O castelo estava em um silêncio pesado, quebrado apenas pelo som distante da chuva que caía incessante sobre os telhados. Eu me encontrava de pé diante de uma janela no salão principal, observando as gotas de água que escorriam pelas pedras, criando um padrão caótico, mas intrigante. Era como se a natureza estivesse reagindo ao tumulto dentro de mim. Dentro de cada ser humano existe um campo de forças invisíveis que podem ser tanto destrutivas quanto redentoras, mas eu sentia que estava mais perto da destruição do que da redenção.
— Eleanor, você está bem? — a voz de Alaric veio suavemente do lado de trás. Ele sempre tinha essa capacidade de aparecer silenciosamente, como se fosse uma sombra. Talvez ele fosse uma sombra.
Eu não me virei. Não queria olhar para ele. Não queria que ele visse o quanto eu estava perdida.
— Eu estou bem — respondi, mais pela necessidade de afirmar algo do que pela verdade. Não estava bem. Nem perto disso.
— Você não parece bem — ele disse, avançando em direção a mim, e então, de alguma forma, algo em sua expressão me fez virar. Seus olhos azuis estavam intensos, implacáveis, mas com uma suavidade que me fez questionar sua real intenção. Alaric sabia mais do que estava dizendo. Ele sempre sabia.
— O que está acontecendo? — eu perguntei, minha voz tensa, incapaz de esconder o pânico crescente que se alojava em meu peito. — O que você está me escondendo?
Ele olhou para mim por um momento, como se ponderasse a questão. Parecia que estava medindo cada palavra, cada gesto. Finalmente, ele suspirou e se aproximou, seu olhar fixo nos meus olhos.
— O pacto que você fez é apenas o começo — ele começou, e eu senti o peso de suas palavras, como se estivessem ecoando em um túnel escuro e sem fim. — O que está por vir, Eleanor, é algo muito maior. O reino em que você está prestes a governar não é só governado pela força de seu nome ou poder. Ele é regido por forças que estão além da compreensão humana. E você está no centro disso. Em breve, todas as terras estarão em jogo, e o equilíbrio entre os reinos será desfeito. Sua capacidade de governar será testada da maneira mais difícil possível.
Eu dei um passo para trás. Algo dentro de mim estava começando a entender, mas eu me recusava a aceitar. O poder que eu carregava, o poder que me foi dado, não era simplesmente uma dádiva. Era uma maldição disfarçada.
— O que isso significa? O que está por vir? — perguntei, meu corpo tremendo sem que eu tivesse controle sobre isso. O medo, que eu tentava reprimir, começou a emergir, e eu sabia que isso não seria uma luta fácil.
Alaric fechou os olhos por um momento, como se estivesse absorvendo algo que não queria dizer. Ele se aproximou mais de mim e, com um gesto lento, colocou sua mão sobre meu ombro. Era uma tentativa de me acalmar, mas ele sabia que não haveria paz enquanto o futuro fosse incerto.
— O que está por vir é uma guerra, Eleanor — ele finalmente disse. — E não será uma guerra normal. Será uma guerra de forças elementares. De antigos pactos. E você, como a detentora do poder que o reino exige, terá que decidir entre os lados. Escolher quem irá viver e quem irá morrer. A destruição ou a reconstrução. Tudo depende de você.
Eu não consegui processar completamente suas palavras. O peso das implicações era imenso, como se o próprio destino do mundo estivesse sobre meus ombros. E eu não sabia se estava pronta para isso. Se eu teria coragem de carregar esse fardo até o fim.
— Mas... como eu escolho? — eu perguntei, minha voz quase uma sussurro, como se as palavras saíssem de minha boca de forma hesitante. — Como eu sei o que é certo?
Alaric retirou a mão do meu ombro e deu um passo atrás, observando-me de uma maneira que eu não sabia interpretar. Seus olhos estavam profundos, como se ele estivesse vendo algo em mim que eu não conseguia ver.
— A escolha nunca será clara, Eleanor — ele disse. — O certo e o errado, o bem e o mal, eles não se definem tão facilmente. Mas você terá que fazer uma escolha. E a cada decisão que você tomar, o peso se tornará maior. Não haverá como voltar atrás depois.
Eu olhei para ele, sem saber o que dizer. O silêncio entre nós parecia pesado demais, como se a sala tivesse se tornado pequena demais para a magnitude da conversa que estávamos tendo. A rainha que eu deveria ser ainda estava se formando, e eu sentia que estava falhando em ser o que todos esperavam de mim.
— Eu não sou como os outros governantes — disse finalmente, minha voz cheia de um tipo de frustração que mal consegui expressar. — Não fui criada para isso. Não fui criada para ser a líder que todos esperam. Eu não sou forte o suficiente para isso.
Alaric me olhou com uma expressão quase enigmática, mas havia uma suavidade em seus olhos agora. Ele parecia entender minha dor de uma maneira que ninguém mais poderia.
— Você tem mais força do que imagina — ele disse. — A força não vem de onde você pensa. Não vem da sua capacidade de vencer batalhas ou derrotar inimigos. A verdadeira força vem da capacidade de se manter em pé quando tudo parece estar desmoronando ao seu redor. Você tem isso. Eu vejo isso em você.
Eu olhei para ele, em silêncio, tentando processar suas palavras. Talvez ele estivesse certo. Talvez a força não fosse apenas o que eu via nas batalhas que estavam por vir, mas também na forma como eu lidava com a dor, com a perda e com as escolhas que teria que fazer.
O vento, que antes parecia distante, agora soprou com mais força, fazendo as cortinas do salão ondularem. A chuva caía como se estivesse batendo contra o castelo em um frenesi, e eu soube, naquele momento, que a tempestade que eu mais temia estava chegando.
— O que devo fazer? — Perguntei, sabendo que, de alguma forma, ele tinha a resposta.
Alaric deu um passo em direção à porta do salão e, com uma última olhada para mim, disse:
— Preparar-se. A guerra que está por vir não é apenas uma luta por um trono, Eleanor. É uma luta pela sua alma. E você terá que decidir o que fazer com ela.
Ele saiu da sala, deixando-me sozinha, com as palavras ecoando em minha mente, pesando como uma âncora. A jornada à frente seria longa e cheia de dilemas que nem eu nem ele poderíamos prever. Mas uma coisa era certa: eu não tinha mais escolha.
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Atualizado até capítulo 30
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