Aubrey e Liz estavam se preparando para sair, ambos silenciosos, imersos em seus próprios pensamentos enquanto se arrumavam. Liz se olhava no espelho, ajeitando o cabelo e tentando não se perder na reflexão. Ela ainda não havia se acostumado com a mansão, com os espaços enormes, com o mundo de Aubrey. Mas ele estava ali, ao seu lado, sempre presente, tentando tornar tudo mais fácil para ela.
Ele havia sugerido, mais uma vez, que passassem o dia na empresa. Ele queria que Liz ficasse ocupada, que não se sentisse sozinha em casa, e talvez fosse uma boa distração. Aubrey tinha a intenção de mostrá-la aos seus colegas de trabalho, de envolvê-la no mundo dele, onde tudo parecia funcionar perfeitamente. Mas Liz não sabia o que achar disso. Ela não estava certa de como se encaixar em sua vida, mas também sabia que ele estava tentando ser cuidadoso, talvez até mais do que ela imaginava.
Quando ela entrou na sala de estar, Aubrey já estava esperando, vestido de maneira impecável. Ele a observou, seus olhos atentos a cada movimento dela, como se estivesse avaliando a roupa, a postura, até mesmo a maneira como ela respirava. Aubrey gostava de manter o controle, de ter tudo sob sua influência. Liz, por outro lado, sentia-se cada vez mais distante desse controle, mas ainda assim, tentava acompanhá-lo.
“Você está linda, como sempre”, ele disse, o sorriso dele fácil e confiante.
Liz sorriu timidamente, tentando não parecer desconfortável. “Obrigada. Você também está ótimo.”
Eles seguiram para o carro, e o caminho até a empresa foi silencioso, com a música suave tocando ao fundo. Liz observava a paisagem passar pela janela, suas mãos no colo, um sentimento de desconexão surgindo em seu peito. Ela se perguntava se estava fazendo a escolha certa ao se envolver cada vez mais no mundo de Aubrey. Era difícil sentir-se completamente à vontade quando o futuro parecia estar sendo escrito por outra pessoa.
A empresa de Aubrey era um prédio imponente, com vidro refletindo a luz do sol e o som suave de conversas corporativas ecoando pelos corredores. Liz se sentiu deslocada assim que entrou, como se estivesse em um lugar que não era para ela. Ela estava acostumada com a simplicidade da loja de roupas de luxo em que trabalhava, não com o brilho e a frieza de um ambiente corporativo como aquele.
“Aqui é onde a mágica acontece”, Aubrey disse com um sorriso, enquanto caminhavam pelo corredor. “Vou te apresentar a algumas pessoas. Quero que se sinta à vontade, mas sem pressa. Você não precisa fazer nada que não queira.”
Liz apenas assentiu, tentando se acostumar com os passos pesados de Aubrey e a energia ao seu redor. As pessoas a olhavam com curiosidade, algumas com sorrisos amigáveis, outras com a mesma avaliação que ela sentia em seu próprio peito. Ela não sabia como se comportar, como se encaixar.
No meio da tarde, quando Liz já estava começando a se perder em seus próprios pensamentos, o celular dela tocou. Ela olhou para o visor e viu que era uma ligação de Pierre, um amigo de longa data, alguém com quem ela havia perdido o contato depois de mudar de cidade. O nome dele trouxe um misto de sentimentos, uma onda de nostalgia e, ao mesmo tempo, uma sensação de alívio. Pierre sempre fora alguém com quem ela podia contar, alguém que entendia suas inseguranças e a fazia se sentir compreendida.
Ela olhou para Aubrey, hesitante. Ele estava distraído, conversando com um dos seus colegas de trabalho, e Liz aproveitou a chance para atender a chamada. Ela se afastou um pouco, indo para um canto mais calmo do escritório, e atendeu.
“Liz! Quanto tempo!” A voz de Pierre era cheia de animação, como sempre. “Eu estava pensando em você esses dias, e então resolvi ligar. Como você está? Eu soube do seu noivado, viu?”
Liz sorriu, sentindo uma familiaridade reconfortante na voz de Pierre. Era bom ouvir alguém com quem ela já compartilhara tantas histórias, tantos momentos. “Eu estou… tentando me acostumar com tudo, Pierre. Está sendo uma mudança grande. E sim, o noivado... tudo está acontecendo tão rápido.”
“Eu imagino… Mas você vai se acostumar com isso. Eu sei que você é forte, Liz. Sempre foi. Como está o Aubrey? Ele te trata bem?”
Liz hesitou por um momento, sentindo o peso da pergunta. “Ele tem sido… ele tem sido atencioso, mas você sabe como são essas coisas, né? Às vezes é difícil se encaixar, e eu ainda não sei o que esperar.”
Pierre percebeu a hesitação na voz dela e tentou mudar de assunto. “Eu sei como é. Bom, se precisar de qualquer coisa, pode me ligar, está bom? Senti sua falta.”
Liz sorriu, sentindo um calorzinho no peito. “Também senti sua falta, Pierre. Vou tentar te ligar em breve.”
Ela estava prestes a desligar quando ouviu uma voz familiar atrás de si.
“Quem era?” Aubrey perguntou, já com um sorriso que não conseguia esconder, mas havia algo mais em seu olhar, algo que Liz não conseguiu identificar de imediato.
Ela se virou rapidamente, guardando o celular na bolsa. “Ah, só um amigo meu, Pierre. Fazia tempo que não falávamos.”
O sorriso de Aubrey desapareceu por um momento. Ele deu um passo em direção a Liz, seu olhar fixo nela. “Pierre, é? Eu… não sabia que você falava com ele.”
Liz sentiu a mudança no clima. Algo na maneira como Aubrey pronunciou o nome de Pierre fez com que ela se sentisse desconfortável. Ele não parecia irritado, mas havia algo em seu tom que a fez se questionar.
“Sim, nós costumávamos ser muito próximos quando éramos mais jovens. Ele era… meu amigo, sabe?” Liz tentou se explicar, sem saber ao certo por que precisava justificar isso. Ela se deu conta de que Aubrey parecia mais interessado na conversa do que o normal.
“Eu entendo.” Aubrey respirou fundo, mas o sorriso em seu rosto estava mais forçado agora. “Eu só achei curioso. Não sabia que ele ainda estava em contato com você.”
Liz ficou quieta, tentando não fazer suposições. Ela sabia que Aubrey não era uma pessoa facilmente afetada por coisas pequenas, mas algo nele estava diferente agora. Havia uma tensão no ar, uma espécie de possessividade que ela não conseguia ignorar.
Aubrey olhou para o relógio e, como se tentando mudar de assunto, disse: “Bom, acho que já é hora de irmos embora. Você está pronta?”
Liz assentiu, mas uma sensação estranha começou a se espalhar por seu corpo. Algo estava acontecendo, algo que ela não entendia completamente, mas que ela sabia que precisava observar. Por um momento, ela percebeu que Aubrey estava mais agitado do que o normal, mais fechado em si mesmo, como se algo estivesse mexendo com ele. E ela não sabia se isso a deixava mais desconfortável ou mais curiosa.
Eles saíram da empresa juntos, mas Liz não conseguiu deixar de pensar em Pierre, em como ele a fazia se sentir leve e segura, algo que ela não sentia há muito tempo. E, ainda assim, Aubrey parecia ter uma presença que não podia ser ignorada. Ele estava ali, ao lado dela, mas, naquele momento, Liz se perguntava até que ponto o que ele sentia por ela era apenas um reflexo do que ele acreditava ser a coisa certa a fazer, ou se havia algo mais — algo que ela não conseguia compreender.
E no fundo, Aubrey também se perguntava o que Pierre representava para Liz. O que ele tinha que ele, Aubrey, ainda não conseguia oferecer.
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Atualizado até capítulo 22
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