Capítulo 15 - Memórias Silenciosas

Aubrey estava sentado no escritório da mansão, seu olhar perdido nas vistas deslumbrantes da cidade que se estendiam pela janela. O dia estava claro, e os raios de sol iluminavam a sala, mas dentro dele havia uma tempestade silenciosa. Ele pensava em Liz, em tudo o que ela representava para ele agora, mas também em tudo o que ela havia sido para ele antes, quando eram apenas duas crianças brincando sem preocupações, sem saber o que o futuro lhes reservaria.

Ele sempre foi alguém de controle, alguém que sabia o que queria e como conseguir, mas Liz… Liz era diferente. Ela o desafiava, e ele gostava disso. Ela era imprevisível, vulnerável, mas com uma força silenciosa que o atraía. A cada olhar, a cada gesto dela, ele sentia algo se formando dentro de si, algo que ele preferia ignorar. Porque, apesar de tudo o que havia acontecido, ele ainda não sabia como dizer aquilo para ela. Não sabia como expressar o que sentia sem parecer vulnerável, sem perder o controle da situação.

Mas não podia negar o que seu coração sentia, e aquele sentimento havia começado muito antes, em um tempo que ele mal conseguia lembrar com clareza, mas que ainda assim, estava lá, em sua memória, como uma marca invisível, uma conexão que parecia mais forte do que qualquer outra coisa.

Quando ele tinha cerca de sete ou oito anos, sua vida era muito diferente. Aubrey vivia com seus pais em uma casa grande, afastada do centro da cidade, onde ele passava os fins de semana em busca de algo para fazer. As tardes de sábado eram sempre uma mistura de tédio e liberdade, e foi exatamente nesse cenário que ele encontrou Liz pela primeira vez.

Eles se encontravam todos os fins de semana no parquinho perto da casa de seus pais, mas nenhum dos dois sabia o nome do outro. Eles simplesmente brincavam, como crianças fazem, sem se preocupar com quem estavam ou de onde vinham. Ela tinha uma risada doce e espontânea, e sempre que ele a via correndo até o escorregador ou subindo as barras de ferro, ele sentia algo dentro de si. Mas era um sentimento confuso, algo que ele não sabia como definir. Eles compartilhavam momentos, mas sempre havia um certo distanciamento. Nenhum deles sabia o nome do outro, nem sequer sabia muito sobre a vida um do outro.

Aubrey lembrava-se dela correndo para pegar a bola que ele chutara com mais força do que devia, a forma como seus cabelos voavam ao vento, como ela se jogava no chão sem se importar com a poeira. Ele ficava observando-a, sem jamais perguntar o nome, sem saber por que se sentia tão atraído por ela, por aquela simplicidade, por aquele modo de ser tão livre. Liz, para ele, parecia sempre ser a representação do que ele não podia ser. Ela era espontânea, cheia de energia, enquanto ele já sentia o peso das expectativas sobre seus ombros, mesmo tão jovem.

Na última vez que a viu, foi um fim de tarde, quando ele já estava começando a se distanciar das brincadeiras infantis e a olhar o mundo de uma forma diferente. Ele a observou de longe, deitado na grama, enquanto ela brincava com outras crianças. A luz dourada do sol refletia sobre os cabelos dela, e ele sentiu uma saudade de algo que ele nem sabia que possuía. Aquele momento simples, aquele contato inocente, parecia ter desaparecido com o tempo, mas de alguma forma ele sentia que ainda havia algo ali, algo que não se apagava facilmente.

Foi quando ele ouviu a voz de sua mãe chamando-a, pela primeira vez.

"Liz!" Sua mãe chamou, com a voz suave e calorosa, mas suficiente para fazer Aubrey se sentar abruptamente e olhar para a criança. Ele nunca soubera o nome dela até aquele momento. Liz. Algo tão simples e, ao mesmo tempo, tão forte. Ele sempre a havia chamado mentalmente de "a menina do parquinho", mas, ao ouvir sua mãe a chamar pelo nome, ele sentiu que algo havia mudado, como se o universo tivesse finalmente lhe revelado uma chave para algo que ele já sabia, mas não compreendia completamente. Liz. Era o nome dela. Ele nunca pensou que aquele simples som teria tanto poder.

Depois disso, ela desapareceu da sua vida, e Aubrey se acostumou à ideia de que talvez fosse um daqueles encontros fugazes de infância, algo que jamais voltaria. Mas, mesmo assim, a lembrança de Liz ficou guardada em seu coração, como um segredo não revelado, uma memória silenciosa que ele revisitou nas horas solitárias da sua juventude. Ele nunca imaginou que algum dia a encontraria novamente, e quando isso aconteceu, não foi apenas um simples acaso. Ele sentiu que o destino tinha um propósito para eles.

Mas ele ainda não sabia o que isso significava, o que ele realmente queria ou o que ela sentia. A atração por Liz, o desejo de tê-la em sua vida, não era apenas sobre controle, não era sobre conquista. Havia algo mais, algo visceral, que o puxava para ela, e ele estava começando a se dar conta disso de uma forma que o fazia querer manter seu distanciamento.

Enquanto ela tomava seu café na manhã seguinte, ainda distante e hesitante, Aubrey se viu refletindo sobre aquele dia no parquinho, sobre o que havia acontecido entre eles, mesmo sem palavras. Ele se lembrou da forma como ela sorria para ele de longe, da maneira como, sem saber, ela já tinha tocado algo em sua alma. Ele queria que ela sentisse o mesmo agora, mas sabia que não podia forçar isso. Não podia pedir a ela para sentir o que ele sentia. Mas, ao mesmo tempo, algo dentro dele sabia que eles estavam destinados a isso, a se encontrarem novamente, mesmo depois de tantos anos, mesmo com tantas diferenças.

E era por isso que ele estava disposto a dar a ela tudo o que ele tinha, para que ela fizesse parte de sua vida, de sua história. Ele sabia que, de alguma forma, ela ainda era a mesma menina do parquinho para ele — a menina espontânea e cheia de vida, que ele precisava proteger. Mas, ao mesmo tempo, havia uma parte dele que a desejava de uma forma que não podia ser ignorada, e isso o assustava. O que ele sentia por Liz não era só uma atração física ou emocional. Era uma necessidade de algo mais profundo, algo que ele ainda não sabia como lidar.

E, no fundo, ele sabia que ela nunca se lembraria daquele parquinho, daqueles dias simples de infância. Mas ele sempre se lembraria, e isso lhe dava uma sensação de conexão com ela que ele não podia expressar. Afinal, ela sempre foi a garota do parquinho, e agora, ela era a mulher em sua vida. E talvez, apenas talvez, ele pudesse finalmente entender o que isso significava.E talvez aquele casamentopor conveniência quem sabe não seria só por conveniência.

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