O Preço Da Verdade

A manhã seguinte chegou silenciosa, como se o reino estivesse retido na respiração de quem sabia que algo maior estava prestes a acontecer. Eu estava em meu quarto, cercada pelas grandes paredes de pedra do castelo, mas nada parecia proteger-me das questões que se amontoavam na minha mente. O peso do medalhão ainda estava comigo, e suas implicações ecoavam como um sussurro constante, como uma correnteza implacável em minha mente.

Eu sabia que meu futuro estava entrelaçado com aquele objeto. Mas, ao mesmo tempo, um sentimento estranho de insegurança me consumia. O homem da capa escura — eu agora sabia seu nome: Alaric — havia desaparecido sem deixar rastros. Ele não explicou o que significava ativar o selo, ou o que ocorreria se eu decidisse não fazê-lo. Ele havia falado de um pacto, mas o que ele realmente quis dizer com aquilo?

Minha mente girava em torno daquilo. O pacto, a linhagem, o selo... Tudo estava conectado a algo muito maior do que eu podia compreender. No entanto, algo dentro de mim sabia que não poderia ignorar o chamado. Eu tinha uma responsabilidade para com o reino, e mais ainda, para com os que confiavam em mim.

Sentei-me à beira da cama, olhando pela janela do meu quarto. O horizonte estava manchado pelas cores suaves do amanhecer, mas havia algo de sombrio naquela paisagem, algo que parecia anunciar uma tempestade. O tempo estava mudando, e eu não poderia esperar mais.

A verdade era que eu não tinha escolha. A decisão já havia sido tomada quando eu aceitou o medalhão de Alaric. O selo, a linhagem — tudo isso era parte do destino que havia sido traçado para mim. Mas o que isso significava para o meu reino? Para minha alma?

O peso da responsabilidade era esmagador, mas havia uma força dentro de mim que não me deixava desistir. Era como se o próprio reino estivesse chamando-me, pedindo-me para fazer o que era certo. E eu não podia falhar.

Naquela manhã, tomei uma decisão. Eu não sabia o que Alaric pretendia, ou qual seria o próximo passo, mas não podia mais ficar à espera. Meu destino não estava mais nas mãos dos outros, mas nas minhas. O futuro de todos dependia de mim.

Decidi procurar o Abade novamente. Ele poderia ter mais informações sobre o pacto e o que significava ativá-lo. Precisava entender o que estava em jogo antes de dar o próximo passo. No entanto, algo me dizia que a Verdade, quando revelada, poderia ter um preço muito maior do que eu poderia pagar.

Fui até a capela, onde o Abade frequentemente meditava, e encontrei-o sozinho, sentado diante de um altar simples. Seu semblante era sereno, mas havia algo nos seus olhos que me fez hesitar. Ele sabia mais do que me dizia, e o peso de seu silêncio me fazia temer as respostas que ele pudesse ter.

Quando ele me viu, sua expressão não mudou, mas seus olhos brilharam com uma intensidade que me fez sentir que ele havia esperado por minha chegada. Ele se levantou, lentamente, como se soubesse o que estava por vir.

— Majestade. — Sua voz era suave, mas carregada de uma sabedoria antiga. — Vejo que tomou a decisão de seguir o caminho da Verdade.

Eu o observei com atenção, sem saber exatamente como responder. Ele estava certo, eu havia tomado a decisão, mas isso não significava que estava pronta para o que vinha a seguir.

— Fui procurada por um homem, Abade. Alaric. Ele me entregou um selo e falou sobre um pacto. — Minha voz falhou por um momento, mas continuei. — O que isso significa? O que devo fazer?

O Abade respirou fundo, como se estivesse avaliando minhas palavras, ponderando como responder. Seu olhar, sempre calmo, agora estava carregado de uma tristeza que parecia atravessar as barreiras do tempo. Ele sabia que este momento havia chegado. A pergunta que eu fizera era a mesma pergunta que muitos antes de mim haviam feito, e a resposta, embora óbvia, era sempre difícil.

— O selo que você carrega, Majestade, é o símbolo do pacto feito por sua linhagem. Um pacto que, se não for cumprido, trará destruição para todos os que dependem de sua liderança. — Ele fez uma pausa, como se cada palavra que proferisse fosse medida com o mais profundo cuidado. — Alaric é um dos poucos que conhecem todos os detalhes desse pacto, mas ele também é um guardião, assim como você é agora.

Eu o olhei, tentando entender. As palavras dele pareciam simples, mas eu sabia que havia algo mais por trás delas. O pacto era real, e Alaric era mais do que um aliado. Ele era, de alguma forma, parte dessa teia que agora se fechava ao meu redor.

— O que acontece se eu decidir não cumprir o pacto? — Perguntei, minha voz mais firme do que eu esperava.

O Abade baixou os olhos, como se fosse incapaz de olhar-me diretamente. Sua expressão era sombria, e ele balançou a cabeça lentamente.

— Se o pacto não for cumprido, as consequências serão irreparáveis. O reino será destruído, e os poderes que foram selados voltarão, mais fortes do que nunca. Mas há um preço a pagar, Eleanor. E você terá que decidir se está disposta a enfrentá-lo.

Aquelas palavras caíram sobre mim como um peso insuportável. Eu havia sentido a gravidade de minha escolha, mas ouvir aquelas palavras de alguém como o Abade, alguém que vivia em constante contemplação e compreensão, fez com que a verdade se tornasse ainda mais aterrorizante.

— E qual é esse preço? — Perguntei, quase em um sussurro.

O Abade não respondeu imediatamente. Ele ficou em silêncio, olhando para a vela acesa à sua frente, como se estivesse ponderando algo muito além de nossas palavras. Quando ele finalmente levantou os olhos para mim, sua expressão estava imutável, mas a tristeza em seus olhos era evidente.

— O preço é a sua alma, Majestade. O pacto exige que, ao ativá-lo, você ofereça algo muito mais valioso do que qualquer reino ou riqueza. Você terá que sacrificar algo que nunca poderá recuperar.

O ar ao meu redor parecia ter parado de circular. As palavras dele flutuaram na sala, ecoando em minha mente. Eu sabia que ele falava a verdade, mas o que isso significava para mim? O que ele queria dizer com "sacrificar sua alma"?

Eu senti um calafrio percorrer minha espinha, mas respirei fundo, tentando manter o controle.

— E o que acontece se eu não fizer nada? — Perguntei, minha voz rouca.

O Abade olhou para mim por um momento, como se estivesse pesando a gravidade da pergunta. Finalmente, ele respondeu com uma calma quase imperturbável.

— Se você não fizer nada, o reino perecerá. O pacto não pode ser ignorado. Não há escolha. A Verdade deve ser revelada, e o sacrifício deve ser feito.

Eu me afastei lentamente, meu coração batendo no peito com uma força quase insuportável. A verdade, aquela verdade terrível, estava finalmente diante de mim. O pacto, a linhagem, a Verdade — tudo isso estava ligado a um destino que eu não podia controlar. E agora, a única escolha que me restava era decidir se estava disposta a pagar o preço.

O caminho à frente se tornava mais escuro e mais incerto, mas eu sabia que não havia mais volta. O destino de todos dependia de mim. Eu só esperava que eu fosse forte o suficiente para suportar o peso de minha decisão.

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