As noites em Drathar haviam se tornado mais longas. Não por conta da escuridão que se estendia além das torres do castelo, mas pela sensação de que cada sombra escondia algo que eu não podia compreender completamente. Quando o sol se punha, parecia que o peso da coroa ficava ainda mais evidente, esmagando meu peito e distorcendo minha percepção das coisas. O palácio, antes repleto de corredores iluminados e cheios de vida, agora parecia um labirinto de segredos, onde até mesmo os sussurros nos corredores eram carregados de significados ocultos.
Naquela noite, enquanto todos se preparavam para o banquete em celebração ao acordo com os reinos vizinhos, eu não conseguia deixar de me perguntar: a que custo essa paz seria alcançada? Eu já havia começado a perceber que o mundo da política era mais traiçoeiro do que eu imaginava, e eu não estava preparada para lidar com as intrigas que se desenrolavam sob meus pés.
A reunião com o conselho na manhã anterior havia deixado claro que, embora eu fosse rainha, minha autoridade ainda estava em jogo. Benedict e seus aliados no conselho não estavam convencidos de minha capacidade de governar. Eles esperavam mais de mim, esperavam ações rápidas, decisivas e, principalmente, uma demonstração clara de força. Mas eu não poderia agir sem refletir, sem avaliar todas as consequências de meus atos.
Ao me vestir para o banquete, senti como se o peso da coroa estivesse mais intenso, como se a pressão para ser a rainha que eles esperavam me fizesse perder minha própria identidade. O vestido azul, com bordados dourados, era imponente, mas sua beleza não aliviava a carga emocional que eu carregava. Quando entrei no salão principal, os olhares de todos se voltaram para mim, e a sensação de ser observada constantemente se intensificou.
— Sua Majestade, é uma honra tê-la entre nós. — Benedict se adiantou, fazendo uma reverência com uma cortesia excessiva, que, para mim, parecia mais uma tentativa de disfarçar sua desconfiança. A falsa cordialidade em sua voz ecoou na minha mente.
— Lorde Benedict — respondi, mantendo a postura. — A honra é toda minha.
À medida que caminhava pela sala, tentava manter a compostura. O salão estava repleto de rostos conhecidos, alguns aliados, outros inimigos disfarçados de amigos. O reino estava em um estado de fragilidade, e a falsa paz que o banquete representava era mais uma ilusão do que uma realidade. Eu sentia isso. Havia algo nas conversas disfarçadas de risos, nas mãos trocando taças de vinho, nas olhadas furtivas, que me fazia questionar se todos estavam realmente do meu lado.
Quando me sentei à mesa principal, os outros membros do conselho começaram a se aproximar, cada um com seu sorriso calculado e cumprimentos ensaiados. Mas eu sabia o que estava em jogo. O banquete não era apenas uma celebração. Era uma forma de estabelecer alianças, fortalecer laços e garantir a lealdade dos poderosos. Todos estavam ali por um único motivo: poder.
— Sua Majestade, espero que esteja gostando da festa. — Lady Elara, sempre tão direta, se aproximou, sua voz baixa e cheia de malícia.
— Está magnífica, como sempre — respondi, tentando não revelar o desconforto que sentia.
Ela sorriu, mas havia algo de estranho em seus olhos. Eu não sabia o que era, mas me sentia observada, como se ela estivesse esperando por algo. Talvez um deslize, uma fraqueza que ela pudesse usar contra mim.
— Sabe, Majestade, o reino precisa de uma liderança forte. Uma liderança que inspire confiança. E, por mais que sua intenção de buscar alianças seja louvável, algumas das nossas terras estão começando a questionar sua habilidade de governar. Não devemos ignorar esses rumores.
As palavras de Lady Elara cortaram o ar como uma lâmina afiada. Rumores. Sempre rumores. Mas o que ela estava sugerindo era claro: a confiança no meu governo estava se desintegrando. O conselho poderia estar me apoiando temporariamente, mas isso não significava que todos estavam felizes com a situação. Alguns já estavam se preparando para agir, esperando o momento certo.
— Eu sou bem ciente das tensões internas, Lady Elara — respondi, forçando um sorriso. — Mas acredito que a verdadeira força não está apenas em agir com rapidez, mas em saber quando esperar o momento certo.
Ela arqueou uma sobrancelha, como se dissesse que não acreditava nas minhas palavras. Mas, ao menos, não contestou.
A noite continuou, e enquanto os nobres festejavam, eu me sentia cada vez mais distante de tudo o que estava acontecendo. Era como se estivesse em uma sala fechada, observando através de uma janela quebrada. Tudo parecia distante, fora de meu alcance. O peso da responsabilidade que carregava naqueles momentos parecia estar além do que qualquer ser humano poderia suportar. Mas eu não tinha escolha a não ser continuar.
Naquela noite, o conselho se retirou, mas antes de se dispersar, Benedict me chamou para uma conversa privada. Ele me aguardava em um canto isolado do salão, e, ao me aproximar, pude ver claramente o que ele estava tentando esconder: um sorriso disfarçado de preocupação.
— Sua Majestade, preciso falar com a senhora sobre algo de grande importância — disse ele, sua voz baixa, mas firme.
— O que é, Lorde Benedict? — perguntei, tentando esconder o receio em minha voz.
Ele se aproximou ainda mais, como se suas palavras fossem um segredo a ser compartilhado.
— A situação no norte está piorando. E, embora você tenha tentado manter o controle da situação, a verdade é que há facções que já estão se preparando para agir contra você. Se não fizer algo para apaziguar os ânimos, podemos estar à beira de uma guerra civil. Há rumores de que um dos nossos próprios generais está em contato com forças inimigas.
O sangue se gelou em minhas veias. A verdade estava ali, nua e crua. Não era só o império vizinho que estava me ameaçando. O maior perigo estava dentro do próprio reino. Uma revolta poderia estar prestes a explodir, e eu, como rainha, precisava agir. Mas como agir quando não se sabia em quem confiar? Como governar quando todos ao seu redor pareciam ser inimigos disfarçados?
— Eu farei o que for necessário para proteger o reino — respondi, minha voz firme. Não podia deixar transparecer o medo que sentia, nem a sensação de estar sendo empurrada para um caminho sem retorno.
Benedict sorriu, mas havia algo de amargo em seu sorriso. Ele sabia que eu estava começando a compreender a gravidade da situação. E, por mais que eu tentasse me convencer de que poderia controlar tudo, ele sabia que o tempo estava se esgotando.
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Atualizado até capítulo 30
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