A Escolha Final

Eu estava paralisada diante da caverna, sentindo o peso da decisão se instalar nos meus ossos. O silêncio ao meu redor era ensurdecedor, e mesmo a presença de Alaric, com seu olhar penetrante e suas palavras enigmáticas, não conseguia afastar o turbilhão de pensamentos que se passava em minha mente. O que estava em jogo aqui não era apenas a vida do reino, mas algo mais profundo, algo mais íntimo. Algo que eu ainda não conseguia compreender completamente.

Eu olhei para o selo em minhas mãos, seu brilho era hipnotizante, mas também trazia uma sensação de desespero, como se uma força invisível estivesse tentando puxar-me para um abismo do qual não haveria retorno. O que exatamente estava sendo exigido de mim? O sacrifício de sangue parecia claro, mas o que eu perderia? O que era mais valioso do que o reino em si?

— Você não pode hesitar, Eleanor. O tempo está se esgotando. — A voz de Alaric cortou meus pensamentos, como uma lâmina afiada, fria e precisa. Ele se aproximou lentamente, cada passo ecoando na caverna silenciosa, e eu senti a pressão aumentar, como se ele estivesse me cercando de forma intencional.

Ele estava certo. O tempo estava se esgotando. Eu sabia disso, mas como poderia escolher entre o meu próprio sacrifício e a salvação do reino? Como poderia entender o custo do que estava prestes a acontecer? Eu já havia sido treinada para governar, mas ninguém jamais me ensinou o que fazer quando o peso de um destino tão grande recai sobre você.

— O que mais você quer de mim, Alaric? — Perguntei, a voz tensa e trêmula. Eu precisava de mais respostas. Eu precisava entender o que estava realmente em jogo.

Ele não respondeu imediatamente, mas se aproximou de mim, seus olhos parecendo ver mais do que eu estava disposta a revelar. O que ele via? Ele sabia mais sobre o meu destino do que eu mesma. E, de alguma forma, ele parecia aguardar o momento certo para revelar tudo.

— O que você dá, Eleanor, será mais do que apenas sangue. — Ele disse finalmente, com um tom grave. — O sacrifício será sua linhagem. O que se perderá é a parte de você que é mais do que sua realeza. Será sua humanidade.

Eu dei um passo atrás, estupefata pelas palavras dele. A linhagem? A minha humanidade? Como isso poderia ser possível? Eu era filha de um rei, e todo o meu legado estava atrelado à coroa e à família real. Como poderia perder minha humanidade? O que ele queria dizer com isso?

Ele parecia perceber minha confusão e, em resposta, deu um sorriso suave, quase imperceptível.

— O que você perde, Eleanor, não pode ser visto com os olhos. Não será algo físico. Mas será algo que definirá quem você será quando tudo terminar. E o reino... o reino será salvo, se você escolher. — A voz dele estava carregada de uma confiança inabalável, e eu sentia que ele estava me empurrando, me guiando para algo que eu ainda não queria compreender.

O silêncio se instalou entre nós, e eu fechei os olhos por um momento, tentando ordenar meus pensamentos. A pressão do destino sobre mim parecia tão intensa que eu mal conseguia respirar. Eu sabia o que eu precisava fazer, mas havia uma parte de mim que ainda resistia. Eu poderia me sacrificar pelo reino, mas seria isso suficiente? O que aconteceria depois?

Eu abri os olhos, encarando Alaric. Sua expressão era imutável, como se ele estivesse vendo o futuro, como se já soubesse qual caminho eu tomaria. Mas ele não diria nada. Ele não podia. Era minha escolha. A última escolha.

— O que acontece se eu me recusar? — Perguntei, minha voz baixa, mas firme. Eu sabia que o que estava em jogo aqui era irreversível, mas precisava saber o que aconteceria se eu simplesmente não fizesse o que ele pedia. Não que fosse uma opção real, mas a dúvida ainda pairava.

Alaric deu um passo para trás, como se estivesse avaliando minha pergunta. Então, ele respondeu com uma calma perturbadora.

— Se você se recusar, o reino será destruído. O pacto exigirá um sacrifício, e a escuridão tomará tudo. Mas mais do que isso... você será consumida por ela. O que você está vendo agora, o que você está sentindo, será nada comparado ao que acontecerá se você falhar. — A intensidade de suas palavras me atingiu como um soco no estômago, e a sensação de desespero se intensificou.

Eu precisava entender. Eu precisava de mais tempo, mais clareza. Mas o tempo estava se esgotando.

Eu olhei novamente para o selo, que brilhava em minhas mãos como um farol, e senti uma onda de frieza percorrendo minha espinha. O que eu estava prestes a fazer não seria fácil. Não seria algo que eu poderia simplesmente escolher e esquecer. Isso ficaria comigo para sempre, e o preço seria alto.

Mas, ao mesmo tempo, havia uma parte de mim que sabia que o que eu estava prestes a fazer era necessário. O reino não podia cair. As pessoas dependiam de mim, e eu havia sido criada para isso. A responsabilidade que eu carregava era maior do que minha própria vida. E, se o pacto fosse o que fosse, eu teria que cumpri-lo.

— Eu farei o que é necessário. — Disse, finalmente, com uma voz firme, apesar do turbilhão de emoções dentro de mim.

Alaric observou-me em silêncio por um momento, como se estivesse avaliando minha decisão, e então, sem uma palavra, deu um passo para o lado, gesticulando para o altar que estava diante de mim. Eu sabia que não havia mais volta. Eu sabia que, ao dar esse passo, minha vida mudaria para sempre.

Com as mãos trêmulas, eu me aproximei do altar, e, com um suspiro profundo, coloquei o selo sobre a pedra escura. Um brilho intenso envolveu a caverna, e eu senti a energia do pacto se infiltrar em cada célula do meu corpo. Era como se eu estivesse sendo consumida por dentro, como se todo o meu ser estivesse sendo marcado.

E, quando o selo se ativou, eu soube, com certeza, que nada mais seria como antes.

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