O Véu Da Traição

A lua cheia iluminava o céu, sua luz prata filtrando-se pelas cortinas pesadas da janela. O castelo estava envolto em silêncio, mas era um silêncio carregado, como se todo o reino estivesse esperando pela queda de uma ficha final. Havia algo na atmosfera, algo que pesava no ar e fazia com que o chão sob meus pés parecesse instável, como se estivesse prestes a ceder a qualquer momento. Mesmo em seus muros imponentes, a coroa estava ameaçada.

Nos últimos dias, a tensão dentro dos corredores do castelo aumentara. Benedict tinha feito progressos significativos em sua investigação, mas a verdade não vinha fácil. As pistas levavam a mais dúvidas, e eu não sabia em quem mais confiar. O traidor, escondido nas sombras, parecia um fantasma que se movia livremente pela corte, e eu não tinha mais certeza de quem estava ao meu lado e quem poderia ser meu inimigo.

Eu caminhava pelos corredores do castelo, meu vestido de seda arrastando suavemente pelo piso de pedra. O eco de meus passos parecia amplificado, como se o próprio castelo estivesse me vigiando. As velas ao longo das paredes lançavam sombras dançantes, e por um momento, senti como se estivesse sendo observada por olhos invisíveis. A sensação era desconfortável, como se eu fosse a única pessoa acordada no castelo, mas eu sabia que não era o caso. O castelo estava cheio de segredos, e eu estava começando a entender que o maior segredo de todos estava muito mais perto de mim do que eu imaginava.

Ao entrar no salão principal, onde a reunião com os oficiais estava marcada, percebi a ausência de alguns rostos familiares. Alguns dos membros do conselho estavam visivelmente tensos, e outros pareciam tão ansiosos que mal conseguiam olhar nos meus olhos. Quando Benedict entrou, seus olhos tinham um brilho diferente. Ele estava carregando uma informação que, ao que parecia, não iria agradar.

— Sua Majestade, temos notícias — disse Benedict com a mesma seriedade que me acostumara a ver, mas havia algo em seu tom que sugeria que não seria uma notícia fácil de ouvir.

Sentei-me na cadeira de onde costumava presidir as reuniões, sentindo o peso da responsabilidade se apertar sobre meus ombros. Eu havia sido treinada para tomar decisões difíceis, mas nada poderia me preparar para o que estava prestes a ser revelado.

— O que é? — perguntei, mantendo a compostura, apesar de meu coração começar a bater mais rápido.

Benedict fez uma pausa, observando os outros oficiais ao seu redor antes de finalmente falar.

— O capitão é apenas a ponta do iceberg — ele começou, as palavras de seu relatório caindo pesadamente sobre a mesa. — A conspiração não é apenas local. Há algo maior acontecendo, algo que se estende para além das fronteiras de nosso reino.

Eu o olhei com desconfiança. Algo maior? Isso não era possível. O reino havia enfrentado ameaças antes, mas sempre foi dentro de nossas fronteiras. O que ele estava sugerindo parecia impensável.

— Explique-se, Benedict. O que exatamente você está dizendo? — minha voz saiu mais forte do que eu pretendia, mas o peso da informação era demais para ser ignorado.

Ele se aproximou, dobrando o mapa do reino que estava sobre a mesa, e apontou para as áreas mais remotas e menos exploradas. Eu percebi que havia marcas que indicavam rotas antigas, algumas até perdidas ao longo do tempo. Ele traçou uma linha que conectava vários pontos, e meu olhar seguiu o movimento de seu dedo.

— Há um movimento que vem de fora, de forças que buscam desestabilizar a nossa coroa. E não são apenas mercenários ou exércitos invasores — ele falou com a mesma calma, mas agora eu sentia a gravidade das palavras. — Existe uma rede de influências dentro do próprio reino. E o capitão, bem como outros em sua posição, não estão apenas traindo sua confiança pessoal, mas também conspirando contra a linhagem da nossa dinastia.

Eu me recostei na cadeira, sentindo uma onda de incredulidade invadir meu corpo. Tudo o que eu havia conhecido, tudo o que eu acreditava, agora estava sendo questionado.

— Eles têm apoio interno? — perguntei, a mente tentando processar o que ele estava dizendo. A ideia de uma conspiração dentro de minha própria corte me fazia tremer, mas eu sabia que precisava saber mais.

Benedict assentiu, com a expressão sombria.

— Não apenas apoio. Eles têm seguidores em todas as camadas do nosso exército, entre os nobres, e até nas aldeias mais distantes. Eles estão dispostos a destruir tudo para garantir que você não permaneça no trono. O objetivo deles é colocar alguém no poder que seja mais facilmente manipulável. E tenho razões para acreditar que não estamos lidando com um inimigo local. As evidências apontam para uma rede internacional, com laços em várias nações ao nosso redor.

Essas palavras caíram sobre mim como um golpe. Não era apenas uma ameaça interna, mas uma força estrangeira que buscava tomar o reino de dentro para fora. Eu sabia que as alianças estrangeiras sempre foram frágeis, mas nunca imaginei que a traição se estenderia até o ponto de envolver potências externas.

— Então o que fazemos agora? — perguntei, a voz mais baixa, mas com uma firmeza que eu ainda não sabia de onde vinha.

Benedict olhou para os oficiais que estavam ao seu lado, aguardando uma reação minha. Eu percebi que era o momento de tomar uma decisão, de mostrar que eu era mais do que uma rainha cercada por conspirações. Eu precisava liderar, como nunca antes.

— Agora, precisamos agir rapidamente. Devemos identificar todos os envolvidos e neutralizar qualquer ameaça antes que ela se espalhe. Já sabemos quem são alguns dos traidores, mas existem muitos outros escondidos nas sombras — disse Benedict, sua voz resoluta.

Eu assenti com a cabeça, sentindo uma calma estranha se instalar em mim. Já não havia mais espaço para dúvidas ou hesitações. Eu tomaria o controle dessa situação.

— Que todos os envolvidos sejam rastreados. E que as informações sejam compartilhadas apenas com aqueles em quem realmente confiamos. Se a conspiração for maior do que imaginamos, precisaremos agir com discrição.

Benedict e os oficiais fizeram uma reverência, e eu os observei sair da sala, cada um deles carregando o peso da missão que lhes fora dada. Mas a verdade era clara: eu estava sozinha em minha luta, mesmo rodeada de aliados. E enquanto eles partiam para suas respectivas tarefas, uma parte de mim não conseguia deixar de pensar: quem, de fato, poderia ser confiável..

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Naquela noite, após a reunião, retirei-me para meus aposentos, onde o silêncio me envolveu mais uma vez. Eu sabia que não poderia descansar. O futuro do reino, a minha própria sobrevivência e a de minha linhagem dependiam das escolhas que eu faria agora. Eu precisava ser implacável. Não havia mais espaço para o erro.

Caminhei até a janela, observando o céu estrelado. A lua cheia estava alta, mas a sombra das montanhas ao longe parecia engolir tudo. A sensação de estar sendo observada nunca havia sido tão forte. Talvez fosse a paranoia. Ou talvez fosse algo muito mais real, algo que eu ainda não compreendia completamente.

Eu sabia que o dia seguinte traria mais revelações. E com elas, talvez a verdade sobre quem eu poderia confiar.

Mas até lá, o véu da traição permaneceria sobre mim.

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