O Jugo Da Coroa

O amanhecer chegou de forma silenciosa, como uma sombra que espreita na escuridão. Ao abrir os olhos, a primeira coisa que vi foi a cortina de veludo pesado que cobria a janela. A luz suave da manhã, filtrada pela espessura do tecido, não conseguia esconder o peso que eu sentia sobre os ombros. A noite anterior ainda ecoava na minha mente como um trovão distante, mas cada pensamento me trazia mais clareza sobre o que deveria ser feito. Eu não poderia permitir que a dúvida tomasse conta de mim, nem que os inimigos, tanto visíveis quanto ocultos, me enfraquecessem.

Levantei-me da cama e fui até o espelho. O reflexo me encarava com um olhar que não era mais o de uma jovem princesa, mas o de uma rainha que, embora ainda inexperiente, precisava se tornar imbatível. Minha mão tocou o colar que adornava meu pescoço, um presente de meu pai, e por um breve momento me permiti a lembrança do homem que me ensinou a governar. Ele me disse uma vez que, quando se governa, o maior desafio não é saber quem são os inimigos, mas aprender a reconhecer quem realmente pode ser seu aliado. Esse era o momento em que eu precisava colocar seus ensinamentos à prova.

As palavras de Benedict ainda ressoavam na minha mente, pesando sobre mim. Um dos generais, traidor. A possibilidade de uma guerra civil. Eu sabia que a situação estava longe de ser simples, mas o que eu não sabia era até que ponto o reino estava preparado para os desafios que surgiriam.

Quando saí da minha câmara, o palácio estava em um silêncio inquietante. As servas estavam apressadas, mas com olhos cautelosos, os cavaleiros se moviam com pressa, e todos pareciam evitar um olhar direto. Eu me perguntava se eles sabiam o que estava acontecendo, ou se simplesmente estavam cientes da tensão que pairava no ar. A sala do conselho me aguardava, e o simples pensamento de entrar nela já me causava um formigamento na pele. Eu não podia me dar ao luxo de falhar.

Ao chegar, todos estavam presentes, incluindo Benedict, que me cumprimentou com um leve aceno de cabeça. Ele sabia, como eu, que o que aconteceria a seguir definiria não apenas o meu reinado, mas o destino do reino. Os rostos ao meu redor estavam tensos, seus olhos fixos em mim, esperando uma direção. Eu poderia sentir a pressão em cada respiração.

— Sua Majestade — Benedict começou, com uma reverência. — A situação no norte não é mais apenas uma questão de rumores. Já existem movimentos de tropas em território próximo à fronteira. A insatisfação é grande. Se não agirmos agora, perderemos toda a autoridade.

Respirei fundo antes de responder, tentando não deixar que a ansiedade se visse em meu rosto.

— O que sugerem, então? — minha voz foi firme, mas no fundo, eu sabia que não podia agir sem conhecer todas as variáveis. Eu não poderia ser impulsiva. Seria uma questão de estratégia.

O conselho se entreolhou. As opções eram limitadas, mas a situação era cada vez mais urgente. Foi então que o comandante Morvan, um homem imponente com cicatrizes de batalha visíveis no rosto, se levantou.

— Não podemos hesitar. O movimento no norte é real. Um confronto é iminente. O único caminho é ir até lá e confrontá-los diretamente.

Havia uma urgência na voz dele que me fez entender o quão grave era a situação. Morvan, embora leal, sempre acreditou na força bruta como resposta. Mas eu sabia que um confronto direto poderia nos custar mais do que estávamos dispostos a pagar. Uma guerra civil seria devastadora, e eu não estava pronta para sacrificar tantos em uma batalha que poderia ser evitada.

— Se marcharmos agora, podemos perder a vantagem. Precisamos de mais informações antes de agir. Não podemos nos precipitar — respondi, tentando manter a calma. — Precisamos de inteligência.

Os olhos do comandante Morvan se estreitaram, mas ele não contestou. Ele sabia que eu tinha razão, mas sua experiência o impulsionava a agir de forma mais direta. Eu, por outro lado, sentia que a solução estava em outras partes. Como sempre, a força não era a resposta para tudo.

— Concordo com a rainha — disse a senhora Bertrice, uma das mais experientes conselheiras. Sua voz suave e cortês sempre me deu uma sensação de segurança. — A informação precisa ser nossa aliada. Não podemos nos arriscar em um confronto sem saber com quem estamos lidando. O que precisamos agora é de mais espiões e uma rede de informações mais eficaz.

Eu assenti, vendo que ela tinha razão. A espionagem poderia nos dar a vantagem necessária para negociar com os rebeldes, ou até mesmo para identificar quem dentro do reino estava tentando sabotar minha autoridade.

— Muito bem — disse, olhando para todos na sala. — Iremos aumentar nossa rede de informações. Quero que todos os comandantes da minha guarda se preparem para agir, mas sem dar um passo em falso. Em paralelo, convocarei os líderes das casas nobres para uma reunião. A lealdade deles será colocada à prova. Se houver traidores em nosso meio, os encontraremos. Eu os encontrarei.

O ambiente na sala ficou pesado. Todos sabiam que a tarefa seria árdua, e que o que vinha pela frente não seria fácil. Mas havia algo em minhas palavras, uma firmeza, que parecia acalmar a tensão no ar.

— Senhoras e senhores — continuei, minha voz agora mais resoluta. — A guerra não é a única opção. Podemos unir o reino, mas para isso precisaremos agir com sabedoria e precisão. Vamos colocar todos os nossos recursos à disposição e trabalhar, não apenas como líderes, mas como uma única força. Os desafios são grandes, mas estamos mais que preparados para enfrentá-los.

Ao terminar a reunião, saí da sala do conselho com o peso de uma decisão nas costas. A batalha que se aproximava não seria vencida com força ou armas, mas com inteligência e estratégia. A lealdade de meus aliados, os segredos nas sombras e os movimentos cautelosos nas sombras seriam minhas armas. Eu, Eleanor, precisava ser mais do que uma rainha que impusesse medo. Precisava ser uma rainha que inspirasse respeito.

As horas seguintes passaram em um borrão. Convocar os líderes das casas nobres não seria fácil. Muitos deles tinham suas próprias agendas, e a dúvida sobre a minha capacidade de governar já estava presente em muitos deles. Mas eu não podia retroceder. Precisava garantir que eles soubessem que minha autoridade não seria questionada.

Foi quando, à noite, o mensageiro real chegou com uma carta lacrada. O selo era familiar, mas a assinatura era o que me deixou tensa: “De sua alteza, Lorde Marius”.

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