A manhã chegou de forma silenciosa, com a luz suave do sol entrando pela janela do quarto e iluminando a grande cama onde Liz acordou, com os olhos pesados e a mente turvada. Ela se sentia estranha, como se tivesse acordado de um sonho intenso, mas não conseguia lembrar claramente o que havia acontecido. O quarto, que há poucos dias parecia uma prisão fria e distante, agora parecia um pouco mais acolhedor, mas ao mesmo tempo... vazio. Liz se levantou lentamente, sentindo o corpo pesado, e olhou ao redor, tentando encontrar algo que a ajudasse a colocar os pedaços da noite anterior em ordem.
Mas não havia nada. Nada além do silêncio, da luz suave e das cortinas movendo-se levemente com o vento. Ela olhou para o lado, onde Aubrey estava, ainda dormindo, deitado ao seu lado, com um braço jogado sobre os lençóis. A visão dele ali, tão calmo e sereno, contrastava com o turbilhão de sentimentos que Liz sentia. Ele estava ali, mas ao mesmo tempo parecia tão distante.
Ela se levantou, andando descalça pelo quarto, tentando ordenar seus pensamentos, mas a noite anterior estava borrada em sua memória. O que aconteceu? Por que ela não conseguia se lembrar dos detalhes? Algo importante, algo que havia mexido com ela, mas tudo o que restava eram pedaços dispersos, como fragmentos de um sonho nebuloso.
Ela foi até o banheiro e se olhou no espelho. Os olhos estavam um pouco inchados, o cabelo desalinhado, mas havia algo mais que a inquietava. A sensação de ter perdido algo, de ter vivido algo que não conseguia capturar por completo. De repente, um flash a atingiu, um vislumbre fugaz de algo que aconteceu naquela noite.
Ela se lembrou de estar na praia, depois do abraço silencioso de Aubrey, os dois voltando para casa, as ruas desertas e iluminadas pelas luzes da cidade. Ela se lembrava de caminhar ao lado dele, sentindo-se mais leve, mas ao mesmo tempo como se estivesse se arrastando, carregando um peso invisível. E então, em algum momento, Aubrey se virou para ela. A expressão dele estava séria, mas havia algo em seus olhos que parecia buscar alguma resposta em Liz.
A lembrança ficou turva novamente, mas Liz podia sentir o calor de um beijo, um beijo que não havia sido planejado, mas que aconteceu com uma intensidade que a pegou de surpresa. Seus lábios haviam se encontrado em um gesto de consolo, talvez, mas também de desejo. Ele a beijou de forma suave, mas firme, como se quisesse mostrar que, apesar de tudo, ele estava ali com ela. Liz, sem conseguir resistir, respondeu ao beijo, sentindo-se vulnerável, mas ao mesmo tempo desejando algo que ela ainda não entendia. Mas, ao abrir os olhos depois, a memória parecia escapar de suas mãos, como se tudo tivesse sido um sonho.
O resto da noite parecia se perder na névoa do esquecimento. Ela se lembrava de risos, de conversas suaves, mas tudo isso agora parecia distante, como uma realidade paralela à que ela acordava naquele momento. Ela franziu a testa, tentando se concentrar, mas não havia mais clareza. Como podia ter se perdido tanto assim, em uma noite?
Ela retornou ao quarto, onde Aubrey ainda dormia. Sua respiração era tranquila, como se nada de extraordinário tivesse acontecido. Liz sentiu uma pontada de frustração. Ela precisava entender o que havia acontecido entre eles na noite passada. Precisava de algo sólido para agarrar. Mas, ao olhar para ele, não sabia se seria capaz de perguntar. Afinal, ele parecia tão certo de tudo, enquanto ela... Ela estava perdida.
Aubrey despertou algum tempo depois, movendo-se preguiçosamente para fora da cama. Ele passou uma mão pelos cabelos e, ao vê-la, sorriu com aquele sorriso seguro que ela começava a reconhecer como algo que a fazia se sentir mais deslocada do que acolhida.
"Bom dia, Liz", disse ele, com sua voz grave, ainda carregada de sono, mas calorosa.
Liz o observou por um momento, buscando uma resposta para todas as perguntas que estavam se acumulando dentro dela. Mas, ao invés de questioná-lo, ela apenas deu um pequeno sorriso. "Bom dia", respondeu, tentando esconder a confusão que ainda pairava sobre ela.
Aubrey se levantou e foi até o banheiro, deixando Liz sozinha com seus pensamentos. Ela se sentou na beira da cama, sentindo uma onda de cansaço tomar conta de seu corpo. Ela não queria admitir, mas estava começando a se sentir sufocada pela vida que estava levando. Não apenas pela mansão, nem pelo noivado, mas pela pressão de ter que se encaixar em um mundo que ela não compreendia. Ela se sentia perdida e, agora, com a memória da noite anterior parcialmente apagada, estava mais confusa do que nunca.
A noite que ela passara com Aubrey parecia ser uma tentativa de encontrar alguma clareza, mas, ao acordar, o que restava era apenas o vazio. O beijo, a sensação de proximidade, de intimidade... Mas, ao mesmo tempo, uma certeza de que nada tinha mudado. Tudo o que ela sentia era um eco distante, como se fosse impossível tocar o que realmente importava.
Liz levantou-se da cama e se dirigiu até a janela, olhando para o jardim lá fora. O dia estava claro, mas dentro dela, tudo ainda estava obscuro. Ela queria saber se Aubrey sentia algo mais por ela, ou se aquele beijo havia sido apenas um reflexo do momento, um gesto de conforto que, para ele, não significava nada. Ela queria perguntar, mas não sabia como. Não sabia nem mesmo o que ela queria realmente saber.
A voz de Aubrey ecoou do banheiro, interrompendo seus pensamentos. "Vou preparar o café da manhã. Quer se juntar a mim?"
Liz hesitou, ainda perdida em seus próprios pensamentos, mas, finalmente, deu um leve suspiro e respondeu. "Sim, vou descer em um momento."
Ela se afastou da janela e caminhou até o banheiro, tentando reunir forças para enfrentar mais um dia nesse novo mundo em que ela ainda não encontrava seu lugar. Mas, dentro dela, havia uma sensação crescente de que algo precisava mudar, algo precisava se resolver. E Liz sabia que, em algum lugar, em algum momento, ela teria que confrontar não apenas a realidade de sua vida, mas também a verdade sobre ela mesma e sobre o que realmente queria. Mas por enquanto, tudo o que ela tinha era o eco daquela noite e um beijo que ainda pairava em sua memória, como um sussurro distante, uma promessa não cumprida.
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Atualizado até capítulo 22
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