredes, enquanto instrutores observavam de perto, corrigindo movimentos e incentivando com palavras firmes, mas motivadoras.

— Mais força no golpe! — gritou um instrutor, caminhando entre os aprendizes. — Não basta acertar! Você precisa derrubar!

Em uma lateral, um pequeno grupo praticava movimentos rápidos e furtivos com adagas, enquanto outro treinava com lanças, formando círculos compactos de defesa e ataque. A base era um microcosmo de disciplina e determinação, cada canto pulsando com energia.

 

Rhaedrin e Lyana chegaram ao portão principal da base ao cair da tarde. A construção era impressionante, com muros altos de pedra escura cobertos de trepadeiras. O brasão dos Highlanders — uma lâmina negra envolta por um círculo de runas — estava entalhado sobre o arco de entrada.

Lyana parou por um momento, absorvendo a grandiosidade do lugar.

— É... maior do que eu imaginei, — disse ela, olhando para Rhaedrin.

Ele não respondeu, apenas fez um gesto para que ela o seguisse. Dentro, o movimento era constante. Guerreiros e aprendizes caminhavam pelos corredores, carregando armas, pergaminhos ou equipamentos. Alguns acenavam para Rhaedrin com respeito, mas ele mantinha o rosto sério e seguia em frente.

No pátio, Lyana observou os treinos com atenção. Um grupo de jovens, claramente aprendizes, praticava ataques básicos sob os olhos atentos de um instrutor mais velho. Outro grupo, mais experiente, duelava em pares, suas espadas criando faíscas a cada impacto.

— Isso tudo é... intenso, — comentou ela, enquanto eles atravessavam o pátio.

— É necessário, — respondeu Rhaedrin. — Aqui, eles aprendem o que precisam para sobreviver.

— E você? Aprendeu aqui também?

Ele parou por um momento, olhando para ela.

— Não exatamente. Meu treinamento foi... diferente.

Antes que ela pudesse perguntar mais, uma voz os interrompeu.

— Rhaedrin! — Um homem alto e de aparência forte caminhou em sua direção, um sorriso brincando em seus lábios. Ele carregava uma espada longa nas costas e vestia uma armadura leve decorada com runas.

— Kaelar, — respondeu Rhaedrin, com um leve aceno de cabeça.

Kaelar parou diante deles, seus olhos passando de Rhaedrin para Lyana.

— E quem é essa? Uma nova aprendiz?

— Lyana, — respondeu ela rapidamente, estendendo a mão.

Kaelar apertou a mão dela, rindo.

— Você tem coragem para acompanhar Rhaedrin. Poucos conseguem.

Rhaedrin balançou a cabeça levemente.

— Estamos apenas de passagem. Tenho algo para mostrar a ela.

Kaelar ergueu uma sobrancelha, mas não questionou.

— A biblioteca?

Rhaedrin assentiu.

— Sim. Ela precisa começar de algum lugar.

 

A biblioteca da base ficava em uma ala mais silenciosa e isolada. Ao entrarem, Lyana sentiu o cheiro de pergaminhos envelhecidos e madeira polida. As paredes eram forradas de estantes altas, cada uma repleta de livros e manuscritos cuidadosamente organizados. Lanternas mágicas flutuavam no ar, emitindo uma luz suave e constante.

— Isso é... impressionante, — murmurou ela, olhando ao redor.

— Aqui, você encontrará conhecimento sobre tudo o que precisa, — disse Rhaedrin, conduzindo-a até uma seção dedicada a táticas de combate. — Estratégias, estilos de luta, história.

Lyana passou os dedos por uma fileira de livros, sentindo o peso do momento.

— Você estudou aqui?

— Estudei o que precisava, — respondeu ele. — Mas o campo é onde realmente se aprende.

Enquanto ela explorava, um guerreiro mais velho entrou na sala, carregando um pergaminho. Ele parou ao ver Rhaedrin e sorriu.

— Faz tempo, Rhaedrin.

— Thalric, — respondeu ele, acenando.

Thalric olhou para Lyana com curiosidade.

— Uma nova aprendiz?

— Algo assim, — disse Rhaedrin.

— Então você deve ensiná-la bem. — Thalric colocou o pergaminho sobre uma mesa. — Já que está aqui, não se esqueça de atualizar seus equipamentos. Temos novas forjas abertas no oeste da base.

Rhaedrin assentiu.

— Faremos isso.

Quando Thalric saiu, Lyana se aproximou de Rhaedrin.

— Ele parece... legal.

— É um bom guerreiro, — respondeu ele, pegando um livro de uma das estantes. — Mas confie menos em palavras e mais em ações.

Ela abriu um dos livros, olhando para as ilustrações detalhadas de posturas de combate.

— Quero aprender isso. Quero ser capaz de... lutar como eles.

Ele a observou por um momento antes de responder.

— Primeiro, escolha sua arma. Depois, aprendemos o básico.

Um leve sorriso surgiu nos lábios dela. Pela primeira vez, ela sentia que estava dando um passo em direção a algo maior.

 

Na manhã seguinte, Rhaedrin a levou até uma das áreas de treinamento. Lá, diferentes guerreiros praticavam com várias armas: espadas curtas, adagas, arcos e lanças. Ele a conduziu até uma mesa onde diversas armas estavam dispostas.

— Escolha, — disse ele.

Lyana olhou para as opções, suas mãos passando por cada uma. Finalmente, pegou duas adagas de lâminas curvas, leves e equilibradas.

— Essas.

Rhaedrin assentiu.

— Então vamos começar.

Enquanto o sol subia no céu, iluminando o pátio, Lyana deu seu primeiro passo em direção ao que ela sabia que seria uma longa e desafiadora jornada.

O ar fresco da manhã enchia o pátio de treino, carregando consigo o cheiro de terra úmida e metal polido. O sol, ainda baixo no horizonte, lançava uma luz dourada que fazia as lâminas das armas brilharem. Lyana apertava as duas adagas que escolhera, sentindo o peso delas em suas mãos. Eram leves, mas sólidas, e o toque frio do metal parecia transmitir uma energia estranha, quase como se as armas estivessem vivas.

Rhaedrin estava ao lado dela, segurando sua espada como se fosse uma extensão de seu corpo. Ele olhou para ela, seus olhos cinzentos avaliando sua postura.

— Segure assim, — disse ele, aproximando-se e ajustando a posição das mãos dela. Sua voz era firme, mas não rude. — As adagas são rápidas, mas exigem controle. Se você segurar errado, vai perder o equilíbrio no golpe.

Lyana sentiu as mãos dele tocarem as suas, guiando seus movimentos. Era um gesto prático, mas algo na proximidade fez seu coração bater mais rápido. Ela tentou esconder o nervosismo, concentrando-se no que ele dizia.

— Agora, tente atacar, — continuou ele, recuando alguns passos e observando.

Ela respirou fundo, ajustando os pés no chão de pedra. Com um movimento rápido, avançou e desferiu um golpe horizontal, mas seu braço tremia levemente, e a lâmina perdeu a precisão.

Rhaedrin balançou a cabeça.

— De novo.

Ela tentou mais uma vez, mas o golpe ainda parecia hesitante. Frustrada, ela soltou um suspiro pesado, abaixando as adagas.

— Não sou boa nisso...

— Ninguém é no início, — disse ele, aproximando-se novamente. — A luta não é sobre força. É sobre controle.

Ele pegou uma das adagas dela e executou um movimento fluido, sua precisão quase hipnótica. A lâmina cortou o ar com um som baixo e limpo antes de ele devolvê-la.

— Isso é o que você deve buscar. Velocidade e precisão, não força.

Lyana assentiu, determinada a tentar novamente. Ela ajustou a postura e atacou de novo, desta vez com mais firmeza. O som da lâmina cortando o ar trouxe um sorriso de satisfação ao seu rosto.

— Melhor, — disse Rhaedrin, com um leve aceno de aprovação.

 

Enquanto os treinos continuavam, o pátio ao redor fervilhava de atividade. Lyana notava outros grupos praticando: guerreiros com lanças realizando ataques coordenados, espadachins mais experientes duelando em combates intensos, e arqueiros disparando flechas em alvos distantes. Cada grupo parecia completamente absorvido em seus treinos, suas expressões refletindo concentração absoluta.

Uma jovem de cabelos curtos e olhos afiados se aproximou, carregando uma espada curva. Ela parou ao lado de Rhaedrin, lançando um olhar curioso para Lyana.

— Então, essa é sua aprendiz? — perguntou, com um leve sorriso.

— Algo assim, — respondeu Rhaedrin, sem se virar.

— Ela tem potencial, — comentou a jovem, observando Lyana com interesse. — Meu nome é Kaelin. Se precisar de ajuda, posso ensinar algumas coisas sobre mobilidade.

Lyana sorriu, agradecendo com um aceno. Kaelin parecia ágil, seus movimentos rápidos e elegantes enquanto girava a espada em um pequeno arco, como uma demonstração casual de habilidade.

— Obrigada, mas acho que já tenho trabalho suficiente com ele, — respondeu Lyana, apontando para Rhaedrin.

Kaelin riu, cruzando os braços.

— Ele é exigente, mas é o melhor que você poderia ter. Boa sorte.

Ela se afastou, voltando ao grupo de espadachins. Lyana observou-a por um momento antes de voltar sua atenção para Rhaedrin.

— Todo mundo aqui parece tão... forte.

— Eles treinam todos os dias, — disse ele, entregando a ela um cantil de água. — E você vai fazer o mesmo, se quiser sobreviver.

Ela bebeu um gole, o frescor da água aliviando o calor que começava a subir com o esforço. Sentou-se em uma pedra próxima, observando o movimento ao redor.

— É estranho pensar que, há pouco tempo, eu só estava tentando sobreviver dia após dia. Agora estou aqui... aprendendo a lutar como vocês.

Rhaedrin se aproximou, sentando-se ao lado dela.

— Você ainda está sobrevivendo. Mas agora, com uma chance de lutar de verdade.

Houve um silêncio confortável entre os dois, enquanto o som dos treinos preenchia o espaço. Lyana olhou para ele, os olhos fixos em seu rosto por um momento antes de desviar.

— Obrigada por isso, — disse ela, a voz baixa.

Ele a olhou de lado, mas não respondeu. Apenas se levantou e estendeu a mão para ela.

— Volte para o treino.

 

Mais tarde, quando o sol já estava alto, Rhaedrin a levou até a biblioteca novamente. O silêncio ali era quase reverente, interrompido apenas pelo som ocasional de páginas sendo viradas.

— Aqui, você vai aprender mais do que apenas lutar, — disse ele, pegando um pergaminho e colocando-o na frente dela. — Estratégias, anatomia de criaturas, táticas de sobrevivência.

Ela olhou para o pergaminho, absorvendo as palavras e os diagramas detalhados.

— É muita coisa...

— Um passo de cada vez, — disse ele, cruzando os braços.

Enquanto ela lia, ele se afastou, pegando um livro para si. Observando-a de longe, percebeu algo que o fez sorrir levemente. Lyana tinha determinação, algo que ele não esperava encontrar em alguém como ela.

Naquele momento, ele soube que, mesmo com todas as dificuldades, ela não era um peso. Ela era um aprendizado — para ela mesma e para ele.

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