O Peso Da Coroa

A alvorada surgiu de maneira silenciosa, quase imperceptível. Os primeiros raios de luz que se infiltraram pelas cortinas pesadas do meu quarto não trouxeram consolo. Eles apenas destacaram as sombras que agora preenchiam meu coração, sombras que antes eram pequenas, mas que agora pareciam se expandir, tomando conta de todo o espaço dentro de mim. Eu não sabia se estava pronta. Eu não sabia mais o que significava estar pronta para o que estava por vir.

O feixe de luz iluminou as pequenas partículas de poeira que flutuavam no ar, criando um cenário quase irreal. Tudo ao meu redor parecia suspenso, como se o castelo inteiro estivesse aguardando meu próximo movimento, como se tudo estivesse esperando para ver se eu seria capaz de suportar o peso que me foi imposto. Como se o mundo em si estivesse aguardando para ver se eu seria a rainha que todos esperavam.

Levantei-me devagar, sem pressa. O dia que começava não era um dia comum. Hoje, o conselho real se reuniria novamente. Mais uma reunião onde as tensões entre os diferentes membros do reino seriam palpáveis. Mas eu sabia que não se tratava apenas de poder político. Não era apenas sobre governar. Era sobre algo muito maior. Algo que eu começava a compreender, mas que ainda me aterrorizava.

Aquele medo que Alaric havia despertado em mim ainda estava lá, persistente e constante. Ele havia me falado sobre forças antigas, sobre pactos e destinos que estavam além do que eu poderia compreender. Mas eu sabia que estava prestes a enfrentar o que, até então, era inevitável. Algo que me desafiaria de uma maneira que eu nunca imaginei.

Ao me vestir, os gestos automáticos de sempre pareciam mais pesados, mais significativos. O vestido cerimonial, tão imponente, não se encaixava apenas no meu corpo. Ele se encaixava no peso que a coroa estava começando a representar. Não era mais apenas uma peça de adorno ou símbolo de status. Era uma prisão que começava a me sufocar, e eu estava começando a perceber que não havia saída. Não havia liberdade para quem carregava tal responsabilidade.

Quando cheguei ao salão onde o conselho se reuniria, o clima estava carregado. Os nobres estavam dispersos, conversando em grupos pequenos, mas seus olhares se voltavam para mim assim que entrei. Alguns com curiosidade, outros com desconfiança. Era óbvio que ainda não conseguiam ver em mim a líder que eles esperavam. Eu não era o que eles imaginavam quando pensavam na rainha de Drathar. E isso me deixava ainda mais insegura. Será que algum dia eu seria?

Fui até a mesa principal, onde os principais conselheiros estavam sentados. No centro, estava Lorde Benedict, o homem de mais alto posto no conselho. Ele me observou com seus olhos penetrantes e uma expressão que poderia ser descrita como neutra, mas eu sabia que ele estava atento a cada movimento meu. Lorde Benedict não confiava em mim, e eu sabia disso. Ele acreditava que eu não tinha a experiência necessária para governar. E, por mais que eu quisesse provar que estava errada, algo dentro de mim sabia que ele tinha razão.

— Sua Majestade — ele disse, levantando-se com uma leve inclinação de cabeça. Sua voz era firme, mas havia algo de calculista em seu tom. Algo que me fazia sentir uma pressão invisível.

— Lorde Benedict — respondi com um aceno, tentando esconder a apreensão que sentia. Não sabia por onde começar. As palavras pareciam se perder no ar antes mesmo de saírem da minha boca.

Sentei-me à mesa, cercada pelos outros membros do conselho. Eles me observavam, esperando que eu falasse, que eu tomasse a iniciativa. Mas o que eu tinha a dizer? O que poderia ser dito em um momento como aquele?

— O que está acontecendo com o reino? — Perguntei, quebrando o silêncio que parecia pesar ainda mais sobre nós. O tom da minha voz, mais alto do que o esperado, chamou a atenção de todos.

Benedict inclinou a cabeça, como se estivesse esperando essa pergunta. Ele olhou para os outros membros do conselho antes de falar.

— Sua Majestade, o reino está em um estado de incerteza. As ameaças externas estão crescendo, e as divisões internas se tornam cada vez mais profundas. As terras ao norte estão sendo invadidas por forças desconhecidas, e há rumores de que o império vizinho está se preparando para uma guerra. O que você tem a dizer sobre isso?

Eu olhei para ele, tentando manter a compostura. As palavras de Alaric voltaram à minha mente: "Você terá que escolher entre os lados. Escolher quem irá viver e quem irá morrer". Era o momento de agir, mas o que fazer? Como tomar decisões em meio a tanta pressão, tanto medo?

— Precisamos agir rapidamente — eu disse, minha voz firme agora. — Devemos enviar mensageiros para as regiões do norte para entender melhor a situação. E ao mesmo tempo, devemos fortalecer nossas alianças com os reinos vizinhos. O império pode ser uma ameaça, mas se trabalharmos juntos, podemos nos proteger. Não podemos permitir que a incerteza nos paralise.

A reação no salão foi imediata. Alguns acenaram com a cabeça, concordando com minha proposta. Outros, como o próprio Benedict, permaneceram em silêncio, avaliando minhas palavras. Mas eu sabia que havia algo mais. Algo que não estava sendo dito. Algo que se escondia nas entrelinhas de cada discussão.

— E quanto às forças internas? — disse outro conselheiro, Lady Elara, uma mulher de cabelos prateados e olhar astuto. Ela sempre fora direta, nunca disfarçando suas intenções. — Não podemos ignorar as tensões dentro do próprio reino. Há facções que questionam sua autoridade, Majestade. Sua decisão sobre a guerra será o que definirá sua posição. Você precisa de apoio. E, se eu puder ser franca, esse apoio não está garantido.

Eu respirei fundo. Lady Elara estava certa. Eu ainda não tinha o apoio total de meu próprio povo. Eles viam em mim apenas uma jovem inexperiente, uma rainha que não tinha a força para enfrentar os desafios que estavam por vir. Eu não era o que eles esperavam. Eu não era a líder forte que eles queriam.

— Eu entendo as preocupações — respondi, tentando manter a calma. — Mas é exatamente por isso que devemos agir agora. Não podemos nos dar ao luxo de esperar. Precisamos de união. Precisamos mostrar ao nosso povo que estamos fortes e que somos capazes de proteger o que é nosso.

Silêncio. As palavras pairaram no ar, e eu sabia que tinha dado um passo importante. Mas o caminho à frente seria ainda mais difícil. Eu teria que enfrentar as minhas próprias dúvidas e os medos dos outros. E, acima de tudo, teria que provar a mim mesma que era capaz de governar. Não apenas com força, mas com sabedoria e coragem.

O conselho continuou por mais horas, discutindo as estratégias e os próximos passos, mas eu já sabia o que precisava ser feito. O império vizinho era uma ameaça, sim, mas as ameaças internas também precisavam ser abordadas. O equilíbrio seria a chave. Mas encontrar esse equilíbrio não seria fácil.

Eu me levantei, sentindo o peso da responsabilidade ainda maior. Algo havia mudado dentro de mim durante a reunião. Algo que eu não poderia mais ignorar. O caminho à frente era incerto, mas, por mais que eu temesse o que estava por vir, eu sabia que não havia mais volta. A coroa não era mais apenas um símbolo. Era um fardo que eu teria que carregar até o fim.

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