Sombras do passado

A estrada estava silenciosa, exceto pelo som rítmico dos cascos de Noctis e Ardyn contra a terra batida. A luz do amanhecer espalhava tons dourados pelas árvores ao redor, criando sombras longas que os acompanhavam. Lyana segurava as rédeas com mais firmeza do que o necessário, sua mente ainda fervilhando com a luta da noite anterior.

Ela olhou para Rhaedrin, que estava à frente, sua postura ereta e vigilante. Ele parecia uma estátua de determinação, como sempre. Mas, naquela manhã, Lyana não estava satisfeita com o silêncio que costumava pairar entre eles.

— Rhaedrin, — começou ela, hesitante.

— O que foi? — respondeu ele, sem se virar.

Ela mordeu o lábio, tentando encontrar as palavras.

— Essa missão... você ainda não me contou muito sobre ela. Quem estamos enfrentando?

Ele permaneceu em silêncio por um momento antes de desacelerar Noctis, deixando que ela se aproximasse. Quando finalmente respondeu, sua voz era baixa, mas carregada de algo que parecia ser uma ponta de cautela.

— Não é apenas um monstro desta vez.

Lyana franziu o cenho, inclinando-se ligeiramente para a frente.

— Então... o que é?

Rhaedrin olhou para ela de lado, seu olhar sério.

— Highlanders caídos.

O silêncio entre eles foi quase palpável. Ela piscou, confusa.

— O que você quer dizer com 'caídos'?

Ele suspirou levemente, ajustando as rédeas de Noctis enquanto escolhia suas palavras.

— Alguns de nós... não suportam o peso do que fazemos. Alguns quebram. Outros se corrompem.

Lyana franziu o cenho, tentando entender.

— Eles... abandonaram a organização?

— Não é apenas abandono, — respondeu ele, firme. — É traição. Eles conhecem nossos métodos, nossas fraquezas. E usam isso contra nós.

Ela engoliu em seco, a realidade das palavras dele pesando em sua mente.

— Então... eles são como você, mas agora são... inimigos?

Rhaedrin assentiu levemente.

— Sim. E não subestime nenhum deles.

 

Ao longo da tarde, enquanto a estrada os levava por campos abertos e colinas suaves, Lyana não conseguia tirar os pensamentos da mente. Highlanders caídos. Pessoas que um dia lutaram pelo mesmo propósito que Rhaedrin agora estavam do outro lado. Ela não conseguia imaginar alguém tão disciplinado e focado como ele se voltando contra os próprios companheiros.

— Eles eram como você? — perguntou ela, quebrando o silêncio novamente.

Ele olhou para ela de relance.

— Alguns. Outros eram magos, espadachins... guerreiros que deveriam ter mantido suas posições, mas escolheram o caminho errado.

— Por quê? — insistiu ela. — Por que alguém faria isso?

Ele hesitou por um momento antes de responder.

— Poder, ganância, ou talvez apenas fraqueza. Cada um tem seus motivos. Mas, no fim, não importa. Eles escolheram o lado errado, e é nosso trabalho lidar com isso.

Ela ficou em silêncio, processando as palavras. A ideia de enfrentar alguém que conhecia tão bem os Highlanders parecia mais assustadora do que lutar contra monstros.

— Algum deles... você conhece? — perguntou ela, com cautela.

Rhaedrin não respondeu de imediato. Seus olhos estavam fixos no horizonte, mas havia algo em sua expressão que sugeria que a pergunta havia atingido um ponto sensível.

— Sim.

 

Quando a noite caiu, eles montaram acampamento em uma clareira cercada por árvores altas. O som de corujas e o farfalhar do vento nas folhas criavam um ambiente quase tranquilo, mas Lyana podia sentir a tensão no ar.

Enquanto Rhaedrin preparava o acampamento, Lyana se sentou perto da fogueira, suas adagas descansando em seu colo. Ela olhou para ele, observando como ele movia-se com eficiência, mas também com algo que parecia pesar em seus ombros.

— Quem era? — perguntou ela, finalmente.

Rhaedrin parou por um momento antes de se sentar ao lado da fogueira, sua espada ao alcance. Ele olhou para as chamas por um longo tempo antes de responder.

— Alaric. Um dos melhores que já conheci.

Lyana esperou, mas ele parecia relutante em continuar.

— O que aconteceu com ele?

Rhaedrin passou a mão pelo rosto, algo raro vindo dele.

— Ele queria mais. Mais poder, mais controle. A organização não lhe deu o que queria, então ele foi buscar em outro lugar.

Ela franziu o cenho, tentando entender.

— E agora ele é... o inimigo?

Rhaedrin assentiu lentamente.

— Ele é perigoso, Lyana. Inteligente, calculista, e conhece nossos métodos melhor do que ninguém.

Lyana sentiu um arrepio, mas ao mesmo tempo, algo dentro dela acendeu. Não era apenas medo — era determinação.

— Então, vamos enfrentá-lo, — disse ela, a voz firme.

Rhaedrin olhou para ela, surpreso pela convicção. Após um momento, ele assentiu.

— Sim. Mas esteja preparada. Ele não será como nada que você já enfrentou.

Enquanto o fogo lançava sombras nas árvores ao redor, Lyana apertou as adagas com mais força. Ela sabia que o caminho à frente seria mais difícil do que qualquer coisa que havia enfrentado até agora. Mas, ao lado de Rhaedrin, ela estava pronta para tentar.

A noite avançava lentamente, e a fogueira no centro do acampamento lançava sombras dançantes nas árvores ao redor. Lyana ajeitou o violão no colo, observando as chamas com um olhar perdido. As palavras de Rhaedrin sobre Alaric ainda ecoavam em sua mente, mas, em vez de ceder ao peso da situação, ela buscava algo para aliviar a tensão.

— Rhaedrin, — chamou ela, tirando-o de seus pensamentos.

Ele ergueu os olhos da espada que limpava meticulosamente, arqueando uma sobrancelha.

— O que foi?

Ela não respondeu imediatamente. Em vez disso, começou a dedilhar as cordas do violão, produzindo uma melodia suave que se misturava ao som do vento nas folhas e ao farfalhar distante de pequenos animais. A música era melancólica, mas ao mesmo tempo reconfortante, como se contasse uma história que apenas ela conhecia.

Rhaedrin observava em silêncio, seus olhos cinzentos fixos nela. Ele não era um homem dado a momentos de calma, mas havia algo na música que parecia tocar um ponto mais profundo, um eco de algo esquecido.

De repente, Lyana começou a cantar. Sua voz era suave, mas carregava uma emoção que fazia a melodia ganhar vida.

*_“Sob as estrelas que dançam no céu,

Caminho em sombras, mas não estou só.

O vento sussurra, o destino me chama,

Carrego meu fardo, mas sigo em calma.

Lá na distância, a luz brilhará,

Mesmo na escuridão, ela guiará.

Passos incertos, mas não vou parar,

Pois sei que ao meu lado, você sempre estará.”_*

Rhaedrin permaneceu imóvel, sua expressão difícil de ler. A voz dela parecia preencher o espaço entre eles, e cada palavra carregava um peso que ele não esperava.

Quando ela terminou, deixou que as últimas notas do violão morressem no ar, olhando para ele com um leve sorriso.

— Eu compus isso há algum tempo, — disse ela, sua voz ainda baixa. — Antes de tudo isso começar.

— Por que trouxe o violão com você? — perguntou ele, a voz calma.

— Porque... — ela hesitou, ajustando as cordas. — É uma parte de mim. Algo que me lembra quem eu era, mesmo quando tudo ao meu redor parece estar mudando.

O silêncio entre eles era preenchido pelo calor do fogo e o som distante do vento. Finalmente, Rhaedrin inclinou levemente a cabeça.

— Continue tocando, se quiser.

Lyana sorriu, surpresa com a aprovação. Ela começou a dedilhar novamente, mas desta vez apenas a melodia, enquanto observava o rosto de Rhaedrin suavizar por um breve momento. Era raro vê-lo assim, e ela sabia que aquele instante era especial.

 

Quando o silêncio voltou a dominar o acampamento, Rhaedrin começou a organizar os preparativos para o dia seguinte. Ele verificou os alforjes, garantiu que as rédeas dos cavalos estivessem bem presas e ajustou a posição da espada ao lado do lugar onde dormiria.

Lyana, por sua vez, olhou para as adagas em suas mãos. Apesar do progresso que havia feito, sentia o peso da responsabilidade crescente. A missão à frente parecia diferente de todas as outras, mais pessoal e mais perigosa.

— Você acha que podemos vencê-los? — perguntou ela, sua voz quase um sussurro.

Rhaedrin olhou para ela, seus olhos sérios.

— Não é sobre vencer ou perder, Lyana. É sobre fazer o que precisa ser feito.

Ela assentiu, tentando absorver as palavras. Ainda assim, não podia ignorar a ansiedade que crescia em seu peito.

Enquanto a noite avançava, Rhaedrin finalmente deitou-se, descansando com a espada ao alcance. Lyana olhou para ele por um momento antes de se deitar também, o violão guardado ao seu lado. Ela sabia que os desafios estavam apenas começando, mas aquela pequena conexão que haviam compartilhado era suficiente para dar-lhe forças.

Com o som suave do vento e o calor da fogueira, Lyana adormeceu, pronta para encarar o que viesse ao amanhecer.

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