O som das velas queimando era o único ruído no ambiente silencioso e sombrio do mosteiro. As paredes de pedra ao nosso redor estavam impregnadas de uma sensação de antiguidade, como se os próprios tijolos respirassem história. O abade, com sua presença tranquila e ao mesmo tempo inquietante, observava atentamente enquanto eu folheava as páginas do Códice de Ravenswood.
O livro estava repleto de símbolos e escritos que eu mal conseguia compreender, suas palavras pareciam vir de um tempo muito distante, quase como se tivessem sido criadas por uma civilização perdida. Alguns textos estavam em latim, outros em uma língua que eu nunca havia visto antes. Mas, à medida que meus dedos deslizavam pelas páginas, algo peculiar começou a acontecer. Eu sentia uma conexão estranha, uma sensação de pertencimento a algo maior, algo que eu não conseguia nomear. Era como se o livro falasse diretamente comigo, sussurrando segredos que estavam ocultos por gerações.
— O que exatamente estou vendo aqui? — perguntei, minha voz cheia de dúvida.
O abade permaneceu em silêncio por um momento, observando o livro com reverência.
— Este é um legado perdido, Majestade. Um pacto feito há séculos entre sua família e os antigos deuses que governavam estas terras. Ele selou a proteção de seu reino, garantindo a segurança e a prosperidade, mas a que preço, ninguém sabe. — Ele fez uma pausa, seus olhos encontrando os meus com uma intensidade que me desconcertou. — Sua linhagem carrega uma responsabilidade muito maior do que qualquer coroa pode representar.
Fiquei em silêncio, absorvendo suas palavras. As implicações estavam além da minha compreensão. Como poderia minha família ter feito um pacto com os deuses? E por que ninguém jamais falou sobre isso? Eu sabia que o reino estava em perigo, mas agora parecia que as ameaças eram muito mais antigas do que qualquer inimigo visível.
— Como posso entender isso? — perguntei, minha mente correndo. — O que devo fazer agora?
O abade caminhou até a estante e retirou um pequeno frasco de vidro, contendo um líquido brilhante que refletia a luz das velas. Ele o colocou delicadamente sobre a mesa ao meu lado.
— O livro contém as respostas, Majestade, mas você precisará de mais do que apenas o conhecimento contido nele. Este é um elixir antigo, usado pelos guardiões do pacto. Ele abrirá sua mente para as verdades ocultas e permitirá que você veja além da superfície do que está escrito aqui.
Eu olhei para o frasco com desconfiança. Era tentador, mas a ideia de consumir algo tão misterioso me fazia hesitar.
— Você deve usá-lo, Majestade. Só assim você será capaz de compreender o que está em jogo. O futuro do seu reino depende disso. — A voz do abade era firme, como se ele soubesse que não havia outra opção.
Com um suspiro resignado, peguei o frasco e, após hesitar por um momento, o abri. O líquido dentro era de um tom dourado brilhante, e um cheiro suave e doce emanava dele. Eu não sabia o que esperar, mas sabia que estava em uma encruzilhada. Engoli o conteúdo do frasco de uma vez.
Uma sensação quente e pulsante começou a se espalhar por meu corpo imediatamente, como se uma corrente elétrica tivesse sido ativada em minhas veias. Fechei os olhos por um momento, tentando me concentrar. Quando os abri, o mundo ao meu redor parecia diferente. As sombras nas paredes começaram a se mover, e os símbolos do livro brilharam com uma luz suave. Eu podia sentir algo – uma presença invisível, uma força antiga que pulsava dentro de mim.
— O que está acontecendo? — Perguntei, sentindo meu coração acelerar.
O abade permaneceu em silêncio, mas havia um brilho de compreensão em seus olhos. Eu sabia que algo estava mudando dentro de mim. Minha mente estava inundada de imagens e pensamentos, como se eu estivesse sendo guiada por mãos invisíveis através de um labirinto de memórias e histórias esquecidas.
Eu vi minha família, meus ancestrais, em uma época muito anterior ao meu próprio reinado. Eles estavam em uma grande sala, cercados por homens e mulheres com vestes de sacerdotes. Os rostos estavam embaçados, mas as palavras que ecoaram na sala eram claras como se tivessem sido ditas ontem.
— Você será a guardiã do pacto, Eleanor. Seu sangue é a chave para a continuidade de nosso reino. O destino de todos dependerá de sua escolha.
Eu vi o rei de outrora, meu ancestral, fazer um gesto com as mãos, oferecendo algo a uma figura encapuzada. Não consegui ver o rosto, mas uma sensação de temor me envolveu. O pacto foi selado, mas havia um preço a ser pago. Um preço que ninguém sabia exatamente o que era, até agora.
O calor do elixir ainda queimava em minhas veias, e as visões começaram a se dissipar lentamente. Eu estava de volta ao mosteiro, mas a sensação de conexão com o passado não desapareceu. Eu sabia que algo crucial havia sido revelado, mas as peças ainda não se encaixavam.
— O que significa isso, abade? — Perguntei, minha voz rouca.
Ele olhou para mim com um sorriso triste, como se já soubesse que minha jornada estava apenas começando.
— O pacto nunca foi quebrado, Majestade, mas ele não foi cumprido completamente. Há forças que buscam destruí-lo, e o sangue de sua família será a chave para impedir que isso aconteça. Você terá que tomar uma decisão difícil, uma decisão que poderá salvar o reino ou condená-lo.
Eu olhei para o livro novamente, agora entendendo a gravidade da situação. Eu não era apenas uma rainha — eu era a última linha de defesa contra algo muito maior, algo que eu mal começava a entender.
— Como posso proteger o pacto? — Perguntei, sentindo uma determinação crescer dentro de mim.
O abade hesitou, olhando para as sombras que dançavam nas paredes.
— O primeiro passo é simples: você precisa encontrar a Verdade. Mas a Verdade será mais difícil de alcançar do que qualquer espada ou exército. O caminho será cheio de traições e escolhas amargas. Você precisará aprender a confiar em sua intuição, pois os aliados que você tem podem se voltar contra você.
Senti um arrepio ao ouvir suas palavras. Traições. Aliados se voltando contra mim. Eu sabia que o reino estava cheio de intrigas e disputas internas, mas agora eu via que o perigo era ainda maior do que eu imaginava.
— O que mais devo fazer? — perguntei, tentando me concentrar.
O abade olhou profundamente em meus olhos, como se estivesse vendo algo além da superfície.
— Encontre aqueles que conhecem a história completa. O pacto foi selado com sangue e com palavras. Você deve procurar aqueles que têm o conhecimento necessário para completá-lo, mas tome cuidado, pois não todos são confiáveis.
Eu assenti, sentindo o peso de sua mensagem. O futuro de meu reino, o futuro de todos, estava em minhas mãos. E eu sabia que a única maneira de proteger todos aqueles que dependiam de mim era enfrentar o desconhecido, mesmo que o preço fosse alto.
O abade fez um gesto para que me levantasse, e eu segui suas instruções, deixando o mosteiro com mais perguntas do que respostas, mas com uma determinação renovada. O pacto era mais do que uma lenda — ele era a chave para o destino do meu reino, e eu era a única que podia impedir que tudo fosse destruído.
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Atualizado até capítulo 30
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