O Peso Do Passado

O vento que soprava pelo jardim parecia cortar a pele como lâminas afiadas. Mas eu não sentia o frio. Não mais. Desde que o poder foi despertado dentro de mim, havia uma distância crescente entre o que eu sentia e o mundo ao meu redor. O jardim de flores, com suas cores vibrantes e aromas suaves, já não me dava o consolo de antes. Nada mais me dava consolo.

"Você tem que se tornar forte. Você não pode deixar que isso a destrua." Eu repetia essas palavras para mim mesma, mas sabia que havia uma verdade que eu ainda não conseguia aceitar: não existia apenas a força física ou a força de vontade para lidar com o poder que habitava em mim. Ele exigia muito mais.

Havia algo em mim que estava mudando. Algo que eu não podia controlar. Algo que sentia nas profundezas de minha alma.

E foi nesse momento que eu vi Alaric se aproximando, com sua postura calma e serena, seus olhos azuis fixos em mim. Ele sempre parecia tão calmo, tão em controle, mas eu sabia que ele também carregava seu próprio peso. Ele tinha sido a chave para a transformação, o guia para o pacto, mas o que ele não dizia era o que me assustava mais. O que ele sabia e não estava compartilhando comigo?

— Você está sozinha aqui, não é? — Ele perguntou, quebrando o silêncio. Sua voz não tinha um tom de reprovação, apenas uma observação fria. Como se ele soubesse exatamente o que eu estava sentindo, como se ele fosse capaz de olhar dentro de mim e ver minha alma perdida.

Eu assenti, sem palavras. Não sabia o que mais poderia dizer. Sentia-me como se tivesse sido arrancada de tudo o que conhecia, e o que me restava agora era uma sombra do que um dia fui.

Alaric sentou-se ao meu lado, sua presença imensa e silenciosa. Ele parecia ter uma aura de calma, mas mesmo ele parecia carregar uma sombra em seus próprios olhos. Havia um peso em sua expressão que eu não conseguia ignorar.

— Eu sei o que está sentindo — ele disse após um longo silêncio. — A transformação não é fácil. E o que vem com ela é algo que poucos podem compreender. Você sente a solidão, a perda de quem era, e a pressão de se tornar algo maior, algo mais perigoso. Mas é necessário. Para o bem de todos.

Eu o olhei, tentando entender o que ele queria dizer. Eu não sabia o que era "o bem de todos". O que ele queria que eu fosse? Ele sabia que eu estava lidando com forças além do que minha mente conseguia conceber, mas ele nunca me dizia o suficiente. Ele mantinha os detalhes em segredo, como se as respostas fossem uma moeda de troca, e eu não sabia quanto eu pagaria para ter toda a verdade.

— Eu não quero perder mais nada — disse, minha voz saindo mais fraca do que eu esperava. Eu tinha medo de que, ao ceder ao poder, perderia tudo o que restava de mim. Minha humanidade. Meus sentimentos. Eu já sentia como se estivesse me tornando uma estranha para aqueles que me amavam.

Alaric virou o rosto para mim, seus olhos intensos, como se ele estivesse tentando encontrar alguma fraqueza em mim. — Você já perdeu muito, Eleanor. O poder que você carrega não é algo que qualquer um possa ter. Ele exige sacrifícios, e não há como voltar atrás depois que o pacto é feito.

Eu me senti tonta. As palavras de Alaric ressoaram em minha mente como uma sentença. Não havia como voltar atrás. A transformação estava em curso, e nada mais poderia ser o mesmo.

— O que devo fazer? — perguntei, minha voz trêmula, mais para mim mesma do que para ele.

Alaric hesitou antes de responder, como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado. — O pacto não é apenas uma questão de força ou poder. Ele tem uma ligação com o próprio reino, com a terra e com as forças que regem este lugar. O que você sente dentro de si agora é uma fração do que você pode alcançar, mas também é um reflexo de como as coisas estão prestes a mudar. Você sente o peso disso, não sente? Algo está vindo. Algo que pode destruir tudo.

Eu olhei para ele, tentando decifrar a profundidade de suas palavras. Ele sabia mais do que estava disposto a revelar, mas algo em seu tom sugeria que ele estava falando sobre algo mais, algo iminente. Mas o que era? O que eu precisava fazer para me preparar para isso?

— Você deve aprender a controlar isso — ele continuou. — Se você não o fizer, perderá mais do que sua humanidade. Você perderá o reino, perderá tudo.

Eu olhei para o horizonte, para o céu que agora estava tomado por nuvens escuras. Uma tempestade estava se aproximando, mas eu não sabia se era apenas o clima ou algo muito mais sombrio. Algo que eu não estava pronta para enfrentar.

— Eu farei o que for necessário — disse finalmente. Eu sabia que não tinha escolha. O destino que me aguardava não seria fácil, mas não poderia recuar. As peças estavam se movendo, e eu era a chave para algo maior do que eu poderia compreender.

Alaric olhou-me com uma expressão grave. — O poder não perdoa fraquezas, Eleanor. Não importa o quão difícil seja, você deve se preparar para o que está por vir.

Eu não sabia o que isso significava, mas sabia que eu estava sendo forçada a enfrentar algo que poderia mudar tudo.

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