A Conspiração Das Sombras

O amanhecer seguinte trouxe uma sensação de urgência que não conseguia dissipar. O vento soprava forte, carregando consigo os ecos de um conflito iminente. Mesmo com o brilho dourado do sol atravessando as pesadas cortinas de veludo, o palácio parecia mais frio do que nunca. A carta de Lorde Marius ainda queimava em minha mente, suas palavras rondando como uma ameaça invisível.

As primeiras horas do dia foram gastas em reuniões intensas, a maioria delas dominada por discussões sobre como reagir às notícias do norte. Mas à medida que a tarde se aproximava, um novo peso se instalou sobre mim, algo que não poderia ignorar: a traição que Lorde Marius alertara não era apenas uma ameaça distante, mas uma presença já presente, silenciosa, talvez até entre aqueles a quem eu confiava.

No momento em que o sol começou a se pôr, eu sabia que algo grande estava prestes a acontecer. O pressentimento não era apenas uma sensação — era a realidade se formando em torno de mim. Algo estava prestes a mudar, e eu precisava estar preparada para qualquer direção que o vento levasse.

Após o jantar, onde me mantive rodeada por uma fachada de tranquilidade, retirei-me para os aposentos privados. Fechei a porta atrás de mim, sentindo o peso do silêncio como um fardo. Havia alguém em quem eu confiava mais do que todos os outros, e eu sabia que agora era o momento de buscar respostas.

— Benedict — murmurei ao entrar na sala secreta onde ele estava esperando.

Ele se virou para me encarar, seu semblante grave. Ao ver o brilho de minha expressão, algo em sua postura cedeu. Ele sabia o que estava acontecendo tanto quanto eu. O reino estava à beira de uma guerra civil, e a confiança estava sendo quebrada, peça por peça.

— Minha rainha, o que aconteceu? — perguntou ele com uma calma que não refletia a tensão do momento. Ele sabia que eu não havia convocado essa reunião sem razão. Eu tinha uma decisão a tomar.

Eu olhei diretamente em seus olhos, querendo ler nele qualquer sinal que me desse uma pista sobre o que estava realmente acontecendo. Ele sempre foi um homem de lealdade inquestionável, mas, diante de tudo o que estava se desenrolando, eu não podia mais dar nada como garantido.

— As deserções do norte não são uma coincidência. Elas estão sendo orquestradas — comecei, minha voz firme, mas com a sensação de estar descendo por um caminho sem volta. — A carta de Lorde Marius revela mais do que só a ameaça externa. Ele sugere que alguém dentro de nosso círculo está envolvido.

Ele olhou para mim por um longo momento, avaliando minhas palavras. Sua expressão, que costumava ser inabalável, agora tinha um toque de preocupação.

— Você acha que alguém dentro da corte está traindo sua confiança? — Benedict perguntou, com a voz baixa, quase como se temesse que alguém estivesse ouvindo.

Eu assenti. Não havia mais espaço para dúvidas.

— Sim, eu sinto isso. Algo não está certo. Preciso que você descubra a verdade, Benedict. Antes que seja tarde demais.

Ele fez uma pausa, e por um momento, nossos olhos se encontraram com a compreensão silenciosa de que algo muito maior estava em jogo. Ele então assentiu, com a cabeça inclinada em respeito, mas seus olhos, normalmente firmes, estavam agora cheios de um pesar contido.

— Eu farei o que for necessário — ele disse, sua voz grave. Eu sabia que ele não recuaria. Benedict era o tipo de homem que faria qualquer coisa pela lealdade, mesmo que isso significasse encarar a própria destruição.

Antes que ele se retirasse, eu o detenho por um momento.

— E quanto aos desertores? Precisamos controlar a situação antes que se espalhe — eu disse, a preocupação transparecendo em minha voz.

Benedict hesitou, seus olhos estreitando enquanto ponderava sobre o que dizer.

— Eu já enviei mensageiros para localizar os desertores restantes. Os mais importantes já estão sendo vigiados. Mas temo que nossa maior ameaça seja a que se esconde nas sombras. E não temos muito tempo.

Com isso, Benedict se retirou para iniciar sua missão, enquanto eu permanecia ali, em silêncio, tentando processar o que acabara de acontecer. As peças estavam se movendo, e as sombras estavam se aproximando. O reino estava prestes a mergulhar em uma guerra que eu não poderia controlar.

Mas uma parte de mim ainda acreditava que havia tempo. Eu sabia que a única maneira de manter o trono e minha coroa era agir com rapidez e precisão. Cada movimento agora era vital, e a confiança, que eu sempre considerei a base de meu reinado, estava sendo testada de maneiras que eu jamais imaginara.

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Horas depois, quando a escuridão da noite finalmente envolveu o palácio, fui chamada até a sala do conselho. Benedict estava lá, de pé, ao lado de outros dois oficiais. Eles me olharam com um misto de hesitação e respeito, como se aguardassem minha permissão para falar.

— Sua Majestade — disse Benedict, quebrando o silêncio com uma voz grave. — Encontramos algo. Um dos desertores, um capitão de nossa guarda pessoal, está envolvido em uma rede de conspiração que se estende por todo o reino.

Eu senti um calafrio percorrer minha espinha. O capitão? Isso significava que havia algo muito maior em jogo. O traidor não era um simples soldado, mas alguém com acesso direto ao meu círculo de confiança.

— Ele tem aliados em posições-chave — continuou Benedict, os olhos firmes em minha direção. — E há evidências de que ele está trabalhando com forças externas, talvez até com o norte. Sua lealdade ao seu próprio reino é questionável, e temos que tomar decisões rápidas.

Eu me levante e fui até uma mesa, onde o mapa do reino estava estendido. Cada território, cada cidade, parecia agora mais distante. O fato de que um traidor estava infiltrado no coração de meu exército fazia minha mente girar.

— Eu confio em você, Benedict. Mas é melhor que tome as providências necessárias antes que o tempo se esgote. Precisamos manter o controle, ou isso poderá se tornar uma revolta em todo o reino — disse, minha voz firme, mas o medo ainda latejando em meu coração.

Benedict assentiu com determinação, e com um breve movimento de cabeça, os outros oficiais se retiraram, deixando-nos sozinhos na sala. Eu me senti perdida por um momento, mas sabia que não podia hesitar. Agora mais do que nunca, eu precisava ser forte. A coroa, embora brilhante, carregava um peso imenso, e estava claro que a luta pela minha sobrevivência seria mais difícil do que eu imaginava.

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Mais uma vez, a escuridão da noite me envolveu. A sombra das árvores que se estendiam para fora do palácio parecia refletir o que acontecia dentro de mim. Nada mais seria como antes. O tempo da incerteza e da confiança cega havia acabado. Eu precisava agir, e não sabia o que o amanhã traria.

Enquanto eu caminhava pelos corredores vazios, sentindo o peso da solidão e da responsabilidade, uma única frase ecoava em minha mente:

O reino está em guerra, e a verdadeira batalha está apenas começando.

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