Os dias que seguiram àquela reunião no conselho foram preenchidos com um turbilhão de atividades e decisões. Meu palácio, que antes parecia um refúgio de calma, agora estava imerso em uma constante movimentação. As paredes, que testemunharam tantas reuniões em silêncio, agora estavam carregadas de uma tensão palpável. O fato de saber que a traição estava espreitando, à espreita nas sombras, tornou tudo mais pesado. Eu precisava manter minha mente afiada, pois o que estava por vir poderia definir o futuro de todo o reino.
A carta de Lorde Marius ainda estava em minha posse, lacrada, aguardando o momento certo para ser aberta. Ele sempre foi um aliado leal, mas o tom de sua carta me inquietava. Ele nunca foi de escrever sem necessidade, e quando o fazia, geralmente era para informar algo de grande importância. Algo que eu precisava saber, mas ao mesmo tempo, temia.
Na manhã seguinte, logo após o café, eu reuni a minha guarda pessoal, ordenando que nenhum detalhe fosse deixado de lado. Cada passo que eu tomava estava sendo vigiado e calculado, e eu não podia permitir que a incerteza se alastrasse entre meus soldados ou conselheiros. Eles precisavam de firmeza.
— Sua Majestade, temos notícias sobre a situação no norte — disse Benedict, aparecendo repentinamente na porta da sala. Seu rosto estava mais sombrio do que o habitual, o que me fez entender que as notícias não seriam boas.
Ele entrou sem esperar por uma resposta minha, o que me fez franzi a testa. Benedict sempre foi cauteloso, então a urgência em sua postura dizia mais do que qualquer palavra.
— O que aconteceu? — Perguntei, já prevendo o que ele poderia dizer.
— As tropas do norte estão em movimento — disse, pausando. — E temos relatórios de deserções dentro de nossa própria guarnição. Algo está acontecendo lá, e não podemos ignorar. Precisamos de um posicionamento, e rápido.
Suspirei, fechando os olhos por um momento, tentando ordenar meus pensamentos. Aquele não era o momento para hesitar. Eu já sabia que o norte era um ponto de tensão, mas o fato de ter deserções entre os meus próprios soldados era uma ameaça que eu não podia permitir que se espalhasse. A lealdade era a fundação do meu reinado, e se começassem a questioná-la, tudo estaria perdido.
— Convocarei os comandantes para uma reunião ainda hoje — respondi, minha voz agora firme e decidida. — E quero um relatório detalhado sobre cada um dos soldados, sobre o que aconteceu, quem se ausentou e qualquer informação adicional. Não podemos permitir que esses rumores cresçam.
Benedict assentiu, mas seus olhos estavam tensos. Ele sabia o que estava em jogo, assim como eu. A ameaça interna, somada à traição iminente que sentíamos, poderia ser mais devastadora do que qualquer exército. O poder, por mais que parecesse estar em minhas mãos, era instável, e eu precisava controlar isso com precisão.
Mais tarde, quando a reunião com os comandantes começou, o clima na sala era pesado. Os rostos eram os de homens experientes, que estavam acostumados à guerra e aos sacrifícios, mas mesmo eles pareciam inquietos, como se estivessem sentindo a tensão que pairava no ar.
— Sua Majestade — começou o comandante Morvan, ainda com a postura altiva, mas com uma leve reverência na voz. — A situação no norte está ficando cada vez mais difícil de controlar. E as deserções podem ser um reflexo de algo muito maior. A lealdade das nossas tropas está sendo desafiada, e se não tomarmos medidas, o impacto será irreparável.
A seriedade de suas palavras era imensa. Eu não podia ignorar o que estava sendo dito, mas ao mesmo tempo, precisava ponderar cada movimento. O norte não era a única questão, e as ameaças internas precisavam ser tratadas com a mesma urgência.
— Qual é a situação exata das deserções? — Perguntei, virando-me para o oficial responsável pelo relatório. O homem, um jovem comandante, respirou fundo antes de responder.
— Há indícios de que o número de desertores está aumentando. Alguns soldados falam sobre uma insatisfação com a liderança, e outros mencionam que há um movimento secreto que está ganhando força nas regiões fronteiriças. Não sabemos ainda a extensão disso, mas o que sabemos é que as deserções estão se tornando mais frequentes.
Eu senti uma onda de frustração. Como é que a lealdade estava se rompendo tão rapidamente? Isso só poderia significar uma coisa: havia alguém com influência suficiente para corroer o que construímos. O que mais me incomodava era que ninguém sabia quem era essa força oculta, quem estava por trás disso. Eu precisava descobrir, antes que fosse tarde demais.
— Precisamos investigar isso a fundo — declarei, a voz fria e firme. — Quero todos os desertores localizados e interrogados. Não podemos permitir que esses rumores cresçam.
O ambiente estava tenso, e sabia que ninguém ali estava confortável. Benedict observava atentamente, mas seus olhos, usualmente tão claros e confiantes, estavam agora carregados de preocupação. Eu sabia que ele sentia o mesmo que eu: algo muito maior estava em jogo, e não era apenas uma questão de manter a ordem no reino. Era uma questão de sobrevivência.
De repente, o mensageiro real entrou na sala com urgência, interrompendo a reunião.
— Sua Majestade — disse ele, com a respiração ofegante. — Uma carta chegou. É de Lorde Marius.
A menção de seu nome foi suficiente para todos na sala ficarem em silêncio. Marius era um dos meus aliados mais confiáveis, mas ele estava distante, cuidando de assuntos na região oeste. O fato de ele ter enviado uma carta com tanta urgência indicava que algo sério estava acontecendo. O mensageiro entregou o envelope lacrado, e eu o abri com cuidado, ciente de que o conteúdo poderia mudar tudo.
"Minha Rainha,"
Comecei a ler, as palavras de Marius dançando em minha mente.
"Os ventos do oeste estão se tornando mais fortes. Um movimento inesperado ganhou força, e há rumores de que um aliado muito próximo de seu reino está conspirando contra sua coroa. Sua Majestade, sua segurança está em risco, e é vital que você tome as precauções necessárias antes que a traição seja consumada. Eu farei o possível para garantir que sua posição não seja ameaçada, mas agora você precisa agir. Não confie em ninguém além de seus mais fiéis."
As palavras foram como uma lâmina afiada, cortando qualquer vestígio de dúvida que ainda restava em minha mente. A traição estava mais próxima do que eu imaginava, e eu precisava agir rapidamente para garantir a sobrevivência de meu reinado.
Olhei para os conselheiros ao meu redor, cada um com uma expressão que misturava preocupação e incerteza. Eles não sabiam o que havia na carta, mas eu sabia que o que estava escrito mudaria o curso de tudo. Eu agora tinha uma certeza cruel: o reino estava à beira do colapso, e a guerra civil não era mais uma possibilidade distante. Ela estava aqui.
— Preparem-se para o que vem a seguir — disse, com uma firmeza que não senti há dias. — O inimigo está entre nós.
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Atualizado até capítulo 30
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