O Cerco Da Mentira

Os dias seguintes se arrastaram como correntes de ferro. Embora o castelo estivesse em pleno movimento, com os oficiais reunindo informações, a sensação de vulnerabilidade pairava sobre mim como uma nuvem prestes a desabar. Cada canto parecia esconder algo obscuro, e cada passo que eu dava parecia mais um eco de minha própria incerteza. A rainha estava cercada, mas o cerco não vinha das fronteiras do reino — vinha de dentro.

As palavras de Benedict ecoavam em minha mente, incessantes, como uma sombra implacável. Eu sabia que o perigo estava mais perto do que eu queria admitir. Mas havia algo mais em tudo isso, algo que me fazia questionar: até que ponto eu realmente sabia em quem confiar?

A noite caía lentamente sobre o castelo. O fogo nas lareiras estalava, mas o calor não conseguia afastar a sensação de frio que se instalava em meus ossos. Eu havia mandado chamar um pequeno grupo de aliados de confiança, aqueles em quem ainda acreditava, para uma reunião secreta no salão de armas, onde a distância e os ecos poderiam ajudar a manter o segredo. Mas mesmo ali, as paredes pareciam escutar e os sussurros, embora abafados, chegavam aos meus ouvidos com uma clareza assustadora.

À medida que me aproximava do salão, os passos rápidos de minha dama de companhia, Arabella, ecoaram atrás de mim.

— Sua Majestade, o que estamos prestes a fazer? — ela perguntou, com um olhar apreensivo.

Eu me virei para ela, forçando um sorriso.

— Arabella, não há mais tempo para hesitar. A verdade deve vir à tona, por mais dolorosa que seja. É o único caminho.

Ela me olhou, claramente dividida entre a preocupação e a lealdade. Eu sabia que ela, assim como muitos, começava a duvidar da segurança da própria corte. Os sinais estavam por toda parte: a crescente tensão entre os nobres, as movimentações estranhas dos militares e até os sussurros entre os servos. Algo estava prestes a estourar, e eu precisava estar preparada.

Entrei no salão de armas, onde Benedict já me esperava, com uma expressão que combinava urgência e cautela. Ele estava acompanhado de alguns dos oficiais mais confiáveis, homens que, pelo menos até agora, haviam se mostrado leais.

— Sua Majestade — Benedict saudou com um leve aceno de cabeça, e os outros presentes seguiram seu exemplo, embora suas expressões não fossem tão cerimoniosas.

Eu sentei-me na grande cadeira de carvalho, observando cada um deles atentamente. Sabia que qualquer um deles poderia estar envolvido na trama. Mesmo assim, era preciso manter a fachada. Não podia mostrar fraqueza.

— O que sabemos até agora? — perguntei, a voz controlada, mas com um toque de urgência.

Benedict tomou a palavra, com um ar de seriedade.

— A rede de traição é mais extensa do que imaginávamos, Sua Majestade. Há muitos fios conectando nobres, oficiais e até alguns membros do clero. O capitão foi apenas o primeiro a ser identificado. Mas agora sabemos que há outros envolvidos. Não podemos mais ignorar que há uma conspiração global contra o reino.

Eu apertei os punhos. A sensação de estar sendo observada, de ser cercada por inimigos que se escondiam sob disfarces respeitáveis, era insuportável.

— Como podemos agir sem comprometer a nossa posição? — perguntei, mais para mim mesma do que para eles.

— Precisamos agir com discrição — disse Benedict, sua voz firme. — Qualquer movimento precipitado poderia alertar nossos inimigos e fazer com que se escondessem mais profundamente. A questão é que eles estão se organizando. Já há rumores de um exército sendo formado nas terras ao sul.

Eu respirei fundo, absorvendo a informação. O sul. Essa era a região mais remota do reino, onde as fronteiras se misturavam com terras selvagens e tribais. Se a conspiração estava se espalhando até lá, isso significava que as forças contra nós estavam mais preparadas do que imaginávamos.

— O que sugerem, então? — perguntei, tentando manter o foco. A pressão era grande demais, mas não podia me dar ao luxo de demonstrar fraqueza.

Benedict olhou para os outros oficiais, que assentiram antes de ele continuar.

— Precisamos dividir nossas forças. Um grupo deve investigar os nobres e outros membros da corte para identificar mais traidores. Outro deve ir até o sul e averiguar a situação nas fronteiras. Eu irei com eles. Por enquanto, sua segurança será a nossa prioridade, Sua Majestade.

Eu hesitei. Estava clara a intenção de nos proteger, mas isso também significava que eu ficaria em risco. Uma parte de mim queria seguir com eles, estar na linha de frente, mas sabia que minha presença no castelo era vital para manter a moral e o comando. A outra parte de mim sentia um vazio, uma insegurança crescente. Ser rainha nunca havia sido tão pesado.

— Concordo. Mas não podemos perder tempo. Enviem mensageiros discretos para os pontos críticos. Quanto mais rápido formarmos uma frente unida, mais chances teremos de neutralizar qualquer ameaça — respondi, tomando a decisão.

A reunião se encerrou com a promessa de ação rápida. Benedict e os outros partiram, e eu fiquei sozinha por um momento, refletindo sobre o que havia sido discutido.

Por fim, Arabella entrou novamente, com uma expressão ainda mais tensa.

— Sua Majestade, há algo que preciso lhe contar. Algo que ouvi entre os servos… — ela disse, com um olhar apreensivo.

Eu a encarei, uma sensação de desconforto se instalando no peito.

— O que é, Arabella? — perguntei, um pouco impaciente, mas também preocupada com o tom de sua voz.

— Há rumores… Rumores de que o próprio Lorde Farron pode estar envolvido. Eles falam dele como alguém que está jogando duplamente, tentando manipular os movimentos dos nobres a seu favor.

Farron. Eu sabia quem ele era: um dos meus conselheiros mais poderosos e também um dos homens mais influentes da corte. A ideia de que ele poderia ser parte da conspiração me fez sentir um calafrio.

— Onde você ouviu isso? — perguntei, o tom mais baixo, tentando manter a calma.

— Nos corredores. Nos bastidores. Alguns servos falam em segredo. Ninguém ousa acusá-lo abertamente, mas o seu nome está sendo citado com frequência.

Eu fechei os olhos por um momento. Farron. Se ele fosse realmente o traidor, a situação seria ainda mais grave do que eu imaginava. Ele era astuto e tinha muitos aliados entre os nobres. Expor a sua traição seria um golpe direto à confiança que todos tinham na corte.

— Obrigada, Arabella. Continue atenta. O jogo acabou de mudar, e agora, mais do que nunca, precisamos estar preparados para o que vem a seguir.

Ela fez uma leve reverência e saiu, deixando-me sozinha novamente. O peso da responsabilidade se tornou ainda mais claro. Se Farron estivesse envolvido, a queda seria inevitável. Mas eu não podia permitir que isso acontecesse. Eu havia jurado proteger meu reino, e isso significava enfrentar até mesmo os mais poderosos dentro dele.

E, acima de tudo, isso significava que eu tinha que estar preparada para perder tudo, inclusive aqueles que mais confiava.

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