O Peso Da Escolha

As sombras da noite caíam lentamente sobre o castelo, estendendo-se como um manto pesado que se arrastava pelo corredor de pedra. Cada passo que eu dava ecoava pela grande sala, mas meu coração batia de forma abafada, como se a própria casa estivesse tentando me sussurrar que não havia mais como escapar. A decisão que eu tinha pela frente não era mais uma questão de escolha; era uma imposição do destino. E, por mais que eu tentasse resistir, sabia que o destino já havia começado a se desenrolar.

Na manhã seguinte, o Abade me deixou com suas palavras enigmáticas que ainda ecoavam em minha mente. O preço seria alto, e não havia como escapar disso. O pacto, em sua natureza cruel, exigiria mais do que eu poderia oferecer. Porém, algo dentro de mim, algo profundo e incontrolável, me impelia a seguir em frente.

Durante os dias seguintes, vivi uma existência de introspecção. O trono, que outrora parecia tão distante e brilhante, agora parecia uma prisão. Eu andava pelos corredores do castelo com a sensação de que tudo estava me observando, de que todos ao meu redor estavam cientes de algo que eu ainda não compreendia totalmente. Mas, no fundo, havia uma verdade que começava a se formar dentro de mim: o tempo estava se esgotando. E, mais do que isso, eu não poderia ignorar a responsabilidade que me fora imposta.

Foi em uma dessas noites silenciosas que decidi ir até a caverna onde o selo deveria ser ativado. Eu havia ouvido histórias sobre ela desde a infância, histórias sobre um lugar escondido nas profundezas da montanha, onde os mais antigos juramentos do reino eram feitos. Um lugar que, segundo as lendas, possuía um poder imenso, capaz de selar ou destruir vidas inteiras. Eu sabia que não poderia voltar atrás, e precisava enfrentar isso com coragem, por mais que a incerteza e o medo corroessem meu peito.

O caminho até a caverna era árduo e solitário. As rochas escorregadias e o ar gelado tornavam o percurso quase impossível para quem não conhecesse os caminhos secretos do reino. Porém, ao chegar à entrada da caverna, algo me paralisou. Não era o medo, mas sim uma sensação de inevitabilidade, como se a própria caverna estivesse esperando por mim, como se o futuro já tivesse sido escrito nas pedras antigas que ali estavam.

Dentro da caverna, uma luz tênue emanava das paredes, iluminando símbolos e inscrições antigas que pareciam se mover, como se estivessem vivos. O ambiente era denso, o ar carregado de um poder que eu mal conseguia compreender. Em meio a tudo aquilo, eu sabia que era ali que a escolha deveria ser feita.

O medalhão que Alaric me dera estava preso ao meu pescoço, mais pesado do que nunca. Eu podia sentir sua energia, sua presença como uma chama incandescente contra minha pele. Eu sabia que não poderia mais adiar essa decisão. O selo que ele carregava, as palavras do Abade, tudo se unia agora, e a única coisa que restava era a ação.

— Você veio. — A voz de Alaric cortou o silêncio da caverna. Sua presença surgiu das sombras, tão súbita quanto sua chegada anterior. Ele estava ali, à minha frente, como uma figura etérea, quase sobrenatural. — Eu sabia que não poderia fugir de seu destino, Eleanor.

Ele deu um passo à frente, suas botas ressoando suavemente na rocha enquanto seus olhos fixavam-se nos meus. Eu o observei com cautela, sentindo a energia de sua presença se entrelaçar com o poder da caverna. Ele era mais do que apenas um emissário do pacto; ele era a chave para tudo o que estava por vir.

— O que você quer de mim, Alaric? — Minha voz tremia, mas eu sabia que precisava ser firme. Não havia mais espaço para dúvidas ou incertezas. Eu precisava entender o que estava em jogo, o que eu deveria sacrificar para cumprir o pacto e salvar o reino.

Ele sorriu levemente, quase como se estivesse aguardando aquela pergunta.

— O que eu quero, Eleanor, não importa. O que importa é o que você está disposta a dar. O pacto não é uma escolha fácil, nem é uma decisão que possa ser revertida. Quando você ativar o selo, o que está feito não pode ser desfeito.

Eu franzi a testa, tentando compreender melhor suas palavras. Ele estava falando sobre um sacrifício, mas o que isso significava? O que seria retirado de mim? O que era tão valioso a ponto de garantir a salvação do reino?

Alaric deu um passo mais perto de mim, a luz da caverna refletindo em seu olhar penetrante.

— Quando você ativar o selo, Eleanor, seu sangue será o vínculo. Seu sacrifício será a chave que manterá o reino intacto. — Ele fez uma pausa, estudando-me, como se esperasse que eu compreendesse a gravidade de suas palavras. — Você terá que escolher entre o que é maior: o bem do reino ou sua própria vida.

Eu engoli em seco, tentando processar o que ele estava dizendo. O sacrifício seria meu sangue, e o reino dependia disso. Mas o que ele queria dizer com escolher entre a vida e o reino? Eu teria que morrer? Ou era algo mais sutil, algo mais profundo que envolvia meu destino e a linhagem que eu carregava?

— E se eu não fizer isso? — Perguntei, tentando esconder o medo que se formava em meu peito.

Ele balançou a cabeça, com um semblante grave.

— Se você não fizer isso, o reino cairá. A escuridão tomará conta de tudo o que você conhece. Mas lembre-se: até a escuridão tem um preço. O que você perderá não será visível, mas será mais precioso do que a própria coroa. — Ele falou essas palavras com uma intensidade que me fez estremecer.

Aquele momento parecia eterno, o tempo se dilatando à medida que o peso da decisão pairava no ar. Eu podia sentir o peso do meu próprio destino, e sabia que não havia mais como voltar atrás. Eu estava diante de algo que não podia controlar, algo que estava além da minha compreensão. E ainda assim, a responsabilidade estava em minhas mãos.

Eu olhei para o selo, seu brilho pulsando em minhas mãos. Eu sabia o que precisaria fazer, mas a verdadeira questão era: eu seria capaz de sacrificar o que ele exigia? A dúvida ainda me consumia, mas as palavras do Abade e a intensidade da presença de Alaric me diziam que o tempo se esgotava.

— O que você escolherá, Eleanor? — A pergunta de Alaric ecoou na caverna, uma provocação silenciosa, um desafio lançado no ar.

O silêncio foi a única resposta que eu consegui dar.

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