O amanhecer trouxe consigo a promessa de um novo dia, mas minha mente ainda estava pesada com os eventos da noite anterior. As negociações no sul eram apenas o começo. Dentro de mim, eu sabia que o reino estava testando minha força, e, para muitos, meu sucesso ou fracasso não passava de uma aposta.
Na sala do trono, a atmosfera era sombria. Os conselheiros estavam reunidos, e suas expressões refletiam um misto de preocupação e desaprovação. Entre eles estava Alaric, cuja postura rígida e olhar severo pareciam uma acusação silenciosa.
— Majestade, os emissários retornaram — anunciou Fairmont, quebrando o silêncio.
Meu coração apertou. A resposta deles seria uma vitória ou uma derrota para mim, e todos na sala sabiam disso.
— Que entrem.
Dois homens atravessaram as portas, ambos cobertos de poeira da viagem. Um deles segurava um pergaminho enrolado, que me entregou com uma reverência profunda. Desenrolei o documento, sentindo os olhares fixos em mim. As palavras escritas eram sucintas, mas o significado era claro: Os camponeses exigiam mais terras, menos impostos e proteção contra a violência das tropas senhoriais.
— Suas demandas são... razoáveis — murmurei, mais para mim mesma do que para os outros.
— Com todo respeito, Majestade, ceder a essas exigências pode enfraquecer sua posição — advertiu Alaric, inclinando-se levemente para frente. — Se eles perceberem que podem forçar concessões, outros seguirão o mesmo caminho.
— Não se trata de ceder — respondi, minha voz fria. — Trata-se de ouvir. Este não é um levante sem propósito. É o grito de um povo que perdeu tudo.
Os conselheiros murmuraram entre si, mas ninguém ousou desafiar-me diretamente.
— Majestade — começou Fairmont, sua voz calma cortando o murmúrio. — Sugiro enviar uma delegação oficial para finalizar as negociações. Isso mostrará que o trono está disposto a dialogar sem perder sua autoridade.
Assenti.
— Organize a delegação. Escolha representantes que entendam tanto do povo quanto do trono.
Fairmont curvou-se em concordância, enquanto os outros conselheiros continuavam a me observar, avaliando cada movimento meu.
Quando a reunião terminou, retirei-me para meus aposentos, mas a tranquilidade que esperava encontrar ali foi rapidamente interrompida por Clara, que entrou apressada.
— Majestade, há um homem à sua espera. Ele insiste que é uma questão de vida ou morte.
— Quem é ele?
— Um enviado do mosteiro de Ravenswood.
Ravenswood. O nome trouxe memórias de minha infância, de histórias sussurradas sobre sua importância histórica e espiritual para o reino. O mosteiro era mais do que um lugar de oração; era um símbolo de sabedoria e tradição, um lugar onde segredos antigos eram guardados.
— Traga-o até mim.
Clara assentiu e saiu rapidamente, voltando momentos depois com um homem de aparência austera. Ele usava o hábito simples de um monge, mas seus olhos brilhavam com intensidade.
— Majestade — começou ele, fazendo uma reverência profunda. — Venho em nome do abade de Ravenswood. Há algo que precisa saber... algo que pode mudar tudo.
Seus olhos encontraram os meus, e um calafrio percorreu minha espinha.
— Continue — ordenei, tentando manter minha compostura.
— Os registros do mosteiro falam de uma linhagem especial, uma ligação entre sua família e um antigo pacto com o reino. Mas há aqueles que buscam destruir essa herança, e eles já começaram a se mover contra você.
Minha mente girou com as implicações de suas palavras. Um pacto? Uma linhagem especial?
— Quem são essas pessoas? O que elas querem?
O monge hesitou, como se pesasse cada palavra.
— Não posso dizer mais aqui, Majestade. Mas o abade implora que vá ao mosteiro. Ele acredita que apenas você pode proteger o que foi guardado por gerações.
A ideia de deixar o castelo em meio a tantas tensões parecia absurda, mas algo na urgência do homem me inquietava.
— Diga ao abade que considerarei seu pedido. Por ora, você está dispensado.
O monge fez outra reverência e saiu, deixando-me com mais perguntas do que respostas.
Clara aproximou-se, a preocupação evidente em seu rosto.
— Majestade, isso parece... perigoso.
— Tudo no trono é perigoso, Clara. Mas não posso ignorar esse chamado.
Passei o restante do dia ponderando sobre o que fazer. Deveria confiar nas palavras do monge e arriscar tudo para proteger um segredo que eu nem sabia que existia? Ou deveria permanecer no castelo, focada nos problemas imediatos do reino?
Ao anoitecer, decidi que precisava de respostas. Ordenei que uma pequena escolta fosse preparada para uma viagem ao mosteiro na manhã seguinte.
A jornada até Ravenswood era longa e desafiadora. O mosteiro ficava nas montanhas ao norte, isolado do restante do reino. A estrada era íngreme e cheia de curvas perigosas, mas a paisagem ao redor era deslumbrante. Florestas densas se estendiam até onde a vista alcançava, e o som dos pássaros era uma constante companhia.
Minha escolta consistia em quatro guardas leais, Clara e Fairmont, que insistira em me acompanhar.
— Majestade, não sei se esta é uma boa ideia — disse ele enquanto cavalgávamos lado a lado.
— Nem eu, Fairmont. Mas há algo sobre isso que não consigo ignorar.
Ele suspirou, mas não disse mais nada.
Quando finalmente chegamos ao mosteiro, o sol estava se pondo. As grandes portas de madeira foram abertas por dois monges, que nos guiaram para dentro. O interior era ainda mais impressionante do que eu imaginava. As paredes eram decoradas com murais detalhados que contavam a história do reino, e o som de cantos sagrados ecoava pelos corredores.
O abade nos recebeu em uma sala simples, mas elegante. Ele era um homem idoso, com uma barba longa e branca e olhos que pareciam carregar séculos de conhecimento.
— Majestade, é uma honra tê-la aqui — disse ele, curvando-se profundamente.
— O que é tão urgente que me trouxe até este lugar? — perguntei, tentando esconder meu nervosismo.
O abade fez um sinal para que eu o seguisse. Ele nos levou a uma sala secreta, escondida atrás de uma estante de livros. Lá, havia um pedestal com um grande livro encadernado em couro.
— Este é o Códice de Ravenswood, o registro mais antigo do reino. Ele contém segredos que foram passados de geração em geração, e agora pertencem a você.
Aproximei-me lentamente, sentindo o peso do momento. Quando abri o livro, fiquei impressionada com os detalhes. Mapas, símbolos, profecias... tudo estava ali.
— O que isso significa? — perguntei, sem desviar os olhos das páginas.
— Significa que você não é apenas uma rainha, Eleanor. Você é a guardiã de um legado maior, um que pode determinar o futuro de todos nós.
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Atualizado até capítulo 30
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